Mulheres mais poderosas da História

Logo, como podiam esperar por uma salvadora?

Aproveitando o ensejo, no filme "Em nome de Deus" um professor de filosofia (Pedro Abelardo) tem um comportamento casto. Não ficou claro se esta era uma condição necessária aos professores da época ou se era apenas opção do professor mencionado.

Abelardo foi o fundador da Universidade de Paris.
As correspondências dos dois podem ser encontradas por aí, se não me engano tem um livro da Martins Fontes só com elas, entre outras editoras.

Nem todos os nobres eram iletrados, isso depende da época.
Sem dúvidas que o sexo não era banalizado como hoje em dia, tanto em razão do cristianismo e sua moral. Vale lembrar que o sexo é pecado, o pecado original.
A mentalidade medieval é muito interessante e não pode ser deixada de lado.
Tanto por isso, que o sexo é dito como uma tentação do diabo, e precisa ser reprimido.

Tem também História das minha calamidades que é o livro autobiográfico que o Pedro Abelardo escreveu. Muito do filme Em nome de Deus se baseia neste livro.

Há muita representação negativa a esse respeito sobre sexualidade na Idade Média. A castidade era ensinada como meta a ser atingida. Quanto ao comportamento dos homens, C. Meiners observa "que nunca tantas damas nobres e tantas jovens foram raptadas e violentadas como nos séculos XIV e XV quando a cavalaria estava no auge. Quando, durante estes dois séculos, os guerreiros enfurecidos conquistavam as cidades, ou se apoderavam das cidadelas, era considerado como um direito de guerra o de poder violentar as mulheres e as jovens que eram, frequentemente, mortas em seguida". A devoção cavalheiresca da mulher toma força com os trovadores e com os Fiéis do Amor. Mas o imaginário feminino sempre esteve presente na Idade Média, onde até os homens, demonstrados nos quadros dos grandes pintores, eram pintados de tal modo que sobressaíam os elementos puramente femininos. Será que era uma indignação ao papel insignificante da mulher? Pois é, a castidade era uma virtude muito bem trabalhada na igreja, no feudo, só não sei com que propósito.

Se estudarmos os escritos do sepher de Moisés (Osarsiph) à luz da simbologia empregada pelo mesmo, poderemos inferir que o sexo não é o pecado original, mas as volições ligadas à prática do sexo são, em suma, o pecado original.

Sexo-pecadinho X pecadões

Apesar do mito de Adão muito bem descrito pelo colega acima, a bronca da Igreja com o sexo existiu sim, mas foi fruto de influências de outras religiões na formação do cristianismo, principalmente do platonismo e do zoroastrismo que praticamente igualavam Matéria=Mal.
Logo, multiplicar a matéria e aprisionar almas em corpos era pecado para eles.
Mas ainda assim nem mesmo estas religiões, e nem o judaísmo original, não apontavam o sexo como Pecado Original dos humanos.
E mesmo para a corrente principal da Igreja ainda haveria um outro Pecado Original (o do Anjo Rebelde).
Historicamente, este mito estaria ligado a crenças muito antigas dos cananeus quando um deus menor, Filho da Aurora e astronomicamente identificado com o planeta Vênus, tentou ocupar o trono de El (o deus máximo).
É importante lembrar que o celibato só se tornou "altamente aconselhável" com o papa Gregorio Magno no século VI, e obrigatório para sacerdotes católicos no século XII.

Sobre os estereótipos relativos à figura feminina na Idade Média, afinal, mulheres são feiticeiras ou noivas de Cristo?

"A mulher é a lira de Satã", pela boca dos cristãos primitivos. Fraca de caráter e de inteligência, a mulher é "mais carnal que o homem" e, considerando-se que o Diabo tem livre acesso à carne (o Espírito é acessível somente a Deus), a mulher está mais suscetível às tentações do Maligno... No casamento, inferniza e enlouquece o homem, e portanto, é melhor que mantenha a virgindade e case com Cristo, enclausurada à vida religiosa... por serem as mulheres, geralmente as idosas, as curandeiras e guardiãs dos saberes populares sobre a doença e a cura, são elas as temidas feiticeiras, bruxas, envenenadoras e dispersoras de malefícios... e por aí vai... quem é que põe mais algum defeito?

Acabei de ler um livro bem interessante que trata deste tema: Bruxaria e História de Carlos Roberto Figueiredo Nogueira. Vale muito a pena ler.

No livro "Idade Média, o que não nos ensinaram" (no original "Pour en finir avec le Moyen-Age"), Régine Pernoud dá um show sobre Idade Média, mostrando o quão deturpada é nossa visão atual sobre este período, herdada da campanha de desmoralização do medieval pelo Renascimento.
Num dos capítulos, ela mostra que na Idade Média a mulher tinha muito mais liberdade e poder do que nos períodos anterior e posterior. Não daria para trasncorrer sobre isso nestas mensagens, mas aconselho a todos, sem exceção, que leiam este livro e possam respirar um pouco de uma nova visão medieval.

Nos tempos dos primeiros apóstolos, eles próprios casavam e o sexo não era pecado. Aliás, mesmo nos séculos seguintes, deve-se notar que o primeiro santo venerado oficialmente pela igreja católica foi uma mulher (Maria).

Mas acho que os anos de celibato atrofiaram os cérebros de alguns padres e eles exageraram (rs) ao falar mal das mulheres.

Tem padre medieval que diz coisa que nenhum (outro?) viado diria, falando que mulher é muito ruim e coisa e tal.

Citações do livro da Régine Pernoud:

O livro de Pernoud é por demais correlato, onde ela mostra fato por fato, na sua argumentação, para chegar em suas conclusões. Assim, não basta citar passagens sem todo o seu contexto. Vou fazê-lo em alguns poucos, mas que fique registrada esta ressalva.
"Mas há algo mais supreendente. Se quisermos fazer uma ideia exata do lugar ocupado pela mulher na Igreja dos tempos feudais, é preciso perguntarmo-nos o que se diria, em nosso séc. XX, de conventos de homens colocados sob a direção de uma mulher. Um projeto deste gênero teria, em nosso tempo, alguma possibilidade de se realizar? E, no entanto, isto foi realizado com pleno sucesso, e sem provocar o menor escândalo, na Igreja, por Robert d'Arbrissel, em Fontevrault, nos primeiros anos do século XII. Tendo resolvido fixar a incrível multidão de homens e mulheres que se arrastava atrás dele - porque ele foi um dos maiores pregadores de todos os tempos-, Robert decidiu fundar dois conventos, um de homens, outro de mulheres; entre eles se elevava a Igreja, único lugar em que monges e monjas podiam se encontrar. Ora, este mosteiro duplo foi colocado sob a autoridade, não de um abade, mas de uma abadessa. Esta, por vontade do fundador, devia ser viúva tendo tido a experiência do casamento. Para completar, digamos que a primeira abadessa que presidiu os destinos da Ordem de Fontvrault, Petronila de Chemillé, tinha 22 anos..."
... "o status da mulher na Igreja é exatamente o mesmo que na sociedade civil e que tudo o que lhe conferia alguma autonomia, alguma independência, alguma instrução, lhe foi, pouco a pouco, retirado depois da Idade Média." ... "A mulher se encontra, portanto, excluída da vida eclesiástica, como da vida intelectual. O movimento se precipita quando, no começo do século XVI, o rei de França mantém nas mãos a nomeação de abadessas e abades."

Continuando...

"Faltaria falar das mulheres que não eram nem grandes damas nem abadessas, nem mesmo monjas: camponesas ou citadinas, mães de família ou trabalhadoras... apresenta mais um traço surpreendente, pois vemos, por exemplo, mulheres votarem como homens em assembléias urbanas ou nas comunas rurais. ... citando o caso de Gaillardine de Fréchou, que diante de um arrendamento... foi a única a votar não, quando todo o resto da população votou sim. O voto das mulheres nem é expressamente mencionado, mas isto pode ser porque não se via necessidade de fazê-lo. Quando os textos permitem diferenciar a origem dos votos, percebe-se que, em certas regiões, tão diferentes como as comunas bearnenses, certas cidades de Champanha, ou algumas cidades do leste como Pont-à-Mousson, ou ainda Touraine, na ocasião dos Estados-Gerais de 1308, as mulheres são explicitamente citadas entre os votantes, sem que isso seja apresentado como um uso particular do local."
"Nas atas de notários é muito frequente ver uma mulher casada agir por si mesma, abrir, por exemplo, uma loja ou uma venda, e isto sem ser obrigada a apresentar uma autorização do marido. Enfim, os registros de impostos, desde que foram conservados, como é o caso de Paris, no fim do século XIII, mostram multidão de mulheres exercendo funções: professora, médica, boticária, estucadora, tintureira, copista, miniaturista, encadernadora, etc.
Não é senão no fim do século XVI, por um decreto do Parlamento, datado de 1593, que a mulher será afastada explicitamente de toda a função no Estado. ... destaquemos, com o Código de Napoleão ela já não é nem mesmo a senhora de seus próprios bens e desempenha, em sua casa, papel subalterno."

Vou parar por aqui, mas vale muito a pena ler este livro, que dá um passeio por todas as facetas da Idade Média. Inclusive sobre a inquisição, ela mostra como a inquisição é criada pelo pensamento renascentista (a volta do Direito Romano).

Direito Romano vs. Consuetudinário:

Régine dá a entender muitas vezes que é a retomada do Direito Romano que tirará da mulher seus direitos, em oposição ao consuetudinário.
"Ora, o Direito romano não é favorável à mulher, nem tampouco à criança. É o direito pater familias, pai, proprietário e, em sua casa, grande-sacerdote, chefe da família com poderes sagrados, sem limites no que concerne a seus filhos: tem sobre eles direito de vida e de morte - e da mesma forma sobre sua mulher, apesar das limitações, tardiamente introduzidas sob o Baixo Império.
Apoiando-se no Direito romano é que juristas como Dumoulin, por seus tratados e seus ensinamentos, contribuem, por sua vez, para estender o poder do Estado centralizado e também - o que nos interessa aqui - para restringir a liberdade da mulher e de sua capacidade de ação, principalmente no casamento. A influência deste direito será tão forte que, no século XVI, a maioridade, que era aos doze anos para as meninas e quatorze para os rapazes, na maior parte dos costumes, vai ser transferida para a mesma idade fixada em Roma, isto é, vinte e cinco anos... Era uma nítida regressão sobre o Direito consuetudinário, que permitia a criança adquirir, muito jovem, uma verdadeira autonomia, sem que, por isso, a solidariedade da família lhe fosse negada. Nesta estrutura, o pai tinha autoridade de gerente, não de proprietário: ele não tinha poder de deserdar seu filho mais velho e era costume que, nas famílias nobres ou de homens comuns, regulava a devolução dos bens, em um sentido que mostra claramente o poder que a mulher conservava sobre o que lhe pertencia: no caso de um casal morrer sem herdeiros diretos, os bens provenientes da mãe voltavam para a família materna, segundo o adágio bem conhecido do Direito consuetudinário: paterna paternis, materna maternis.
No século XVII já se constata uma profunda evolução neste ponto de vista: os filhos ... continuam sob a autoridade do pai e a característica de propriedade tendente a tornar-se monopólio do pai não faz mais do que se firmar..."

Continuando...

"... O Código de Napoleão dá o último retoque a este dispositivo e dá um sentido imperativo às tendências que começaram a se firmar desde o fim da época medieval. Lembremos que apenas no fim do século XVII a mulher toma obrigatóriamente o nome do marido; e, também, que é somente com o Concílio de Trento, portanto na segunda metade do século XVI, que o consentimento dos pais torna-se necessário para o casamento de adolescentes;"

Se interessarem, busquem os outros livros de Pernoud também. Ela tem uma vasta obra sobre a mulher na Idade Média e é considerada uma das maiores especialistas no assunto na atualidade, aliás, era, pois morreu em 1998.

Não ficou muito claro pra mim o assunto do livro!
Poderia me informar do que ele trata mais especificamente? Me pareceu que o livro está mais focado na religião e papel da mulher naquela época.
Obrigada!

O objetivo deste livro é quebrar os preconceitos e desinformações tão propagados sobre a Idade Média.
Ele passeia por todos os aspectos da cultura, à exceção da tecnologia com a ressalva de que esse capítulo não era mais necessário depois do livro do Jean Gimpel "A Revolução Industrial da Idade Média".

O índice dele, com meus comentários:
1- Idade Média - Introdução
2- Deformados e Desajeitados - Sobre pensamento e arte
3- Rudes e Ignaros - Sobre literatura, música e teatro.
4- Torpor e Barbárie - Sobre sistema político.
5- Rãs e Homens - sobre sociedade.
6- A mulher sem alma - sobre hum... a mulher.
7- O Índex Acusador - sobre Igreja e Inquisição.
8- História, Ideias e Fantasias - sobre fazer História, o papel do historiador, e como ela enxerga a Idade Média.
9- Proposta Simples para o Ensino de História - autoexplicativo.

Eu aconselho a leitura, mas aviso que ele é muito denso e exige um conhecimento básico sobre a Idade Média.

Pelo que você expôs, vejo que a leitura deste livro virá a me ajudar bastante. Com certeza, é importante conhecer estes aspectos sociais da Idade Média de forma correta.

Contudo, pelo que me falou, o livro também se concentra em outros aspectos, como arte, política, e outros... Achei o livro na internet e vou comprar!

Obrigada!