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Mitologia Grega

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Mensagem por Hermes Trismegistus 9/3/2021, 14:43

— Este ano o tempo anda muito feio. Chuva que não cessa mais e neve insuportável. Melhor é ter paciência e deixar que volte a primavera, Hades...

Todos os anos, quando chegava o momento de Adônis regressar ao mundo subterrâneo, aos aposentos palacianos onde ele se encontrava secretamente com Perséfone, o céu ficava escuro, soprava um vento frio e nuvens turbulentas cobriam todo o firmamento: era o outono que começava. Assim que, seis meses depois, tinha início a radiante primavera das montanhas da Fenícia, a neve e o gelo aumentavam o caudal dos regatos, rios e riachos. O fio de águas azuis, junto ao qual Adônis recebera o golpe mortal do javali, tingia-se nessa época de vermelho. Para o povo da região, esse regato, que corria desde sua fonte nas alturas da cidade de Baalbek e transformava-se durante sua queda acidentada num rio que se precipitava através de inúmeras cascatas antes de desembocar, junto a Biblos, nas águas do mar, passou a levar um nome: Adônis. E, junto a ele, o deus e Afrodite viveram seu intenso e eterno amor de primavera e verão.

Mas as deusas não jogaram limpo. De vez em quando, uma ou outra dava um jeito de segurar Adônis mais um pouquinho, ou raptavam-no fora de época, ocasionando, assim, aqueles climas descontrolados e impróprios às estações ocorrentes.

FIM
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Mensagem por Hermes Trismegistus 9/3/2021, 17:51

A CAVERNA DE HIPNOS

No momento em que morria Ceix em alto-mar, Alcíone mantinha-se ocupada, em casa, o tempo todo, tecendo um traje para o marido usar em seu retorno e outro para ela mesma, que assim se faria mais bela para recebê-lo. Várias vezes durante o dia orava aos deuses por ele, principalmente à deusa Héra. A mãe dos deuses comoveu-se com aquelas preces dirigidas a alguém que, não sabia mas, já havia morrido. Convocou então sua mensageira Íris, ordenando-lhe que fosse à casa de Hipnos:

— Íris, fiel mensageira, voa para o palácio do deus do sono, e pede-lhe para enviar a Alcíone um sonho através do qual ela possa inteirar-se da verdade sobre o destino de seu amado Ceix. Só assim poderá recomeçar a vida sem estar presa a uma enganadora promessa.

A mensageira Íris, após vestir seu traje multicolorido, voou para o país da Ciméria, através da estrada de sete cores, e chegou em um vale profundo que o radiante Hélios jamais conduzia os seus cavalos flamejantes. Naquele país corria o silencioso Létes, o rio do esquecimento, chamado outrora, pelos antigos, de “rio do azeite”, cujo murmúrio convidava ao Sono. Diante da porta, nas profundezas de uma enorme caverna, cresciam papoulas e outras ervas que induziam ao torpor dos sentidos. E Íris passou protegendo seu delicado nariz, para que não viesse a cair desmaiada devido ao seu aroma intensamente inebriador.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 9/3/2021, 17:52

Nada parecia perturbar o majestoso silêncio daquele lugar. A Natureza inteira parecia muda, ainda que viva, já que o Vento lá não podia entrar. Apenas uma chuva fina caía e murmurava. Os pássaros, que por lá apareciam, não piavam nem anunciavam o nascer do dia, porque não havia o dia. Era uma noite eterna. No entanto, uma vez por mês, uma ligeira pátina azulada recobria tudo como um véu muito fino, por um período muito breve de tempo; neste momento a Noite tomava uma sutilíssima refração amarelada, produto de alguns raios esmaecidos do Sol que erravam feito aves douradas perdidas nos céus cimerianos — único reflexo do dia que conseguia penetrar naquelas regiões umbrosas.

Lá, Íris encontrou Hipnos reclinado num macio leito de penas negras, sobre um suporte feito de um ébano lustroso, envolto em penumbras e cortinas escuras. Ao seu redor estavam os Sonhos, belos e confortadores, e, bem mais afastados, os Pesadelos, tétricos e assustadores; todos dormiam. Íris chegou pela curva do seu caminho de sete cores, e de imediato a luminosidade de suas vestes iluminou a casa sombria. Os Sonhos e os Pesadelos, espavoridos, puseram-se a correr em todas as direções, metendo-se em baixo do leito, pulando as janelas para outros quartos escuros, ou simplesmente agachando-se com as pavorosas mãos e asas a recobrirem os olhos. Nem assim o deus abriu seus olhos turvos de sonolência. Mas sentiu sua presença.

(EXTRAÍDO DO MITO DE CEIX E ALCÍONE)
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Mensagem por Hermes Trismegistus 9/3/2021, 17:53

Aletheia, a verdade

Prometeus, percebendo que o homem não estava de posse do fogo, que o fazia trabalhar — já que via-o ocioso, não se deu por vencido, e pretendeu novamente colher uma fagulha do divino elemento, mas foi avisado por Atena:

— Cuidado, pensa duas vezes antes de afrontar novamente a ira de Zeus!

Prometeus, surdo aos avisos da deusa, preferiu correr o risco. Aproveitando a escuridão da Noite, enrolou-se num manto negro e subiu ao Céu. Aproximando-se pé ante pé, puxou das vestes um tição apagado e o ascendeu na lareira de Héstia. Conseguiu roubar novamente uma faísca do fogo do Céu. Tapando com a mão a minúscula chama, voltou à Terra e se apressou em devolvê-la aos homens. E, antes do amanhecer, eles já haviam acendido uma grande fogueira, e multidões de pessoas, de diferentes lugares, iam até o lugar para recolher um pouco do fogo que haviam recebido. E, dentro de algum tempo, o mundo já estava iluminado e aquecido.

Zeus, mais zangado do que nunca, começava a insinuar que Prometeus, na verdade, tinha ido até o Olimpo no intuito de lhe raptar Atena, e, por isso, pensou em puni-lo severamente.

— Aquele maldito intrometido saiu outra vez em defesa de seus protegidos! Desta vez seu ultraje não ficará sem resposta!

Decididamente iludido pelo titã, não conteve o ressentimento, e resolveu punir simultaneamente os homens e seu protetor.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 9/3/2021, 17:54

Prometeus, que já havia dado forma a uma nova geração de homens, civilizados, decidiu esculpir a forma da Verdade, usando toda a sua habilidade a fim de que ela se tornasse um padrão para regular o comportamento das pessoas. Enquanto estava trabalhando, ele recebeu uma convocação inesperada do poderoso Zeus. Prometeus deixou o astuto Dolus (a Malandragem) encarregado de sua oficina. Dolus tinha se tornado recentemente um dos deuses aprendizes. Enquanto Prometeus se encaminhava diante de Zeus, Dolus, tomado pelo fogo da ambição, usou o tempo à sua disposição para moldar com seus dedos astutos uma figura do mesmo tamanho e aparência que a criação de seu mestre, e ainda com características idênticas.

Enquanto isso, Zeus descarregava sobre Prometeus a sua ira e seu rancor:

— Filho de Jápetos, rejubilas-te por haveres roubado o fogo divino e iludido a minha sabedoria; mas esse ato será fatal a ti e aos homens que hão de vir. Para vingar-me, enviar-lhes-ei um funesto presente que os enfeitiçará e fará com que amem o seu próprio flagelo.

Zeus referia-se à criação de Pandora e já planejava a destruição dos homens com um dilúvio.

Assim sabendo e prevendo um castigo severo, Prometeus foi procurar seu irmão mais novo, Epimeteus, e o advertiu não aceitar presentes dos deuses do Olimpo, em hipótese alguma.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 9/3/2021, 17:55

Em seguida, lembrando-se dos seus afazeres, retornou para sua oficina, onde Dolus o aguardava. O aprendiz mal conseguiu terminar sua obra realmente notável, pois faltou barro para os pés da estátua. E, ouvindo os passos de Prometeus, rapidamente sentou-se na sua cadeira tremendo de medo. Prometeus ficou espantado com a similaridade das duas estátuas e quis dar a impressão que todo o crédito fosse seu, devido a sua própria habilidade. Logo, ele colocou as duas estátuas no forno e quando elas estavam completamente endurecidas, concedeu-lhe a vida: Aletheia, a sua verdadeira criação andou com passos comedidos, enquanto sua gêmea inacabada tinha uma postura emperrada no seu andar. Aquela falsificação, produto do subterfúgio, adquiriu o nome de Pseudos, “falsidade”.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 9/3/2021, 18:00

Mito de Sálmacis e Hermafrodites

Bastou um olhar para Afrodite e Hermes se desejarem. Tão forte era a atração quanto pouco durou o encontro, apenas o necessário para conceber um novo ser, e o chamaram Hermafrodites, juntando os nomes dos dois amantes. No entanto, como bisneto do gigante Átlas, foi conhecido também pelo nome de Atlantíades.

Afrodite não tardou em sentir-se culpada de trair seu esposo no Olimpo, e mandou Hermafrodites ao monte Ida, na Frígia, aos cuidados das Náiades. O rapaz cresceu, semelhante ao pai no porte e belo como a mãe, mas muito tímido.

As Náiades eram seres livres por definição. Vivendo às margens dos rios, seu único trabalho era banhar-se nas suas águas claras e procurar fazer-se cada vez mais belas, de forma que à noite estivessem ainda mais graciosas do que estavam pela manhã. Esse pensamento tinha a ninfa Sálmacis, reclinada na relva, à beira de um regato. Com a cabeça apoiada numa das mãos, a jovem alisava o tapete esverdeado do chão, arrancando pequenos pedaços de grama. Depois, lançava-os indolentemente à água, após estudá-los de todos os modos. Sálmacis gastava ainda um tempo infinito no restante desta importante ocupação, acompanhando a minúscula viagem do pequeno talo verde que navegava na corrente do regato até desaparecer da sua vista, misturado aos outros detritos verdes antes jogados.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 9/3/2021, 18:01

Às vezes, no entanto, fingia ser ela mesma esse pequeno talo. Deitada sobre o curso da água, boiava, deixando que a corrente a levasse aonde quisesse. Enquanto ia assim navegando, com os olhos voltados para o céu, Sálmacis flutuava, liberta de tudo. Via ao alto as nuvens avançarem com ela, enquanto andorinhas voavam em círculo no azulejo invertido do céu. Às vezes o Sol, por entre os galhos da vegetação das margens, obrigava-a a fechar momentaneamente os olhos. Então, a coisa mais fácil do mundo para Sálmacis era acordar, de repente, quase desaguando ao mar, junto com as águas do rio. Nesse momento, seus ouvidos ainda podiam escutar as vozes de suas companheiras, que se afastavam na outra margem comentando algo num tom raivoso, que logo Sálmacis respondeu:

— Invejosas!

Tinha certeza que falavam mal dela, pois havia pouco tempo tivera uma irritante discussão com as ativas e incansáveis colegas. Discussões, mais do que qualquer outra coisa, aborreciam-na profundamente. Simplesmente não conseguia imaginar como duas pessoas podiam se desentender num lugar maravilhoso como aquele.

Algumas Náiades, para lhe provocar, atiraram-lhe um punhado de seixos, dizendo:

— Vamos lá, preguiçosa! Levanta-te!

— É, ao trabalho! Vamos caçar!

— Meninas, deixai-a aí parada! A deusa Ártemis está aguardando impaciente no fundo do bosque!

Sálmacis tinha sua opinião sobre a deusa, e pensava:

— Ártemis aqui, Ártemis ali... Essa tal de Ártemis é muito enfadonha. Criatura enjoada, incansável, só pensa em caçar!

E respondeu:

— Ide vós, eu estou bem aqui...
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Mensagem por Hermes Trismegistus 9/3/2021, 18:01

Sálmacis não deu ouvidos às censuras de suas aborrecidas irmãs. Sabia que, mais tarde, voltariam esbaforidas, trazendo às costas corças e veados cobertos de suor e sangue. Era sempre a mesma coisa que a ninfa ouvia de olhos fechados. Em meio à algazarra das vozes, podia sentir em seu corpo colado ao solo a vibração repugnante dos corpos lançados desrespeitosamente ao chão, como simples e pesados fardos de carne.

Suas irmãs, no entanto, recém haviam partido para a sua obrigação. Suas vozes esganiçadas aos poucos se misturavam aos ruídos naturais do bosque, até que a paz retornava outra vez. A ninfa podia estender agora o seu corpo, deixando que o Sol a acariciasse. Pois Sálmacis era assim: gostava de suar em silêncio.

Enquanto o Sol esquentava a sua pele, pequenas abelhas vinham pousar sobre o seu corpo semi-nu. Podia sentir os passinhos dos pequeninos insetos dourados percorrendo suas pernas e subindo-lhe pelas coxas firmes e bronzeadas. De repente, levantavam voo outra vez, indo pousar em seus seios ou mesmo em seu rosto.

Ela ainda estava deitada, preparando-se para dar um mergulho, quando percebeu que alguém se aproximava da outra margem do rio. De bruços, precisou apenas erguer a cabeça para divisar um belo rapaz. — que aparentava não ter mais que uns quinze anos de idade — sentar-se à beira da corrente. O jovem esticou uma de suas pernas, pondo um pé na água, enquanto a outra perna permanecia dobrada, deixando o joelho à altura do queixo. Seus cabelos loiros lhe caíam em desalinho pelos ombros, agitados ocasionalmente por uma suave brisa.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 9/3/2021, 18:02

Era Hermafrodites, que, com quinze anos de idade, vagava pelas florestas da Cária, e havia decidido despir-se para nadar um pouco e refrescar-se. A ninfa Sálmacis, que ali se encontrava, viu-o e observou que, apesar de tão jovem, seu corpo tinha já a conformação quase idêntica à de um adulto robusto e sadio. Seus traços revelavam nitidamente a sua ilustre descendência, de tal forma que era impossível passar despercebido aos olhos de qualquer mulher. Ou de qualquer ninfa.

Com a mão em concha, Hermafrodites recolheu um pouco de água do leito do rio e banhou sua face corada. Depois, repetindo o gesto, molhou o cabelo, fazendo com que veios d’água lhe escorressem pelos ombros, cobertos apenas por uma fina túnica. O jovem Hermafrodites ainda não havia percebido, na outra margem, a presença da curiosa Sálmacis, que, encantada com seus gestos ao mesmo tempo viris e delicados, apaixonara-se instantaneamente.

— Quem será?

Erguendo mais um pouco o busto, apoiada em duas mãos, Sálmacis continuou a observar o rapaz, que continuava a banhar-se, bem à sua frente. Hermafrodites, já em pé, livrou-se de seu manto, descobrindo seu corpo viril e atlético.

A ninfa não resistiu e segredou à Terra o seu desejo:

— Ele será meu.

Quando ergueu a cabeça novamente, porém, enxergou apenas centenas de gotas d’água subindo para o alto; estava dentro do rio, mergulhando. E demorou um bom tempo para voltar à superfície, de tal sorte que a ninfa chegou a temer por sua vida. Mas bastaram mais alguns instantes para que retornasse, ainda mais perto dela. Sua boca, buscando fôlego, lançou respingos no rosto da ninfa, que procurava vê-lo — e certamente gostou disso —, e o rapaz, ao abrir os olhos cobertos de água que desciam dos cabelos, tomou um susto e recuou diante da mulher que estampava um sorriso malicioso.

— Calma, não te assustes!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 9/3/2021, 18:03

Sálmacis, como uma serpente feminil, rastejou em sua direção, esfregando seios e coxas sobre a relva, até aproximar o máximo possível a cabeça da corrente do rio. Pendida sobre a água, estudava implacavelmente o rapaz.

E ele, ainda não recuperado totalmente do susto e olhando de um lado para outro, perguntou:

— Quem és tu?

— Aquela que deseja ardentemente saber quem tu és!

E mergulhou em seguida a cabeça inteira na corrente. Seus olhos mantiveram-se abertos, abaixo da linha da água, estudando os segredos que a superfície relativamente calma do rio ocultava. Depois, retirando a cabeça da água com violência, arremessou sobre a face do jovem, com a impetuosidade de um chicote, uma jato de água. Hermafrodites, definitivamente assustado com a audácia daquela mulher estranha, ainda que sedutora, começou a nadar em direção da outra margem.

— O que há, garoto, estás com medo de mim?

Sálmacis estava acostumada com a agressividade dos seus rudes e habituais cortejadores, entre Faunos e Sátiros, que já chegavam agarrando, passando suas mãos grosseiras e peludas pelas partes íntimas do corpo de suas companheiras. A ninfa, contudo, jamais permitia que algum desses seres vulgares lhe chegassem perto, preferindo sempre a companhia dos gentis e delicados pastores, que a respeitavam. Mas que alguém quisesse fugir dela era uma novidade surpreendente.

Vendo que ele saíra já da água e rumava, num passo apressado, para dentro do bosque, esquecendo-se de vestir o manto, a ninfa pôs-se em pé e lançou-se à água. Seus braços ágeis cortaram a correnteza suave da água com tal rapidez que logo estava na outra margem. Ao sair do rio, mal teve tempo de perceber o dorso nu do rapaz ganhando rapidamente o bosque.

E disse-lhe com um sorriso nervoso:

— Espera! Por favor, não tenhas medo de mim!

Sálmacis entrou também correndo bosque adentro, e conseguiu divisar Hermafrodites, encostado em uma grande árvore, cujos galhos recobertos de folhas cobriam-no quase que inteiramente.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 9/3/2021, 18:04

— Espera, vamos conversar! Quero conhecer-te melhor!

— Não tenho nada para conversar contigo!

— Calma, sou só uma mulher... Afinal, quem é a mulher aqui?!

Hermafrodites, muito ofendido, retesou o peito, numa resposta instintiva à ninfa. Ela gostou da resposta. Com seus olhos percorreu o corpo do jovem, até exclamar com um sorriso satisfeito:

— Tu, com toda a certeza...!

Procurando ser mais contida, a ninfa tentou ganhar-lhe a confiança, como numa caçada, que evitava sempre fazer parte.

— Tu és bem jovem, não?

E deu um passo a frente.

— Não tanto quanto tu.

O jovem procurava fingir-se de mais velho.

— Hum... és mais experiente, então...

Hermafrodites nada respondeu. A náiade, no entanto, aproximara-se tanto que o jovem podia sentir a respiração dela em seu peito. Era um sopro curto e irregular que lhe provocava deliciosas cócegas no peito quase liso. Sálmacis, na verdade, também começava a perder o controle da situação.

De repente, encurralando o rapaz contra o grosso tronco de árvore, ela tomou a sua cabeça nas mãos e colou com fúria os seus lábios aos dele. Mas foi surpreendida pelas mãos do jovem, que lhe apertavam com vigor a cintura, erguendo-a um pouco do chão. Ao sentir que seus pés separavam-se do chão, a ninfa abraçou-se ao pescoço do jovem, enlaçando-o com as pernas. Nunca havia, na verdade, sentido tamanha identificação com o corpo e com a alma de alguém.

Tudo evoluiu rapidamente, como se ambos tivessem sido feitos expressamente um para o outro. Seus corpos encaixavam-se de modo perfeito; seus membros enlaçavam-se com tamanha familiaridade, que nem a ninfa nem o jovem podiam mais distinguir quais seriam os seus. Seus cabelos misturavam-se, ocultando como num véu o seu longo beijo.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 9/3/2021, 18:05

De repente, a ninfa, descolando momentaneamente os seus lábios e sentindo um desejo forte abalar todo o seu corpo, gritou:

— Ó Zeus e o Olimpo inteiro! Desejo nunca mais deste homem me separar!

Os deuses, que a escutavam, extasiados, atenderam imediatamente ao pedido. Os corpos dos amantes começaram a se fundir, sob a sombra generosa da árvore, que parecia descer mais os seus galhos para ocultar a metamorfose. Os peitos de ambos, colados firmemente, impediam-nos agora de separar os seus troncos. Suas bocas fundiam-se uma na outra, tornando seu longo beijo um delicioso beijo perpétuo. As pernas da ninfa, enlaçadas à cintura do jovem, amarraram os dois amantes para sempre num nó indissolúvel: um único e perfeito ser. Porém, Hermafrodites, que unia-se a ela contra sua vontade, teve tempo de suplicar aos Imortais que todo aquele que se banhasse no lago de Sálmacis perdesse a sua virilidade para sempre. E foi atendido. Desde então, ambos, unidos, formaram o surgimento de nova espécie, de dupla natureza: o bissexual.

FIM
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Mensagem por Hermes Trismegistus 9/3/2021, 18:06

Mito de Píramos e Tisbe

As famílias de Píramos e Tisbe jamais haviam trocado uma única palavra, embora morassem lado a lado, na bela e longínqua Nínive, uma cidade da Assíria. Há muitos anos, elas haviam-se enfrentado numa luta violenta, disputando terras e propriedades. A luta acabou, mas a rivalidade não. Por isso, nunca mais se falaram.

As deusas do Destino, depois de tanto tempo, pareciam novamente estar traçando um difícil conflito no caminho dessas famílias. Para desespero dos pais, todos descobriram que Píramos e Tisbe estavam apaixonados em pelo outro e tinham planos de se casar.

— Nunca! É impossível aceitar uma coisa dessas! Meu filho unindo-se àquela família de ladrões de terras? Nunca!!!

Isso acontecia sempre que Píramos contava seus sonhos para o futuro ao lado de Tisbe. E, certamente, a família da moça era da mesma opinião, e o pai proibiu-a terminantemente que ela voltasse a olhar para o rapaz.

— Um olhar! Basta um simples olhar para a casa ao lado e tu verás do que sou capaz...

A situação ficou insuportável para Píramos e Tisbe. Sentados sob a imensa amoreira branca, o ponto de encontro dos dois, eles tentavam encontrar uma saída para o problema. Tisbe lamentava:

— Não adianta. Nossos pais nunca aceitarão nosso casamento.

Píramos, no entanto, não estava disposto a abrir mão de seu amor e prometia encontrar uma maneira de se unirem:

— Ficaremos juntos, eles aceitando ou não!

Aconteceu, porém, que, numa tarde, enquanto os dois jovens conversavam sob a amoreira branca, apareceram no local os empregados de suas famílias. Como se fosse combinado, os pais tinham ordenado aos criados que seguissem e vigiassem todos os passos dos filhos. Píramos, surpreendido pelos empregados de seu pai, suplicou com voz baixa:

— Por favor, não dizei nada a meu pai! Suplico-vos!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 9/3/2021, 18:07

Os empregados nada responderam. Apenas viraram as costas e voltaram para casa. Píramos e Tisbe também voltaram, temerosos com o que poderia acontecer. Estranharam, porém, que os pais não fizeram nenhum comentário, nem lhes castigaram. E pensaram os jovens:

— Talvez os criados tiveram pena ou quiseram evitar brigas.

Porém, durante alguns dias, foram ambos impedidos de saírem de casa, e não puderam se encontrar. Só na semana seguinte é que eles foram descobrir o motivo: a pequena cerca que separava as duas casas estava sendo substituída por uma enorme muralha, tão alta quanto aquelas que serviam para separar cidades inimigas. Depois de pronta, os pais dos jovens pareciam muito satisfeitos. Pela primeira vez, haviam-se unido para realizar um objetivo em comum: o de separar os inocentes apaixonados para sempre.

— Ah, muro maldito! Quem foi o infeliz que teve a ideia de construí-lo? Isto é um absurdo! Que um raio o parta em dois, que os deuses o façam evaporar, que meu amor o derreta como o Sol!

E começou a entrar em desespero, dando murros contra os tijolos, tentando derrubá-lo à força. E caiu fatigado a chorar, chorar como uma criança... Mas uma voz se fez ouvir do outro lado:

— Não sejamos tão injustos, meu amor!

— Tisbe?!

— Vem mais para baixo, perto da árvore...!

E Píramos seguiu as instruções de sua amada, e descobriu uma pequena fenda que atravessava o muro intransponível.

— Vê, amor, não fosse esta estreita fenda que o construtor desavisado deixou aberta, jamais poderíamos conversar assim, livremente. Não, não culpe o muro, nem seu construtor, mas apenas nossos pais, que de maneira insensível nos consomem a alma nesta cruel agonia. Olha. Tenho um bilhete para te entregar, porque não posso ficar aqui por mais tempo. Vou tentar empurrá-lo com uma varinha, espera...

Com muito custo, Tisbe conseguiu empurrá-lo até o outro lado, sujando-o e rasgando-o parcialmente.

— Agora preciso ir. Nos encontramos de novo depois, no cair da tarde.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 9/3/2021, 18:08

Píramos tentou chamá-la, mas ela já havia ido. Então, desenrolando o bilhete, deixou cair todas as lágrimas a que tinha direito, pois lhe revelava tudo o que sentia e não podia demonstrá-lo fisicamente. Era como se vivessem muito distantes entre um e outro. Só poderiam se conformar com o que tinham e com os sonhos.

E assim, todos os dias, ao amanhecer, ao cair da tarde e no meio da noite, continuaram os encontros. Então, noutro dia, Tisbe voltou.

— Píramos, tu estás aí? Responde...!

Tisbe parou um pouco; o ruído de um longo suspiro chegou até os ouvidos de Píramos apaixonado.

— Píramos, precisamos ter muita paciência...

— Paciência?! Minha paciência esgotou-se, minha amada Tisbe. Que mal fizemos nós? Que crime cometemos? Como posso me conformar diante de tanto despotismo? Já não suporto mais viver das doces palavras que me dizes, sem poder ver a maravilhosa boca que as pronuncia, nem mesmo ler os bilhetes que introduzes pela fenda, sem poder ver a alva mão que os escreve.

Píramos, então, tentou, mais uma vez, verse conseguia enxergar um pedacinho, por mínimo que fosse, de sua adorada Tisbe. Mas o paredão era muito espesso, e a fenda, muito estreita. E, afagando as heras que cobriam o muro como se fossem os cabelos de sua amada, exclamou:

— Oh, pudesse agora tomar-te em meus braços...!

Com a boca grudada no pequeno vão do elevado muro, ela então sussurrou:

— Píramos amado, não te exaltes, podem nos ouvir. Aí, será o fim de tudo!

E o jovem assírio pensava, enterrando os dedos nas saliências e reentrâncias do anteparo:

— Se pudesse ao menos escalá-lo...

Mas as pedras eram muito escorregadias. O jovem não podia mais do que a poiar a ponta dos dedos entre as saliências. E desistiu de tentar.

— É um maldito deboche! Será que esse desgraçado construtor planejou cada detalhe para dificultar tudo?

O jovem ergueu, então, os olhos para o alto, mas por mais que elevasse as vista e procurasse ter uma ideia da altura do muro, perdia as esperanças.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 9/3/2021, 18:09

— Acho que até as lagartixas não conseguem subir...

E Píramos, com seus lábios ardentes colados à pedra molhada, como se beijasse os lábios úmidos de sua amada, exclamou:

— Oh, paixão... oh, tormento...

Certamente, se as paredes fossem de gelo, teriam derretido devido ao calor de seus lábios e a ansiedade de seus corpos.

— Quando poderei beijar-te de verdade, tocar teus lábios, tua pele, envolver teu corpo encantador no meu abraço? Teremos de esperar, então, até que estejamos velhos, ao ponto de meus olhos não poderem mais distinguir a tua beleza?

— Velhos? Nós? Tu és tão belo, não há jovem de maior beleza em toda a Babilônia! Tu nunca envelhecerás.

— Por enquanto, minha bela e fascinante Tisbe... O Tempo, porém, é veloz e desapiedado para com os mortais.

— Realmente, tu estás ficando diferente. Está mais maduro e tua voz mais grave, embora mais desanimado, também... Ah, tens razão, Píramos... Basta! Isto não pode continuar assim.

— Isto mesmo! Ah, minha doce Tisbe, enfim me ouves... Tenho pensado muito nisto, a cada dia, e acho que já tenho um plano para nós.

— Um plano? O que é?

— É muito simples. Se não podemos nos encontrar assim, amanhã à noite, quando todos estiverem dormindo, fugiremos.

— Por onde? Pela porta da frente?

— É o único jeito.

— Oh, Píramos, mas será perigoso... Poderão nos ver...

— Não, basta que tenhamos um pouco de cautela e outro tanto de audácia. Vamos nos encontrar junto ao túmulo de Ninos, fora dos limites da cidade.

— Eu jamais saí da cidade, Píramos, não conheço nada lá fora. Que farei?

— Tu logo o reconhecerá, pois ele é protegido por uma imensa amoreira, com frutos brancos como a neve, bem ao lado da fonte. Aquele que chegar primeiro aguardará o outro, sob os galhos da árvore.

— Tu já tinhas tudo preparado...!

— Sim, mas não foi fácil. Preocupo-me pela tua segurança. A deusa do amor me inspirou a ter coragem para lutar por quem eu amo e quero ficar.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 9/3/2021, 18:10

Os dois aguardaram, então, que o Sol terminasse de percorrer o firmamento e despencasse no horizonte, quando a Noite surgiu e encobriu o céu estrelado com o seu negro manto.

O local do encontro foi marcado para a noite seguinte, sob a velha amoreira de frutos brancos, junto ao sepulcro de Ninos, rei e fundador de Nínive e marido da rainha Semíramis. Assim que anoiteceu, Tisbe levantou-se da cama, cautelosamente, e, após certificar-se de que todos na casa dormiam, deslizou furtivamente pela janela até alcançar o portão de saída. Antes de cruzá-lo, deu uma última olhada no muro maldito, cujo topo nem as aves altaneiras tinham gosto de pousar.

— Maldito muro, maldito construtor...

Colocando a capa sobre os ombros e a cabeça, deu-lhe as costas para sempre.

Depois de ter atravessado as ruas da cidade, sob o sopro úmido e frio, alcançou um beco estreito e saiu por uma porta lateral de Nínive, de dificultoso acesso, enquanto ouvia, ao longe, o latido dos cães que acordavam; cruzou o campo e, finalmente, sob o luar, avistou uma gruta. Depois, com um pouco mais de dificuldade, subiu pela encosta até alcançar, enfim, o famoso túmulo, segundo as instruções de Píramos. Sentou-se, pronta para esperar o amado, que não deveria tardar.

Tisbe assim permaneceu, encostada sob a amoreira, durante um bom tempo, protegida do frio com a sua capa.

De repente, viu, a alguns metros dali, uma leoa caminhando em sua direção. Na boca do animal, ainda restava o sangue de uma vítima recente. Desesperada, Tisbe correu para a gruta, perto dali, e, na pressa, deixou cair seu manto. A leoa, que já havia comido, não a perseguiu, mas aproximou-se da fonte, bebeu água e parou debaixo da amoreira para descansar; brincou e rasgou o manto com a boca e as garras, reduzindo-o a um monte de tiras ensanguentadas e logo foi embora.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 9/3/2021, 18:12

Naquele momento, Píramos chegou, um tanto atrasado, pois as coisas não haviam sido tão fáceis quanto para Tisbe; os cães haviam começado a latir assim que ele pusera os pés no jardim. Trepado nos galhos de uma árvore, tivera de aguardar que o seu cão e o vigia se afastassem outra vez para poder prosseguir a fuga.

Assim que chegou ao túmulo, viu, sob o clarão ofuscante da lua, as fundas pegadas da leoa impressas perto da fonte.

— Leão...! Há leões por aqui!

E começou a procurar ao redor qualquer movimento... Quando, andando um pouco mais, para o lugar combinado, pousou os olhos atônitos sobre os farrapos ensanguentados da capa de Tisbe. Pelo chão, pôde notar mais rastros de uma fera: estavam nítidos. E Píramos, compreendendo o que se passava, apanhou a capa e murmurou banhado em lágrimas:

— Ela está morta! Não poderia tê-la deixado vir sozinha! É minha culpa...! Tisbe está morta e foi minha culpa...!

E, de joelhos, voltando o rosto em direção da Lua, bradou:

— Ó deuses, o que significam estas tiras ensopadas de sangue? Não pudestes protegê-la? Como a deixastes à mercê de feras cruéis e selvagens? E tu, deusa do amor, que fizeste?

Píramos ergueu-se, então, e relanceando o olhar por tudo gritou, aos prantos:

— Vamos, vêm, leões malditos! Vêm completar a negra tarefa! Abandonai os rochedos e vêm terminar o que começastes! Vêm!

Píramos urrava, batendo no peito em desespero. Então, parou por alguns instantes, depois decidiu o que fazer. Puxou violentamente a espada e cravou-a no próprio peito. E caiu soltando um grito engasgado de dor. O sangue esguichou e manchou algumas amoras brancas que estavam pelo chão. E, com os olhos ainda abertos, o jovem observou uma serpente, enrolada no tronco da árvore que olhava-o com muita tristeza.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 9/3/2021, 18:13

Enquanto isso, Tisbe, abraçada aos joelhos trêmulos, aguçava os ouvidos, com a sensação de ter ouvido Píramos chamá-la. Imaginou-o sozinho, esperando-a sob a amoreira, com a leoa a lhe rondar os passos. Encheu-se enfim de coragem e resolveu arriscar-se a voltar. Seus passos tornaram-se mais lentos e parados quando viu uma trágica cena. Tisbe ficou imóvel diante do corpo de Píramos.

— Píramos, amado, sou eu, a tua Tisbe!

E foi ajoelhar-se ao lado de seu corpo, e, tomando-o nos braços, beijou sem parar aqueles lábios lívidos e frios.

— Vamos, beija-me também, querido, me ouve!

Ao ouvir a voz de Tisbe, Píramos abriu pela última vez os seus exaustos olhos; um sorriso efêmero iluminou seus lábios, e logo em seguida sua alma renunciou à vida. Ela, então, divisou ao seu lado a capa toda rasgada e manchada, e exclamou, alterada:

— Tiraste a vida por mim! Oh, funesto engano! Oh, Moiras fatais! Perdemos um ao outro antes mesmo de nos amarmos! Oh, Morte acolhedora! Permita que eu não me separe de quem eu amo!

Então, viu apenas uma infinita escuridão, e caiu desmaiada sobre o corpo de seu grande amor. A serpente, muito comovida, deslizou o corpo pelo tronco da amoreira branca, indo ao encontro dos jovens e infelizes apaixonados.

Na manhã seguinte, assim que a Aurora divina retornou, tingindo o céu com seus rosados véus, quando os pais de Píramos e Tisbe saíram a procura de seus filhos, estranharam que, na entrada da floresta, a antiga amoreira branca estava carregada de frutos vermelhos. Ao se aproximarem, desesperaram-se com Píramos mortalmente ferido e Tisbe com marcas de picada de cobra na perna.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 9/3/2021, 18:14

As mães abraçaram-se, soluçando agoniadamente o seu desconsolo. E jogaram-se, em desespero, sobre os corpos de seus filhos, que estavam unidos agora para sempre.

Naquele momento de grande sofrimento, surgiu no Céu o poderoso Zeus, rei dos deuses, com a grande águia pousada em seu ombro.

— Píramos e Tisbe estarão sempre unidos na morada dos deuses. E, em homenagem ao grande amor que viveram, os frutos das amoreiras de todo o mundo jamais deixarão de ser vermelhas.

E o deus do longínquo Olimpo desapareceu, deixando um decreto, e os corpos de Píramos e Tisbe, a partir de então, foram unidos pela Morte e repousaram no mesmo túmulo, sob a sombra das amoras escarlates, porque os pais não tiveram coragem de desuni-los.

Para localizar mais ou menos a época desse mito, finalmente, em 1.510 a.C., após longos anos, subia ao trono de Árgos, o jovem Abas, filho de Linceus e Hipermnestra. Nesta época, o grande soberano Hamurábi transformava Babilônia na capital dos amorreus, tornando-a sede de poderoso império na Ásia e fundando o Primeiro Império Babilônico. Com sua esposa Aglaia, Abas teve dois filhos, gêmeos, e deu-lhes o nome de Acrísios e Proetos (Proitos), destinados a serem inimigos eternos e reinar em Árgos e Tirinto.

FIM


Não se parece com "Romeu e Julieta"?
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Mensagem por Hermes Trismegistus 9/3/2021, 18:16

O mito de Semíramis

Este mito se passou antes do de "Píramos e Tisbe".

Entre os deuses que adoravam os antigos assírios, Décerto, a divina sereia, tinha seu santuário nas praias de Ascalon, no país dos cananeus. Diariamente recebia homenagens dos pescadores que habitavam nas margens do Grande Mar. Em certa ocasião, ela, unida ao deus-rio Nilos, teve uma filha, na que se lhe reuniram todas as graças e beleza inimagináveis.

Mas tão maravilhosa criatura teve que ser abandonada por sua mãe. O Destino assim outorgava, e Decerto, consumida de grande tristeza, a envolveu num manto de algas e a depositou no alto de um rochedo. Ao nascer do novo dia, a menina abandonada, de fome e frio, chorava, cujos gemidos foram ouvidos pelas gaivotas que sobrevoavam as rochas, e acudiram pressurosas para protegê-la e dar-lhe calor. Algumas delas voavam para longe, no campo, em busca de leite e, em pequenas gotas, levavam de volta para alimentá-la.

Passava o tempo, e a pequena rainha das gaivotas crescia sã e contente, graças à dedicação das gaivotas. Às vezes, as aves iam roubar pão da mesa dos pastores da região. Intrigados por tão contínuos roubos, decidiram segui-las para averiguar o que se sucedia. E acabaram descobrindo a bela virgem. Eles a recolheram e a levaram com eles, e deram-lhe um nome: Semíramis, “gaivota”. Durante algum tempo, viveu a menina com os humildes pastores.

Nessa época, em que Gelánor se tornava rei de Argos, Belos (Amenemhet II?) tornava-se senhor de poderoso Império, abrangendo parte da Síria e do país dos quemitas (Egito) cortado pelo rio Nilos. O seu nome, da raiz Ba’al, “senhor”, já demonstrava o seu próprio poder. Reinava em Khemmis, na região de Tebas. O filho de Posseidon e Líbia desposou uma ninfa, filha do deus-rio Nilos, Anquínoe (Akhirroé), com quem teve dois varões, gêmeos, Egitos (Aigiptos) e Dânaos (Danaus), e um terceiro filho, Ninos. Mais tarde, Belos unindo-se à sua própria mãe, Líbia, teve dela uma filha, chamada Lâmia.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 9/3/2021, 18:17

Belos tornou-se o rei mais poderoso do Oriente, chegando a conduzir uma colônia de compatriotas (junto levou seu filho Ninos) a povoarem uma região rodeada por dois grandes rios, por isso foi chamada de Mesopotâmia, e, lá mesmo, na parte central, fundou uma cidade, Babilônia, chegando a desmoronar a hegemonia dos sumérios. Enquanto isso, Agenor dominava a faixa-norte da Síria, reinando em Tiros e Sídon. Quanto ao irmão Busíris, logo que morreu, foi posto no rol dos deuses quemitas.

Chegou o momento em que os pastores julgaram a jovem Semíramis pelo seu talento e por sua formosura, digna de tutores mais importantes, e a entregaram ao intendente real de suas paragens. Adorada por todos os que a conheceram, tornou-se mulher, e então contraiu matrimônio com um jovem da corte, homem de confiança do rei. Chamava-se Oannes e reunia beleza, inteligência e bondade.

Enquanto Dânaos e Egitos disputavam o trono de Khemmis, reinava então em Babilônia um monarca famoso por suas vitórias e conquistas. Famoso também por sua origem divina. Era Belos, o quemita. Era valente e ambicioso; sua única ocupação era a guerra, e a Vitória sempre lhe sorria. Mas só os bactrianos resistiam ao seu avanço. Enfurecido por sua contínua resistência, decidiu aniquilá-los, mandando contra eles um grande exército, liderado por seu general, Oannes; Semíramis, esposa fiel e valorosa, lhe acompanhava. Os bactrianos, perante o inimigo tão poderoso, bateram em retirada e foram refugiar-se em sua capital, onde organizaram dura resistência.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 9/3/2021, 18:17

Os babilônios haviam falhado vários intentos, quando, de súbito, Semíramis, em seus trajes de guerra, resolveu escalar a muralha com um grupo de soldados e deu a voz de assalto. E a cidade foi tomada triunfalmente, vindo a conquistar também o coração de Belos, que por ela se apaixonou. Usando seu direito real, tomou-a para si, mandando para a frente do campo de batalha o esposo Oannes, no qual perdeu a vida. No entanto, alvo de uma conspiração, o rei Belos foi ferido mortalmente por uma seta inimiga.

Semíramis, insegura por seu enteado Ninos ser muito jovem para reinar sobre um império tão grande, não vacilou nem se entregou: juntou todas as suas forças e manhas para reger todas as nações que seu novo marido, homem feroz e guerreiro, havia com armas subjugado. Por isso, a primeira coisa que fez foi vestir roupas masculinas, preocupando-se em ocultar todo o seu corpo, e se fez grande perante os exércitos da Assíria. Exerceu muito asperamente a arte militar, enganando seus soldados, que pensavam tratar-se do jovem príncipe, tão semelhantes eram.

Semíramis, vestindo uma túnica que cobria braços e pernas e o manto de púrpura, ainda fazendo passar-se por Ninos, subiu no sólio da Assíria e pôs na cabeça a coroa real. O povo, que se reunia na parte inferior, ficou estarrecido, já que não era costume vestir-se daquela maneira, ao modo egípcio. Nem mesmo no tempo do rei Belos. Então, percebendo que o povo não se mostrava admirado por tal costume, fez com que todos se vestissem daquela maneira, o que se tornou um costume local. E, desfazendo-se de qualquer possibilidade mais óbvia de ser questionada, Semíramis alcançou a majestade real e guardou a disciplina militar. Subornou seus generais e cortesãos, garantindo seu segredo, e, em seguida, intitulou-se “senhor” de todo o Império.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 9/3/2021, 18:18

No entanto, Semíramis fazia muitas coisas grandes e notáveis, incomum até para os melhores reis. E como não temia coisa alguma, nem o perigo de uma conspiração, e como não sofria a pressão e a inveja de outros, não vacilou em revelar a todos quem realmente era e como havia preparado todo aquele ardil. Quis até mostrar que para o Império não se devia haver preconceitos, nem desanimar se reinasse a mulher. E arrancou a admiração de todos.

E Semíramis, vestindo uma armadura guerreira e tomando suas armas e o coração de seu falecido marido, não somente defendeu e conservou o Império que Ninos havia conquistado, mas ainda ampliou, dominando os etíopes. Depois, invadiu a Índia, que ninguém até então havia ido, exceto seu marido. Além disso, restaurou Babilônia, no Senaar, mandando que construíssem ao seu redor imponentes muralhas.

Depois de apaziguadas suas façanhas, entrando em tempos ociosos e de raro repouso, estando com suas criadas e camareiras a trançar seus longos cabelos, Semíramis recebeu a súbita notícia que Babilônia havia-se rebelado, e levantou-se depressa, deixando seus cabelos inacabados, somente com um dos lados trançados. Semíramis, despreocupada com sua estranha aparência, tomou as armas e com suas hostes sitiou Babilônia, por longo tempo. Assim, venceu mais uma batalha. E, por mais esta façanha, ergueram-lhe uma grande estátua de cobre na cidade, mostrando seus cabelos soltos de um lado e do outro compostos e trançados.

A rainha Semíramis voltou a edificar novas cidades e continuou a realizar grandes façanhas. No entanto, começava a decair, subindo-lhe à cabeça o poder e a luxúria. A Fraqueza batia-lhe à porta. E, aos poucos, começou a entregar-se aos seus generais. Teve vários amantes, chegando a seduzir o seu próprio filho, que a princípio a renegou.
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