Ares, o deus da guerra

PRECE A ÁRES, SEGUNDO HOMERO

Áres audacioso, Áres sob o qual se dobra teu carro, Áres do elmo de ouro, Áres do coração indomável, Áres do escudo, Áres salvador das cidades, Áres encouraçado de bronze, Áres da mão poderosa, Áres infatigável, Áres da forte lança, Áres muralha do Olimpo, Áres pai da vitória, Áres auxiliar de Têmis, Áres que subjugas os rebeldes e comandas os justos na paz, ó príncipe do valor guerreiro, cujo globo refulgente gira entre os sete astros que cumprem sua trajetória sobre nossas cabeças, cuja órbita, percorrida por teus cavalos de fogo, ocupa o terceiro lugar no céu, escuta, ó socorro dos mortais de quem a juventude obtém a bravura como dom, lá do alto ilumina com pacífico fulgor o curso de minha existência. Que um favor digno de Áres, preservando-me da covardia, não deixe também de reprimir em minha alma a impetuosidade que a faz perder-se e de conter a paixão que me leva às contendas cruéis das batalhas. Dá-me, bem-aventurado olímpico, ao mesmo tempo que a coragem, a graça de viver em paz na segurança das leis, e de escapar aos assaltos dos maus e aos estímulos da violência.

FIM

BÔNUS:

ARES, O DEUS DA GUERRA

As crônicas não referem lá muitos detalhes a respeito do Ares grego, dizem, da concepção ou do nascimento do velho Ares, senão que era filho de Zeus e de Hera. Uma versão apócrifa, entretanto, pouquíssima referida, diz que Hera concebeu turbulento deus de um contato com uma flor cultivada nos campos de Oleno, na Acaia. Flora, a deusa da vegetação, teria sido inspiradora da terna ideia. Mas como conciliar esta concepção lírica e bucólica, em meio de pássaros e às flores, com o caráter rude e atrabiliário deste deus brutal e sanguinário?
Quanto ao aspecto físico, todos são unânimes em atribuir a Marte um belo porte marcial, e de ostentar com galhardia em seu peito soberba a reluzente armadura. E fora isto pouco mais de bom há para ser dito a seu respeito. O fato é que nenhum de seus pares de imortalidades parecia lhe devotar a menor simpatia, nem mesmo seu suposto pai, Zeus que o teria dito: “Não me venha com seus choramingos, o inconstante! É para mim o mais detestável dos deuses do Olimpo, pois tu Ares só ama a discórdia, a guerra e os combates.
Tem o espírito intratável e teimoso de sua mãe, Hera, que só a custo consigo reprimir palavras.(...) Se fosse filho de qualquer outro deus, já há muito seria rebaixado aos filhos dos céus “(Ilíada, canto V). Apenas a bela Vênus, deusa do amor nutria uma afeição por ele-desconcertante paradoxo.
Marte, pois, na condição de deus da guerra, anda sempre na companhia de seus dois filhos de tremenda figura, Medo e Terror. Quando seu carro ardente surge, precedido por estes pavorosos arautos, anunciando que a fúria das batalhas está prestes a se desencadear, poucos, com efeito, podem reprimir um espasmo de medo e terror. A Discórdia, com cabelos de serpentes que estão sempre a verter uma baba infecta vai um pouco mais adiante, espalhando a intriga e a calúnia. Porque tal é a sua vocação: onde houver dois interesses minimamente contrapostos, é sua obrigação torná-los irreconciliáveis.

Se adiante vai esse perverso conjunto de arautos, fechando o cortejo estão aquelas sanguinárias, antecessoras dos nossos modernos vampiros, que mergulham sobre as vítimas abatidas para dilacerar suas carnes e beber seu sangue, arrastando-as depois para a morada das sombras.
Taís são as agradáveis companhias que desfruta o deus.
Paradoxalmente, as histórias das derrotas sofridas por Ares são muito mais abundantes do que os relatos de suas vitórias. O pior dos seus fracassos seria quando viu-se aprisionado por 13 meses, em uma jarra de bronze, por ter afrontado os gigantes Aloídas, filhos de Aloeu (De onde surgiu o dito nome dos gigantes), e Ifimedia.
Durante a guerra de Tróia, também não se saiu melhor com Diomedes guerreiro aqueu, que o feriu com uma lança, dirigida pela mão de Minerva (Atenas). Talvez o maior desafeto que Ares encontrou pela frente. Quando se retirou a lança contudo, Ares não se portou com esperada bravura, pois lançou um grito de dor, tão alto que seria a altura de nove mil soldados gritando juntos, conforme Homero. Compreende-se contudo, o motivo dessa divina rixa: o caso é que Atenas, irmã de marte é associada também a guerra, representa a tática e ao diplomacia, apelando sempre ao instinto nobre do guerreiro, enquanto Ares só se importa com a morte pela morte e a sangria.

Essa rixa culminou com um enfrentamento de ambos, ainda diante das antigas muralhas de Tróia: Marte lançou um dardo contra a irmã, que se desviou dele com facilidade , remetendo em seguida uma pedra sobre o pescoço do agressor, deixou Ares estendido ao solo, sem sentidos. Como se isso não bastasse ainda teve que escutar os deboches de Atenas.
Mas seus fracassos pessoais não acabam aqui: sua coragem naufragou também, quando duas vezes teve que fugir do invencível Hercúles; depois, ao pretender vingar a morte da amazona Pentesiléia, morta por Aquiles, recebeu na cabeça o raio irado do próprio pai, Zeus.
Esse é Ares (Marte), deus menor e privado de virtudes que só foi cultivado com fervor pelos romanos, por serem povos bárbaros, que só conseguiam as vitórias através da Morte e do asco sangue.
E como essa cruel divindade pôde inspirar amor a Afrodite e dar a ela um filho como Eros? Talvez porque o amor também é uma batalha, com todos os lances, estratégias e lástimas de uma guerra. Fosse natural que dois deuses tão opostos acabassem por se sentir inevitavelmente atraídos. O fato é que, mesmo no amor, o atrapalhado deus não se saiu tão bem quanto esperava, pois apesar de ter conseguido render Afrodite aos seus furores, teve que passar pelo dissabor de ser flagrado em pleno leito pelo marido desta, o não Menos turbulento Hefestos, deus das forjas. Aprisionado ambos numa rede indestrutível, confeccionada pelo próprio Hefestos, Marte ardoroso e Afrodite infiel forma expostos à execração pública diante de todos os deuses do Olimpo.

Obs; Phobos (medo) e Deimos (terror) eram tidos como mitos que pertencem apenas à esfera tantegórica do mito.
Os dois relacionados ao mito são só demonstrativas de ideias e sentimentos, e seriam filhos de Afrodite e Ares.
A início Ares foi um mito importado da Trácia, mas os gregos impuseram uma devida modificação.

No século V, Atila, rei dos hunos, fez uma brilhante jogada de marketing afirmando que achara a espada perdida de Ares/Marte.

Havia então, pelo menos na época, um mito do deus ter perdido sua espada no mundo dos mortais? Como os cronistas eram do mundo greco-romano e os soldados de Atila (que ele queria impressionar com esta história, mais que os soldados inimigos) eram germanos, a referida espada poderia ser de Tyr, deus dos germanos. Mas gostaria antes de averiguar o caso com vocês.

Marco Polo, meu amigo, nada sei sobre o assunto, mas preciso corrigir um item que você mencionou: os guerreiros de Átila não eram Germanos, e sim Hunos, da raça dos Tártaro-mongóis, vindos do Oriente, provavelmente da região do atual Turquestão, a oeste da China e da Mongólia. Eles, avançando para o Ocidente, invadiram a Europa pelo norte, na atual Rússia, penetraram na Sarmácia e chegaram à terra dos Magiares, ao norte da Itália. Talvez por isso haja a confusão de que fossem Germanos.

Uma curiosidade grega: os Hunos eram o que os gregos acreditavam ser os gigantes Arimaspes, mencionados no mito dos grifos.

Não, Hermes, eu também preciso corrigi-lo. O império dos hunos era multinacional, com os hunos no topo da cadeia alimentar, lógico, mas numericamente a maioria de seus soldados (e do império romano ocidental também) era de germanos. O exército huno era feito de: hunos (do grupo turco), eslavos de todo tipo, alanos (grupo iraniano), godos, gepidas, herulos, turíngios, borgundios, alguns francos, alamanos, rugios e sciri (todos esses germanos da floresta ou da estepe). Este fato explica como o Estado huno sumiu rapidinho com a morte de Atila dando lugar a estados eslavos (Sérvia e Croácia), turcos (Bulgária e reino dos avaros na atual Hungria) e germanos (reino dos gepidas, turíngios e ostrogodos).


Mas isso não importa... O que eu gostaria de saber é se já havia algum mito sobre o deus ter perdido sua espada neste mundo antes da propaganda do império huno inventar que achou tal artefato. Ou se a jogada é criação deles desde o seu início (perda do objeto já seria coisa deles).

Hermes,

Por que os hunos tão baixinhos eram tomados pelos gigantes arismapeanos?
Sarmata é uma palavra que vem do grego sauromatoi? Que significa?

Eu vi em um lugar que eles eram altos para aquela época, mas baixos para médios para nossa época, não sei se está certo...

Tem gente que diz que eles tinham em média 1,20m, outros dizem que eles tinham 1.50m, já outros diziam que tinham de 1,70m para cima. Isso é um assunto muito contraditório. Mas na minha opinião eles deviam ser considerados grandes por viverem em cima de um cavalo, coisa que os deixa maiores. Às vezes também os impérios não admitiam perder para "baixinhos" e diziam que eles eram grandalhões...

Na verdade, Marco Polo, os Hunos era um povo desconhecido para os gregos antigos, tanto que só se sabia que haviam monstros e Gigantes para lá dos montes Rifeus (os montes Urais de hoje). Eles os temiam como a qualquer outro povo nórdico que habitasse além de seus limites, porque acreditavam que eram demoníacos. Independente de serem baixos ou não, eram tidos como Gigantes (pois jamais o viram), e de um olho só, pra variar, e que travavam batalhas contra os Grifos. Esse povo eles ouviam falar e os chamaram Arimaspes.

Isso tudo explica o equívoco a respeito da estatura desse povo e também sobre o seu país de origem, o Turquestão, e não exatamente a Turquia. Os Hunos eram Tártaro-mongóis, raça que se desenvolveu desde a Turquia até a Mongólia. Quando postei que não eram Germanos, me referi a sua origem, no caso o Turquestão Chinês, a região do Turquestão nos limites da China e da Mongólia. Sei bem que eles avançaram para a Europa e se fortificaram unindo-se a outros povos, no caso os Germanos. Inclusive os Magiares da Hungria foram considerados seus descendentes diretos.

Quanto aos Saurômatas, foram oriundos do norte do Pontos Euxinos (mar Negro, na atual Ucrânia), estenderam-se para o norte e, misturados com outros povos, formaram a Sarmácia (mais ou menos equivalente a Rússia Européia e a Bielorússia), avizinhando-se com os Citas.

Inclusive os Magiares da Hungria foram considerados seus descendentes diretos.

Sim, esta é a versão dos nacionalistas húngaros que querem associar seu passado a de grandes heróis, mas os estudos genéticos sugerem que estão mais relacionados aos finlandeses e no máximo de alguns avaros.

Os hunos geneticamente eram do grupo turco-mongol, viviam ao norte do deserto de Gobi que os separava da China, mas a China se unificou e o império han conseguiu enxotá-los de lá. E foram desviados para o oeste. Depois foram enxotados mais ainda para oeste por tocarianos e juan-juan=avaros (estes também da superfamília turco-mongol só chegariam a Europa no seculo VII). Então de saco de pancada, os caras se tornam o poder hegemônico na estepe da Ásia central graças a uma maior disciplina e melhoria no arco, vassalizam alanos, eslavos e os germanos da estepe (godos, herulos e outros). Os germanos começam a implorar entrada no império romano para fugir deles. Depois (ainda como diversos grupos independentes de hunos), invadem os impérios persa, gupta (indiano) e os dois impérios romanos. Nos impérios romanos, agiam sob a liderança unificadora de Atila. Essa união ainda era muito frágil e baseada na sua personalidade e pouco tempo depois de sua morte, seus filhos se engalfinharam pelo trono e depois seus vassalos germanos viraram a mesa.

Portanto, como a união entre os diversos clãs hunicos era fraca e o domínio sobre os germanos também, fica fácil porque saber por que Atila inventou a tal história de achar a espada de Ares. Como adotou o apelido de chicote de Deus dado por um sacerdote cristão. Mas já havia uma lenda do deus ter perdido sua espada?
Mitos relacionados a armas também está bem documentado entre celtas e talvez o mito fosse originalmente germano (deus Tyr) para impressionar o grosso do exercito huno que era etnicamente germano.

Essa palavra arimaspeanos lembra a palavra árabe para pirâmide. Hermes, você vê algum nexo nisso? O que mais se falava destes arimaspeanos? Tocarianos eram descritos pelos gregos como vizinhos deles? Os tocarianos são os yueh-chi e eram indoeuropeus.

Marco, jamais houvi falar dos tocarianos. Agora emperrei.

Na verdade sobre os Tocarianos conheço razoavelmente mal.

Povo indoeuropeu que habitava a Ásia central. Este é o termo pelo qual os gregos os conheciam, os chineses chamavam este mesmo povo de yueh-chi.
Alguns o agrupam como indoiranianos, outros como um grupo a parte, mas é certo que falavam uma língua indoeuropéia com "traços bem arcaicos" e por isso seu habitat na época helenística já foi apontado como habitat original dos protoindoeuropeus, o que é contestado hoje.
Por volta de 170 aC, eles deram uma sova nos xiongnu, segundo alguns autores, segundo outros eles é que foram sovados.

Por volta do primeiro século aC, o governo chinês han caçando xiongnu na Ásia central com a habilidade de PanCh´ao consegue com razoável sucesso o controle da bacia do rio Tarim, obrigando novos deslocamentos para oeste de hunos, tocarianos e citas (=sakas). Tal sucesso foi transitório. Como também foi transitória a expansão de reinos gregos (no atual Afeganistão) àscustas de território selêucida e hindu.
No primeiro quartel do I século um clã yuehchi-os kushanas - unificaram os yuehchi, anexaram os restos dos reinos grecobactrianos e espantaram os sakas para dentro da Índia, frustrando as ambições de pártios e chineses, formando um poderoso império, com religião budista, adotando a arte visual grega controlando o vale do Indo, a atual caxemira, a Sogdiana, a Bactriana e o vale do Tarim.
Assim um ramal completo da rota da seda ficou coberta por apenas quatro Estados: Romano, pártio, tocariano (kushana) e han (chinês), o que incrementou muito o comércio e o fluxo de ideias.
O buda que a milícia talibã explodiu foi construído pelo império kushana.
O apogeu desta império ocorreu sob o governo de Kaniska (120-160dC ?). Porém crises internas e a ascensão de nova dinastia persa (sassânidas), um inimigo mais perigoso no oeste, causaram a desintegração do império em vários estados tocarianos (Merv, Balkh etc.) que sobreviveram até o século V!
A tática (arqueiros montados) e a etnia (língua iraniana) aproximam os tocarianos dos citas (sakas)e os pártios, mas de algum modo o controle das rotas comerciais possibilitaram-lhes maior êxito sobre seus rivais muito similares por algum tempo.

Concluindo:

Os tocarianos (cujo rei melhor conhecido é Kaniskha), partindo de uma base na Ásia Central, adotaram uma forma de arte com estética grega, mas com conteúdo e propaganda budistas, como fizeram antes deles os mauryas (cujo rei melhor conhecido é Asoka), partindo de uma base no Ganges.
Este estilo é abundante em Gandara/Cáucaso Paropâmiso/HinduKush.

Fico me perguntando se kushanas e mauryas não adotaram dos gregos algo mais do que isso (táticas alexandrinas, conceito de senado urbano etc. sei lá).

Na verdade os dois budas gigantes que o Talibã dinamitou em Bamyan (que já tinha sido, antes dos colossos serem construídos, território tocariano), não foram construídos por governo tocariano, nem do auge, nem do longo período pós-auge.

Hermes,

Sou fã de carteirinha do Arnold Toynbee. Ele fez uma vez um mapa da rota da seda na época do imperador persa Dario I e lá no meio do caminho estão iedones, arismapeanos, tocarios/tocarianos, citas massagetas e outros caras. Eles são citados por geógrafos gregos como Estrabão e Heródoto, cuja fidelidade a realidade às vezes flutua e às vezes são capazes de descrever coisas testemunhadas por outros!

Beleza, Polo!

Amigo, que tal voltarmos a falar sobre o deus Áres?

Primeiro as características. Áres quer dizer "bravo". Também foi chamado de Eniálio, "belicoso", venerado assim em Esparta e Creta, ou Hemocares, "o que ama o sangue", segundo Simônides de Samos. Ou ainda Hoplóforos, "o que porta armas", Rinotoros, "o que perfura os escudos de couro", ou Teichosipletes, "que sacode as muralhas". Os romanos conheceram-no por Mars (Marte), ou Bellator "guerreiro", Caecus, "cego", ou Camulus (assim invocado pelos sacerdotes Sálios), Mavors, como deus da morte, Silvanus, "selvagem", Ultor, "vingador", ou Victor, "vitorioso". Como deus campestre, foi chamado de Pater Gradivus. Como deus guerreiro, foi identificado ao Bodhisattva dos antigos japoneses, ao Caturix dos gauleses, ao Esus dos celtas, ao Hachiman dos budistas, ao Huitzlopoztli dos astecas, ao Indra dos indianos, ao Órion dos partas, ao Quirinus dos sabinos, ao Teutates dos gauleses, ao Tiw dos anglo-saxões, ao Tiwar dos germanos do norte, ao Tyr dos escandinavos e ao Ziu dos germanos do sul.

Era filho de Zeus e Héra, e a deusa Ênio, provavelmente, foi sua ama, dada também como sua companheira de armas. Teve muitos filhos com diferentes mulheres, entre as quais sua própria filha Hermíone (mulher de Cadmos), com a qual teria tido algumas das mais famosas rainhas das Amazonas. Entre seus filhos famosos estavam Diómedes (rei dos trácios), o deus Éros, Deimos, Foibos, os argonautas Ascálafos e Iálmenos, Cálidon, Rômulo e Remo (do mito romano), Téstios, Enômaus (sogro de Pélops), Éagros (o deus-rio, pai de Orfeus), Flégias, os argonautas Álmenos e Anceus, Tmolos (rei da Meônia), entre outros.

Era deus da guerra sangrenta, da força brutal, da carnificina. Era inconstante, malvado e furioso. Primitivamente, foi cultuado como um deus das tempestades.

Tinha Deimos, Foibos, Éris e Ênio como escudeiros. As Queres o acompanhavam nas batalhas. Não foi venerado pelos gregos, mas foi adorado especialmente por citas, trácios e romanos. Teve certa importância para os lacedemônios (espartanos). Tornou-se deus nacional de Roma e favorito dos romanos. Seus animais consagrados foram o cão, o lobo, o abutre, o cavalo e o galo. Eram-lhe sacrificados o touro, o varrasco e o carneiro.

Segundo a tradição, não houve detalhe maravilhoso ou extravagante a respeito da concepção ou do nascimento de Áres, o novo deus, senão que era apenas filho de Zeus e Héra. No entanto, numa versão apócrifa, houve um dia em que Héra concebeu o turbulento deus de um contato que teve com uma flor cultivada nos campos de Óleno, na futura região de Acaia. Clóris, a deusa da vegetação, teria sido a inspiradora da terna ideia. No entanto, a mutação de Zeus e a forma com que Áres foi concebido, em meio aos pássaros e às flores, certamente em nada combinava o caráter rude e atrabiliário desse deus que haveria de crescer e se tornar brutal e sanguinário.
Cresceu com um belo porte marcial, e recebeu das mãos dos divinos artífices uma soberba e reluzente armadura de bronze e um elmo de ouro com penacho cor-de-púrpura. Passou a ser temido, deixando de devotar a menor simpatia por parte dos deuses, nem mesmo a seu pai, o poderoso Zeus, que lhe repreendia seguidamente, chegando até a lhe rotular de “detestável”.

Áres haveria de ganhar um séquito, comum a todos os grandes deuses. Para segui-lo no campo de batalha, teria em sua companhia seus dois filhos horrendos, Deimos e Foibos (presidindo Terror e Medo), na condição de arautos, anunciando que a fúria das batalhas estaria prestes a se desencadear. Também, com seus cabelos de serpentes, seguia na frente a temível Éris, a Discórdia, espalhando a intriga e a calúnia. Depois, seguia o próprio deus Áres, causando a chacina por onde passava, acompanhado de sua melhor guerreira, a temível Ênio, personificando a própria Guerra. Por fim, entre mastins e outras feras violentas, seguiam as “cadelas de Hádes”, as Queres, deusas sanguinárias, antecessoras dos futuros vampiros, que mergulhavam sobre as vítimas abatidas para dilacerar suas carnes e beber seu sangue, arrastando-as depois para a morada das sombras.
No entanto, apesar de seu espírito bélico, temido por todos os mortais, seriam em maior número suas derrotas do que as vitórias, pois Áres representava a guerra desordenada, instintiva, furiosa, enquanto que Atena, que já se encontrava entre os Olímpicos, representava a guerra prudente, tática, com diplomacia, e seriam inúmeras as suas vitórias.

Ares não era um deus muito cultuado na Grécia, apesar de ser uma das 12 divindades Olímpicas. Os principais mitos estão relacionados com Afrodite, sua eterna amante, com quem teve 5 filhos: Eros, Anteros, Fobos, Deimos e Harmonia.
Uma história interessante é sobre seu servo Alectrion. Ele era encarregado de despertar a ele e Afrodite todas as manhãs antes do Sol nascer para que ninguém os vissem juntos. Mas um dia Alectrion dormiu no posto e quando Apolo passou puxando o Sol, viu os amantes e avisou Hefesto. Este então armou uma rede que prendeu os amantes e expôs eles aos outros deuses, para fazê-los se envergonharem. Alectrion foi transformado em galo por Ares e condenado a anunciar a chegada do Sol todas as manhãs.