Alexandre, o Grande

Alexandre também matou Aristóteles e o filho dele acusando-os de traição né?

Se não me engano, ele passou por um período bem paranoico.

Não sei de onde tirou isso. Aristóteles morreu no ano seguinte à morte de Alexandre, em 322.

E na verdade, ele estava em Atenas e se auto-exilou porque os sentimentos anti-macedônicos reavivados com a morte de Alexandre começavam a voltar-se contra ele.

Dizendo que não ia permitir que a cidade cometesse "um segundo crime contra a Filosofia" (alusão à morte de Sócrates em 400 a. C.), retirou-se para a Eubéia.

Nossa! Podia jurar que tinha lido na História Viva que em um momento de paranoia ele havia acusado Aristóteles de traição e matado ele e o filho!

Vixi! Foi mal...

Você confundiu com Parmênion e seu filho Filotas, ambos executados após a descoberta de uma conspiração.

Um aluno - e sobrinho - de Aristóteles acompanhava a expedição e compunha relatos sobre as façanhas de Alexandre, Calístenes.

Este sim, caiu em desgraça após uma série de incidentes e foi posto sob ferros até morrer ou ser executado.

E sim, você tem razão quando fala sobre a paranóia de Alexandre.

Mas para desculparmos o Rei, fica a reflexão: qual homem de poder não padeceu do mesmo mal?

Uai. Nero, por exemplo, que era super sossegado.

Pois é, também deve-se imaginar todas as intrigas da corte... e QUANTA GENTE realmente devia querer ele morto.

Chega a ser compreensível uma paranoia.

Não sei qual historiador disse que a corte da Macedônia era um verdadeiro ninho de cobras venenosas. kkkk
Alguém sabe quem foi???

Devem ter sido muitos.


Mas seja quem for, esse truísmo é válido para todas as cortes.

Mas parece que para os macedônios, aqueles que viviam na corte, o esporte predileto era matar seus oponentes...

Olha, até certo ponto sim, mas se fosse SEMPRE o caso, não haveria uma Corte.

O assassinato dos pretendentes, familiares e colaterais era praxe. Uma forma de se garantir no trono, desde séculos. A história dos Árgeadas - ao menos 8 monarcas antes de Filipe II - sempre se caracterizou por isso e houve até mesmo interregnos (tinham matado muita gente).

Mas sob o Principado Romano essa prática também foi muito comum. Cláudio foi o caso extremo de o último membro da família - sobrou porque parecia retardado - ser escolhido após terem matado todos os outros.

Hum...! Ótima ideia para se aplicar hoje no Brasil em suas lutas politicas pelo poder! Reduziriam bastante, tal prática, o número de malfeitores ... verdadeiros criminosos políticos que se autoanistiam e se declaram acima de todo bem e mal, impunes por leis que eles mesmos fizeram.

Sem querer sair do debate, lembro que os políticos não são ETs, não caíram de pára-quedas: São uma AMOSTRA de quem os elege.

Os pobres que compram moto a prestação, andam com ela por cima da calçada, na contramão, furam sinal toda hora e querem sair sem multas... são exatamente como as pessoas que eles elegem. Na cabeça deles os políticos são "os espertos que deram certo" e que eles sonham ser um dia.

Sendo assim, se matasse tudo logo logo ia surgir outra camada igual ou pior para fazer as mesmas coisas.

O problema não são os eleitos, mas quem os elege.

Cláudio foi é esperto... Deu uma de retardado mental para conseguir ficar vivo. kkkk

E também entre os Ptolomeus esse esporte de matar parentes pretendentes ao trono durou até a época de Cleópatra... A VII... Desculpe...

Bem, no caso dos Ptolomeus, fecha com a sua tese, afinal eram macedônios.

Exatamente... A Cleópatra foi craque nessa história de acabar com os parentes. Ela conseguiu matar dois irmãos e uma irmã. Sendo que a irmã foi tão acintoso que o Marco Antonio perdeu o restinho de prestígio que tinha em Roma porque ajudou a Cleozinha a se livrar da Arsinoé...
Não foi assim???
Em compensação, mataram César (que era a esperança dela conseguir maior poder), seu filho com César e acabou por ver seu amado Marco Antonio acabar com a própria vida...
Puxa... Ela teve uma vida e tanto... Eu sempre tive pena dos seus outros filhos, que foram obrigados a ir para Roma, serem criados pela viúva do Marco Antonio e nunca foram donos dos seus narizes, como a mãe deles foi...

Mas qual era a opção que ele tinha?

De qualquer modo não morreria de velhice: O assassinato na Roma do Principado era a forma não-declarada de sucessão.

Assim como na Macedônia.

Considerando Otaviano o primeiro, ele tinha poder demais, soube planejar tudo direitinho e conseguiu fazer seu sucessor.

Mas sobre este, Tibério, pesa uma forte suspeita de ter sido assassinado, sufocado por um travesseiro por Sejano.

Concedo o ponto que Sejano apenas apressou seu fim iminente. Ou não? Apressou muito mais do que deveria e saiu-se com essa de que "o Imperador estava nas últimas e faleceu dormindo"?

Os pobres que compram moto a prestação, andam com ela por cima da calçada, na contramão, furam sinal toda hora e querem sair sem multas... são exatamente como as pessoas que eles elegem. Na cabeça deles os políticos são "os espertos que deram certo" e que eles sonham ser um dia.

Mas não esqueça que o exemplo vem de cima! E é muito mais fácil sair impune se você é da elite.

Concordo com você. O problema é o número. Embora os poucos ricos tenham mais recursos para se safar, a massa de pobres que transgride não pode ser posta sobre controle integral. Se dezenas de elites transgridem feio para punição de 1 ou 2, quando centenas de pobres transgridem uns 300 escapam impunes.

Voltando ao debate...

A Conspiração final?

Relendo Fox, chego numa das partes mais interessantes: a controversa morte - aliás como de todos os homens ilustres, famosos, etc. E a discussão sobre conspiração x morte natural, veneno x doença, etc.

As duas fontes principais : (que Fox chama de "os dois mais interessantes documentos)

A) Um panfleto (um texto) que seria a fonte do "grandemente ficcional" Romance de Alexandre composto uns 5 séculos depois da morte dele, e que seria famoso entre os Cavaleiros Medievais mais tarde (que reputavam-no verdadeiro).

Este panfleto sobreviveu em quatro outros textos, três dos quais mostram um relato detalhado da morte de Alexandre. Suas linhas gerais e informações pessoais identificariam a composição do Panfleto uns 10 anos depois do evento (morte de Alexandre)

Cada texto foi alterado ou corrigido por mãos posteriores mas as linhas gerais voltam ao Panfleto original e merecem ser levadas a sério porque o Panfleto fornece algo que os contemporâneos temiam comentar: a lista completa dos convidados do banquete em que Alexandre tomou vinho e caiu doente (conforme aparece no filme) . Seriam 20 convidados, 14 participavam do plano e 6 eram inocentes.

Chamaremos a esse banquete de "banquete de Medius" pois foi na casa dele que o banquete se realizou.

O plano teria sido concebido meses antes, ligado à casa de Antípatro - o velho regente da Macedônia na ausência de Alexandre e Filipe.

Este teria vários motivos para matar Alexandre.

-
Os abusos de Olímpia, com quem se desentendia (lembro que seu filho Cassandro acabaria por matar Olímpia anos após Alexandre morrer. Antes ela teria matado um dos seus irmãos. Mais tarde Cassandro faria sumir Roxanne e Alexandre IV, o filho de Alexandre)

- A lenta aproximação dos veteranos mandados de volta com Crátero (seria destituído?)

- Antípátro tinha sido chamado à Ásia por Alexandre, aumentando seus temores.

-
A morte de Parmênion, velho amigo de Antípatro, Alexandre lincéstio (implicado na morte de Filipe junto com 2 irmãos e executado nos primeiros anos do reino de Alexandre).

Dois dos filhos de Antípatro já estavam em Babilônia e Cassandro em pessoa teria ido a Babilônia, levando o veneno e portanto, também participou do banquete.
Um de seus irmãos Lollas, servia como chefe de cerimônias junto a Alexandre, coordenando os banquetes.

Ptolomeu, Perdicas, Eumenes e mais 3 estariam entre os que de nada sabiam.

B) O outro documento é nada menos do que Os Diários Reais de Alexandre, creditados ao seu secretário Eumenes de Cárdia, um grego e com o auxílio de um certo Díodoto.

Esses Diários (como chamaremos) descrevem o último mês de vida de Alexandre em detalhes cotidianos. Dele só sobreviveram 3 trechos longos. E mostram Alexandre caçando pássaros e raposas, banqueteando e jogando dados. Os que o leram na íntegra notaram como o Diário destaca as bebedeiras seguidas de Alexandre e suas 'dormidas' até tarde após as bebedeiras. E diz que após o banquete de Medius, no dia seguinte Alexandre ainda foi a outra bebedeira. Esse é um dos pontos principais de discordância entre as duas fontes.


Sabe-se que Alexandre esteve no banquete Medius (30 de maio) e morreu 11 dias depois (8 para 9/junho). O que descarta a hipótese de um veneno de ação rápida.


Fica parecendo que enquanto o Panfleto lança a suspeita de envenenamento, o Diário quer colocar a morte de Alexandre como consequência de suas bebedeiras no último mês (o Diário descreve 5 bebedeiras em detalhes repetitivos).


Onde há discordâncias nos detalhes? Principalmente na causa e no curso da doença final de Alexandre. Sempre o peso do nome de Eumenes decidia as questões. Assim a versão da morte natural foi ganhando mais peso que a do envenenamento.


Fox suspeita que não foi Eumenes que compôs os Diários. Ele era um homem da legitimidade, um que ao lado de Perdicas, quis manter o Império centralizado e entregar ao herdeiro de Alexandre. Então não parece crível que ele fosse descrever seu rei como um beberão nos seus últimos dias de vida.


Parece que a suspeita do envenenamento foi comentada, o Panfleto foi feito - a mando de Perdicas e contra os generais que mais tarde venceriam, matariam Perdicas e dividiriam o Império. Como as pessoas passaram a comentar, rapidamente eles teriam vindo com os Diários, que não mencionavam qualquer hipótese de envenenamento.

O tal misterioso Diódoto parece ser a chave para o problema. No tempo de Filipe e Alexandre, o único Diódoto que se conhece tinha vindo de Eritréia, pólis grega da Ásia Menor. Grego muito educado, serviu aos dinastas da Ásia onde foi recomendado a Antípatro. A conexão mais próxima com os macedônios seria o governante de Eritréia, portanto é muito possível que Diódoto tenha sido notado pelos macedônios através de seu tirano local.


E Fox diz que é um palpite muito atraente colocá-lo como o Eumenes de Antípatro. Assim, a autoria dos Diários acha seu lugar. Pois eles parecem EXATAMENTE uma resposta aos que levantaram a suspeita de envenenamento.


Embora essa resposta, e essa suspeita, não sejam provas do que aconteceu.
Ainda que não fossem culpados Antípatro e seus aliados, não poderiam ficar sem responder de alguma forma ou estariam deixando que a versão acusatória se espalhasse.


Parece que tiveram bem mais sucesso com sua versão de "problemas de saúde misturado com excessos" do que o lado acusador teve com envenenamento.
Eu mesmo durante muitos anos acreditei que falar de veneno era conversa fiada, teoria da conspiração, etc. Hoje não tenho tanta certeza.


Mas repito, nada disto prova nada.

Cerco de Tiro

O sucesso da propaganda de Alexandre ficava mais aparente conforme ele avançava pela costa. Os que governavam Arado, Biblo e Sídon aceitaram o domínio de Alexandre sobre eles e seus domínios. Portanto, eles e seus sucessores emitiram apenas as moedas do rei da Ásia com um monograma do governante ou da cidade em aramaico. Enviados de Tiro encontraram-no em sua marcha e informaram a decisão dos tirenses "de fazer o que quer que Alexandre ordenasse". Alexandre expressou sua aprovação e disse desejar entrar em Tiro e sacrificar a Héracles (cultuado como "Melkart" pêlos tirenses). Estes responderam que obedeceriam aos outros comandos de Alexandre, mas que não admitiriam quaisquer persas ou macedônicos em sua cidade. A solicitação de Alexandre fora o ácido teste da submissão de Tiro, feita deliberadamente porque esta era a principal potência marítima na Fenícia e sua flotilha, a mais forte da frota de Farnabazo. Os tirenses consideravam impenetrável sua cidade fortificada na ilha; sua frota trazia suprimentos e eles esperavam ter a ajuda de Cartago. Alexandre convocou um encontro de Companheiros Comandantes e fez um discurso do qual Arriano dá sua própria versão, derivada de Ptolomeu, que lera o relatório sobre esse discurso no Diário.

Os argumentos de Alexandre tratavam de estratégia. Avançar pela Mesopotâmia perseguindo Dario e deixar a frota persa no mar, tendo como bases Tiro, Chipre e o Egito, seria um ato de loucura, pois essa frota com reforços, com a colaboração de Esparta e com Atenas indecisa "transferiria a guerra para a Grécia", em vez de recapturar portos na costa do Mediterrâneo. Também não seria sensato avançar em direção ao Egito com a frota e Tiro ameaçando as linhas de comunicação. Portanto, era essencial capturá-la antes de tudo. Os resultados disso seriam a desintegração da frota persa por meio do desafeto fenício e da mudança de lado de Chipre, fosse de boa ou má vontade; uma invasão relativamente fácil do Egito; e uma completa talassocracia do Mediterrâneo oriental, com a frota macedônica comandando o apoio das marinhas fenícia, cipriota e egípcia. Os Companheiros e Comandantes convenceram-se. Alexandre estava ainda mais confiante porque naquela noite sonhou que Héracles o guiava até Tiro. A interpretação que Aristandro deu ao sonho foi que Alexandre teria sucesso, mas apenas após um esforço hercúleo.

O cerco começou em janeiro de 332 e terminou em julho. Ambos os lados demonstraram imenso heroísmo e engenhosidade. Durante a primeira fase, Alexandre trabalhou com seus homens e recompensou seus esforços com presentes quando construíam um passadiço com cerca de meia milha na baía. Quando a extremidade do passadiço ficou ao alcance dos muros da cidade, que tinham 150 pés, catapultas e arqueiros tirenses nos parapeitos e em trirremes infligiram baixas e interromperam o trabalho. Alexandre construiu então torres de duas rodas, com 150 pés de altura, moveu-as até a extremidade do passadiço e atacou o inimigo sobre as muralhas e nos trirremes com tiros de catapulta, enquanto os trabalhos para a extensão do passadiço continuavam.