Mulheres mais poderosas da História

Depois de muito tempo reassisti ontem ao filme de Luc Besson e fiquei com dúvidas sobre a veracidade da história sobre Joana. Se alguém puder me ajudar com o posicionamento histórico de Joana na história da França agradeço desde já.

O contexto é o da "Guerra dos Cem Anos". Não entendo direito das minúcias, mas sei que a narrativa histórica que trata de Joana D'Arc está na compilação das "Grandes Crônicas de França"... Cheguei a baixar o livro, mas não li ainda. Está no "Books Google". Joana D'Arc também atende pelo apelido "Pucelle D'Orleans", "Donzela de Orleans". Nem vi direito se o texto está em latim ou francês medieval... Desconheço qualquer estudo traduzido para o português sobre ela... Nos extras do dvd do filme de Luc Besson há um pequeno documentário sobre Joana...

O apelido (garota de Orleans) é devido ao maior (ou único grande que fez diferença?) feito militar dela. Aureliana ou Orleans, antiga cidade fundada pelos romanos , já tinha se submetido a muitos cercos (inclusive de Atila, o huno). Forças fieis ao Carlos aguentavam um cerco sufocante dos ingleses e burgúndios, Carlos não iria salva-los. Foi quando "a menina" chegou com uma força de resgate (pequena porque o Delfim não queria arriscar os poucos guerreiros que tinha com a doida). Seu entusiasmo era contagiante e o ataque inesperado e brutal, vacilou a firmeza do sitiante. Os cercados resolveram sair e se juntar à peleja fora da cidade. Vitória francesa, na raça, sem cérebro nenhum. Péssimo do ponto de vista de condução responsável da guerra. Mas o fato que então ela se torna o amuleto das tropas, a relíquia viva, o mascote que dá a motivação necessária...

O que quis dizer com falta de cérebro, foi exatamente a falta de uma abordagem indireta, no sentido Liddell Hartiano...
Os caras de fora atacaram no entusiasmo contagiante da santa, os de dentro seguiram o exemplo e os ingleses ficaram de recheio de sanduíche, embora fossem melhores e mais numerosos.
Sem tática, sem estratégia, só na motivação. Isto não ganha sempre. Quando o suto passou a santa não fez mais tantos milagres militares e quando anglo-borguinhões notaram o papel de Joana se apressaram por elimina-la. Carlos também não moveu um dedo. Tinha medo que ela fosse mais amada que ele? Queria produzir um mártir?
Como em guerra, o herói de um povo é o monstro do outro...
Os anglo-borguinhões não foram sutis também, depois da captura da menina.
Liddell Hart na Idade Média europeia ocidental não teria ouvidos atentos.

Não sei se a compilação cronística usou fontes fidedignas, interpolações ou falsificações tardias, mas, em todo caso, aqui está a Chronique et procès de la Pucelle d'Orléans, organizada por Jean Alexandre C. Buchon.

Delfim, "dauphin", parece que é uma referência ao brasão da Casa Real Valois. É uma referência à imagem do golfinho. Quanto ao filme do Luc Besson... de fato, o filme enfatiza o aspecto "desequilibrado" da heroína. A histeria, as alucinações, o tratamento desconfiado por parte dos cortesãos do rei francês são elementos que corroboram com a imagem de louca da Joana D'Arc. Bom, cada diretor ou roteirista escolhe a imagem dos seus personagens que melhor convém para seus propósitos. Todavia, supondo que a Joana D'Arc histórica tivesse realmente algum tipo de patologia mental, não seria estranho o fato de ela ser uma líder carismática, uma comandante investida de uma missão divina. Nestas sociedades ditas pré-capitalistas, a liderança também era revestida de um significado religioso. Há casos de que certos comportamentos transviados ou crises epiléticas são interpretados como contato intenso com forças sobrenaturais. Não são todos os casos, como destaca Mircea Eliade, no livro "Xamanismo", ed. Martins Fontes. O herói espanhol, Rodrigo Diaz de Vivar, mais conhecido como El Cid, se tornou conhecido por prever os seus sucessos de batalha por meio da interpretação dos voos dos pássaros. Isto está no poema "Cantar de Mio Cid" e em uma narrativa árabe-ibérica, do escritor Ibn Alcama. Ver o que os outros não veem, dependendo da situação, pode ser algo encarado como loucura ou apoio divino. Depende do contexto, do sistema de crenças, do nível cultural de uma sociedade, etc. O historiador Maxime Rodinson supõe que o profeta Maomé, no livro "Maomé: biografia do profeta", tenha tido surtos de ataques epiléticos. Nestes surtos, ele teria tido as tais visões do anjo Gabriel. O problema desta interpretação "psiquiátrica" tem o grave problema de não se aplicar a "pacientes mortos" há muuuuitos anos. Não temos efetivos dados para constatar as "patologias psiquiátricas" de personagens do medievo. Tudo são tentativas tímidas de aproximação. Os aspectos culturais, sociais e religiosos deixam marcas menos problemáticas.

William, é sempre um prazer ler tuas postagens. Acho que foi Stanislav Grof, que estudava LSD, que dizia que místicos e loucos trafegam o mesmo mar, só que místicos navegam, enquanto loucos se afogam nele...

Valeu! E obrigado por lembrar do caso das drogas alucinógenas. Realmente, muitas são usadas em rituais de "libertação da mente". Vide o Santo Daime. Muitas sociedades fazem uso de tais produtos em diferentes situações religiosas. Mas existem outros meios de se alcançar o transe. O Mircea Eliade notou que existem indivíduos que tem habilidade de alcançar tal estado sem recurso de alucinógeno algum. O "xamã" não é o simples louco ou "doidão", mas um cara que tem a capacidade de atingir também certos estados de alucinação por conta própria. O antropólogo Claude Lévi-Strauss identifica um caso no livro "Antropologia Estrutural" de um "xamã" que é totalmente consciente de seu papel como intermediário entre homens e divindades, e consciente também de seu "aparato cênico" ao fazer seus "transes". Há místicos muçulmanos, os Darvish ou dervixe, que, por meio de uma dança rotativa, atingem o transe. Aí chegamos em um ponto importante: nem todo transe tem caráter religioso e nem todo indivíduo alucinado é "xamã" ou "líder carismático". Existem pessoas dotadas de determinadas caraterísticas para tornar válidas tais "contatos com o sobrenatural". Existem anseios culturais e sociais que determinam a validade da tal experiência religiosa. Já vi uma pessoa em estado similar uma vez. Eu, como não religioso, só fiquei espantado pela situação, pois é super estranho ver alguém meio "alto". Mas o que me chamou mesmo a atenção foi o fato de as pessoas em volta estarem realmente crendo que aquilo era um êxtase religioso. O cara proferia palavras desconexas que só faziam sentido para quem acreditava que aquilo era algo importante. O que dá significado à tais palavras são as crenças dos outros. Eu, como não acredito, não vi nada de relevante. A crença do grupo é fundamental para sustentar estas situações. É o grupo que dá credibilidade. Não estou falando de teologia ou coisa que o valha, estou fazendo mais uma abordagem de antropologia da religião, sociologia da religião e história da religião. Ou arremedo de abordagem...

Por um acaso alguém sabe onde consigo o texto na íntegra com as iluminuras, principalmente a parte que fala de Joana d´Arc?
O nome é Les Vigiles de Charles VII escrito por Martial d'Auvergne.

Existem algumas empresas que fazem réplicas de livros medievais. Existe o site de "O Moleiro" - http://www.moleiro.com/pt/inicio.htm -, de Portugal. Creio que, pela qualidade do trabalho, as coisas saem um tanto salgadas. Creio que existam empresas que fazem trabalhos similares na França ou Espanha... Boa sorte!

Joana D'Arc de Luc Besson é um bom filme, porque apesar de ter comédia no meio, ele mostra um lado mais real, deixando de lado o romantismo da maioria dos filmes.

Acho esse Joana D'Arc péssimo... A Milla Jovovich tá sofrível! Acho os personagens meio caricatos também.

Leonor da Aquitânia

Uma mulher inteligentíssima e culta, foi uma das pessoas mais poderosas da Idade Média, batendo até Inocêncio III, o papa mais poderoso da história, esse que batia todos os governantes.
A enorme fortuna pessoal de Leonor e seu apurado sentido político fizeram-na a pessoa mais fluente de sua época, além disso,  divulgou conhecimento e o gosto pela poesia, e não pense que sua fortuna vem dos impostos, ela fundou escolas, Universidades Laicas de diversos ramos de conhecimento e centros religiosos como abadias. Apesar de seu imenso poder autônomo e influência, não era ambiciosa, estava mais preocupada em expandir conhecimento, parecia uma nobre meio ''aburguesada'', grande matriarca, os pequenos senhores feudais tinham medo dela apesar de não oferecer perigo.
Em sua vida amorosa, repudiou maridos com uma extrema facilidade, se casou várias vezes e morreu solteira aos 82 anos de idade. Sempre preferia os homens mais bonitos para si, homens que não eram de sangue azul como reis e nobres.

Se todos dizem que Inocêncio III era o mais poderoso, o que faz Leonor ser melhor?

Inocêncio III foi o PAPA mais poderoso, mais Leonor ou Eleonora, como também era conhecida, era muito mais fluente do que ele. Ela fez muita coisa que você nem imagina, tudo que teve de poder e fortuna foi merecido.

Tipo?

Ela fundou escolas e universidades para todos os lados, espalhou conhecimento, alfabetizou nobres analfabetos e camponeses, teve várias profissões e muitas outras coisas.

Sou fã de Aliénor d'Aquitaine, ela foi bastante importante em sua época e deveria ser reconhecida como Magna porque ela foi grande.

Aqui fala mais detalhes sobre ela:

Fui obrigado a colocar esse vídeo entre os meus favoritos... Maravilhoso!!!!
Eleonor foi, talvez, a figura feminina mais marcante da Idade Média. Ela foi rainha da França e rainha da Inglaterra. Permaneceu presa por ordem do rei da Inglaterra, seu marido, por mais de quinze anos e só foi solta quando seu filho Ricardo, mais tarde chamado de Coração de Leão, a libertou.
Acredito que ela teve uma grande vida e que deve ter sido uma mulher de personalidade muito forte. Era inteligentíssima, falava muitas línguas, tinha conhecimentos que muitos nobres da época não tinham... Foi um mulherão.. hehehehe

As mulheres na Idade Média ocupavam diversos papéis sociais. A maioria das mulheres tinham uma profissão e até conduziam alguma forma de negócio sem a tutela de seus maridos e ainda tinha as mulheres que exerciam seu próprio negócio, completamente autônoma, também havia mulheres poderosas nos burgos medievais. Por exemplo, os registros documentais de Paris do século XIII apresentam mulheres professoras de escolas e universidades, médicas, boticárias, tintureiras, copistas, miniaturistas, encadernadoras, arquitetas e outros, também alguns papéis de liderança importantes, tais como abadessas e rainhas soberanas como, por exemplo, Urraca I de Castela e Leão, muitas camponesas solteiras ou casadas, eram chefes ou anciãs de suas Aldeias. Além disso, as mulheres tinham direito de voto nas comunas burguesas e plenos direitos políticos. Havia muitas mulheres nas Universidades e, por falar nisso, muitas Universidades Medievais foram fundadas por mulheres e ainda tinham as mulheres guerreiras, ou seja, Joana D'Arc não estava sozinha. De todas elas, Leonor foi a mais que se destacou.

Mas Infelizmente os juristas ressuscitaram o Direito Romano na Renascença, que modificou a estrutura social. A mulher foi uma das mais afetadas, pois a influência e o uso do direito romano foram minando a liberdade feminina, o que conduziu a um declínio de sua ocupação social na Era Moderna. O direito romano foi bastante estudado e utilizado pelos que detinham propriedade e poder. A liberdade feminina vai se restringindo na medida em que o direito romano, na figura do ''pater familias''. A Mulher perdeu sua autonomia na legislação por causa de renascentistas idiotas completamente iludidos que queriam ressuscitar uma cultura que já havia morrido há muito tempo de um povo rude e desdentado como os romanos. A ''Sociedade Patriarcal'' no Ocidente foi imposto artificialmente, é por isso que as mulheres tem toda razão de lutar e correr atrás de seus direitos.

Interessante essa sua colocação e ligação entre a ressuscitação do Direito romano e patriarcado ocidental. Eu realmente não sabia. Valeu!

Martinho Lutero escreveu:
Ela fundou escolas e universidades para todos os lados, espalhou conhecimento, alfabetizou nobres analfabetos e camponeses, teve várias profissões e muitas outras coisas.

Carlos Martel já não havia feito e, ou pelo menos, iniciado tais feitos?

Vlad Tepes III escreveu:
Interessante essa sua colocação e ligação entre a ressuscitação do Direito romano e patriarcado ocidental. Eu realmente não sabia. Valeu!

É importante não generalizar porque ''família patriarcal'', exclusiva das elites agrárias, variou de região para região, de local para local, sendo muito relativo. Apesar do modelo Romano ter sido adotado, a sociedade patriarcal no Ocidente nunca existiu como no mundo islâmico ou em outras civilizações, sendo assim, prevaleceu elementos da cultura celta e germânica medieval.

Vlad Tepes III escreveu:

Martinho Lutero escreveu:
Ela fundou escolas e universidades para todos os lados, espalhou conhecimento, alfabetizou nobres analfabetos e camponeses, teve várias profissões e muitas outras coisas.

Carlos Martel já não havia feito e, ou pelo menos, iniciado tais feitos?

Carlos Magno inventou as escolas, mas não as Universidades, além disso ele era analfabeto e não se arriscava em rabiscar o próprio nome.

Mas construiu um império em plena Idade média, repeliu os árabes e era tão poderoso quanto o papa. Se fez isso como um analfabeto, imagine se não fosse ágrafo. Além do mais, ele aprendeu ler e escrever no final da vida.