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Mitologia Grega

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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 14:55

Após vestirem suas asas, em silêncio, Dédalos olhou fundo nos olhos do filho e disse em voz baixa:

— Ícaros, meu filho, a viagem que vamos fazer não será fácil. Temos um longo percurso pela frente, mas se tivermos cuidado, chegaremos a salvo. Só não esquece: não devemos voar baixo porque as ondas podem molhar as penas, torno a repetir. Não devemos também voar muito alto porque o Sol pode derreter a cera que prende as penas. Devemos viajar devagar e firmes, como as cegonhas. Com isso, tenho certeza que faremos um voo agradável e chegaremos a salvo até a Hélade, onde aguardaremos o regresso de Teseus.

— Quando chegaremos a Atenas, pai?

— Não sei, filho. Pensei muito sobre isso e tenho medo de que talvez nem cheguemos lá. Tenho medo ainda que, se chegarmos, Minos imediatamente declare guerra para nos trazer de volta e castigar os que nos receberam. A Ática está subjugada pelo poder do grande Minos. Não devemos permitir que a destruição e o derramamento de sangue recaiam sobre Atenas por nossa causa.

— Acompanharei o senhor, pai, e iremos para onde o senhor resolver.

— É assim que deve ser, meu filho. Agora, chegou o grande momento do qual a humanidade sempre se lembrará. Segue-me e não te esqueces do meu conselho.

E concluiu:

— Agora, os caminhos do espaço estão abertos para nós, Ícaros! Vamos, voemos por sobre os mares e procuremos uma terra mais hospitaleira. Vamos, Ícaros!

Pai e filho, juntos, colocaram os pés sobre a amurada, no ponto mais alto da torre; abaixo deles o mar espumava, chocando-se violentamente contra os recifes negros que pontilhavam toda a costa.

— Agora!

Dédalos levantou as grandes asas e subiu para os ares. Dédalos partiu, e Ícaros o seguiu. Um dos sentinelas ouviu o grito e notou os movimentos, mas julgou-os pássaros e voltou a ocupar o seu posto.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 14:56

Poucos momentos depois, eles passavam pelo palácio do rei Minos. A ansiosa Pasífae estava desde manhã olhando do terraço. No momento em que eles passaram por ali, Minos saiu à procura da esposa e viu aquela cena incrível.

— Pasífae! Pasífae, nunca vi uma coisa assim! Vê, dois deuses sobrevoando o meu palácio!

— Sim, são mesmo deuses...!

Pasífae virou o rosto para que Minos não visse lágrimas em seus olhos.

Nisso, as sentinelas, atentas, avistaram os dois vultos que sobrevoavam Knossos, que, ocultos pela Noite, afastavam-se com segurança.

Enquanto Dédalos e Ícaros seguiam rumo à libertação, Teseus era visitado por Ariadne, que prontamente, após livrar-se de alguns guardas, conduziu-o até o Labirinto, pois pretendiam ambos dar cabo do monstro antes do amanhecer, para que Minos não viesse a saber. Mas foram espionados, e Minos soube antes do tempo que Teseus e Ariadne se encontravam no Labirinto. E as outras vítimas foram também lá encerradas. Depois de muita luta, quase chegando a sucumbir, Teseus, usando o próprio chifre do monstro para matá-lo, seguido pelos jovens atenienses e orientando-se pelo novelo mágico de Dédalos, alcançou a saída do Labirinto, onde se encontrava Ariadne, que o esperava.

Teseus abriu a porta do Labirinto e viu que os soldados cretenses estavam do lado de fora. Neste momento, uma nuvem acolhedora baixou e escondeu os fugitivos, sem que os guardas percebessem, como se estivessem num profundo sono. Ariadne correu para os seus aposentos, sorrateiramente, e foi buscar uma estatueta da deusa Afrodite, a que adorava intensamente, e, em seguida, foi juntar-se ao seu amado. Teseus, Ariadne e os outros jovens rumaram para o porto. Não havia vigilância àquela hora da madrugada. O povo havia voltado a dormir e os guardas não podiam vê-los. A ninguém podia ocorrer a fuga dos prisioneiros atenienses. Todos se preparavam para, no raiar do dia, de cima das muralhas e do palácio, ver o que havia sobrado dos condenados à Morte.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 14:57

Ao chegarem no porto, teve Teseus a alegria de ver que o navio ainda ali se encontrava. Estava próximo à praia, sombrio nas suas velas negras. Havia movimento a bordo. Com certeza, preparavam-se para partir ao amanhecer. Teseus emitiu um silvo agudo, como era costume em Atenas, para chamar atenção. Ninguém respondeu. Deu um silvo mais forte. Responderam de bordo. Eram tripulantes atenienses que os haviam acompanhado a Creta junto com soldados cretenses. Teseus e seus amigos, tomando cuidado com o gigante que costumava rodear o país a passos largos, foram abrir buracos nos cascos dos navios cretenses, temendo que fossem seguidos. E foram procurar um bote.

Foi quando Ariadne descobriu, junto à praia, um pequeno bote, e junto dele estava sua querida irmã mais nova, Fedra, ainda uma criança, que o havia providenciado. Correram para ele, na ânsia de libertação. A princesa Ariadne permaneceu imóvel, confusa se deveria segui-lo. Teseus insistiu e convenceu-a. E ofereceu um lugar no bote a Fedra, a irmã mais nova de Ariadne. O bote e seus tripulantes alcançaram o navio de trinta remos, que rumou em direção ao Norte, levando Teseus consigo a bela Ariadne e a cabeça do Minotauros como troféu.

Ventos amigos tomavam a embarcação no seu bojo, impelindo-a rapidamente pelas águas do mar, embalada por risos e cantos alegres. Nereidas vinham à flor da água e saudavam os jovens libertos. A manhã veio mais cedo. O Sol teve pressa em saudar os vencedores. Parecia o coração imenso de um gigante amigo sorrindo feliz.

A viagem de volta foi uma festa delirante. O navio deixava o porto inimigo. O gigante Tálos jamais imaginava que estivessem salvos os prisioneiros de Atenas. Estava certo de que o navio partia para voltar, no ano seguinte, com mais sete rapazes e sete donzelas para o banquete do Minotauros.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 14:58

Nesse momento, os fugitivos de Creta, no início de seu voo por sobre o mar de Creta, lutavam um pouco com as correntes de ar, que lhes roubavam momentaneamente o equilíbrio. Às vezes, Dédalos buscava apoio nos braços do filho, às vezes Ícaros recorria ao auxílio do pai. Já haviam deixado há muito tempo a ilha de Creta e agora não havia outro jeito senão mover os músculos com vigor, tentando poupar ao máximo o fôlego.

Dédalos e Ícaros, sob as estrelas, já haviam sobrevoado a primeira ilha do arquipélago das Cíclades, Théra, que tinha a forma de meia-lua, já que, outrora, havia sofrido a ação devastadora de um vulcão, que lhe havia tomado quase toda a parte central, fazendo riscar do mapa importante civilização.

Voando rumo norte, sobrevoaram Náxos, a ilha onde, diziam, morava o deus Dionisos, o filho de Zeus e Sémele.

O Sol já brilhava no céu, Dédalos e Ícaros voavam juntos por um bom tempo, ao sabor dos Ventos favoráveis, que os empurravam para o Norte. Já haviam passado por Páros e Delos, onde havia o famoso santuário de Apolo, e alcançaram, finalmente, o mar aberto. Sobrevoavam o círculo nu das Cíclades, com as Espórades à direita.

Pareciam não estar destinados a voltar para a Hélade, pois um vento inoportuno os empurrava para o leste. Passavam por Pátmos e Sámos, e já se encontravam entre Quios e Cós.

Ícaros estava encantado com suas novas asas, subia e descia em seus vôos. Aparentemente era uma brincadeira sem perigo, mas Dédalos, preocupado, recomendou:

— Pára com isso, Ícaros!

— Não te preocupes, papai! Não há perigo.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 14:59

Infelizmente, Ícaros achou que sabia demais e não deu atenção aos conselhos do pai. Foi pelo mesmo motivo que Faéton, o filho do Sol, morreu, pretendendo elevar-se à categoria dos deuses. Talvez tivesse percebido ser um tanto perigoso, e por um momento conteve-se. Mas era embriagador voar como as aves... Ícaros sentia-se como se fosse um deus e olhava com superioridade os homens em seus navios. Cheio de orgulho e com grande galhardia, começou a olhar para cima: lá, bem no alto, os astros deslocavam-se superiores, nos caminhos do céu. E Ícaros pretendeu seguir os astros, vê-los de perto... tocá-los. Pretendeu conhecer Órion e Árcas de perto. Quase sem perceber, o jovem começava a afastar-se da direção que o pai lhe assinalava. Subiu, subiu, ultrapassando as nuvens e as montanhas brancas. E começou a plainar, com os olhos cerrados. Quando Dédalos virou a cabeça para dar uma olhada se tudo estava indo bem, não viu mais Ícaros.

— Ícaros, onde estás?

Assustado, Dédalos vasculhou o céu de horizonte a horizonte e, finalmente, avistou um pequeno ponto rapidamente se afastando, cada vez mais.

— Ícaros! Ícaros, volta!

A pele de Ícaros refletia um tom dourado, e parecia que ele era o próprio filho do Sol. Apesar da angústia no apelo de Dédalos, sua voz perdeu-se na imensidão do céu e jamais chegou aos ouvidos do filho.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 15:00

E, num momento de vã empolgação, Ícaros decidiu subir mais rumo ao Sol, querendo igualar-se à faculdade de voar dos Imortais. Hélios, o Sol, sentiu-se ofendido por tamanha ousadia e lançou seu calor fulminante contra as asas de Ícaros. E o jovem, enquanto agitava as asas, percebeu que uma grande pena roçou-lhe o nariz. Seus olhos a acompanharam rodopiando pelo espaço sem limites até desaparecer misturada ao branco das nuvens. E uma deliciosa rajada de vento refrescou sua pele ao mesmo tempo em que percebeu que um grande tufo de penas espalhava-se ao seu redor. Grossos fios de cera derretida escorriam pelas armações, alcançando seus braços. A cera derretia, as penas se soltavam, e ele começou a perder altura. Com um grito de medo, Ícaros percebeu que a estrutura das asas se desfazia. Procurou esconder-se sob as nuvens, mas o calor do Sol tornara-se tão intenso que desmanchava as próprias nuvens. Ícaros percebeu que era o seu fim:

— Socorro, pai!

Num instante, passou como um raio pelo pai e, desesperado, tentando agitar os braços, já ia de encontro ao mar, e se afogou.

Dédalos, que presenciara sua morte, extremamente entristecido, acompanhou, do alto, o corpo do filho sendo levado pelas ondas do mar em direção de uma ilhota, perto de Quios. Dédalos desceu e recolheu o corpo. Tomando-o nos braços, ficou um longo tempo abraçado a ele. Com o coração despedaçado, como as asas de Ícaros, Dédalos o enterrou perto dali. E a pequena ilha, mais tarde, levaria o nome de Icária. O mar próximo que o matou passou a ser chamado de Icários.

Logo mais tarde, Héracles inumaria ali seu corpo. E, a partir de então, o nome de Ícaros passaria a ser lembrado toda vez que os homens quisessem prestigiar aqueles que dessem suas vidas para que o sonho de voar se tornasse uma realidade.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 15:01

O rei Minos irou-se ao perceber que havia sido enganado, e mais ainda ao saber que Dédalos havia deixado Creta. Então, decidiu persegui-lo, trazê-lo de volta e puni-lo; para tanto, deixou o governo de Knossos e de toda a Creta a seu filho Catreus, enquanto Teseus abandonava Ariadne na ilha de Dia (Náxos) a fim de entregá-la aos cuidados de Dionisos.

No regresso de Teseus a Atenas, o herói, envolvido pelo amor de Ege, uma das que haviam sido destinadas como repasto ao Minotauros, e pela fama que alcançava e o alçava como herói nacional, esqueceu-se de trocar as velas negras por brancas, e o rei Egeus, ao ver o barco ao longe, pensando ter perdido o filho para sempre, suicidou-se, atirando-se recife abaixo. O mar Arquipélago, no qual perdeu a vida, passou a levar o nome de Egeus, e Teseus foi aclamado rei, em seguida realizaram-se os funerais em honra de Egeus. E definitivamente Egeus passou a ser reconhecido como seu pai, tal qual Poseidon.

Dédalos, pensando que certamente fosse perseguido pelos cretenses em seu país, na Ática, e amargurado com a morte do filho, pretendeu aventurar-se e ter uma nova vida em outro lugar, o mais longe que pudesse estar. Nem mesmo a Ásia lhe seria propícia. Por isso, foi para o Ocidente, para além da Hélade, chegou em Cumas, onde levantou um templo esplendoroso, dedicado a Apolo. Sobre as portas desse templo, gravou toda a história de Minos e do Minotauros, porém, quando teve de esculpir a fuga do labirinto e o trágico fim de Ícaros, seu coração já não podia resistir, e o cinzel lhe caiu das mãos. Assim, pois, a obra ficou inacabada.

Depois, deixando que o Destino lhe mostrasse o melhor lugar para viver, voou para algum lugar ao sul, na Trinácria.

Ao pisar em terra firme, a primeira coisa que Dédalos fez foi destruir as asas que haviam custado a vida de Ícaros. Depois, foi em busca de algum lugar onde pudesse encontrar asilo. Foi mais para o sul, a Câmicos (bem perto de onde se ergueria Ácragas).
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 15:02

O rei daquele país chamava-se Cócalos, e a fama de Dédalos já chegara há muito tempo às portas do palácio. Portanto, foi bem recebido pelo povo e seu rei, que ofereceu-lhe proteção. Cócalos recebeu o ateniense com alegria e imediatamente lhe confiou um grande número de projetos para executar. Haveria de construir para o rei um reservatório, do qual sairia um grande rio que regaria o país inteiro, e um pequeno castelo fortificado, destinado a encerrar os tesouros reais, vigiados por somente três ou quatro homens, mas que nem mesmo os Gigantes conseguiriam assaltar. Porém, de antemão, em Selinunte, aproveitando o vapor do vulcão Etna, construiu banhos quentes, de grande resultado na cura das doenças humanas.

Durante a sua estadia naquele país, realizou ainda outras obras, entre as quais a ampliação do Templo de Afrodite, que ficava nas colinas de Érix, e à deusa dedicou um favo de mel feito de ouro, elaborado com grande arte e muito semelhante a um verdadeiro favo de mel.

Minos, o rei de Creta, não estava inerte. Assim que soube da fuga de Dédalos, mandou zarpar uma poderosa frota para localizar o artista e trazê-lo de volta a Creta.

Minos sabia que não podia contar com a ajuda de ninguém. Onde quer que Dédalos estivesse, os moradores fariam tudo para que ele ficasse. Então, o rei de Creta usou de um estratagema para encontrá-lo. Ele não dizia estar à procura de Dédalos. Em vez, levava consigo uma concha de molusco que Tríton lhe havia presenteado. A concha tinha um pequeno furo em sua ponta bicuda e, soprando por ali, Tríton produzia as piores tempestades.

Por toda a parte aonde ia, Minos mostrava a concha e, sob a recompensa de um saco de ouro, desafiava as pessoas a passarem um fio de linho por todas as espiras e, finalmente, por um buraquinho mínimo bem no alto dela. E ninguém conseguia fazê-lo. Mas Minos, ainda na esperança de encontrar Dédalos, seguia viagem.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 15:03

Dédalos, um dia, recebeu a visita, em sonhos, de sua protetora Atena, e soube que Minos haveria de descobrir o seu paradeiro, e vinha buscá-lo pessoalmente. Dédalos implorou ao rei e ao seu povo que não revelassem seu esconderijo, no que foi atendido.

Quando a notícia do desafio chegou ao palácio de Cócalos, o rei, ansioso por receber a recompensa, hospedou os estrangeiros em seu palácio e, sem saber quem eram, pediu a Dédalos que solucionasse o problema para ele.

— É fácil, Majestade. Amarra um fio de teia de aranha na pata de trás de uma formiga, coloca-a dentro da concha e lambuza o rifício no alto com mel. A formiga sentirá o cheiro do mel e circulará em torno de todas as espiras procurando pelo buraco. Assim que a formiga passar pelo furo, apanha-a, amarra um fio de cabelo de mulher na outra ponta do fio da teia e puxa com cuidado até que o cabelo passe. Então, amarra o fio de linho ao fio de cabelo e puxa o linho também.

Cócalos, estupefato pelo raciocínio de Dédalos, seguiu seu conselho. E Minos, vendo a concha da qual saía o fio, deu-lhe o saco de ouro, mas disse asperamente:

— Só Dédalos poderia ter tido esta ideia! Sou Minos, rei de Creta. Traze-o aqui imediatamente para que ele volte comigo. Eu destruirei teu palácio com fogo, se tu não o entregares a mim.

Cócalos conhecia muito bem a força dos exércitos de Creta, mas não tinha a menor intenção de entregar Dédalos nas mãos do tirano de Creta. Por outro lado, tinha grande respeito pelo rei que, além de possuir um gênio explosivo, estava com sua frota guerreira ancorada na baía. Por isso, Cócalos prometeu que o entregaria e convidou-o gentilmente a tomar um banho quente em seu novo banheiro construído por Dédalos.

A essa altura dos acontecimentos, toda a Trinácria pegava nas armas, pois não havia uma única pessoa disposta a entregar Dédalos nas mãos do mais cruel dos reis.

— Preferimos morrer lutando do que trair o homem que pediu a nossa proteção! Principalmente por Dédalos que fez tantas belas coisas para nós!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 15:04

Quando Cócalos percebeu que essa era a decisão de seus súditos, chamou os seus ministros e pediu-lhes sugestões para tentar livrar-se de Minos. Mas as filhas de Cócalos, para salvar o amigo — que lhes havia presenteado com um lindo conjunto de bonecas que mexiam os braços e as pernas —, no momento em que os nobres se reuniam, puseram água fervente, em vez de morna, nos canos da banheira, e Minos morreu escaldado.

Cócalos fingiu que a morte de Minos fora acidental, ocorrido quando ele tropeçou em um tapete e caiu na banheira, antes que a água fria fosse misturada à água fervente. Felizmente, os cretenses acreditaram na história e, com todas as honras, os cretenses enterraram o seu rei naquele mesmo país, perto da cidade de Câmicos, e sobre o seu túmulo se construiu um templo em honra de Afrodite. Em seguida, desnorteados, subiram em seus navios e voltaram para Creta. Somente mais tarde, durante sete anos, os cretenses voltariam a Câmicos para assediá-la, sem sucesso.

Dédalos permaneceu como protegido do rei Cócalos, formou muitos artistas famosos e foi o fundador da cultura da Trinácria, a futura Sicília. No entanto, após a morte de seu filho, Ícaros, ele não pôde mais ser feliz, e, se por um lado, graças ao seu talento, criava a beleza na terra que o acolhera, sua velhice foi triste e cheia de sofrimentos. E, finalmente, Dédalos decidiu retornar para a Hélade. Tomando um navio, foi para Atenas onde passaria o resto de sua vida trabalhando e ensinando a verdadeira arte aos homens do país. E, nos seus últimos dias, ele haveria de fundar uma escola que levaria o seu nome. Essa escola haveria de existir por centenas de anos e os muitos artistas que nela se formariam seriam chamados de dedálios, os seguidores de Dédalos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 15:04

Teseus, após organizar a Ática, aventurou-se com seu ídolo maior, Héracles, na expedição ao país das Amazonas; depois de um equivocado confronto entre os heróis e as guerreiras do Ponto, formaram aliança, e Teseus casou-se com a rainha Antíope, irmã de Hipólita, que havia morrido durante o combate. Antíope seguiu o esposo a Atenas, deixando o governo de Temiscira para sua irmã Melânipe e a pequena Pentesiléia, prometendo retornar. Porém, encantada com as belezas da Hélade, não mais voltou e preferiu permanecer ao lado de Teseus.

O rei Teseus, a frente de um exército de jônios e aqueus, invadiu Creta, forçando o exílio de Catreus. O rei de Atenas, em troca de aliança com Creta, fez subir ao trono outro filho de Minos, o jovem Deucálion, e Fedra retornou para sua terra natal. Mais tarde, Teseus, enamorado por Fedra, repudiou Antíope, causando a revolta das Amazonas de Temiscira, que invadiram Atenas e foram derrotadas. A paixão por Fedra foi o início da ruína de Teseus.

FIM
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 15:07

O mito de Narcisos

No reino de Téspias, não muito longe do monte Hélicon, onde Téspios era rei, vivia uma das Ninfas do séquito de Afrodite, a bela Liríope. Um dia, passeando pelos bosques que contornavam a cidade, Liríope foi perseguida por Éros, que apaixonado pela sua beleza desejou amá-la. Porém, a ninfa, seguindo aos conselhos de sua deusa rainha, negou a Éros o amor.

Éros sempre fora muito vingativo a todas as pessoas que desprezassem sua paixão, especialmente aquelas que mantinham qualquer ligação com Afrodite, sua mãe. Um ciúme que muitas vezes era responsável por terríveis vinganças.

Naqueles tempos, todas as Ninfas da Hélade sabiam o perigo que seria se por um acaso amassem Éros. O deus flamejante de paixão tornava-se violento como as chamas de uma grande tocha. Por isso, Liríope, que amava a própria vida, negou o amor que o jovem deus lhe oferecera.

Éros, vingativo, num dia de verão, flechou a ninfa quando se banhava nas margens do rio Céfisos. No mesmo instante, a ninfa não conteve seu desejo e mergulhou no rio. Durante duas noites Liríope banhou-se no Céfisos. Sua paixão pela divindade das águas ensurdecera-a, a tal ponto que desprezara a ajuda de Afrodite. E esta, enfurecida com a atitude de Liríope, abandonou-a à própria sorte.

Durante meses, Liríope levou dentro de si o fruto daquele amor não desejado. Enfim, desta união de Liríope com Céfisos, nasceu Narcisos (Nárkissos), uma criança de tamanha beleza, que a mãe, já cheia de alegria, acreditava ser o filho um exemplo vivo do descomedimento. Tinha medo de que os deuses se ofendessem com tanta beleza. Principalmente Afrodite.

Assim, decidiu consultar o Oráculo de Delfos. O vidente Tirésias foi quem anunciou a Liríope o destino de Narcisos:

— Esse menino terá vida muito longa se jamais conseguir ver a si mesmo.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 15:07

Daí então, Liríope passou a zelar o máximo pela criança, para que evitasse ver a si mesmo. E seu pai, o deus-rio Céfisos, por via das dúvidas, mandou que Liríope quebrasse todos os espelhos de casa. E temendo que o filho procurasse o próprio reflexo em alguma outra parte, fez surgir de suas águas um espelho mágico, no qual Narcisos via sua imagem sempre distorcida. Mesmo assim, sua beleza era tal que o menino, que crescia arrogante, não desgrudava do espelho.

Um dia, diante das queixas da Terra sobre-povoada, Zeus, o senhor do Olimpo, resolveu, novamente, aniquilar boa parte de seus habitantes. Já havia feito isso antes, através do Dilúvio, e pretendeu destruir a humanidade com raios e inundações, pelo menos em parte, para que pudesse controlá-la. Mas Momo, o deus da censura e do sarcasmo, censurou-o e persuadiu-o, em vez disso, a gerar uma filha tão bela que causasse a discórdia entre os príncipes de nações diversas e ocasionasse uma disputa entre eles; tal empreendimento daria um fim à raça dos heróis e à sua prole numerosa.

Anos se passaram, e poucos discípulos do Sábio Centauro continuavam com ele. Começavam a retornar para a casa dos seus pais. Héracles já havia se transformado em herói famoso. Enquanto isso, em Cálidon, na Etólia, havia uma princesa tão bela que os próprios deuses suspiravam quando a viam. Chamava-se Leda, filha do rei Téstios, descendente de Plêuron. Protegida na corte, ela esperava que um príncipe dela fosse digno. Tivera muitos pretendentes, mas a todos recusou, pois pretendia partir à aventura e conquistar ela própria o seu reino. Não lhe agradavam os príncipes que acorriam para cortejá-la a fim de desposá-la. Dizia que eram jovens imaturos e fúteis. A todos repelia, e regressavam às suas terras, frustrados pelo fracasso. Já o rei seu pai desesperava de lhe arranjar casamento.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 15:08

Foi quando chegou à corte um jovem príncipe diferente dos demais. Chamava-se Tíndaros e vinha acompanhado de seu irmão, Icários. Dizia ter sido alvo de uma conspiração e expulso do trono que lhe era de direito; o trono de Esparta. Eles haviam sido expulsos de sua casa pelo próprio irmão Hipocóon, guerreiro cruel que, com a ajuda de seus vinte filhos, tinha usurpado o trono. Planejava vingar-se e estava para reunir aliados para regressar e defrontar Hipocóon. E já contava com a ajuda do grande Héracles, que lhe prometia tomar o comando e invadir Esparta.

A determinação de Tíndaros conquistou Leda. As aventuras do jovem príncipe comoveram-na e a sua determinação de recuperar o trono fê-la ver nele um pretendente à sua altura.

O espartano Hipocóon, filho do famoso rei Ébalos e da ninfa Bátia, era irmão de Tíndaros, Icários e Arne, e vivia à espreita, já que não era filho legítimo da rainha Gorgófone nem sucessor ao trono. Foi pai de uma numerosa prole, e chamavam-se: Dorycleus, Scaios, Enaróphoros, Euteiches, Boúcolos, Lycaithos, Tébros, Hipóthoos, Eurytos, Hippocorystes, Alcínous e Álcon — todos varões.

Com a morte do pai, decidiu reunir forças para conquistar o trono de Esparta, já que não era o sucessor legítimo. Por isso, reuniu guerreiros a seu comando, os seus próprios filhos, marchou contra Esparta e apoderou-se do trono à força, expulsando do reino seus irmãos Tíndaros e Icários, legítimos herdeiros, que foram refugiar-se em Cálidon, mas ouviram falar do cruel hábito de seu rei, Évenos, que matava os pretendentes de sua filha, e decidiram buscar asilo na côrte do rei Téstios, em Plêuron. Lá asilados, Tíndaros desposou Leda, filha do rei e de Eurítemis (Eurythemis), e teve dela os filhos Cástor e Clitemnestra, e ainda Filónoe e Timandra. Pólux e Helena nasceram de Zeus, o senhor do Olimpo.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 15:09

Tíndaros, mais velho que Icários, desejava recuperar o trono algum dia, e o seu desejo e a sua esperança foram ainda maiores quando soube que Éonos, primo de Héracles, havia sido morto em Esparta. Éonos (Oionos), filho de Licímnios (Likymnios) e sobrinho de Alcmena, um dia, ao ser atacado pelo cão de guarda da casa de Hipocóon, tentou defender-se e acabou matando-o. Os filhos de Hipocóon, ao surpreendê-lo, mataram-no a pauladas.

Héracles, ao voltar para Tebas, sabendo do que havia acontecido em Esparta, declarou vingança e prometeu a Tíndaros, exilado na região da Etólia, recuperar-lhe o trono, já que era seu de direito. Hipocóon era fruto de uma união clandestina entre Ébalos e a ninfa Bátia — portanto, Hipocóon era usurpador do trono.

Héracles, junto com Íficles — já muito arrependido de servir ao rei Euristeus —, e alguns heróis, partiu para a Lacedemônia, a pedido de Tíndaros e Licímnio, em expedição contra os filhos de Hipocóon. Para tanto, foi para Mantinéia solicitar a aliança dos árcades de Cefeus, filho de Aloeus, que tinha vinte filhos varões. Mas Cefeus, temendo que, na sua ausência, o povo de Árgos lhe invadisse o território, vacilou e esteve a ponto de recusar o pedido de Héracles, seu amigo. Entretanto, Héracles lhe deu uma mecha de cabelos da Górgona, encerrada num vaso de bronze, presente de Atena. Disse-lhe que, se os inimigos atacassem a cidade na sua ausência, bastava que Estérope, sua filha, erguesse o vaso no ar, agitando-o três vezes acima dos muros da cidade, e o inimigo fugiria. Então Cefeus reuniu as suas três filhas Estérope, Aérope e Antínoe, que tivera de sua esposa Mantinéia, deu-lhes todas as recomendações e, após reunir os seus vinte filhos varões e um exército, partiu com Héracles para a Lacedemônia.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 15:10

Durante a guerra, pereceram todos os filhos de Cefeus e todos os de Hipocóon. Durante a batalha, o filho de Zeus foi ferido na mão, mas conseguiu assim mesmo prosseguir no seu intento. O rei foi morto pelo próprio Héracles, que, depois de receber os cuidados do médico Asclépios, no Templo de Deméter-Eleusina, sobre o Taígetos, retornou e restabeleceu Tíndaros no trono de Esparta. Os cidadãos aclamaram-no e até chegaram a considerá-lo imortal e semelhante aos deuses. Héracles erigiu um templo em honra de Atena, sua protetora, e outro a Héra, para agradecer-lhe não tê-lo prejudicado nessa empresa.

Ártemis, a deusa dos bosques, um dia, segredou a uma de suas Ninfas:

— Não aguento mais essa tagarela da Eco!

Mas não era a única a reclamar. Nenhuma de suas amigas suportava o falatório nem podiam mais vê-la pela frente sem fugir de sua língua incansável. Apesar de ser tão bela, Eco tinha a mania incontrolável de falar pelos cotovelos.

— Por que não te calas de vez em quando? Homem algum suportará uma mulher que fale sem parar. A tua beleza não compensa o esforço de te ouvir.

Mas Eco não se corrigia e prosseguia atormentando, até a exaustão; sempre tinha um assunto, sempre dava opinião aos assuntos alheios, sem tinha uma história pra contar e não sabia guardar segredos. Melhor mesmo era manter distância, especialmente de divindades maiores e mais vingativas.

Leda, filha do rei Téstios e Eurítemis, da distante Etólia, recém-casada com Tíndaros, restabelecido no trono por Héracles, havia agradado aos olhos e ao coração de Zeus, que, desejando aproximar-se dela, quis metamorfosear-se em cisne e misturar-se com os outros cisnes que Leda cobiçava afagar, mas temia que sua esposa Héra descobrisse. E o deus Hermes, seu filho, veio até Zeus avisá-lo de que Héra o procurava no intuito de acabar definitivamente com seus encontros com suas amantes. Para isso, precisava despistá-la, e foi recomendar a oréade Eco:

— Por favor, Eco, impede que Héra me siga!

— De que maneira, se eu...?
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 15:14

— Fala com ela. Diz o que te vier à cabeça. Inventa mentiras, digas que não me viste.

Em seguida, rogou à filha Afrodite que se transformasse em águia e fingisse persegui-lo. E puseram mãos à obra. Quanto a Eco, que não teve tempo de continuar a conversa com Zeus, percebeu que deveria evitar fofocas. Afinal, meter-se com o deus-supremo podia trazer-lhe problemas funestos.

E assim Eco, conquistando facilmente sua estima e confiança, distraía-lhe a atenção, contando-lhe muitas histórias. Porém, depois de lhe perguntar sobre o paradeiro de Zeus seu marido, Eco disse à rainha Héra que ela havia visto Zeus sair disfarçado em pica-pau. Héra ficou com o ouvido atento até ouvir o barulho de um pica-pau bicando a casca de uma árvore, e então correu para apanhá-lo. Mas se tratava apenas de um pássaro comum, e o mesmo aconteceu com o pica-pau que conseguiu apanhar em seguida.

Héra, depois de muito tempo perder, percebeu que a oréade lhe tinha feito de boba e resmungou, interrompendo as novas ladainhas da ninfa:

— Está muito bem, menina. Cala a boca! Pensas que me enganas com tua conversa mole, atrevida?

Eco, assustada e com as mãos da furiosa deusa impressas nos ombros, calou-se. Mas era tarde demais.

— Porque pretendeste fazer-me de tola, teu castigo será o de ficar invisível aos olhos de todos para sempre e de ser capaz de falar repetindo o que os outros disserem. Espera, e verás...

— ... e verás-verás...!

Repetiu Eco, em cuja boca o feitiço já começava a atuar.

— Aí está o que ganhaste com teu atrevimento.

— ... atrevimento-vimento...!

— Adeus, idiota!

— ... idiota-diota...!

Repetiu Eco e tapou rapidamente a boca com as duas mãos.

A notícia da maldição de Héra espalhou-se instantaneamente por entre as Oréades, e caçoaram:

— Bem-feito, sua ordinária!

— ... sua ordinária-dinária...!

Respondeu Eco, que ao menos podia, às vezes, responder à altura os desaforos que escutava.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 15:15

Então, terrivelmente amaldiçoada, tentou a pobre ninfa pedir perdão à rainha, mas de sua garganta não lhe saiu nenhum som senão as últimas e intrigantes palavras que algum deus pronunciasse. Emudecida, abandonou o Olimpo e voltou aos bosques para se isolar. E duas Ninfas mais amigas, ao vê-la tão triste, se aproximaram para lhe consolar e contar-lhe algumas histórias mais alegres. Mas Eco, entre lágrimas, só podia repetir o que elas diziam. Havia ficado reduzida a imitar o fenômeno sonoro da palavra.

No dia do casamento de Tíndaros, o rei de Esparta, Leda, sua noiva, foi banhar-se num lago construído especialmente para ela, atrás do palácio real, com as águas do Eurotas. Zeus, como sempre, sobrevoava aquela região, e ao olhar para baixo, viu Leda, exuberante e totalmente nua num lago cheio de cisnes. Apaixonado, Zeus resolveu transformar-se num cisne branco e ordenou que sua águia-real o perseguisse. Então, perseguido pela águia, o cisne foi acercar-se das margens do Eurotas, no sopé do Taígetos, e, no momento em que a águia ia atingi-lo, refugiou-se aos pés de Leda, como que a pedir-lhe proteção. Habitualmente, era ela que se abeirava com cuidado dos cisnes, que sempre fugiam, temerosos, quando alguém se aproximava. Leda afugentou a águia, e o cisne começou a bater as asas e permaneceu perto da protetora para lhe dar provas do seu júbilo e do seu reconhecimento. Deslumbrada e seduzida pelo cisne, a rainha adormeceu suavemente, caindo na armadilha de Zeus, que, aproveitando o aconchego, apoderou-se dela com o poder que só os deuses conheciam.

Leda, ao acordar, estranhamente exausta, mas muito feliz, levantou-se e correu de volta para o palácio. Devia aprontar-se para o casamento com seu noivo Tíndaros ao cair da Noite.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 15:16

Alguns meses depois, estando com seu esposo em Pelena, Leda deu à luz, estando grávida de Tíndaros. Nasceram seus filhos, um casal, e deu-lhes o nome de Cástor e Clitemnestra. Em seguida, quando já não se esperava acontecer mais nada, em seu leito, no mesmo parto, nasceu um grande ovo azul, que só Leda seria capaz de entender. O ovo foi divinamente transportado para um pequeno recife chamado Pefnos, no golfo da Messênia, e lá foi depositado sobre um ninho. Daquele ovo nasceram duas crianças, gêmeos dos primeiros, filhos de Zeus, aos quais chamou-os Polideuces (Pólux) e Helena. A estes dois, especialmente, foi-lhes dado dons divinos: a Polideuces deu o privilégio da imortalidade, e a Helena, a eterna beleza e a mocidade. E, assim que nasceram, o deus Hermes foi apanhá-las e levá-las até Leda, em Esparta.
No entanto, havia uma versão que contava que a segunda filha que nascia não era de Helena, mas da deusa Némesis, marcando na menina um espírito maligno. Némesis, para fugir à tenaz perseguição de Zeus,a própria fecundidade, percorreu o mundo inteiro, tomando todas as formas possíveis para despistá-lo, até que, chegando na Ática, no outono em Ramnunte, próximo de Maratona, já cansada, se metamorfoseou em gansa. O deus se transformou em cisne e a ela se uniu. Dessa união, Némesis pôs um ovo que foi escondido num bosque sagrado. O ovo azul, diferente de qualquer outro já visto, foi encontrado por um pastor e entregue a Leda, a filha do rei Téstios, que já tinha filhos. Ela guardou-o num cesto e, no tempo devido, nasceu dele uma menina, que Leda criou como sua própria filha.

Apesar da confusa paternidade das crianças, as duas filhas e os dois filhos formavam pares de gêmeos. Tanto Polideuces como Cástor, ambos passariam a ser conhecidos por Dióscuros (Diòs kûroi), filhos de Zeus, e Tindáridas, filhos de Tíndaros.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 15:16

Polideuces e Cástor estavam destinados a protegerem suas irmãs, por isso, Zeus lhes deu a faculdade de crescerem rapidamente, em poucos anos, e, assim que atingiram a adolescência, receberam dos deuses dois gorros redondos, pilos, que passariam a usá-los daí por diante. E foi nesse tempo que Leda ficou novamente grávida de Tíndaros, e teve as filhas Filónoe (ou Febe) e Timandra.

Narcisos, já crescido, aos dezesseis anos, havia-se tornado muito bonito, e todas as mulheres se apaixonavam por ele, inclusive as Ninfas. Mas ele mandava-as todas embora, afirmando não estar nem um pouco interessado. À despeito da cobiça que despertava nas Ninfas e donzelas, Narcisos preferia viver só, pois não havia encontrado ninguém que julgasse merecedora do seu amor. E foi justamente esse desprezo que devotava às jovens a sua perdição.

Havia um jovem chamado Amínias, que o amava intensamente. Narcisos, como fazia às Ninfas, repelia-o sem cessar, e acabou mesmo por enviar-lhe de presente um punhal. Amínias, desiludido, e entendendo a sugestão do amado, suicidou-se diante da porta de Narcisos. Ao morrer, Amínias invocou contra o cruel Narcisos a maldição dos deuses. Era o início de sua ruína.

A bela ninfa Eco, amante dos bosques e dos montes, companheira favorita de Ártemis em suas caçadas, tivera outrora um grande defeito: falava demais, e tinha o costume de dar sempre a última palavra em qualquer conversa da qual participava. E ela já havia sido amaldiçoada pela rainha Héra.

A ninfa, quando passeava pelo bosque, veio a se apaixonar por Narcisos, filho do deus-rio Céfisos e da ninfa Liríope, enquanto ele perseguia a caça pela montanha. Seguiu-lhe os passos, dia após dia. Narcisos, insensível às mulheres, entretanto, curioso por conhecer a ninfa, não a encontrava apesar de parecer ouvi-la, e o namoro entre os dois passou a ser impraticável, por ele não poder vê-la e ela não poder iniciar qualquer conversa. Era o efeito devastador da vingança de Héra.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 15:17

O efeito devastador da vingança de Héra produzia frutos também em relação aos demais seres das florestas, pessoas e animais que por suas paragens achegavam-se. Até mesmo ao deus Pã, cujo destino era amar sempre sem que nunca lograsse unir-se à criatura amada. Andando pelas montanhas e bosques a fazer música, Pan ouviu, saída do fundo do vale, uma terna voz que parecia repetir-lhe os acordes. Era a voz da ninfa Eo, filha de Éter e Géa. Desceu, então, para procurar a que lhe havia respondido, sem nunca poder atingi-la, embora ela lhe respondesse constantemente; a cruel ninfa parecia rir-se dele. Mas não se divertia a ninfa; pelo contrário, parecia soluçar; era o seu destino repetir os sons alheios, dos outros e daquele que verdadeiramente amava: Narcisos.

Certo dia, Narcisos, portando na cintura o seu espelho inseparável, foi caçar e, de repente, se viu longe de seus companheiros; Eco resolveu segui-lo, e ele, embora não conseguisse ver ninguém, ouvia seus passos. Eco quis dirigir-lhe a palavra, falar o quanto ela o queria... Mas não era possível — era preciso esperar que ele falasse primeiro para então responder-lhe. Distraída pelos seus pensamentos, não percebeu que o jovem dela se aproximara. Tentou se esconder rapidamente, mas Narcisos ouviu o barulho de galhos quebrando e caminhou em sua direção.

— Há alguém aqui?

— ... aqui-aqui-aqui...!

Narcisos olhou em volta e não viu ninguém. Queria saber quem estava se escondendo dele, e quem era a dona daquela voz tão atraente.

— Vem!

— ... vem-vem-vem...!

— Chega mais perto!

— ... perto-perto-perto...!

— Por que foges de mim?

— ... mim-mim-mim...!

— Eu não fujo! Vem, vamos conversar!

— ... conversar-versar-sar...!

— Então aparece, estou aqui!

— ... aqui-aqui-aqui...!

Eco, desesperada, pensando que a única forma de ser entendida seria uma medida drástica, correu para Narcisos e atirou-lhe os braços em torno do pescoço.

— Uma deusa? Tu és uma mulher! Eu detesto que qualquer mulher me beije!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 15:18

— ... beije-beije-beije...!

— Afasta-te! Prefiro morrer do que te deixar me possuir!

— ... possuir-suir-suir...!

E empurrou-a com violência. Ela caiu no chão.

— Não quero que ame!

— ... me ame-ame-ame...!

E só repetia Eco, vendo aquele jovem bonito lhe dar as costas e escapar rapidamente por uma vereda no bosque. E a ninfa, envergonhada, correu para se esconder no recesso dos bosques. Daquele dia em diante, passaria a viver nas cavernas e entre os rochedos das montanhas. Evitaria o contato com os outros seres, e não se alimentaria mais. Com o pesar, seu corpo haveria de se definhar, até que suas carnes desaparecessem completamente. Seus ossos se transformariam em rocha. Nada restaria além de sua voz. E continuaria a responder a todos que a chamassem, sempre repetindo as últimas palavras, completando assim a maldição de Héra.

Assim como Eco, muitas Ninfas amaram Narcisos, que as repudiava. Era pretensioso e arrogante, e mulher alguma parecia satisfazer a sua vaidade. Inclusive corria o boato que jamais podia olhar o seu próprio reflexo, a sua imagem real. Gostava de portar um espelho que lhe foi dado pelo pai, que lhe passava uma imagem distorcida, irreal. E, assim que se olhava, exclamava:

— Como sou lindo...!

Uma das Ninfas repudiadas, indignada ante a indiferença do jovem, elevou aos Imortais uma terrível maldição:

— Que ele também ame algum dia e não possa possuir o objeto de seu desejo!

Não foi em vão o sofrimento da ninfa Eco e das demais Ninfas rejeitadas, porque, do alto do Olimpo, a deusa Afrodite, indignada pela frieza de Narcisos, decidiu puni-lo. Enviou Nêmesis, a deusa da vingança, para conduzi-lo à Morte.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 15:19

Havia, não muito longe, em Dônacon, nas proximidades de Téspias, uma fonte clara, de águas prateadas. Os pastores não levavam para lá seu rebanho, nem cabras ou qualquer outro animal a frequentava. Não era tampouco enfeada por folhas ou por galhos caídos das árvores. Era belíssima, cercada de uma relva viçosa, e abrigada do Sol por rochedos que a cercavam. Um dia, por obra da deusa Nêmesis, o seu cinto se partiu e o espelho caiu ao chão e se quebrou em inúmeros pedaços. Juntando os cacos pôde ver apenas, com lágrimas nos olhos, o reflexo estilhaçado da própria beleza, o que não impediu de sua vaidade se pronunciar:

— Que lindos pedaços!

Abalado e fatigado da caça, e sentindo muito calor e muita sede, foi buscar a fonte mais próxima, naquele lugar desconhecido, onde nem um único cisne deslizava. E, surpreendido, via que nem até as árvores evitavam deitar seus galhos sobre a fonte, parecendo evitá-la. Narcisos debruçou-se sobre a fonte para banhar-se e beber água. Quando viu, surpreso, uma bela figura que o olhava de dentro da fonte.

— Com certeza é algum espírito das águas que habita esta fonte. E como é belo!

Admirou os olhos brilhantes, os cabelos anelados como os de Apolo, o rosto oval e o pescoço de marfim daquele ser. Apaixonou-se pelo aspecto saudável e pela beleza daquele moço que, de dentro da fonte, retribuía o seu olhar.

— Quem és tu, belo deus, que me contemplas desse jeito?

A imagem, nítida nas águas intocáveis, onde nem o Vento ousasse soprar, nada respondeu, e por várias vezes Narcisos solicitou resposta, sem sucesso. E não pôde mais se conter. Baixou o rosto para beijá-lo. Mas, cada vez que tentava beijá-lo, só conseguia ficar com o rosto todo molhado e turvar o reflexo.

— Espera, não foge!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 15:20

Narcisos temia perdê-lo para sempre. E a imagem retornou com nitidez. Ele não teve coragem de se afastar da fonte. Então, enfiou os braços na fonte para abraçá-lo e, ao contato com a água, o ser sumiu para voltar depois de alguns instantes, tão belo quanto antes.

— Por que me desprezas, bela criatura? E por que foges ao meu contato? Meu rosto não deve causar-te repulsa, pois as Ninfas me amam, e tu mesmo não me olhas com indiferença. Quando sorrio, também tu sorris, e responde com acenos aos meus acenos. Mas quando tento tocar-te, fazes o mesmo para então sumires.

Pela primeira vez Narcisos descobria o que era a dor do amor não-correspondido. Suas lágrimas começaram a cair na água, turvando a imagem. E, ao vê-la partir, Narcisos exclamou:

— Fica, peço-te, fica! Se não posso tocar-te, deixa-me pelo menos admirar-te.

Assim Narcisos ficou por dias a admirar sua própria imagem na fonte, esquecido de alimento e de água, e seu corpo definhando. As cores e o vigor deixaram seu corpo. Suas faces murcharam, seu cabelo cresceu desmesuradamente, com a franja caindo sobre os seus olhos, e seu nariz, perfeitamente aquilino, apresentava uma coriza continuamente a escorrer. Mas nada disso era o bastante para fazer com que ele deixasse de amar aquele rosto magnificamente belo. E, finalmente, triste e desencantado, sem poder consumar o seu amor, ele se matou com um punhal, enquanto gemia em voz alta:

— Que pena, que pena!

E ouviu uma voz:

— ... pena-pena-pena...!

Eco a tudo observava. E, quase morrendo, Narcisos ainda disse para a imagem da fonte:

— Adeus, lindo rosto que eu amo!...

Eco repetiu quase ao mesmo tempo, desta vez sem rejeitar uma só palavra:

— Adeus, lindo rosto que eu amo-amo-amo...!

E, nesse momento, Apolo transformou-o numa flor que passou a levar o seu nome: narciso.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 15:21

Assim, Narcisos morreu. As Ninfas choraram seu triste destino. Prepararam uma pira funerária e teriam cremado seu corpo se o tivessem encontrado. Apenas viram uma flor roxa, de folhas brancas, no local de sua morte, como que debruçando-se sobre a água. Só assim, Liríope compreendeu as obscuras palavras do adivinho Tirésias. No local onde Narcisos desapareceu, para homenagear a força e o poder irreversível do amor, o povo de Téspias ergueu junto à fonte uma estátua de Éros, e ali lhe prestou culto.

Como se não bastasse, quando a sombra de Narcisos atravessou o Estige, em direção da casa de Hades, debruçou-se sobre suas águas para tentar contemplar sua imagem. E assim passou a Eternidade como punição à sua vaidade: buscar nas águas do Estige os traços da criatura amada que ele contemplava em sua própria imagem refletida.

FIM
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