Mitologia Grega

Dado o momento do início da competição, que subtrairia mais uma vida humana ou outra punição severa, os dois contendores partiram, avançando sobre a areia. Mesmo com a confiança de Atalanta, tendo dado uma dianteira ao seu adversário, ela sentia que finalmente encontrava um oponente à sua altura, pois esforçava-se mais para alcançá-lo. E começou a temer que, se não o alcançasse logo, seria vencida. Apertou as passadas, e começava a aproximar-se de Hipômenes, que olhou pra trás e viu que suas forças não seriam o bastante para dobrar a rival, por isso decidiu recorrer ao artifício de Afrodite. Durante ainda o percurso de cem metros, Hipômenes, com certa dianteira, meteu a mão em um de seus bolsos, tirou dele um pomo dourado, esfregou-o no manto e deixou cair. Atalanta, que de repente viu rolando um objeto dourado à sua frente, diminuiu a velocidade apanhou-o, permitindo que Hipômenes se distanciasse. A virgem percebeu que o rapaz a deixava para trás e redobrou os esforços e, dentro em pouco, alcançou o adversário e o ultrapassou. De novo ele largou um pomo; a donzela, confiante de que venceria, tornou a parar, porém, mais uma vez, alcançou Hipômenes, ultrapassando-o. A meta estava próxima, restava apenas mais uma oportunidade. E Hipômenes exclamou:

— Faze frutificar tua dádiva, ó deusa! É agora ou nunca!

E atirou o último pomo ao chão, perto da linha de chegada. Atalanta olhou indecisa, pensando em vencer e depois apanhá-lo do chão. Mas Afrodite redobrou o brilho do fruto dourado, fazendo brilhar a pupila dos olhos de Atalanta, que, totalmente atraída, reduziu a velocidade e curvou-se para apanhá-lo. Assim fez e foi vencida. Atalanta sentiu um vento ultrapassá-la e, em seguida, um grito de espanto ao seu redor.

Foi inevitável. Hipômenes conquistou o prêmio. Atalanta teve que ceder ao casamento, que foi marcado, e embora a jovem se mostrasse decepcionada com o resultado do desafio, não estava de todo desgostosa com as núpcias. Hipômenes era um rapaz belo — e também inteligente e corajoso, o que ela apreciava mais do que tudo em um homem.

Os dois casaram-se e tiveram a oportunidade de disputar ainda, reservadamente, muitas outras corridas, das quais ela se saía sempre vencedora. Foram felizes, até que tiveram a infeliz ideia de consumar o ato prescrito por Afrodite e profanar o Templo da deusa Réia. Contudo, ambos ficaram tão preocupados com a própria felicidade que se esqueceram de render a Afrodite as devidas homenagens, e a deusa irritou-se com sua ingratidão, e abandonou-os. Atalanta não engravidou, permitindo que a jovem se tornasse alvo de algum deus mais afoito. E Áres aproveitou-se do momento de fragilidade do casal e possuiu-a secretamente. Dessa união, nasceu Partenopeus, o “filho da virgem”.

E, por não conseguir manter-se casta, a deusa Ártemis, incitada por Réia, resolveu punir os jovens recém-casados, transformando Hipômenes num leão e Atalanta numa leoa e colocou-os a puxar o carro da deusa Réia.

Naquela época, Tideus, no tempo em que seu pai sofria constantes ameaças por parte de seu irmão Ágrios, matou acidentalmente o irmão Melânipos e teve que abandonar Cálidon, e foi procurar asilo no palácio de Adrastos, o rei de Árgos, onde conheceu Polínices, o filho de Édipos, que pediu-lhe ajuda para reaver o trono de Tebas, que lhe pertencia, a qual estava ocupada por seu irmão Etéocles e administrada pelo regente Créon. Algumas guerras ocorreram em Tebas, primeiro entre os irmãos Etéocles e Polínices, que foi auxiliado pelos argivos, depois por uma intervenção de Teseus, rei de Atenas, e, em seguida, a guerra dos Epígones, os descendentes.

Na sua velhice, Oineus foi deposto pelos filhos de seu irmão Ágrios, “o selvagem”, mas, ajudado pelo neto Diómedes, filho de Tideus, e Alcméon, filho de Anfiaraus, conseguiu matar os usurpadores. Em seguida, abdicou e passou o reino para o genro Andrémon, marido de sua filha Gorge. Então, retirou-se de sua Pátria e foi fixar-se em Árgos. Mais tarde, quando atravessava a Arcádia, foi morto por dois filhos sobreviventes de Ágrios. Oineus foi enterrado em Énoe, na Argólida.

FIM

Mencionei equivocadamente duas vezes o nascimento de Tideus. Deve ser ignorada a segunda vez. Desculpem.

Há algum tempo li uma matéria (que não consigo mais encontrar) que dizia que as amazonas tenham talvez existido...

Não talvez exato como na mitologia grega mas, acho que no Camboja foram encontradas várias tumbas com idade do séc I (acho eu) contendo corpos somente femininos...
Eram todas mulheres, contendo consigo armas e armaduras, o que não era muito comum (enterrar mulheres com apetrechos de guerra).

Na foto podia ver claramente uma... "múmia" com braceletes de metal (como da Xena - a princesa guerreira. rsrsrs).

Interessante matéria... se, por algum enorme acaso, alguém tenha maiores esclarecimentos sobre essa matéria, seria ótimo!!!

Postei um trecho referente às Amazonas do Siam (nome antigo da Tailândia), vizinho do Camboja (antigamente chamado de Khmér):

No reino de Siam, no século XIX, o rei tinha um batalhão pessoal de 400 mulheres lanceiras. Estas eram eleitas entre as mais belas do país, e diziam que eram peritas no manejo das armas, mesmo que as considerassem demasiadamente valiosas para serem enviadas para a guerra.

Penso, assim, que também o Camboja (cujo nome mais atual é Kampuchea) teve uma possível existência de guerreiras Amazonas, tal qual tantos reinos antigos, como a Índia, provando a veracidade que houveram reinos cujos governos eram matriarcais. Para mim, não há dúvidas que existiram, mesmo as mencionadas na Antiga Grécia. Claro que não se tem conhecimento sobre Amazonas gregas, mas habitantes em reinos vizinhos, especialmente na Cítia e na Ásia Menor.

Segundo Teodoro Sículo, que preferia dar aos mitos uma referência histórica (hipótese que eu mesmo defendo), as Górgonas seriam um povo de guerreiras que habitavam o lado mais ocidental da África. Independente de serem monstros ou mulheres ferozes, de alguma forma eram Amazonas, e lutaram contra as Amazonas orientais da rainha Mírine.

Fineus, o rei de Salmidessos

Depois que Zeus voltou os olhos para Europa, uma filha de Agenor, o rei de Tiro, raptou-a, metamorfoseado num touro branco, e levou-a para Creta, onde teve com ela três filhos, Minos, Radamantes e Sarpédon. Os filhos de Agenor, responsabilizados pelo rei seu pai por não terem zelado pela irmã, receberam a ordem de não mais retornar a Tiro se não conseguissem recuperá-la. Teléfasse, a rainha-mãe, apiedada devido à despótica ordem de seu senhor e esposo, prontificou-se em auxiliar seus filhos numa provável longa e difícil jornada. Seguiram viagem num navio carregado de provisões, Teléfasse e seus filhos Fênix, Cílix, Tásos, Cadmos, Fineus, e ainda um filho bastardo chamado Atimnos.

Os anos passaram. Já haviam-se rasgado as roupas. Pareciam mendigos, cansados, trôpegos, maltrapilhos. Precisavam muitas vezes empregar seus braços em duros labores para ganhar o seu pão, eles que vinham de um palácio real.

Depois de longos anos e infindáveis caminhadas, já sem esperança, muitas vezes quase não tinham vontade de perguntar. Era trabalho perdido...

— Pergunta, mamãe.

— Não, filho, faze-o tu.

A mãe envelhecia, os filhos cresciam. Mas não desistiam. Procuravam sempre. Até que...

— Não há mais esperança, mãe. Vamos voltar.

— Eu não. Vós podereis voltar, não eu.

— Nem nós. Continuaremos.

E continuaram a busca. Paravam por vezes, que algum adoecia. Mesmo assim, os outros saíam pela manhã e voltavam à noite, sempre sem notícias...

— Já somos homens, mãe. Muitos anos passaram. Mesmo que Europa se encontre viva, mesmo que ela seja encontrada, Europa não nos reconhecerá... Nem se lembrará de seus irmãos e de sua mãe.

— Mas a mãe sempre reconhece os filhos. Continuemos!

Mas Fênix e Cílix foram os primeiros a desistirem da busca. Enquanto seguiam Teléfasse e seus filhos Cadmos e Tásos, juntamente com Atimnos, Fineus, o filho mais velho de Agenor, foi o próximo a desistir. Parou pelo caminho, rumo ao Ocidente, e chegou até as margens do Euxinos, desistiu da busca e foi morar junto do Bósforos, na Trácia. Passou naquela terra mil desventuras, até construir uma cidade: Salmidessos, onde então se casou com Cleópatra (filha de Bóreas e Orítia). Em seguida, Fineus mandou construir um palácio, que chamou de Europa, em homenagem à irmã desaparecida.

Enquanto Átamas, o rei de Orcômenos, errava pela Hélade devido ao atentado à sua esposa Ino e seus filhos, Frixos e Héle faziam a travessia da Europa até a Ásia, no lombo do carneiro Crisómalos, buscando o Oceano, no Leste. Os cabelos de Héle, da mesma cor do pelo do carneiro, esbatiam-se ao vento, enquanto Frixos, mais cuidadoso, fazia tudo para manter-se firme no lombo do animal, evitando olhar para baixo, agarrado aos seus chifres. Já Héle, querendo aproveitar melhor a viagem, a tudo observava.

— Vê, Frixos!

Héle não tinha olhos suficientes para admirar as estonteantes paisagens que passavam num turbilhão aos seus pés.

De repente, o aríete meteu-se no meio de um aglomerado de nuvens tempestuosas. Raios prateados esgrimiam ao redor dos três. Atingido na cauda por uma faísca, Crisómalos empinou suas patas dianteiras para cima, e a pequena Héle, enjoando durante o voo, descuidou-se e largou o velocino dourado, ao qual descuidava-se em agarrá-lo e, perdendo o equilíbrio, tentou agarrar o Vento e despencou. Frixos nada pôde fazer, já que estava na parte da frente do lombo do animal; Héle caiu no mar, entre o Quersoneso da Trácia e a Míssia. Frixos deu um grito, e fez Crisómalos descer e passar por várias vezes rente à superfície agitada das águas, mas não pôde resgatá-la, e viu-a ser sugada pelas ondas para sempre. Frixos, desesperado, acrescentou muitas lágrimas às salgadas e agitadas águas do mar. Depois que viu que seu pranto era inútil, decidiu seguir seu caminho, mas, desorientado, foi obrigado a descer para buscar saber onde o Destino lhe conduzia. E avistou uma pequena cidade: Salmidessos.

A cidade pertencia ao filho do rei Agenor, Fineus, que chegou até as margens do Euxinos, desistiu da busca por sua irmã Europa, raptada por Zeus, e foi morar junto do Bósforos, na Trácia.

Assim que o velho rei lhe indicou o caminho da Cólquida, para onde deveria seguir, Frixos retomou a viagem sozinho, montado sempre no aríete de ouro, rumo ao Oriente. Antes, porém,ao mar onde Héle havia perdido a vida deu o nome de Helesponto, o “mar de Héle”. Frixos, orientado pela mãe Néfele, que serviu-lhe de guia rumo à Cólquida, tomou a direção do reino do Sol, no ponto mais oriental que os povos do Ocidente conheciam.

Fineus, afeiçoando-se a Idea, filha do rei Dárdanos, colocou Cleópatra na prisão e cegou os seus dois filhos, Pandíon e Plexipos. Em seguida, desposou Idea, que diziam ser uma ninfa.

Fineus trocou os olhos por longos anos de vida, causando a indignação do Sol, por vê-lo desdenhar sua luz. Hélios, por isso, enviou-lhe as Hárpias para atormentá-lo. Além desse motivo, e também pela sua crueldade, por ter dons de adivinho, costumava revelar aos homens as intenções dos deuses. E só ficaria livre de seu pecado, depois de muito sofrimento, passando fome durante anos, quando os filhos do Vento fossem libertá-lo.

Percorrendo os litorais trácios, antes de atingir o Bósforo, os Argonautas, rumo à longínqua Cólquida, chegaram num lugar perto de onde erguia-se a estranha cidade de Bizâncio: Salmidessos. Os filhos do Vento, Zetes e Cálais, pediram a Jáson para desembarcar, pois tinham uma missão a cumprir. Jáson lembrou-se das palavras de seu velho mestre, e ordenou que baixassem as velas e remassem para a praia. Da praia dirigiram-se à pequena Salmidessos, através de florestas recobertas de neve. Lá, um rei ancião estava em apuros. Era Fineus, o filho de Agenor. Havia sido abandonado por seus súditos e vivia, em sua cabana, uma velhice lamentável. Por ter usado de maneira indevida o dom da profecia, que lhe tinha sido dado por Apolo, revelando a esmo os desígnios que os deuses reservavam aos mortais, causara a ira de Zeus, e Fineus fora acometido de cegueira e uma desgraça o acompanhava, dia após dia, e jamais conseguia fazer uma só refeição em paz. O que mais irritara Zeus, entretanto, era a mania que Fineus tinha de revelar os oráculos de maneira absolutamente clara, ignorando a misteriosa retórica dos templos. E alertava-o Apolo:

— É preciso mistério, Fineus!

O que Fineus pretendia, na verdade, era criar um método simples de consultar os oráculos. Abandonando o incômodo tripé onde os adivinhos costumavam trabalhar, Fineus instalara-se numa cadeira mais confortável e começara a executar suas revelações de maneira simples e direta.

Tal método não agradou aos deuses. Zeus, afinal, farto das indiscrições de Fineus, decidiu puni-lo, mas poupou-lhe da Morte, já que, como profeta, havia adquirido também o dom da longevidade, desde a época em que ele e seus irmãos, vindos da Sidônia, procuravam a princesa Europa, raptada pelo senhor do Olimpo e levada para a ilha de Creta. Além de torná-lo cego, mandou-lhe uma maldição, através do deus Hélios: fez com que jamais pudesse comer outra vez qualquer alimento saudável. Para tanto, ordenou que as pavorosas Hárpias estivessem ao seu lado toda vez que ele fizesse uma refeição. Assim, era em vão que Fineus se sentava à mesa para se alimentar, quando erguia seu talher, logo surgiam acima dos ombros as imundas aves agitando as asas que cheiravam a carniça. Com as garras envenenadas tomavam-lhe o alimento, cuspindo-lhe em cima uma baba fétida e negra.


Nesse regime forçado, Fineus definhava, sem saber ainda por quanto tempo, já que era somente isso que não conseguia prever. Seu corpo reduzira-se apenas a uma fina cobertura de pele, de onde se viam nitidamente o contorno de seus ossos.

Mas o Oráculo de Zeus dera um consolo a Fineus: quando os filhos de Bóreas chegassem com navegantes estrangeiros, ele finalmente poderia comer em paz. Assim, logo que apareceu-lhe a visão profética de uma nau helênica, o velho levantou-se, como pôde.

— São eles!

Apoiado ao seu cajado, escanifrado, só pele e ossos, mais parecendo um fantasma, foi esperá-los na praia.

Assim que ancoraram e prenderam as amarras, os tripulantes já desembarcavam, felizes por pisarem em terra novamente, mas advertiu-os o comandante Jáson:

— Devagar, rapazes, já tivemos surpresas demais nesta viagem. Tomai as lanças e os escudos.

— Olha, Jáson, há alguém na praia!

E um dos filhos de Bóreas afirmou:

— É o nosso anfitrião.

Os membros de seu corpo tremiam de fraqueza e, quando chegou diante dos Argonautas, ele caiu por terra, exausto. Os heróis, a princípio, assustaram-se, pois pensavam ter diante deles o próprio Caronte, o bateleiro dos Infernos; mas, apiedados, cercaram o infeliz, impressionados com o seu aspecto.

O velho quis falar, quando todos ouviram medonhos gritos de terror vindos de algum lugar, produzindo um eco terrível. Eles gelaram, mesmo muitos deles acostumados a enfrentar as mais pavorosas criaturas. Olharam para todas as direções, com as armas em punho, e nada viram.

Quando voltou a si, o rei recebeu-os:

— Sede bem-vindos a esta terra duramente provada, a esta terra de frio e de miséria, intrépidos heróis; vou acolher-vos do melhor modo possível.

Conduziu-os ao interior do imundo palácio e ofereceu-lhes carne; porém, como se não bastasse a pobreza, três criaturas aladas, as hediondas Hárpias, saídas dos Infernos, divertiam-se em desabar sobre o infeliz, diante dos olhos de todos, e arrebatar-lhes tudo o que tinham para comer. Personificavam a Fome devoradora. Era sentir o cheiro da comida ou pôr a mão em qualquer alimento e ouvir o trágico bater de asas das três feras aladas, que lembravam a feia aparência de mulher, corpo e garras de abutre. E, sobre toda a comida que não conseguiam levar, elas bafejavam, com seu hálito nojento, deixando-a impossível de ser aproveitada.

Quando terminaram a rapinagem, os monstros sumiram.

Então, Fineus bateu no peito e exclamou:

— São as Hárpias, filhas do desventurado deus Taumas e de Electra, a ninfa de âmbar, que nos roubam noite e dia. Raptaram as filhas de Pandáreos, abençoadas pelos deuses; pois Afrodite alimentava-as no Olimpo com mel, leite e vinho; e Héra deu-lhes beleza e sabedoria, e Atena, habilidade para todas as artes; porém, quando vieram celebrar as suas bodas, as Hárpias arrebataram-nas e entregaram-nas como escravas às Erínias, condenando-as a viver na abjeção. E agora, as Hárpias perseguem-me, assim como ao meu povo, e assolam o Bósforos com pavorosas tempestades; roubam o alimento de nossas mesas, a fim de que definhemos a despeito da nossa riqueza.

E suplicou:

— Heróis, se fordes realmente os salvadores a que o Oráculo se referiu, ajudai-me, pois fui privado não só da luz de meus olhos mas também de comer. Todas as minhas refeições são arruinadas pelas aves terríveis, enviadas pelas deusas da vingança. Não estareis ajudando a um estranho, pois sou Fineus, filho do grande Agenor, o rei da Sidônia, que já não vive mais no mundo dos homens. No entanto, unido com uma helênica, sou heleno também, como vós. Os filhos de Bóreas, que me haverão de salvar, são os jovens irmãos de Cleópatra, que foi minha esposa na Trácia.

Então, Zetes e Cálais, filhos do vento Bóreas, levantaram-se e disseram:

— Ei-nos aqui, Fineus, toca as asas que crescem em nossos ombros.

— Sois deuses?

O espanto foi geral, pois Zetes e Cálais nunca haviam-se mostrado dessa forma, pois jamais imaginavam os demais que fossem alados. Com as asas fechadas e coladas às costas, mais pareciam mantos vermelhos; agora, abriam as asas majestosamente, revelando a sua origem divina. De fato, eram filhos do deus Bóreas.

— Vede! Deuses nos acompanham!

E Fineus, após tocá-los, refletiu melhor e fixou os olhos cegos nos olhos dos irmãos Boréades, e escondeu o rosto, aterrorizado; mas não disse uma só palavra.

E um deles lhe falou:

— Por teres sido um traidor, Fineus, as Hárpias perseguem-te dia e noite. Onde está Cleópatra, nossa irmã e tua esposa, a quem encarceraste? E onde estão teus dois filhos que cegaste, levado pelo ódio, por ordem de uma mulher perversa, e que abandonaste no alto dos rochedos? És um homem mau, Fineus, e pelo teu orgulho te foste tirado a visão. Jura-nos que farás justiça à nossa irmã e que expulsarás essa mulher perversa; e então te livraremos do teu flagelo e impeliremos as filhas do Furacão para bem longe; porém, se não cumprires teu juramento, haveremos de te castigar.

Fineus, então, fez um juramento solene que soube respeitar, expulsando Ídea, sua perversa esposa. Jáson foi buscar as duas pobres crianças abandonadas, e Asclépios curou-lhes os olhos com ervas encantadas.

Então, Zetes e Cálais tristemente se ergueram e disseram:

— Agora adeus, heróis; adeus, queridos companheiros. Uma triste sina nos marcou, e a nossa hora acaba de soar. Estamos condenados a perseguir as Hárpias incessantemente, por terra e por mar; se as alcançarmos, elas morrerão; se não o fizermos, morreremos.

— Ainda que voltemos a nos encontrar, teremos uma vida curta, e logo subiremos ao Olimpo, pois Zeus providenciará o termo de nossa existência entre os homens.

Os Argonautas, que pouco entendiam sobre o que se referiam, só compreenderam que perderiam mais dois companheiros, e logo resolveram salvar aquele país e seu rei. Deram-lhe de comer e beber. E, com uma refeição, atrairiam as terríveis aves de rosto quase humano. Assim foi feito: preparou-se um grande banquete ao longo da praia, com pratos bem condimentados e de cheiro que se evolava, tentador, na visita do vento.

Esconderam-se atrás de pedras e árvores e esperaram. Não demorou, as Hárpias desceram das nuvens, qual súbita tempestade. O saque foi rápido. Os heróis gritaram alto, mas as Hárpias permaneceram impassíveis e ali ficaram até devorar quase tudo. Dentro de poucos segundos, batiam as asas, levando nas garras o melhor do banquete, deixando para trás um mau cheiro insuportável. Só que não voltaram sós. Em sua perseguição, de espada em punho, Zetes e Cálais, empurrados pelo Vento, ganharam altura, já que tinham a propriedade de voar. Assustadas, foram-se abrigar numa ilha vizinha. Puseram-se a comer, gulosas, quando um vento fortíssimo começou a soprar, em rajadas sucessivas. Eram Zetes e Cálais, os filhos do vento Bóreas. Havia começado a batalha dos Ventos. Galhos desprendiam-se das árvores, arrancados pelo vento e caindo-lhes em cima. As areias da praia formavam terríveis redemoinhos. E a comida voava-lhes das garras, perdendo-se no mar.

As Hárpias, então, abriram as asas, tentando fugir. Mas duas delas, voando, chocaram-se no ar. Zetes soprava de um lado e Cálais do outro. Iam caindo, atordoadas. Céleno, a mais jovem e mais terrível, tentou socorrê-las, ameaçando atacar os heróis, mas um sopro maior causou uma terceira batida no ar e as três atordoaram-se, como num turbilhão. O palácio e a cidade oscilavam nas suas bases, enormes pedras soltavam-se dos penhascos, florestas de pinheiros eram derrubadas, em todas as direções, e as nuvens eram atiradas contra os rochedos.

Zetes e Cálais, percebendo que estavam dominadas, as afugentaram para bem longe, para além do mar. Os filhos do Vento precipitaram-se atrás delas, em direção ao sul, a fim de matá-las. Perseguiram-nas por léguas e léguas, passando pelas ilhas das Cíclades e mais ao longe, ao sudoeste, pela Hélade. E a primeira hárpia, Aelo, caiu exausta num riacho de Peloponeso, que, por isso mesmo, passou a chamar-se Hárpis. As demais continuaram a sua fuga, até alcançarem o mar Jônico, onde elas caíram sôfregas nas ilhas Equínades, na embocadura do Áquelous; e essas ilhas, por muito tempo, levariam o nome de Estrófades, “Ilhas do Furacão”. E os heróis preparavam-se para abatê-las a fio de espada, quando subitamente Íris, mensageira de Zeus, desceu do éter e gritou:

— Não é permitido matar com a espada os cães de caça do grande Zeus! Mas juro-vos em nome dos deuses, diante das águas do Estige, que essas aves não mais torturarão o filho de Agenor, e jamais as vereis novamente.

E nunca mais voltaram para atormentar o rei Fineus e seu país. Escolheram por morada as profundezas da terra debaixo de Creta, a ilha do rei Minos. Nem Zetes e Cálais voltaram a acompanhar os seus amigos Argonautas. Apenas ouvia-se um boato que Zetes e Cálais haviam sido vencidos pelo cansaço e sepultados pelo Sol na encantadora ilha de Tenos. Quanto às Hárpias, as sobreviventes uniram-se ao vento Zéfiros (ou foi somente Podarge) e geraram dois divinos corcéis, Xantos e Bálios, que passaram a viver nas cavalariças do deus Poseidon, bem como dois ardentes corcéis, Flógeos e Hárpagos, os quais seriam presenteados aos heróis Dióscuros.

Enquanto isso, em Salmidessos, o rei Fineus, muito grato, oferecia bons conselhos a Jáson e seus companheiros, pois tinha o dom de prever o futuro:

— Minhas previsões estavam certas. Agora, ouvi meus conselhos. Num estreito do mar tereis que enfrentar as Simplégades, ou Cianéias, dois rochedos íngremes que flutuam na água, em vez de estar apoiados ao fundo do mar. Muitas vezes elas colidem, devolvendo a água com uma fúria terrível.

— Morreremos?

Fineus, mais comedido em seus prognósticos, pois temia uma nova punição de Zeus, disse-lhes:

— Há um meio de saber quando será a melhor hora para tentarem a travessia.

— Então diz!

— Se não quiserdes ser esmagados, tereis que atravessar o espaço entre essas rochas com grande velocidade. Não recebereis a ajuda dos filhos de Bóreas, porque não mais voltarão a acompanhardes. Quando estiverem próximos, deveis capturar uma das pombas que buscam a ambrosia para os deuses e em seguida libertá-la; se ela conseguir realizar a travessia com facilidade, ponde toda a força nos remos e segui adiante, e rezai para a divindade que vos protege. Caso contrário, se a pomba perecer, segui meu conselho, voltai para vossas casas.

Todos se olharam, desconfiados e temerosos. Em seguida, o velho continuou:

— Depois alcançareis a cidade dos mariandinos, onde se encontra a entrada dos Ínferos, o promontório de Aquerúsia. Passareis ainda por muitas regiões montanhosas, rios e costas; chegareis à cidade das Amazonas, e à terra dos cálibos, que retiram o ferro das entranhas da Terra com o suor de seu rosto. E por fim chegareis à costa da Cólquida, onde o rio Fásis despeja no mar sua vasta correnteza. Lá avistareis o esplêndido palácio do rei Eétes, onde o dragão que nunca dorme vigia permanentemente o Velocino de Ouro, estendido sobre a copa de um velho carvalho.

Suas palavras de despedida foram:

— Quando chegares à Cóquida, confiai em Afrodite!

Então, os Argonautas seguiram viagem. E nunca mais se ouviu falar de Fineus, o rei de Salmidessos. Haviam boatos de que, assim que os Argonautas deixaram a Trácia, os filhos do vento Bória retornaram e tiraram a vida de Fineus.

FIM

Este personagem, Fineus, não deve ser confundido com outros de mesmo nome.

FINEUS - filho de Licáon (rei dos pelasgos, da futura Arcádia). Teve muitos irmãos, entre eles Ácacos, Níctimos, Orcômenos, Mênalos e Calisto, a mãe de Arcas.

FINEUS - filho de Fênix (filho de Agenor e Teléfasse) e sobrinho de Fineus (rei de Salmidessos). Era irmão de Cefeus (rei de Íope, na Sidônia, futura Fenícia) e Astipaléia. Foi rival de Perseus pela mão de Andrômeda, que aliás era sua sobrinha. Foi transformado em pedra sob o olhar da cabeça de Medusa.

FINEUS (ou FILEUS) - filho de Áugias (rei de Élis, na Élide). Era irmão de Agástenes e tio de Políxenos, que lutou em Tróia. Censurou a injustiça de seu pai contra Héracles, e recebeu do herói sua confiança e ajuda, que o colocou no trono da Élide. Participou da caçada ao Javali de Cálidon.

O mito de Céfalos e Prócris

Erictônios, o rei de Atenas, tivera da ninfa Praxitéia um filho chamado Pandíon e quatro filhas; uma delas chamava-se Prócris. Passaram-se os anos, e Erictônios, sentindo o peso da idade e temendo deixar o mundo dos vivos sem que suas filhas se casassem e tivessem descendentes, arranjou casamento para elas, mas já o Destino as havia encaminhado, e seus esposos seriam outros, entre deuses e heróis, pois estavam destinadas a ter uma linhagem ainda mais nobre. Naquela época, Teglatfalazar conquistava Babilônia, enquanto os hebreus, descendentes de Abraão, Isaac e Jacó eram escravizados no Egito. E reinavam supremos os filhos de Perseus sobre as cidades de Micenas, Tirinto e Midéia. Alceus, filho de Perseus e Andrômeda, reinava em Tirinto quando nasceu-lhe um filho, Anfitríon, que tivera de sua esposa Astidâmia.

Certa vez, em Atenas, no dia do casamento de Céfalos, filho de Déion e Diómeda, com a princesa Prócris, semelhante a Sélene, a deusa da lua, todos os atenienses elogiaram-no, declarando-o o mais feliz dos esposos, reinando num cantão, em Tóricos, bem perto da extremidade meridional da península ática. E nas montanhas do interior se estendiam os terrenos de caça dos recém-casados.

Infiel à esposa Pasífae, uma das primeiras escapadas extras do rei Minos foi com a ninfa Androgenéa, a “mãe de varões”. Pária, outra ninfa, lhe deu filhos: Eurimédon, Crisos, Nefálion e Filolaus. Também a ninfa Dexitéa, que foi mãe de Euxântios. Mas nenhuma lhe agradou mais que Britomártis, a “doce donzela”, muito bela, e era filha de Zeus e Cármis, a filha de Éubolos. A virgem estava em um lugar destacado do serviço de Ártemis, ocupando-se de seus afazeres; Britomártis havia inventado a arte da rede de caça e brilhava por seu conhecimento e destreza. Talvez por esta capacidade de seguir o rastro e ocultar-se da presa, Britomártis, quando chegou a hora de escapar do insaciável Minos, conseguiu evitá-lo por nove meses, correndo por montes e vales, ocultando-se entre folhas secas e arbustos. Mas acabou encurralada às margens de um precipício. A virgem preferiu a morte a cair nas mãos do rei, lançando-se do alto para as profundezas do mar. Mas foi resgatada pela rede de alguns pescadores, que a viram cair na água. Por isso, a deusa Ártemis decidiu premiar a sua firmeza e elevou-a a categoria de deusa, e batizou-a com um novo nome: Dictina, a “filha da rede”, e deu-lhe uma morada no monte Dicte.

Naturalmente, destas aventuras teve conhecimento Pasífae, e não só ela, mas todo o povo sabia, já que o rei não se recatava em esconder, nem se importava em negar sua abundante prole. Por essa razão, a rainha lançou sobre seu descarado marido uma maldição — e conseguia com efeito, já que pertencia à família das feiticeiras da Cólquida. Em lugar de sêmen, Minos ejacularia escorpiões e víboras, e nenhuma mulher (ou varão) se atreveria jamais de fazer amor com ele, pois morreriam pelo adultério. E assim se sucedeu. E Minos, com essa maldição lhe acompanhando, já não sabia o que fazer, pois já era um hábito seu cometer adultério, não contentava-se com uma só mulher, sua própria esposa, a única com que a maldição não funcionava.

Como Minos estava amaldiçoado por obra de sua ciumenta esposa Pasífae, pois suas amantes morriam ao entregar-se a ele, Prócris concedeu-lhe um antídoto, uma erva que obtivera outrora da feiticeira Circe, irmã de Pasífae. Em troca, Minos deu-lhe ainda um segundo presente: um dardo que jamais errava o alvo. Prócris curou-o e a ele se entregou.

A jovem, no entanto, temendo o ciúme violento e a vingança de Pasífae, que era uma feiticeira, voltou para Atenas, disfarçada de varão. Assim, Prócris levou ao ex-marido os presentes mágicos do rei Minos, pensando que assim haveria de se reconciliar com ele. Céfalos os cobiçou e quis comprá-los.

— Não quero tua prata nem teu ouro, porém tanto o dardo como o cão serão teus se jurares que nunca amaste sua esposa infiel; que a esquecerás e me amarás.

Diante daquele ato efeminado, relutou, mas acabou afeiçoando-se pelo “rapaz”, que então lhe revelou a verdadeira identidade.

— Meu amado, somos ambos culpados tanto um como o outro. Esqueçamos o passado, renovemos nossos juramentos de amor, e amemo-nos de novo.

Céfalos não cabia em si de contente em ter de novo em seus braços sua linda esposa. Os dois se reconciliaram, pois cada qual tinha o que perdoar ao outro. Viveram em completa felicidade durante algum tempo.

O filho de Déion e Diómeda era belíssimo jovem, amante dos exercícios, e o consideravam descendente do deus Hermes. Levantava-se antes do amanhecer a fim de perseguir a caça. Éos, a Aurora divinizada, viu-o, apaixonou-se por ele, raptou-o e levou-o para a Síria. E, no seu devido tempo, Éos uniu-se ao seu amante mortal e deu-lhe dois filhos, Faéton e Páfos. No entanto, isso não prendeu o amor de Céfalos pela deusa, pois pensava seriamente em sua esposa, pois a amava, e suplicava à deusa para que o deixasse ir. Este era o segundo amor falido de Éos, graças às maldições de Afrodite. Céfalos, porém, havia-se casado novamente com a sua Prócris, e a amava profundamente. A jovem era a favorita da deusa Ártemis, que lhe havia dado, pela mão do grande rei Minos, um cão, Laelaps, mais veloz que qualquer outro, e um dardo, que jamais errava o alvo, e Prócris oferecera estes presentes ao marido. Ele sentia-se tão feliz com a esposa, que resistiu a todas as propostas de Éos, que furiosa com essa obstinação, disse-lhe:

— Pois bem, ingrato mortal, tu terás de volta a tua Prócris. Mas dia virá em que tu desejarás nunca tê-la visto.

Finalmente permitiu que ele voltasse para a mulher, mas preveniu-o antes de deixá-lo partir:

— Porém, é quase certo que quando voltares para tua casa, descobrirás que tua esposa já te esqueceu e está apaixonada por outro homem.

— Não creio, nem por um momento; nós nos amávamos com tanto ardor que preferiríamos morrer a sermos infiéis ao nosso amor.

Riu-se a deusa.

— Como são crédulos e ingênuos os homens...! Disfarce-te de maneira que tua mulher não te possa reconhecer, e faze-lhe a corte dando-lhe ricos presentes e prometendo-lhe outros mais ricos ainda quando ela se entregar a ti. Assim porás à prova sua fidelidade.

Essa sugestão maliciosa deixou Céfalos louco de ciúmes. Já fazia tanto tempo que ele estava ausente, e Prócris era muito bela. Afinal, no passado, ela já havia sido infiel. Resolveu, então, relutante, que não teria descanso enquanto não provasse a si mesmo que ela só amava a ele e jamais se entregaria a outro.

Enquanto corria de volta para casa, Céfalos não parava de pensar nas palavras da deusa, e finalmente o temor e a suspeita despertaram nele, ainda que Prócris lhe fosse fiel.

Afinal, de volta à Ática, antes de alcançar os portões de Tóricos, penetrou em casa disfarçado de rico mercador para testar a esposa, e a própria deusa Éos consentiu em mudar-lhe os traços da fisionomia. Assim voltou à sua casa e ninguém o reconheceu. Era muito reconfortante descobrir que todos ansiavam pelo seu retorno, mas manteve-se firme em seu propósito de não se dar a conhecer. Ao ser admitido à presença de Prócris, porém, quase abriu mão de seu plano ao perceber-lhe a dor manifesta, o rosto triste e a depressão evidente. Pôs-se imediatamente a tentar fazer com que ela se apaixonasse por ele, um estranho aos seus olhos. Não obstante, durante muito tempo ela se manteve impassível.

Um dia, porém, quando ele brindava com o derrame habitual de pedidos, ela hesitou. Na verdade não cedeu, somente não lhe opôs a mesma firmeza de sempre, mas isso foi suficiente para que Céfalos se pusesse a gritar:

— Infiel! A deusa tinha mesmo razão! Consegui desmascarar-te! Sou teu esposo a quem quiseste trair! Todas as mulheres são infiéis e os homens fáceis de enganar. Eu deveria saber que não podia confiar em ti!

Ela nada lhe respondeu e, irritada e cheia de vergonha, abandonou a casa. O amor que sentia por ele parecia transformado em ódio; sentia nojo e desprezo pelos homens e foi viver sozinha nas montanhas. Foi juntar-se ao séquito de Ártemis, a deusa virginal, para quem todos os homens eram odiosos.

Céfalos, porém, voltou rapidamente ao bom senso e deu-se conta do triste papel que tinha desempenhado. Procurou-a por toda parte, até que a encontrou e, humildemente, implorou-lhe perdão, reconhecendo seus erros. Prócris perdoou-o, e voltou com ele a viver na pequena Tóricos. Céfalos conseguiu reconquistá-la e a ventura dos dois amados esposos durou alguns anos, mas triste fim lhes estaria reservado.

Eléctrion, outro filho de Perseus, subiu ao trono de Micenas no lugar de seu irmão Méstor. Enquanto isso, seu parente Ptérelas reinava em Táfos, na costa da Etólia. Esse rei, filho de Táfos e neto do rei Méstor, descendente da casa de Perseus, entendia que Micenas poderia ser governada por sua família, tal como Eléctrion. Por isso, pretendeu reclamar os seus direitos, à frente dos teléboas, “de grito distante”.

De Táfos partiram os exércitos dos teléboas, por mar, rumo a Micenas, para reclamar o que acreditavam ser seu de direito. Sete dos filhos de Ptérelas, que eram Crômios, Néritos, Políctor, Méstor, Antíocos, Quersídamas e Ítacos — Evérion era ainda muito jovem para lutar —, todos piratas selvagens, apareceram diante de Micenas e exigiram o trono de Eléctrion. Mas Eléctrion rejeitou-os, e, à frente de poderoso exército, os sete comandantes sitiaram Micenas.

Entrementes, Anfitríon, filho de Alceus e neto de Perseus, estava noivo de Alcmena, conhecida como “a donzela de Midéia”, filha do rei Eléctrion e de Anaxo, sua sobrinha. Eléctrion era o filho primogênito de Perseus. Já tinham casamento marcado. Porém, o himeneu não aconteceu, porque inesperadamente os teléboas haviam invadido a Hélade.