Mitologia Grega

Cientes das novas leis impostas por Zeus — e tinha poder para tal empresa —, os divinos vencedores da batalha de dez anos retornaram aos picos ensolarados do Olimpo. Sentiam-se orgulhosos pela vitória, mas quando viram as condições em que se encontrava a Terra, imediatamente se encheram de tristeza. Não se reconhecia mais nada; a guerra não havia deixado nada inteiro. Então, os deuses teriam uma dificílima tarefa pela frente: tornar a Terra um lugar novamente habitável.

Chegando ao Olimpo, Zeus, a exemplo de Estige, resolveu recompensar as divindades que o apoiaram, e dar castigo às que o traíram. E assim se sucedeu às irmas aladas Íris e Arcé. Íris, de cabelos longos e tranças coloridas, foi elevada à condição de deusa-mensageira dos deuses, e recebeu de presente um arco de sete cores que passou a ligar o Céu à Terra; esse arco passou a ser chamado de arco-íris. Um de seus ofícios era cuidar das almas dos mortos, conduzindo-as ao Mundo Subterrâneo. Passou a guardar os fios da vida dos seres-humanos.

Quanto a Arcé, Zeus removeu suas asas e imediatamente lançou-a ao Tártaros.

Depois que Zeus havia vencido os Titãs, vendo que era hora de acabar com os males do mundo, ordenou a Prometeus que aprisionasse de vez todos as Nosoi, gênios maléficos, então representados pelos insetos mais nocivos.

Prometeus, desejando livrar os homens de tais males, caçou-os um a um e pô-los numa grande e pesada ânfora. Finalmente, Prometeus conseguiu aprisionar os Ponoi (Trabalhos penosos), as Nosoi (Doenças) e os Kakoi (Males), filhas da Discórdia, que incluía a Inveja, a Fome, a Gula, a Ganância, o Ódio, a Velhice, o Medo, a Peste, a Vingança (Poiné), o Terror, a Guerra, o Ciúme, a Intolerância, a Dor, o Sarcasmo, enfim todos os males que afligiam e atrapalhavam a vida dos seres humanos, desde que ele os havia criado. Porém, pensando mais um pouco, decidido a beneficiar os homens num possível incidente, pôs no fundo da ânfora Elpis (a Esperança); e fechou a ânfora com um lacre. Depois, incumbiu o deus Hermes de entregá-la ao seu irmão menor Epimeteus, que se tornasse seu guardião.

Hermes, então, apresentou a Epimeteus a ânfora, lacrada, dizendo-lhe em outras falsas palavras:

— Confio-te esta preciosa ânfora, mas peço-te, Epimeteus, encarecidamente que não a abras jamais! Contém todas as bênçãos dos deuses. Se desobedeceres, será um desastre para a humanidade.

O jovem Epimeteus, que era aprendiz de titã e rei entre os homens, vivia muito tempo entre os homens, e, como eles, era fraco e não entendia as coisas divinas como Prometeus. Por isso, sem compreender o que realmente se passava, tratou apenas de guardar a ânfora em lugar não muito seguro. Mais tarde, a curiosidade de Pandora causaria a libertação dos males, que se espalhariam pelo mundo.

Átlas, comandante do exército derrotado do rei Cronos, foi condenado pelo então formado Conselho Olímpico a suportar em suas costas o Céu, que ameaçava desabar sobre a Terra. Então, Átlas substituiu um dos alicerces em ruínas, posicionando-se em cima da mais alta montanha da África. E uma cadeia de montanhas passou a vigiá-lo noite e dia, para todo o sempre.

FIM

Segundo consta, somente Océanos não participou da batalha contra os deuses, por isso foi poupado e recompensado por Zeus, que lhe deu um reino para governar nas profundezas dos mares, no chamado Rio-Oceano.

Segundo uma versão greco-romana tardia, Cronos foi perdoado e libertado por Zeus por ser irremediavelmente necessário para que o tempo transcorresse normalmente e a vida na Terra seguisse seu percurso natural. Cronos, insubstituível nas suas atribuições, se tornou rei na Itália e, depois de civilizar os povos daquelas paragens, foi morar na Ilha dos Bem-aventurados (procurar este nome no tópico das Localizações Geográficas da Mitologia), tornando-se um dos deuses mais venerados pelos Italianos.

Quanto aos outro quatro Titãs, todos tiveram substitutos à altura, desta vez sob as ordens outorgadas por Zeus.

Houveram muitas outras divindades que lutaram, tanto do lado dos Titãs como do lado dos irmãos Zeus, Hádes e Poseidon. Uns foram castigados e outros devidamente recompensados.

O nascimento das Musas

E pensavam os deuses, referindo-se à batalha contra os Titãs:

— Para tão grande triunfo, a comemoração de uma noite não basta. É preciso registrar a façanha na própria memória do tempo. É preciso cantá-lo para sempre a todos os cantos do mundo.

E Zeus já sabia o que fazer.

Zeus tencionava gerar os seres que deveriam simbolizar sua vitória, e olhou para Mnemósine, a virgem entre as Titânidas, a deusa da Memória. Nada seria esquecido quando dito por alguém gerado no seio dela. E o soberano do Olimpo imediatamente tomou o rumo da Piéria, ao norte da Hemônia (Tessália), e foi encontrá-la. E surpreendeu-a solitária e dócil.

Durante nove noites, num poema de horas, Zeus uniu-se a Memória. Os meses de espera pareceram não terminar nunca. Mas um dia, finalmente, realizou-se o desejo dos deuses: irmãs na beleza, irmãs na harmonia, irmãs na missão, nasciam as nove filhas de Zeus e Mnemósine. Nasciam as Musas.

Com a chegada das Musas, os sofrimentos da humanidade foram aliviados. Quando nasceram, nasceu também a música. E algumas pessoas ficaram tão encantadas que começaram a cantar dia e noite, sem parar nem para comer nem para dormir, até morrer. Porém, a Morte levou-as sem dor, e elas não desceram para o escuro reino de Hádes: tornaram-se cigarras. E daí em diante as pequenas criaturas não foram mais molestadas pela fome ou pela sede, vivendo só para cantar e cantando até morrer.

As cigarras amavam as Musas. Muitas vezes, quando se pensava que estavam cantando, na verdade conversavam com as nove irmãs.

A cada uma das Musas foi dado um tributo e um dom especial. E eram elas:

Calíope, a primeira e mais venerada, a musa da poesia heroica e épica. Os artistas adoravam-na e representavam-na com uma pena na mão.

Érato, que adorava tocar lira, era a música da poesia lírica, com temas de amor.

Em seguida veio Polímnia, sempre representada com olhar pensativo, sendo a musa dos hinos sacros.

A seguinte foi Euterpe, com sua dupla flauta, e representava as canções líricas.

Tália foi a próxima, e tinha na mão uma máscara sorridente e representava, no teatro, a comédia, fazendo parte também do séquito de Dionisos.

Melpómene segurava uma máscara com expressão de angústia e representava a tragédia. Como Tália, fazia parte do cortejo de Dionisos.

A musa da dança foi Terpsícore e também adorava tocar lira enquanto dançava.

A penúltima das Musas foi Clio, que representava a História, cantando os feitos dos heróis. Trazia sempre consigo um manuscrito.

Urânia foi a última, como musa da Astronomia, que cantava a grandeza das estrelas e trazia representado o globo em suas mãos, ainda que os antigos não o compreendessem, pois não imaginavam o mundo de forma arredondada.

FIM

Dúvidas:

1) A Rigor Prometeu é um dos Titãs? Só é titã quem é filho de Urano com Gaia?
2) Após a vitória dos Olímpicos, o que ocorreu a cada titã? Pelo menos os mais conhecidos...
3) Sei que Kronos foi parar no Tártaro. Oceano ficou "formando a fronteira" do mundo? Prometeu após engrupir Zeus duas vezes vai parar acorrentado no Cáucaso (O verdadeiro ou o indiano?) onde uma ave (águia ou abutre?) vai devorar seu fígado regenerante ad eternum. Há uma versão onde Herakles o liberta?
4) Hélio é titã? Miticamente como é explicado sua aposentadoria ou troca por Apolo?
5) Que raios de titãs devoram o Dioniso bebê?

Rei de Ouros escreveu:1) A Rigor Prometeu é um dos Titãs? Só é titã quem é filho de Urano com Gaia?

A rigor, os filhos dos Titãs seriam igualmente Titãs de 2ª geração. Teoricamente os deuses filhos de Cronos seriam também Titãs. O que difere um titã de um deus é a sua forma de vida imortal, especialmente aqueles que viviam no Olimpo. Se levarmos em conta que os deuses eram aqueles que viviam no Olimpo, então, por exemplo, Prometeus (titã), Têmis (titânida) e Métis (oceânide) seriam deuses também. Neste caso, as Ninfas eram somente Ninfas, não deusas, Pan era um sátiro (da raça dos Sêmones), não um deus... E apesar de Hádes e Poseidon viverem fora do Olimpo, eram deuses... Daí vem a pergunta: mas o que difere um titã de um deus? Resposta: o Olimpo, pois os dois grupos eram formados de imortais, com exceção dos Titãs de 2ª geração, que apenas tiveram o dom de uma vida longa, assim como os Gigantes, filhos da Terra. Se a ambrosia mantinha os deuses imortais, os habitantes do Olimpo eram os únicos que se nutriam desse alimento (ver o mito de Tântalos e Pélops).

Rei de Ouros escreveu:2) Após a vitória dos Olímpicos, o que ocorreu a cada titã? Pelo menos os mais conhecidos...

Segundo o mito que postei, Océanos e suas irmãs foram poupados por não participarem da rebelião; Cronos, Hiperíon, Jápetos, Crios e Coios foram aprisionados no Tártaros; Átlas (filho de Jápetos e lugar-tenente da rebelião) foi castigado tendo que sustentar o firmamento que ameaçava ruir e desabar sobre a Terra; Mênetos (irmão de Átlas), por sua participação indireta, passou a servir Hádes nos Infernos; Prometeus pôs-se do lado dos deuses do Olimpo, por isso passou a ser admitido entre eles; Epimeteus, misturado aos humanos, não participou da rebelião; e houveram outros Titãs e Titânidas de 2ª e 3ª gerações que se rebelaram juntamente com os Titãs, e foram igualmente punidos, que não desempenharam papéis importantes.

Diz-se que Cronos, mais tarde, foi perdoado por Zeus. Foi retirado do Tártaros na condição semi-humana, tornando-se rei na Itália. Depois de civilizar a raça-humana daquela terra, foi viver entre os Bem-aventurados. Quanto aos demais Titãs punidos, outros passaram a desempenhar seus ofícios.

Rei de Ouros escreveu:3) Sei que Kronos foi parar no Tártaro. Oceano ficou "formando a fronteira" do mundo? Prometeu após engrupir Zeus duas vezes vai parar acorrentado no Cáucaso (O verdadeiro ou o indiano?) onde uma ave (águia ou abutre?) vai devorar seu fígado regenerante ad eternum. Há uma versão onde Herakles o liberta?

Océanos, por não participar da rebelião, recebeu de Zeus o direito sobre todos os mares além das fronteiras do mundo, chamado Rio-Oceano, que circundavam a Terra.

Prometeus, por ter auxiliado diretamente os deuses, recebeu a recompensa de viver entre os Olímpicos. Após a guerra, reuniu os males que se espalharam pelo mundo, que a violência dos Titãs havia feito surgir, e prendeu numa ânfora mágica (a caixa de Pandora) e entregou-a para seu irmão Epimeteus cuidar, em lugar seguro, longe da cobiça de homens e deuses (mas muito próximo da curiosidade de Pandora). O seu amor pela raça-humana denunciou Prometeus, que por duas vezes preferiu ajudá-la com o fogo divino (uma alusão ao raio, que fez surgir o fogo entre os homens), uma vez uma faísca das rodas do Carro do Sol e outra da lareira de Héstia. Prometeus pôs à prova a ira de Zeus num episódio sobre os sacrifícios aos deuses, fazendo com que os homens oferecessem a eles a pior parte do sacrifício: as gorduras e os ossos, separando para si a carne. Por tudo isso, Prometeus foi acorrentado ao Cáucaso, entre os mares Euxinos (Negro) e Hircânicos (Cáspio), onde uma águia (talvez abutre) ia-lhe roer o fígado, que renascia.

Rei de Ouros escreveu:4) Hélio é titã? Miticamente como é explicado sua aposentadoria ou troca por Apolo?

Hélios, assim como Éos e Sélene, eram Titãs de 2ª geração. Aceitos no Olimpo, passaram a ser venerados como deuses. Antes, viviam entre os homens na Terra; Hélios foi afogado no Erídanos pelos Titãs e, em seguida, transportado para o Olimpo, recebeu o ofício de tomar o lugar de seu pai Hiperíon. Sélene passou a desempenhar a função que Febe exercia, e Éos passou a ser a anunciadora da chegada do dia.

Apolo não desempenhou a função de áuriga do Carro do Sol, ainda que isso tenha sido mencionado por alguns autores antigos e modernos. A verdade é que Apolo foi confundido com Hélios. Apolo não era o Sol, mas sim a "luz" da inspiração das artes, era o deus-músico. Como deus flamejante, foi assim chamado por ter nascido ao nascer do dia, depois de Ártemis, que nasceu durante à noite, por isso também foi confundida com Sélene, a deusa da lua.

Ademais, Faéton era filho de Hélios (o áuriga do Carro do Sol), não de Apolo.

Afinal, no mito de Áres e Afrodite, quem foi mencionado como o Sol que denunciou Áres ao deus Hefaístos: Hélios. Apolo era somente um deus do Olimpo, e em momento algum poderia ter tempo de passar um dia inteiro (todos os dias) conduzindo o Carro do Sol. Não há um só mito que mostre Apolo conduzindo o Carro do Sol.

Rei de Ouros escreveu:5) Que raios de titãs devoram o Dioniso bebê?

ZAGREUS, filho de Zeus e Perséfone, foi confundido com Dionisos. Foi criado por Apolo e pelos Curetes, nas matas do Párnassos. Foi perseguido e despedaçado pelos Titãs. Foram seus restos enterrados junto à trípode de Delfos. Zeus fez Sémele absorver o coração de Zagreus, e só daí nasceu Dionisos. Os restos amortalhados no Párnassos tornaram-se uma divindade ctoniana, que nos Infernos acolheu os mortos e ajudou as almas em sua purificação.

Héra, de cima do Olimpo, notou que um menino, na Terra, criado pelas Ninfas, iluminava-se com probabilidade divina. E zangou-se ao vê-lo idêntico ao esposo Zeus. Por efeito da sua terrível cólera, as filhas de Lamos enfureceram-se sob a vergasta da péssima divindade. Em suas casas, precipitavam-se contra os que as seguissem; nas encruzilhadas, degolavam os viajantes. Lançavam gritos horríveis, e no meio de violentas convulsões, os seus esgares lhes desfiguravam o rosto; corriam de um lado a outro, entregues ao frenesi, umas vezes girando e saltando, outras fazendo esvoaçar ao vento a cabeleira. Os véus açafroados do peito tornavam-se brancos sob a espuma que lhes caía da boca. Na sua demência, teriam despedaçado o pequeno Dionísios, não fosse a deusa Perséfone, que retornava para a Terra, e, envolvendo-o em seu peito, protegendo-o, saiu cambaleante longe dos terríveis olhos das Ninfas. Correu muito, até ser socorrida pelo mensageiro dos deuses, Hermes, e a ele confiou o menino.

FIM

Hermes, meu chapa, antes de mais nada obrigadão.

Hermes Trismegistus escreveu:Océanos e suas irmãs foram poupados por não participarem da rebelião; Cronos, Hiperíon, Jápetos, Crios e Coios foram aprisionados no Tártaros; Átlas (filho de Jápetos e lugar-tenente da rebelião)

Hermes, você usa esta palavra rebelião mais uma vez na resposta, mas você não acha que os legalistas eram os titãs e os rebeldes os Olímpicos?
Ou após fazer seus irmãos e futuros aliados serem regurgitados pelo pai Kronos canibal, Zeus recebeu sem luta a submissão dos Titãs e estes depois traiçoeiramente questionaram a autoridade do novo senhor do Universo.
Somente no segundo caso seria rebeldia dos Titãs, não?
O usurpador foi Zeus. O fato de Zeus ter sido vitorioso, ou de seu pai ter sido tirânico, não inverte o papel dele e do pai, não?
Quando houve o "conflito", golpe de estado que seja, de Urano X Kronos, Kronos é o rebelde, usurpador e Urano o legalista deposto, não?

Hermes Trismegistus escreveu:Foi perseguido e despedaçado pelos Titãs.

Mas que titãs? Sabe-se? Eles ainda estavam no poder?
Junito Brandão não conta algo como Hera ter ordenado que alguns titãs matassem o bebê? Mas ele também não cita nomes.

Você tem razão sobre a expressão "REBELIÃO", o sentido dela, porém, Úranos foi deposto por Cronos, o que significa que Cronos era usurpador, e Zeus o vingador de Úranos. Por isso, usei termo REBELIÃO. Isso sem falar de ÓGIGOS, um titã anterior aos próprios Titãs que teria governado antes de Cronos e deposto por ele (mas isso é outra história).

Seja como for, falando-se apenas da Titanomaquia, seria melhor eu ter usado o termo GUERRA.

Sobre os Titãs que despedaçaram Zagreus, não Dionisos (que foi sua encarnação), realmente não cita nomes, mas, como mencionei acima, haviam Titãs de 1ª, 2ª e 3ª gerações, ou seja, os filhos e os netos dos Titãs Uranianos. Não obrigatoriamente seriam os Titãs Uranianos.

Perséfone nasceu durante o reinado de Zeus (após a Titanomaquia) e, obviamente, Zagreus, sendo seu filho, nasceu depois, e Dionisos (sua encarnação) muito depois ainda.

Esqueci de mencionar também que TITÃS não seria exatamente uma casta, visto que os próprios deuses também passavam por ser Titãs (de 2ª geração), pois eram filhos dos Titãs, no caso Cronos. Pela etimologia da palavra, o "titã" seria uma espécie de REI, tanto que o personagem Titan (ÓGIGOS), o primeiro, era rei antes de seus irmãos. Teria se unido à sobrinha Eurínome (filha de Océanos) e reinado como primogênito sobre o monte Olimpo depois de Cronos ter destronado Úranos. Cronos era o mais novo dos Titãs, e foi incitado por Géa a rebelar-se (eu de novo com essa palavra), depor Ógigos e tomar o governo do Cosmo para si.

Hermes Trismegistus escreveu:Cronos era o mais novo dos Titãs, e foi incitado por Géa a rebelar-se (eu de novo com essa palavra), depor Ógigos e tomar o governo do Cosmo para si.

Mas aí é rebelião mesmo! Mas eu vou te contar amigo, Gaia é uma velha intriguenta mesmo!
O poder ter ido pro primogênito Ogigos é muito interessante porque esse não costuma ser o padrão mitológico (que tem até uma explicação mais materialista!). Não conheço direito o mito de Ogigos.

Por que, por exemplo, Zeus era um deus e Prometeus era um titã, se ambos eram primos, Zeus filho de Cronos e Prometeus filho de Jápetos? O que distinguia Zeus de Prometeus? Por que deveriam pertencer a castas ou raças diferentes?

Como já mencionei, a peculiaridade de ser um deus era a sua imortalidade, cujo instrumento era a ambrosia. Por exemplo, quando Afrodite deixou o Olimpo para viver com Adônis, teve que menosprezar sua imortalidade e viver como uma mulher humana. Outro exemplo: Poseidon e Apolo, expulsos do Olimpo, foram viver, de forma humana, entre os homens, e foram construir os muros de Tróia.

No entanto, mesmo numa condição humana, ou melhor, semi-humana, ainda era um ser poderoso, mas exposto à ação do tempo, da velhice, da dor e do sofrimento. Afrodite, ao perder Adônis, tentou o suicídio, e não conseguiu morrer. Os Titãs, aqueles que não se nutriam de ambrosia, assim como os Gigantes filhos da Terra, tinham uma vida longa, mas não eram imortais, motivo pelo qual Prometeus recebeu de Quíron a sua imortalidade ao ser libertado do Cáucaso.

Por outro lado, quem decidia a morte de cada ser, especialmente os deuses, era Móros, o Destino personalizado e divinizado, que até Zeus se sujeitava como um ser vivo, e as Moiras eram as deusas que presidiam essa decisão. Porém, Zeus, dono do mundo, tinha a sua palavra como lei, e às vezes uma decisão poderia ser mudada segundo sua vontade, pois as Moiras eram-lhe submissas e cortavam o fio da vida quando o senhor do Olimpo assim o quisesse e determinasse.

Sobre ÓGIGOS (ou Ofíon). Reinou sobre a Terra, e envolveu-a em sua cauda (pois era um deus-serpente), fazendo surgir o cinturão aquático chamado de Rio-Oceano, no qual Océanos, seu sogro, passou a reinar. Essa versão é uma alusão à forma semi-circular da Terra, segundo a cultura helênica.

O interessante é que as divindades antigas, consideradas TITÃS, mesmo os deuses mais primordiais, reinavam de alguma forma. Entende-se que o primeiro rei do mundo foi o Tártaros, que Úranos subjugou e aprisionou no Orco, que era apenas um lugar sombrio, sem forma. Sepultado, assim, surgiram os Infernos como lugares úmidos, frios, sombrios e subterrâneos. Depois de Tártaros, Úranos passou a governar o Cosmo dos céus. Destronado e humilhado por Cronos, deu lugar a Ógigos, que começou a reinar sobre o Olimpo, um acesso ao céu. Mais tarde, este, destronado e aprisionado no Tártaro, deu lugar ao usurpador Cronos, cujo reinado iniciou a Idade de Ouro na Terra, e foi durante o seu reinado que surgiu a raça-humana; Cronos abandonou o céu e passou a reinar na Terra, entre os homens, aqui e ali, em lugares diferentes, sendo assim confundido com o Cronos senhor do Tempo. Por sua vez, diante de uma guerra, Zeus, com o aval e aprovação de Ógigos, destronou Cronos e fundou seu palácio sobre o monte Olimpo.

A presença de ÓGIGOS na Mitologia Grega é discutível e muitas vezes comparativa, já que Ógigos ou Ofíon passa a ser um personagem simbolicamente mencionado como um rei, assim como "titã". Ógigos não é mencionado na maioria das versões mais conhecidas entre os mitos da Criação. Porém, uma coisa é certa: Cronos era o mais jovem dos Titãs, e o poder não foi diretamente a ele concedido, mas Géa incitou-o a rebelar-se contra Úranos; o mais certo seria Océanos, o mais velho, ou mesmo Hiperíon, a personificação do Sol, que nem teve sequer um mito.

Géa, encrenqueira, teve sua mão diretamente enfiada nas guerras e conspirações que se sucederam entre as divindades. Foi sempre a mentora das conspirações, e tinha Cronos como seu filho preferido. Desaprovou a tirania de Úranos, não esforçou-se por libertar Ógigos das prisões subterrâneas e incentivou o ataque dos Gigantes contra Zeus e o Olimpo, e ainda incitou as bestas da Terra contra os filhos de Zeus.

Hermes Trismegistus escreveu:éa, encrenqueira, teve sua mão diretamente enfiada nas guerras e conspirações que se sucederam entre as divindades.

Pior que Eris, né?

GÉA, a conspiradora.
ÉRIS, o instrumento da conspiração.

Ou seja, como os deuses eram responsáveis pelos sentimentos e atitudes humanos, qualquer conflito entre os homens era justificado pela mão de ÉRIS, que incutia na vida o sentimento de discórdia. E, acompanhando-a, se seguiam a Inveja, o Ódio, a Guerra, a Carnificina, as Doenças, a Morte... os mesmos gênios que Prometeus teve que aprisionar na ânfora (caixa) de Pandora. Mas Prometeus pôs também no fundo da ânfora a Esperança, no sentido de dar uma chance à humanidade após tantas tragédias, porque sabia que se tratava de um plano de Zeus contra a sua criação: a raça humana.

Anfíon e Zetos

LICOS E NICTEUS NA CORTE DO REI PENTEUS

Flégias era filho do divino Áres e Crisa, ou de Dótis (ambas filhas de Halmos, filho de Sísifos). A princípio, foi rei de Lárissa, na Tessália. Em seguida, reinou em Orcômenos, sobre um povo da Beócia que se chamou flégios, e a região passou a chamar-se Flegíade. Tinha duas filhas pequeninas, Eurigânia e Corônis, e um filho, Íxion.

Um dia, acompanhado de sua filha Corônis, viajou para o sul da Hélade (o Peloponeso) com o objetivo de conhecê-lo para mais tarde conquistá-lo. E fê-lo anonimamente. Porém Corônis, durante o percurso, foi seduzida pelo deus Apolo.

Flégias, contrário à união de sua filha Corônis com o deus Apolo, tentou incendiar o templo de Delfos, causando a fúria do deus, que o fez morrer às mãos de Licos e Nicteus.

Filhos de Hirieus e da ninfa Clônia, os jovens irmãos Licos e Nicteus haviam fugido de Eubéia por terem matado Flégias, o famoso rei dos flégios. Deixaram Híria, a cidade de seu pai, e refugiaram-se em Tebas, onde o rei Penteus os acolheu e lhes deu residência fixa. O soberano deu-lhes cargos no seu governo, e a Licos, especialmente, o de polemarca, comandante geral das suas forças armadas.

A MORTE DE PENTEUS

Penteus era filho de Equíon e Agave, filha de Cadmos. Era irmão de Épiros. Portanto, era também primo de Dionisos, filho de Zeus e Sémele. Após a morte de seu pai, despojou Polidoros do trono de Cadméia e passou a ocupar o seu lugar. E mudou o nome da cidade para Tebas.

Acolheu Nicteus e Licos, exilados de Eubéia pela morte de Flégias, e deu-lhes hospitalidade. A Licos deu o cargo de polemarca, ou seja, comandante geral de suas tropas.

Após percorrer a Ásia, a Europa e a África e de procurar a cura na Frígia, junto de Réia-Cíbele, Dionisos, que havia nascido em Cadméia, agora Tebas, na casa real de Cadmos, desejou que esta cidade fosse a primeira da Hélade a conhecer-lhe o culto.

— Eis-me, finalmente, na terra dos Cádmios, eu, Dionisos, gerado por Sémele, após ser visitada pelo fogo dos raios; deixei a forma divina por outra mortal e venho visitar a fonte de Dirce e as águas de Ismenos. Vejo perto do palácio o túmulo de minha mãe atingida pelo raio, e as ruínas fumegantes de sua morada, e a chama celeste ainda viva, eterna vingança de Héra contra minha mãe. Aprovo a piedade de Cadmos, que, tornando este lugar inacessível aos pés dos profanos, o consagrou à filha; e eu o sombreei por toda parte de pâmpanos verdejantes. Deixei os vales da Meônia, onde abunda o ouro, e os campos dos Frígios; atravessei as planícies ardentes da Pérsia e as cidades da Bactriana, a Média coberta de pedras e a feliz Arábia, e a Ásia inteira, cujo mal salgado banha as margens cobertas de cidades florescentes, povoadas simultaneamente pelos filhos de Hélenos e pelos bárbaros, e esta é a primeira das cidades desta terra em que entrei após ter conduzido de um lado para outro as danças sagradas e celebrado os meus mistérios, para manifestar a minha divindade aos homens. Ó Tebas, a Cadméia dos meus anscestrais, és a primeira em que faço ouvir os brados das Mênades cobertas de nébrida e armadas do tirso envolto em hera.

Com isso, Dionisos passou a ser chamado de Tebano.

À medida que o culto de Dionisos espalhava-se pela Hélade, ocorria com muito entusiasmo e pouca resistência, salvo em Tebas, onde Penteus recusava-se a aceitá-lo. Vindo acalorado das cercanias de Tebas, chegou ao palácio do jovem rei Penteus, o “homem da desgraça”, um mensageiro para narrar o que ele mesmo presenciara nas suas andanças pelo monte Citéron, a elevação maior próxima à cidade. Penteus, de fato, era primo-irmão de Dionisos e alinhava-se com os partidários que negavam a ele qualquer vestígio de divindade, acusando-o de nada mais do que um bastardo condenado pela deusa Héra, a esposa de Zeus, a vagar sem destino pelo mundo, arrumando encrencas por onde passava.

A característica principal do culto de Dionisos era a formação de grupos de mulheres, as Bacantes, discípulas das Mênades; vagavam por dias a fio pelas áreas das montanhas, num transe ou frenesi, bebendo vinho, alimentando filhotes de animais, ou despedaçando-os e comendo-os depois, encantando serpentes e de uma maneira geral se portando de maneira selvagem. Devido a estes aspectos semelhantes a orgias e também pelos principais seguidores serem mulheres, a adoração de Dionisos, que já era honrado como deus, era vista com desconfiança pelas autoridades masculinas, que gostavam de manter as mulheres em casa e sob o seu controle. Por esse motivo, o próprio Dionisos foi a Tebas, determinando a punir a família de sua mãe por sua falta de fé, tanto nas suas irmãs como nele próprio. As mulheres de Tebas, incluindo as irmãs de Sémele, seguiam entusiasmadas o deus nascido de uma mortal; no correr da festa, altos brados ergueram-se do monte Citéron devido as brincadeiras.

O rei Penteus foi visitado por seu parente, o adivinho Tirésias, que o advertiu a não insultar o deus que se aproximava de Tebas, aconselhando-o a dar-lhe hospitalidade. Informado de que homens, mulheres e crianças de Tebas também participavam do séquito do novo deus, pôs-se a esbravejar, enfurecido:

— Que loucura tomou conta de vós, levando-os a participar de um cortejo de moleirões e de mulheres embriagadas? Será que esquecestes completamente de que família de heróis descendeis? Quereis permitir que um rapaz efeminado conquiste Tebas, um fracote vaidoso com uma coroa de videira sobre sua cabeleira cacheada, que se veste com púrpura e ouro em vez de aço, incapaz de dominar um cavalo e que se acovarda diante de qualquer combate? Se voltardes à razão, vereis que ele é um mortal assim como eu, que sou seu primo. Zeus não é seu pai, e todas essas honrarias dignas de um deus que ele recebe são falsas!

E voltou-se para seus servos e ordenou-lhes:

— Trazei a mim esse covarde, agora! E o trazei acorrentado!

Os amigos e parentes do rei assustaram-se diante dessa ordem pecaminosa. Tirésias cobriu os olhos vazados pela cegueira, procurando entender tamanha afronta. Até seu avô, Cadmos, já muito velho, balançou a cabeça, reprovando o gesto do neto. Mas isso incitou ainda mais o ódio de Penteus.

Mais tarde, os servos, com as cabeças ensanguentadas, vinham contar ao rei que até sua mãe, a rainha Agave com suas duas tias, estava acampada lá no alto com as Mênades.

— Algumas delas, as mais jovens, depois de despertarem, simplesmente amamentam animais, além de corças, até os filhotes de lobo sugam o seio opulento de uma ou outra tresloucada. Batendo com os cajados no chão, elas fazem saltar fontes de água pura e, querendo leite fresco, basta esfregarem os dedos sobre o solo para que ele brote em abundância! Uns pastores que subiram na montanha as viram e, acoitando-se por detrás das sebes e arbustos, tentaram, liderados por um mais afoito e corajoso, resgatar tua rainha-mãe de um dos coros organizados pelas Mênades, pensando assim poder agradar a ti. Mas foi um desastre! Tomadas por uma fúria divina, empunhando tirsos, centenas delas saíram em disparada atrás deles! Não só seguiram-nos morro abaixo, como invadiram duas aldeias, não sem antes estraçalhar bois e vacas que encontraram pelo caminho, lançando-se a esviscerar novilhas com as mãos. Um horror! Os ferros e as lanças que os aldeões jogaram contra elas revelaram-se inúteis! Elas realizavam prodígios que as deixavam imunes aos assaltos, enquanto uma simples sacudida do tirso abriam chagas enormes a quem se impusesse!

Penteus estava estupefato. E perguntou-lhes:

— Onde está Dionisos? Eu vos ordenei que o trouxessem!

— Não vimos Dionisos em lugar nenhum. Mas te trouxemos um homem de seu séquito. Parece que só há pouco tempo está com ele. Queres interrogá-lo?

E o trouxeram à sua presença. Penteus fitou o prisioneiro com olhos cheios de ódio e então gritou: