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Ares, o deus da guerra

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Ares, o deus da guerra - Página 3 Empty Re: Ares, o deus da guerra

Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:18

— Mais uma vez, Áres, digo-te: pensa antes de qualquer ação. Afrodite pode abandonar-te para sempre... Não te arrisques a perdê-la...

Zeus dizia essas coisas, mas, no fundo, como era o sábio dos sábios, compreendia o alcance de suas próprias palavras. Pedir a Áres para pensar antes de decidir? Dizer ao rei da guerra, a quem a luta era o impulso que o movia, para evitar o risco? Zeus, mais do que ninguém, sabia que não podia fazer nada para controlar paixões, viessem de onde quer que viessem. O próprio Zeus tinha dificuldades para controlar seus impulsos, sempre atraído por fogosas Ninfas ou por sedutoras mortais...

Áres, então, bradou com força, para que todos os deuses do Olimpo pudessem ouvir o que dizia com o rosto ardendo, incendiado pelo ciúme — isso porque sabia que Hefaístos não se encontrava no Olimpo, naquele momento.

— Adônis, insolente filho de uma árvore! Eu te condeno, a partir de hoje, a dividir o amor de Afrodite com o amor, não menos intenso, pela caça e por seus perigos!

Devido a musa Clio ter-se oposto aos amores entre Adônis e Afrodite, ela não foi ouvida. Pensando em poupar Afrodite dos sofrimentos que haveria de ter, levou-a para a Macedônia, e Afrodite, despida de seus poderes de deusa, apaixonou-se irresistivelmente pelo mortal Píeros, o rei de Pella, já avançado em idade. Com ele, teve um filho, Jácintos. Assim, muito honrado, Píeros introduziu em seu país o culto das Musas.

Mas Afrodite, saudosa de seu amado Adônis, que ficara nas terras da Síria, abandonou Píeros e partiu.

Adônis transformou-se, com o tempo, num homem forte, alto, sempre muito ativo, com energia de sobra. Caçar, no fundo, não deixava de estar entre as coisas que ele mais apreciava fazer. Porém, submetido inevitavelmente à influência maligna e vingativa do deus Áres, passou a ser um caçador obstinado. A ausência do amor de Afrodite serviu para que perdesse muito o seu encanto.
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Ares, o deus da guerra - Página 3 Empty Re: Ares, o deus da guerra

Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:19

Não era o mesmo Adônis de antes. Ficou irreconhecível em seu novo comportamento. À sua passagem, os habitantes da região comentavam entre si a brusca mudança que havia sofrido:

— Quem olha para ele pode até pensar que caçar animais é a única coisa que existe para ser feita nesta vida...

Isso era o que comentavam as apaixonadas, enquanto os anciãos assim diziam:

— Ele agora vive unicamente voltado para esse objetivo. Nem se alimenta mais direito, e mal dorme à noite, porque todas as horas são horas boas para caçar...

— Pobre rapaz, vai definhar se continuar dedicando todo seu tempo à caça...

Afrodite acompanhava seu amado dia e noite, sob o Sol e sob as estrelas, com chuva ou céu limpo. Por isso, ela, que sempre o estava vigiando à distância, quando não podia estar presente ao seu lado, foi a primeira a notar a repentina transformação sofrida por Adônis. Agora ele enfrentava, de peito aberto e olhar frio, os perigos mais terríveis, sem qualquer sombra de hesitação. Coisas que antes Adônis procurava evitar a todo custo começaram então a ser corriqueiras: ele cruzava águas profundas e geladas a nado, atrás de pegadas de ursos; escalava torres imensas de rocha escorregadia perseguindo águias; passava longas noites em vigília, espreitando as trilhas e os esconderijos dos lobos da montanha. Afrodite o aconselhava:

— Meu querido, não deves queimar tua força e tua juventude entregando-te cegamente a isso. Toma muito cuidado. Os perigos desta terra nem sempre se mostram com clareza diante de nossos olhos.

A deusa mal podia imaginar nesse instante o quanto de verdade e de profecia continham essas suas doces palavras. De fato, perigos invisíveis rondavam Adônis, embora não o visando como caçador, e sim como uma atraente presa.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:19

Aconteceu que a irresistível beleza de Adônis havia também despertado a atenção de outra deusa: Perséfone, a linda mulher de Hádes, o rei do mundo subterrâneo. Ela era a rainha, dona de uma beleza melancólica e misteriosa, soberana do mundo infernal que apenas se revelava aos olhos dos mortais quando eles atravessavam o Estige, que com suas águas caudalosas separava os vivos do mundo dos mortos, ao qual eram levados, no fim de seus dias.

Um dia, durante um passeio pela montanha, fora dos limites de seu reino, já que houvera chegado a época em que lhe fora permitido afastar-se, Perséfone viu Adônis em companhia de Afrodite. Ambos riam e dançavam por entre as árvores, felizes. De repente, Afrodite disse:

— Querido Adônis, quero que me prometas uma coisa...

— O que quiseres. Pede, e eu prometerei.

— Promete que vais parar de correr atrás de animais perigosos, de uma vez por todas. Meu coração não suporta tamanha carga...

E, deitando a cabeça sobre o colo da deusa, disse-lhe:

— Está prometido, Afrodite.

Enquanto isso, Éros, sempre imprevisível, e sempre pronto para divertir-se com suas próprias traquinagens, estava escondido entre as pedras, abrigado à sombra de um cedro portentoso.

Perséfone olhava o feliz casal e não percebia que era espreitada por Éros. Este, instintivamente, desferiu uma certeira flechada. A pontada fez-se sentir no mesmo instante no peito de Perséfone: ela se apaixonou sem remédio, à primeira vista. Adônis não a vira, mas ela prometeu a si mesma, decidida:

— Adônis, belo e gentil Adônis... Um dia tu serás meu, mesmo que eu me veja obrigada a dividir teu amor com Afrodite...

E, depois de permanecer por alguns instantes pensativa, observando o casal que se divertia à distância, ela acrescentou, continuando a conversar consigo mesma:

— E tu, deusa do amor e da beleza, aguarda o que virá. E aproveita bem esses maravilhosos momentos, enquanto puderes...
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:19

Atrás de um sorriso sombrio e fascinante, os dentes de Perséfone rangiam enquanto ela retornava a sua morada, no Mundo dos Mortos. Não podia demorar-se por muito mais tempo em seu passeio naquela região do mundo superior, já que seu marido, Hádes, não permitia, exceto na época prevista para o seu retorno para a casa de sua mãe, Deméter. Perséfone, na verdade, não se preocupava muito com seu marido, e não vacilava quando se deparava com alguma ocasião que lhe permitisse engendrar qualquer tipo de vingança, e pensava:

— Como esquecer que, antes de ser meu marido, foi meu sequestrador? Como apagar da memória aquele fatídico dia em que eu, ainda uma menina sonhadora, vi Hádes surgir em seu resplandecente carro dourado puxado por dois cavalos negros, raptando-me para viver com ele nas entranhas da Terra para todo o sempre?

Adônis, descumprindo a promessa, continuava intensamente obcecado pela arte da caça. A deusa Afrodite apenas tentava aconselhá-lo. Ela já havia compreendido ser impossível fazê-lo mudar de ideia, percebendo que só podia limitar-se a avisá-lo para que tomasse muito cuidado, pois estava apreensiva e preocupada:

— Tu podes caçar corças, lebres, cabras selvagens... Querido, ouve-me. Sê bravo com os tímidos. A coragem contra os corajosos não é segura. Evita expor-te ao perigo e ameaçar minha felicidade. Não ataques os animais que a Natureza armou. Não aprecio tua glória ao ponto de consentir que a conquistes expondo-te assim. Tua juventude e a beleza que me encanta não enternecerão os corações dos leões e dos rudes javalis. Pensa em suas terríveis garras e em sua força prodigiosa! Odeio toda a raça deles. Queres saber por quê? Queres saber?

E, então, contou a história de Atalanta e Hipómenes, que ela transformara em leões, para castigo da ingratidão que lhe fizeram.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:20

Mas a paixão estimulada pelos poderes do deus Áres era mais forte. Adônis sentia-se atraído pela caça mais perigosa e difícil: pelos lobos, pelos ursos, pelos pumas que infestavam as montanhas e florestas da Fenícia e da Síria.

Numa bela manhã, que anunciava a chegada do outono, as primeiras folhas das árvores caíam e o vento gelado já ensaiava suas primeiras rajadas, Adônis e Afrodite descansavam à beira de um regato de águas azuis. Haviam passado a manhã despreocupados, compartilhando agradáveis momentos entre banhos de cascata e brincadeiras dentro d’água com saltitantes peixinhos.

Áres, que tudo acompanhava das alturas do Olimpo, pressagiava um dia cheio de problemas, entre gargalhadas:

— Vamos caçar! Vamos caçar, estúpido filho de uma árvore! Vamos caçar!

Afrodite adormecera, e Adônis estava prestes a acompanhá-la no doce sono quando ouviu o ganido de seus cães, chamando-lhe a atenção. Adônis levantou-se e foi averiguar, quando notou um vulto agitando a espessa folhagem que os circundava. E sussurrou, preocupando-se em não elevar o tom da voz para evitar que Afrodite despertasse:

— Quem está aí?

Movido mais que tudo por seu instinto, e esquecido de ter prometido a Afrodite que evitaria caçadas perigosas, ele se ergueu com cuidado. Apanhou seu arco dourado, e também um punhado de flechas. Caminhou um pouco e voltou a perguntar, agora com mais força na voz:

— Quem está se escondendo aí? Por que não aparece?

Medindo os próprios movimentos, Adônis procurava distinguir aquilo que tanto podia ser uma pessoa como um animal. Apenas lhe era possível enxergar uma inquieta massa escura, protegida pela vegetação. Seria um ladrão? Um urso? Uma pantera? Ou seria um ente monstruoso vindo dos Infernos?
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:20

Nada se ouvia, nem mesmo os movimentos naturais do vento e da água. Até que, subitamente, o vulto passou a deslocar-se com rapidez. Adônis, correndo até o canil, libertou os seus animais e decidiu persegui-lo com longas e lentas passadas, afastando-se assim, cada vez mais, do local onde Afrodite continuava mergulhada no mais profundo sono. Pela terceira vez, Adônis perguntou:

— Quem está aí? Por que não pára de fugir e se esconder? Aparece!

De repente, ecoou pela mata um grunhido pavoroso. Um som que Adônis conhecia muito bem, porque era bastante familiar a todos os caçadores experientes do país. Adônis soltou os cães, que saíram velozmente em perseguição da caça. O caçador saiu cambaleante, tentando acompanhar os seus cães, até que chegou ao local onde eles cercavam um possível esconderijo.

Um ruído surdo escapou do interior da toca: o maior de seus cães havia descoberto uma entrada lateral e entrado por ela, o que obrigaria a fera a sair pela entrada principal, guarnecida pelos demais cães.

Ele procurou preparar rapidamente seu arco, e logo vislumbrou o corpo de um gigantesco javali negro. Viu, em primeiro lugar, o chifre afiado refletido ao Sol. O reflexo teve o efeito de um relâmpago: foi o suficiente para fazer com que o tiro de Adônis se perdesse. A flecha rasgou os ares e foi perder-se em algum lugar. Os cães afastaram-se. E Adônis pôde ver o animal por inteiro, que surgia furiosamente com seus olhos vermelhos. De um único salto, o javali, com uma agilidade fenomenal, partiu veloz na direção do caçador. Adônis só teve tempo de dizer uma única palavra, enquanto procurava ajustar uma segunda flecha ao arco:

— Demônio!

E a fera saltou sobre Adônis, num só golpe, que não gritou, mas caiu em silêncio. O chifre, rígido como uma lança, enterrou-se no fundo de seu peito, tão fundo, que o javali ainda debateu-se por alguns instantes antes de se desvencilhar e desaparecer, levando atrás de si os cães enfurecidos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:20

No exato momento em que isso ocorria, Afrodite acordou num sobressalto e levantou-se mais do que depressa. Ela não havia percebido qualquer ruído estranho, mas sentia em seu peito oprimido que deveria estar acontecendo alguma coisa de ruim. E não demorou a descobrir. Notando a ausência inexplicável de Adônis, saiu gritando, atordoada, sem saber qual direção tomar:

— Adônis! Adônis! Meu querido!

Após muitas e desorientadas corridas de um lugar para outro, Afrodite, há muito esquecida de ser uma deusa, finalmente conseguiu avistar Adônis: lá estava em um pequeno desfiladeiro ao lado do regato de águas azuis, pouco abaixo do local onde eles descansavam momentos antes. Ele estava encostado numa árvore, reclinando o corpo ferido.

— Adônis, meu amor, o que houve?

Ele estava com o ventre todo manchado de sangue, e, num último esforço, balbuciou, enquanto recostava a cabeça sobre o ombro de sua amada, que o amparava:

— É o meu fim...

Afrodite conseguiu chegar a tempo de ver o último olhar e sentir o derradeiro suspiro de seu amado:

— Adônis! Adônis! Oh, maldição!

Enlouquecida de dor, rasgou seu véu e procurou aflita interromper o fluxo de sangue que jorrava daquele peito já sem vida. Não havia mais nada a ser feito.

Afrodite voltou os olhos para o Céu, buscando acusar as Moiras, que cortavam o fio de vida de seu amado:

— Vosso ato, porém, constituiu um triunfo parcial. A memória de meu sofrimento perdurará, e o espetáculo da morte de Adônis e de suas lamentações será anualmente renovado. Seu sangue será mudado numa flor; este consolo ninguém pode negar-me!

O sangue de Adônis banhava a terra. E Afrodite espalhou néctar sobre ele, levantando bolhas do solo. Ali, naquele mesmo local, onde ele foi enterrado, cresceriam, meses depois, as anêmonas, as primeiras flores da primavera, de vida curta, porém.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:21

Desesperada, Afrodite vagou sem rumo pelas trilhas, chorando e lamentando-se. Puxava seus próprios cabelos e golpeava seu peito com os punhos cerrados, violentamente. Seus uivos de dor fizeram as pessoas da região acompanhá-la aos prantos, e os mais velhos tiveram certeza de que ela perderia o domínio da razão, embora fosse uma deusa.

Do sangue que brotava dos pés de Afrodite, feridos por espinhos, pois havia perdido suas sandálias, nasciam rosas vermelhas — que até aquele dia eram todas brancas. Das lágrimas que derramava sobre a terra, nasceriam mais anêmonas, tal qual as que nasceriam do sangue de Adônis.

Os fenícios da região sentiram profundamente o desaparecimento daquele seu amado filho de criação, que a própria deusa Atárgatis havia-se apaixonado. Diante das casas, nos terraços, nas janelas, foram colocadas estátuas de barro sobre leitos de prata, representando Adônis. Estátuas como essas eram também enterradas, envoltas em mantos púrpura, ou então conduzidas até a costa, sendo atiradas ao mar, acompanhadas de oferendas de flores e cânticos de saudade. Mulheres vestidas de negro saíram por toda região em melancólicas procissões, gemendo e batendo no peito, repetindo os mesmos gestos de dor da deusa do amor.

Os ritos funerários se estenderam por três dias. Todos lamentavam a dor imensa que se apossara da inconsolável Afrodite, mas o poder limitado dos mortais impedia que pudessem prestar qualquer ajuda.

Mas inconsolável mesmo estava seu amigo Mélos, que, não mais suportando a trágica ausência de Adônis, correu para enforcar-se numa macieira. Pélia, a filha de Cíniras e irmã de Adônis, não podendo se conformar com o suicídio do esposo, fez o mesmo. E Afrodite, percebendo que seu amor era pouco comparado com o que sentiam Mélos e Pélia, transformou o primeiro numa maçã e a segunda numa ave. E resolveu criar o filho destes, Mélos, no seu santuário, em Cipros.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:21

Lêucade era uma ilha que se achava no mar Jônico, perto de Córcira. Era famosa porque possuía um alto promontório da qual se atiravam ao mar os amantes feridos que queriam esquecer suas penas e curar sua paixão. Afrodite, que não sabia como esquecer a Adônis, se lançou penhasco abaixo por conselho de Apolo, que sabia nada haveria de acontecer a ela, e ficou surpreendida já que não lhe havia passado pela mente que não morreria.

Em vista deste acontecimento, o promontório da morte ficou ainda mais famoso, e foram muitos os que se dirigiram ao lugar para esquecer seus problemas amorosos. A preparação consistia em uma série de oferendas religiosas e atos de fé, e todos os que se sacrificavam se mostravam convencidos de que não sofreriam mal algum, que retornariam com vida graças à ajuda do deus inspirador, o deus Apolo.

Porém, com o passar do tempo, o costume cairia em desuso devido ao perigoso ato, impensável, e os sacerdotes do lugar viriam a idealizar um novo sistema: haveriam de armar redes para suavizar a queda, ao tempo que com barcas recolher-se-iam da água os aparentes suicidas.

Bem mais tarde ainda, recusando-se muitos de saltarem desta forma, sem resultado algum, passariam a atirar penhasco abaixo um cofre cheio de prata, depois de realizados todos os rituais. Ironicamente e, de certa forma, haveriam de se sacrificar.

Então, Éros, o deus do amor, não percebendo uma abelha adormecida nas rosas, foi por ela picado quando tocava para colher uma. Ferido no dedinho da mão, soluçou, correu, voou para o lado de sua mãe, no Olimpo:

— Mãe, estou perdido! Morrerei! Uma serpentezinha alada me picou! Os lavradores disseram que era uma abelha, mas digo que é perigosa e a dor me consome!

— Meu filho, se o aguilhão de uma simples abelha que te picou para se defender te faz chorar, então reflete: como devem sofrer aqueles a quem tu atinges com as setas! Vai, tu não morrerás, e pensa um pouco sobre o que te disse.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:22

Adônis empreendeu sua desoladora viagem rumo ao Reino das Sombras, o destino de todos aqueles que eram afastados da vida no mundo superior. Na primeira encruzilhada da trilha sombria que seguia, Adônis viu surgir a sua frente um homem alto, corpulento. Usava um elmo, calçava sandálias aladas e segurava um cetro de ouro.

— Tu deve ser Hermes, o deus mensageiro do Olimpo, como Afrodite havia-me ensinado...

— Exatamente.

— Tu és o protetor dos viajantes. Fico inteiramente grato, vou precisar de ajuda, afinal...

— Estou aqui para isso. Eu devo acompanhar-te até o reino de Hádes. Esse é um dos meus inúmeros trabalhos.

E passaram a viajar juntos. De repente, Hermes perguntou:

— Tu tens uma moeda?

— De que moeda tu te referes?

— Do óbolo... Não me digas que não trouxeste a moeda para pagar o barqueiro Caronte? Falta muito pouco para chegarmos à beira do Estige, e ele virá buscar-te! Se não pagares, ele vai inpedir-te de ingressar no reino de Hádes...

— Pois bem, Hermes. Eu não trouxe nada, nem ao menos conheço um óbolo, pois sou fenício... E não estou fazendo esta viagem por minha própria vontade. E tu sabes que eu não escolhi seguir para esse lugar...!

Hermes estava estupefato. Não esperava por isso, pois era costume grego por sob a língua do morto um óbolo para o pagamento de Caronte. Adônis prosseguiu:

— Sendo assim, começo a viagem de volta agora mesmo.

Hermes coçou a cabeça, estava confuso. Não via possibilidade de Adônis retornar à vida, mas jamais havia estado em tal situação, com um estrangeiro rumo ao reino de Hádes. E, notando que Adônis já havia tomado o caminho de volta, segurou-o pelo ombro e disse-lhe:

— Espera! Espera! Está bem. Eu te empresto uma moeda, embora eu saiba que tu nunca vais poder voltar para pagar...
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:22

Assim, depois de cruzarem planícies desertos, chegaram às margens do Estige, onde o barqueiro Caronte já aguardava. Adônis subiu ao barco, acenou para Hermes despedindo-se e pagou com a moeda pelos serviços do sombrio barqueiro. Ficou observando, entre curioso e amedrontado, como o repelente espectro a recolheu de suas mãos e a depositou numa bolsa imunda que estava no chão do barco. Era uma bolsa cheia de moedas, quem sabe o mesmo número de mortos mais recentes que por ele haviam passado.

Desembarcando na margem oposta, Adônis foi encaminhado ao palácio de Hádes e Perséfone. Assim que deixou o barco, viu que ali estava montando guarda um asqueroso mastim, Cérberos, com suas três medonhas cabeças. O animal, entretanto, apesar de sua aparência, comportou-se com docilidade, lambendo-lhe as mãos. Ele era mantido com a única função de evitar que os mortos tentassem fugir do Destino.

Tomando o rumo do palácio, Adônis cruzou então uma planície repleta de narcisos, um lugar onde havia tanta neblina que ele mal conseguia enxergar os próprios pés. Quanto mais se aproximasse do palácio, porém, mais o ar clareava. Penetrou num amplo campo, muito verde, cortado por riachos. Dali avistou nitidamente o imponente palácio real. À entrada, Adônis foi recebido pelos três juízes supremos do Mundo das Sombras. Três homens muito sábios, cuja missão era proceder ao julgamento dos recém-chegados. Radamantes, Minos e Éacos eram seus nomes.

Adônis, sem saber que procedimento ter nessa situação, ficou esperando para ver o que eles fariam. Minos o recepcionou com um gesto de reverência:

— Sê bem-vindo, Adônis. A rainha Perséfone já nos informou de tua chegada!

Radamantes emendou:

— Estamos nos sentindo muito honrados com tua visita.

Éacos, o terceiro juiz,, completou:

— Está tudo preparado para recepcionar-te no palácio.

Adônis não estava entendendo muito bem o que os juízes desejavam com toda essa atenção e gentileza. Preferiu agradecer curvando o corpo para diante, sem nada dizer.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:22

No palácio, um imenso salão de festas estava preparado. Adônis foi tratado como um visitante muito especial, não um morto comum. A festa havia sido preparada para ele, o que não deixou de emocioná-lo. Embora sentisse muita falta de Afrodite, pretendia passar aquela noite a beber, dançar e cantar.

Serviram-se imensas bandejas de ouro, repletas de uvas, romãs e figos. Vinhos e néctares extasiantes foram oferecidos em taças de cristal. Manjares irresistíveis apareceram nas mesas. Adônis, ainda que entusiasmado, sabia que deveria evitar a todo custo comer qualquer coisa sólida: sabia que, no mundo subterrâneo dos mortos, aquele se alimentasse de algo sólido estaria obrigado a prestar serviços por toda a Eternidade ao rei Hádes. Uma maldição fatal para os mortais, mas que mesmo um deus não poderia arriscar-se a desafiar.

Cuidadoso em tudo o que fazia durante a festa, Adônis não comeu nem mesmo um caroço de romã, mas participou dos festejos, dançando e cantando a noite inteira. E bebendo muito vinho, também.

Mas isso não foi suficiente para impedir que, na madrugada perfumada a incenso, ele percebesse um vulto no limiar de seu quarto de hóspede:

— Quem está aí?

O vulto aproximou-se mais. Adônis vislumbrou um corpo feminino atrás do vestido longo. E sentiu o forte cheiro de sândalo.

— Perséfone é quem está aqui, ilustre visitante.

Adônis levantou-se para reverenciar a rainha, mas sentiu-se um pouco tonto. O vinho fazia seu efeito.

— Descansa. Deita de novo.

Adônis percebeu que ela estava sozinha e que trancara a porta atrás de si. Podia ver melhor seu rosto belíssimo, embora sempre melancólico, a se aproximar do seu. Havia bebido, é claro, mas não o suficiente para impedir que até o amanhecer se entregasse de bom grado aos prazeres proporcionados pela companhia da sedutora rainha Perséfone.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:23

No Olimpo, todos esses fatos não podiam deixar de tocar os deuses. Atendendo a um pedido feito por Atena, Zeus, que se sentia muito comovido com a dor de Afrodite, mandou vir a sua presença seu irmão Hádes, o soberano dos Infernos.

— Meu amado irmão, quero pedir-te um favor muito, mas muito especial.

— Um favor especial, solicitado pela boca do rei dos deuses, é uma ordem a ser cumprida.

— Temo que não deve ser uma ordem muito fácil de ser cumprida, Hádes, meu irmão.

— Continuo ouvindo com atenção e sinto-me honrado, com antecedência, por qualquer coisa que venhas a me pedir. E mais honrado ainda me sentirei se puder atender teu pedido.

— Quero dizer-te que, se Afrodite não tiver Adônis de volta, ela vai enlouquecer. E a deusa do amor e da beleza não pode ser levada à loucura...

— Já estou a par de tudo o que houve e posso muito bem entender teu pedido. Mas lamento dizer que Adônis está impedido de retornar. Ele já foi recepcionado em meu reino...

— Eu insisto, Hádes. Consulta quem for preciso consultar. Vê todas as possibilidades, fala com tua mulher, a rainha Perséfone. Tenho certeza de que ela vai se mostrar compreensiva...

— Mas, meu irmão...

Zeus, com um gesto firme de suas duas mãos, interrompeu-o. Seguiu-se um breve e profundo silêncio. Em seguida, Zeus, inesperadamente, deu um salto, deixando seu trono, e disse:

— Não te esqueças de uma coisa: um deus não pode ser retido por toda a Eternidade em teu reino!

— Um deus? Quem? Adônis?!

— Claro! Um deus pode passar uma temporada nos Infernos, mas nunca permanecer ali por toda a Eternidade! Olha, eu vou fazer uma sugestão... Calíope!

Zeus voltou a sentar-se no trono. Nisso, a musa Calíope se aproximou e deu o seu veredicto:

— Adônis poderá permanecer seis meses convosco e seis meses vivendo com Afrodite no Olimpo, nos montes da Fenícia ou onde bem entender... Perséfone e Afrodite têm direitos iguais.

— Mas algo assim jamais aconteceu antes, ao que eu saiba... ou me lembre...
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:23

— Acontece com Perséfone, não é mesmo? E isto não é razão para que não aconteça outra vez... Afinal, Hádes, estamos falando de um deus...

Hádes, olhando desconfiado para o irmão — pois sabia muito bem que Zeus guardava segredo sobre Perséfone, filha dele e de Deméter — não quis magoá-lo, e disse-lhe:

— Meu irmão, eu não vou decidir isso sozinho. E nem posso fazê-lo. Devo consultar Perséfone e também os três sábios juízes que julgam as almas recém-chegadas a meu reino.

— Ah, sim, meus três filhos: Minos, Radamantes e Éacos!...

— Que sejam! Em breve te darei uma resposta definitiva.

Zeus acompanhou seu irmão até as portas do palácio. Hádes subiu em sua biga dourada, com os dois corcéis negros resfolegando, já impacientes. Despediram-se com um poderoso abraço, e Zeus disse:

— Hádes, não esquece: vós não podeis reter um deus por toda a Eternidade.

Hádes retirou-se do Olimpo, iniciando sua longa, mas rápida viagem de volta ao Reino das Sombras. Apressado, Hádes ingressou em seu palácio. Antes mesmo de repousar para procurar recompor-se, expôs à sua mulher, Perséfone, a proposta que havia sido feita por Zeus:

— Meu irmão insistiu muito no pedido. Ele sugeriu que Adônis retorne ao mundo superior, que possa frequentar tanto o Olimpo como o mundo dos homens.

— O Olimpo, me disseste?

— E ainda essa. Descobri que ele é um deus. Mas quem conhece todos os deuses?

— Ele só poderia ser mesmo um deus. Bem que eu andava desconfiada. Um ser com tantas qualidades não seria mesmo apenas um desprezível mortal...

— O que foi que disseste?

— Nada. Estou falando sozinha.

Hádes sentou-se, sem insistir naquilo que sua mulher lhe dissera. Ele parecia estar realmente preocupado com a triste história de Adônis e Afrodite, a história de um amor ceifado em plena etapa de florescimento. Afinal, qualquer deus preocupava-se com Afrodite, que era a deusa responsável pelos assuntos do amor. Acrescentou, então, antes que sua mulher continuasse a falar:
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Ares, o deus da guerra - Página 3 Empty Re: Ares, o deus da guerra

Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:23

— Mas é impossível permitir o retorno dele. Não se volta mais depois de ter entrado em nosso reino...

— Impossível? Hádes, acho que tu estás envelhecendo muito depressa para um deus. Tua memória está ficando péssima, meu marido. Deuses podem voltar, e tu sabes muito bem disso. E mesmo mortais já entraram em nossos domínios e puderam retornar para o mundo superior. Lembra-te de Héracles, Orfeus e Teseus? E Sísifos? Por acaso tu não te recordas mais do que houve com Psiqué?

— Com quem?

— Psiqué. Por sinal, foi um episódio que também envolveu a participação de nossa adorada Afrodite... Ela mandou Psiqué até nós para apanhar uma encomenda. Não te recordas? A moça viajou, cruzou o Estige e voltou da mesma forma como veio...

Hádes fez cara de quem estava sendo obrigado a fazer uma imensa força para injetar vida nas lembranças que lhe passavam pela cabeça. No entanto, tinha também más lembranças sobre Alceste, que Héracles conseguiu livrá-la de seu reino, e de Tântalos, que havia conseguido burlar a Morte. Perséfone, agora com um brilho estranho nos olhos, continuou:

— Uma solicitação de Zeus não pode ficar atrás de um pedido de Afrodite, não achas, meu marido? Trata-se de um caso que merece ser avaliado com todo cuidado.

— Muito bem. E o que tu me propões?

— Manda dizer a Zeus que nós concordamos...

— Então vamos resolver assim a situação? Deixando simplesmente Adônis ir embora?

— Não é bem isso. Eu tenho uma ideia. Por que tu não sugeres que ele passe metade do ano aqui e a outra metade ao lado de Afrodite?
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Ares, o deus da guerra - Página 3 Empty Re: Ares, o deus da guerra

Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:24

Perséfone pronunciara essas palavras como se houvesse antecipadamente combinado com Zeus. Hádes empalideceu e precisou tomar um licor, mas controlou-se. Estava muito surpreso diante da rapidez com que sua mulher havia tomado tal decisão, e também com a coincidência, que lhe pareceu espantosa. Mas preferiu se calar. Embora estranhasse tudo, Hádes decidiu colaborar, e providenciou para que Zeus e Adônis fossem informados a respeito da proposta. E a própria Perséfone encarregou-se de comunicar pessoalmente a novidade a Adônis, aproximando-se languidamente do leito onde o jovem repousava.

— Já está tudo acertado. Tu vais morar aqui, nos melhores aposentos para hóspedes do palácio, durante seis meses, no outono e no inverno.

— Estou às tuas ordens, Perséfone. Sou teu escravo.

Adônis já percebera ser melhor moldar-se aos desígnios de deuses poderosos, e em cujas mãos seu próprio destino parecia estar traçado havia muito tempo. A partir de então, todos os anos, Adônis receberia permissão para retornar ao mundo dos homens, aos braços acolhedores de sua amada Afrodite. Faria isso sempre no início da primavera e se prolongaria no verão. Ele ficaria então seis meses em companhia de Afrodite, em sua cabana de pedra.

Durante os outros seis meses, Perséfone passaria parte de seu tempo burlando a atenção do rei Hádes, visitando sorrateiramente o hóspede que deixava seu coração sobressaltado de paixão. E as coisas ficariam assim para sempre, embora Hádes, um tanto desconfiado, às vezes resolvesse perguntar:

— Perséfone, há muito tempo tu não sais para dar teus passeios pelo mundo superior. O que está acontecendo?

Ao que Perséfone, com seu estranho brilho nos olhos, respondeu sempre tratando de serenar seu vigilante marido:

— Este ano o tempo anda muito feio. Chuva que não cessa mais e neve insuportável. Melhor é ter paciência e deixar que volte a primavera, Hádes...
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:24

Todos os anos, quando chegava o momento de Adônis regressar ao mundo subterrâneo, aos aposentos palacianos onde ele se encontrava secretamente com Perséfone, o céu ficava escuro, soprava um vento frio e nuvens turbulentas cobriam todo o firmamento: era o outono que começava. Assim que, seis meses depois, tinha início a radiante primavera das montanhas da Fenícia, a neve e o gelo aumentavam o caudal dos regatos, rios e riachos. O fio de águas azuis, junto ao qual Adônis recebera o golpe mortal do javali, tingia-se nessa época de vermelho. Para o povo da região, esse regato, que corria desde sua fonte nas alturas da cidade de Baalbeck e transformava-se durante sua queda acidentada num rio que se precipitava através de inúmeras cascatas antes de desembocar, junto a Biblos, nas águas do mar, passou a levar um nome: Adônis. E, junto a ele, o deus e Afrodite viveram seu intenso e eterno amor de primavera e verão.

Mas as deusas não jogaram limpo. De vez em quando, uma ou outra dava um jeito de segurar Adônis mais um pouquinho, ou raptavam-no fora de época, ocasionando, assim, aqueles climas descontrolados e impróprios às estações ocorrentes.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:24

NA GUERRA DE TRÓIA

Durante o cerco de Tróia, com a ausência de Aquiles no campo de batalha, Atena deu força e valor a Diómedes, filho do famoso Tideus, a fim de que ele se tornasse proeminente entre todos os gregos e alcançasse glorioso renome. De seu elmo e escudo ela fez sair um brilho sem igual. Diómedes dirigiu-se para o centro do combate a pé. Fegeus e Idaeus, filhos de Dares, um sacerdote de Hefaístos, adiantaram-se e investiram contra Diómedes. Fegeus, do seu carro, lançou o dardo, e a ponta passou sobre o ombro esquerdo do tidida, sem feri-lo. Em seguida, atirou sua lança contra o peito de Fegeus, derrubando-o. Idaeus, saltando do carro, deitou a correr, abandonando o corpo do irmão. O deus Hefaístos protegeu seu favorito, escondendo-o nas trevas, e o levou aos braços do velho pai Dares. Então, Diómedes tomou as rédeas dos cavalos e deu-os a seus camaradas para que os levassem aos navios. Ao verem que um batia em retirada e outro mordia o pó da terra, os troianos sentiram-se perturbados. Então, Atena, segurando pela mão o impetuoso Áres, disse-lhe:

— Áres, Áres, ruína dos mortais, por que não deixamos os troianos e os aqueus nas mãos de nosso pai, seja a quem for que outorgue a glória?... Retiremo-nos e evitemos a ira de Zeus.

Foi dessa forma que Atena conseguiu afastar o deus Áres da batalha. Levou-o para com ela sentar-se junto do Escamandros. Assim, os guerreiros mortais reduzidos aos seus próprios recursos, embora soubesse Atena muito bem que o seu favorito Diómedes lutava com a força que ela lhe incutira.

De imediato começaram os argivos a fazer pressão contra o inimigo; e perante cada chefe grego caía um troiano.

Mais tarde, ameaçado, Diómedes ergueu uma prece à Atena:

— Ouve-me, Atritônia, filha de Zeus, o portador da égide, assim como um dia amparaste o meu pai, Tideus, sê-me propícia agora! Dirige a minha lança contra o homem que me feriu, para que ele não possa ver mais a luz do Sol!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:25

Ouviu-o a deusa e deu-lhe força e vigor, e fez esquecer a dor de que ele sentia.

— Coragem, Diómedes, luta contra os troianos. Eis que coloquei em ti o valor de teu pai, a intrepidez de Tideus. Tirei de teus olhos as trevas para que consigas distinguir os mortais dos deuses. Se por ventura um imortal se arremeter contra ti, não o enfrentes. Com a lança, somente poderás ferir Afrodite, se ela se puser ao teu alcance.

Atena, então, retirou-se, e o filho de Tideus avançou novamente contra os inimigos, como um leão furioso. Embora ele estivesse antes ansioso para lutar, agora um tríplice valor o dominou.

Presenciando tamanha carnificina que Diomedes provocava nas hostes troianas, os inigualáveis Pândaros e Enéias aproximaram-se furiosamente de Diómedes. Porém, antes de qualquer atitude ousada, gritou Pândaros:

— Diómedes! As setas não podem te matar? Então experimenta minha lança!

E atirou-a, atingindo o escudo do tidida. A ponta de bronze atravessou o escudo, atingindo a couraça do herói, fazendo o lício Pândaros rejubilar-se:

— Foste ferido no ventre e não sobreviverás por muito tempo! Deste-me uma grande glória!

— Erraste o alvo, infeliz! Não me detereis antes que um de vós caia, saciando a sede de sangue de Áres!

Nisso, Diómedes atirou sua lança, e Atena guiou-a até o nariz de Pândaros, junto dos olhos, e passou através dos dentes, indo cortar-lhe a língua e atravessar a mandíbula. Ele caiu da biga e sua armadura retiniu sobre ele. O filho de Afrodite, Enéias, assustado, perdeu o controle dos cavalos e teve que saltar do carro. Os cavalos espantaram-se e fugiram. Enéias, com a lança na mão, avançou contra o tidida, a fim de proteger o cadáver do companheiro, com gritos de fúria. Diómedes agarrou uma pedra enorme e atirou-a contra ele, atingindo-lhe o quadril, fazendo-a quebrar-se em duas partes, esmagando também os tendões e arrancando-lhe a pele. O herói caiu de joelhos e apoiou-se no chão; a negra Noite lhe fechou os olhos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:25

Num piscar de olhos, interveio sua mãe Afrodite. Passou os braços em torno do filho e protegeu-o, envolvendo-o nas dobras de sua túnica de prata, e o arrancou do campo de batalha. Diómedes reconheceu a deusa e perseguiu-a por grande extensão no meio da peleja. Sua lança feriu a mão de Afrodite. A arma atravessou a bela túnica, indo roçar a pele da deusa, cujo lícor derramou por suas vestes celestiais. Dando um grande grito, teve que largar e abandonar o filho, e Apolo foi ajudá-la a fugir, numa nuvem escura, para que os gregos e Diómedes não se atirassem contra ela e a ferissem ainda mais. Diómedes gritou:

— Afasta-te da guerra, filha de Zeus! Já não basta que seduzas as mulheres fracas? Se pretenderes entrar na batalha, estremecerás quando ouvires falar da guerra!

Ela, temerosa e amargurada, partiu. Íris, de pés ligeiros como o Vento, levou-a em direção do Olimpo; ela sofria, e sua alva pele estava enegrecida como a de um mortal comum. Antes, porém, encontrou o impetuoso Áres sentado à esquerda da batalha, tendo sobre uma nuvem a lança e os velozes cavalos. Afrodite ajoelhou-se e implorou:

— Querido irmão, dá-me teus cavalos a fim de que eu possa ir às pressas ao Olimpo, a morada dos Imortais. Estou sofrendo muito com o ferimento que um mortal me infligiu, o terrível Diómedes dos argivos, que combateria até contra nosso próprio pai Zeus.

Assim falou, e Áres deu-lhe os cavalos com as testeiras de ouro. Ela subiu ao carro, com o coração angustiado, e Íris subiu ao seu lado e pegou as rédeas. Instigou os cavalos, que obedeceram e partiram.

Enquanto isso, Diómedes, de forte grito de guerra, perseguia o cambaleante Enéias, embora soubesse que o próprio Apolo estendera os braços sobre ele e o fizesse fugir. Não tinha a reverência pelo grande deus e ainda estava ansioso para matar Enéias e despojá-lo da gloriosa armadura. Três vezes, então, investiu contra ele, e três vezes Apolo o repeliu com o resplandecente escudo. Quando, porém, da quarta vez ele avançou, Apolo irritou-se:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:25

— Cuidado, Diómedes, afasta-te! Não ouses medir-te com os deuses, pois de modo algum se assemelhas a eles!

Diómedes amedrontou-se e recuou, evitando a ira de Apolo. Este levou Enéias para longe da guerra, ao sagrado Pérgamos, onde lá havia um templo. Então Leto e Ártemis dele se incumbiram e lhe curaram as feridas. Apolo, porém, apareceu sob a forma e com a armadura de Enéias, desfalecido no chão, e, em torno da aparição, os troianos e os aqueus pelejavam. Então, Apolo, disse ao impetuoso Áres:

— Áres, Áres, flagelo dos mortais, sanguinário atacante de muralhas, não podes te lançar contra aquele homem e arrastá-lo para fora da batalha, que agora enfrentaria mesmo o pai Zeus? Primeiro, ele feriu Afrodite no côncavo da mão, em cruel combate corpo a corpo, e agora também investe contra mim como se fosse um deus.

Apolo foi sentar-se no alto do Pérgamos, e o terrível Áres entrou nas fileiras dos troianos e os incitou, sob a aparência de Acamas, o chefe dos trácios:

— Príncipes de Tróia, por quanto tempo permitireis que vossos homens sejam mortos pelos aqueus? Até que eles combatam junto das portas de Tróia? Acha-se caído Enéias, homem que honramos tanto quanto Heitor, o filho de Príamos. Vamos, salvemos o nosso companheiro das mãos dos inimigos.

Áres estimulou o espírito dos troianos e seus aliados. Então, Sarpédon dirigiu-se a Heitor:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:26

— Heitor, onde está o teu valor? Costumavas dizer que defenderias a cidade sem teus homens e aliados, com teus cunhados e parentes. E no entanto, não vejo nenhum deles na luta; escondem-se como cães diante de um leão. Somos os únicos que combatemos, nós que somos apenas aliados de Tróia. Certamente, sou aliado e venho de muito longe. Muito longe é a Lícia, onde deixei minha esposa, meu filho e muitos bens, desejados por aquele que não os tem. Mesmo assim, contudo, incito os lícios e estou eu mesmo ansioso para lutar contra meu adversário, embora nada tenha aqui que os aqueus possam capturar e levar. Tu, porém, estás quieto, não ordenas os homens que conservem o terreno e defendam suas esposas. Cuidado, para que, com aqueles que são apanhados por uma rede, não te tornes a presa e a diversão dos inimigos, que em breve irão saquear tua bela cidade. Tudo isto deve ser objeto de teus cuidados, noite e dia, e deves incitar os chefes de teus aliados a se manterem firmes, e, então, não merecerás censura.

Aquela censura calou fundo em Heitor que, saltando do carro, brandiu a lança e começou a incitar os guerreiros ao combate, que se reuniram e se dispuseram a enfrentar os aqueus, mas estes os esperavam em fileiras cerradas e não fugiram. Os teucros avançaram vigorosamente, e o impetuoso Áres lançou um véu de noite em torno da batalha, para ajudar os troianos. O próprio Apolo enviou, de seu santuário, Enéias recuperado e o encheu de valor. Enéias ocupou seu lugar entre os camaradas dárdanos, que se regozijaram ao vê-lo vivo e pleno de vigor, e ninguém teve tempo de lhe perguntar coisa alguma, e juntos mergulharam na refrega.

Os dânaos, com Diómedes, os dois Ájax e Ulisses à testa, esperavam corajosamente os atacantes troianos. Agamémnon, percorrendo as fileiras, ordenou:

— Meus amigos, sede bravos e tende coragem; pensai em vossa reputação. Dos homens que dão valor à honra, muito maior é o número dos que se salvam do que dos que morrem, e para os que fogem não há fama nem salvação.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:26

E, sem demora, foi o primeiro a arremessar a lança, abatendo o amigo de Enéias, Deícon, filho de Pérgamos, tão honrado quanto os filhos de Príamos, eis que era sempre o que se apressava a combater nas primeiras fileiras. O valoroso Agamémnon atingiu seu escudo, que não deteve a lança, e o bronze atravessou-o e alcançou o cinto, sobre o baixo-ventre. Ele caiu, e a armadura retiniu sobre ele.

Então, Enéias matou dois dos melhores gregos, Créton e Orsílocos, filhos gêmeos de Díocles e netos de Orsílocos, que era filho do rio Alfeus. Os seus camaradas pílios lamentaram muito por tamanha perda, inclusive Menelaus, que apiedou-se ao vê-lo cair, e avançou através das hostes até as fileiras da vanguarda, empunhando a lança. Áres insuflou-lhe valor, na esperança de que fosse morto pelas mãos de Enéias, mas Antílocos, filho de Nestor, viu-o e avançou também para as primeiras linhas, receando que Menelaus fosse abatido. Enfrentaram-se Enéias e Menelaus, atirando lanças um contra o outro. Antílocos pôs-se do lado do companheiro seu aliado, provocando certo medo em Enéias, vendo-os juntos. Este teve que se retirar. De imediato, aproveitando a deixa, Menelaus e Antílocos entregaram os corpos de Créton e Orsílocos aos camaradas pílios e logo retornaram à batalha.

O grande Menelaus, então, atingiu com a lança a clavícula de Pilaemenes, chefe dos guerreiros paflagonianos. Seu áuriga, Mídon, nobre filho de Atínios, tentou retroceder, mas Antílocos jogou uma pedra em cheio contra o ombro do guerreiro, que largou as rédeas ferido. Imediatamente, Antílocos avançou, subiu no carro e enterrou-lhe a espada na têmpora. Então, arquejante, ele caiu do carro, de cabeça e ombros para frente. Os cavalos o escoicearam, atirando-o de um lado para outro. Antílocos pegou-os pela rédea e levou-os para as hostes gregas.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:26

Heitor viu Menelaus e Antílocos nas fileiras e investiu contra eles com um grito, e os troianos o seguiram. Áres e a terrível Ênio os conduziam: ela levava consigo o Clamor, e Áres empunhava a lança e investia próximo a Heitor.

Ao vê-lo, Diómedes estremeceu e recuou. Voltou-se para os seus argivos e disse:

— Amigos, não vos espanteis com a impavidez de Heitor! Um deus sempre o salva da Morte. Eis que Áres está ao seu lado, parecendo um homem mortal. Recuai, não nos arrisquemos a medir nossa força com os deuses.

E os troianos se aproximaram. Heitor matou dois homens peritos na batalha, Mênetos e Anquíalos, que estavam no mesmo carro. E, ao caírem, Ájax telamônio avançou e arremessou sua lança contra Ânfios, filho de Sélagos, da cidade de Pésos. Atingiu-o no cinto, e a lança cravou-se no baixo-ventre, matando-o. Ájax correu para despojá-lo de sua armadura, mas os troianos fizeram chover lanças em torno dele. O herói protegeu-se com o escudo. Logo, plantou o calcanhar no cadáver e retirou a lança de seu corpo. Entretanto, pressionado pelas lanças que voavam contra ele, não conseguiu retirar a armadura do inimigo. Teve então que ceder terreno, fugindo cambaleante.

O deus Áres e Heitor perseguiram os gregos, obrigando-os a retirar-se lentamente para os navios. Heitor imolou Teutras, semelhante aos deuses, depois o áuriga Orestes, o lanceiro Técros, dos etólios, também Enômaus, Hélenos, filho de Énops, e o beócio Orésbios, da cidade de Hilos.

Quando Héra os viu lançando a destruição entre os argivos no terrível combate, dirigiu a Atena estas palavras:

— Filha de Zeus e Métis, em vão teremos dado nossa palavra a Menelaus de que ele iria saquear Ílion de altas muralhas e regressar à Pátria, se deixarmos o sanguinário Áres levar avante sua fúria. Vamos, mostremos também o nosso valor.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:27

Assim falou, e Atena concordou. Héra, a augusta deusa, filha do titã Cronos, ajaezou os cavalos com suas testeiras de ouro, e Ivi, sem demora, colocou no carro as rodas de bronze, de oito raios. Suas cambas de ouro eram imperecíveis e sobre elas estavam ajustados aros de bronze. Cubos de prata giravam de cada lado. O carro era recoberto de ouro, com tiras e rebordos de prata. Um temão de prata dele se destacava e, na extremidade, Ivi prendeu um belo jugo de ouro e colocou por cima as golinhas douradas. Héra, ávida de luta e do grito de guerra, pôs sob o jugo os velozes cavalos alados.

Palas-Atena, porém, deixou cair na soleira da porta da casa do Zeus sua macia e multicolorida túnica, que ela mesma tecera, e, vestindo a túnica de Zeus, armou-se para a guerra. Em torno dos ombros, colocou a égide, de terrível aspecto, guarnecida com o Pavor. Nela, estava estampada a cabeça da monstruosa Górgona, horrível e amedrontadora. Na cabeça, Atena pôs o elmo dourado de duplo penacho e quádrupla crista, blasonado com guerreiros de uma centena de cidades. Subiu ao resplandecente carro e empunhou sua lança.

Héra, pondo-se ao seu lado, como áuriga, instigou os cavalos, com o chicote, e as portas do Céu abriram-se, as mesmas guardadas pelas Horas, que também eram guardiãs do Olimpo. Passando pelo Olimpo, encontraram Zeus sentado à parte dos demais deuses, no mais alto cume. Ali Héra deteve os cavalos e interrogou-o:

— Zeus, não estás irado com Áres por seus atos de violência, destruindo tantos e tão bravos gregos, cruel e implacavelmente? Não percebes que Afrodite e Apolo se rejubilam, por terem instigado aquele louco que não distingue o bem do mal? Então, tu não ficarás furioso comigo se eu ferir nosso filho Áres vergonhosamente e expulsá-lo da batalha?

E Zeus, pensativo, levantou a cabeça, respondendo:

— Vai, manda contra ele Atena, a mais apta entre os deuses para infligir-lhe tribulações.
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