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Mitologia Grega

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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 18:39

O mito de Aracne

O mito de Aracne ocorreu durante o exílio de Dédalos em Creta e durante o reinado de Pandíon em Atenas, sucedendo ao irmão Cécrops II. Há uma versão que faz de Aracne uma ateniense, porém, pela sua origem e história, há uma tendência maior que tenha vivido na Ásia Menor.

Os tecidos constituíam um dos ramos mais importantes da indústria dos atenienses; mas as fábricas da Ásia, célebres em todas as épocas, sobrepujavam em delicadeza as cidades gregas, cujos tecidos menos delicados eram provavelmente mais sólidos.

Numa pequena cidade da Meônia (Lídia), chamada Hipenos, ou Hípepos, morava uma moça de origem humilde, Aracne, filha de um tintureiro de lã de Cólofon. Sua mãe, também de família pobre, havia morrido quando ainda era jovem. Desde a mais tenra idade já revelava um inigualável talento para a arte de bordar e tecer, que adquirira reputação em todas as cidades da Lídia pela beleza dos seus trabalhos. Ela tecia fios tão finos, quase imperceptíveis e seus trabalhos eram muito procurados por princesas e nobres de inúmeros lugares. De toda a Hélade, vinham pessoas para conhecer suas tapeçarias e pagavam verdadeiras fortunas para possuí-las. Até os orgulhosos deuses, que não gostavam muito de enaltecer o trabalho dos mortais, ficavam encantados. Freqüentemente, outras bordadeiras passavam horas e horas observando Aracne bordar. Até as Ninfas do Tmolos e do Páctolos tentavam imitá-la, seguir os mesmos passos dados por ela, mas era impossível igualar ou superar tanta perfeição. Aracne sabia fiar e fazer a lã, e embelezava os seus tecidos com desenhos encantadores realçados por todas as cores do arco-íris.

— Bordado é o de Aracne, o resto é bobagem.

Envaidecia-se, porém, de tal modo com o seu talento, que por toda parte apregoava não ter receio de qualquer mulher que a desafiasse.

— Tu és realmente a melhor, Aracne. E deves ser preferida da deusa Atena... Sem a proteção dela, seria impossível tecer tão belas obras.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 18:39

As mulheres corroíam-se de inveja, todas as vezes que elas a visitavam. E Aracne foi ficando extremamente irritada. Desde que começara a bordar, nunca fizera um único pedido ou oferenda à deusa. Por isso, quando ouviu-as falar assim, retrucava:

— Pois ficai sabendo que nunca fui discípula de Atena. Não preciso dela para criar! A deusa não tem qualquer influência sobre a minha arte. Com ela nada aprendi. Sou a melhor, graças ao meu esforço e talento! E sua arte à minha não se compara!

As mulheres ficavam indignadas com tamanha pretensão. Até que um dia, foram ao templo de Atena e invocaram:

— Oh, poderosa deusa! Por quanto tempo viemos aqui, fizemos oferendas e imploramos por tua graça, mas tu pareces não nos ouvir...!

Atena ouviu a reclamação e, como não entendeu os motivos, apareceu-lhes, causando-lhes espanto, e pediu maiores explicações.

— Por que me acusais dessa maneira, ingratas?

— Ora, ingrata é Aracne que esbanja habilidade, tem fama de ser a melhor fiandeira da Grécia e diz por aí que nunca precisou de ti para nada. Quanto a nós, fiéis discípulas, não recebemos nem a metade de tanto talento.

Atena ficou enfurecida. Na mesma hora, decidiu ir ver se tanta arrogância era realmente verdade.

Entardecia. O radiante deus Hélios fazia pose no horizonte para Aracne. Ela bordava na majestosa e rara seda a beleza do deus e seus raios brilhantes, assistida pelas Ninfas, que se encontravam estupefatas. Porém, antes que finalizasse seu trabalho, um raio despontou no Céu, anunciando a chegada de alguém. A jovem olhou assustada pensando que fosse Zeus. Mas quando viu que se tratava de uma pobre anciã, baixou a cabeça e voltou a bordar.

— Bom dia, minha jovem!

Aracne, sem desviar os olhos de seu bordado, respondeu:

— Bom dia, minha senhora.

E Atena, que já estava de mau-humor, sob o aspecto de velha andarilha, ficou revoltada com o pouco caso da jovem. Mas pôs os olhos no seu bordado e pensou:

— Ela é mesmo uma boa artesã!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 18:40

E a velha, apoiada a seu bordão, exclamou:

— Que belo trabalho estás fazendo!

— É o que todos dizem.

— Sei... mas convém agradecer sempre a Palas-Atena este dom recebido.

— Ora, e que méritos eu teria devendo exclusivamente a ela meu talento? Que a deusa cuide de seus bordados que eu cuido dos meus.

— Oh, não digas isto! Não percebes que é uma ingratidão sem tamanho?

Aracne não deu a mínima.

A velha censurava-a em termos amigáveis pela inconveniência da pretensão de uma simples mortal se comparar a uma deusa, e sobretudo à deusa da qual procedia toda a indústria humana:

— Menina, ouve meu conselho: os anos me pesam nos ombros, mas me ensinaram muita coisa. Portanto, presta atenção ao que vou dizer: compara o teu trabalho com o de outras mortais, mas não queiras competir com uma deusa! Dá-te por satisfeita com a fama que tens; dá-te por satisfeita com a fama de ser a mais habilidosa tecelã dentre todas as mortais... Sê, porém, humilde diante da deusa. Levanta-lhe uma prece pela desfeita que fizeste e pede o perdão! Ela te perdoará de boa vontade.

Aracne ofendeu-se, acolheu muito mal a anciã, que assim lhe falava, e, fitando-a de sobrolho carregado, avançou para ela disposta a golpeá-la, dizendo:

— Ora, a idade deixou-te de coração mole, velha! Guarda teus conselhos para as tuas filhas, não para mim. Se Atena se apresentasse, eu saberia muito bem confundi-la, mas que ela não ousaria, certamente, empreender uma luta que lhe seria desvantajosa. Por isso, que ela não se atreva a aparecer por aqui!

Atena, diante daquelas palavras, disse-lhe:

— Ela já está aqui!

E reassumiu o seu verdadeiro aspecto, envolvida por uma forte luz, e se impôs:

— Que desrespeito é esse, mortal?! Ajoelha-te e escuta bem o que tenho a te dizer.

As Ninfas se assustaram com a súbita transfiguração e caíram aos pés da deusa e a reverenciaram.

— Olha para mim, sua mal-agradecida!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 18:41

Aracne, hesitando várias vezes, permaneceu imóvel, em pé, e quase não se percebeu o suave rubor que tomou a sua face, pois era por demais fria e arrogante. No entanto, notando que Atena sentia-se muito ofendida, acabou obedecendo.

— Ouvi dizer que tu andas espalhando que não precisas de minha interferência para o teu talento, isso é verdade?

— É isso mesmo, deusa! Sempre fui melhor bordadeira que tu, por isso achei uma grande perda de tempo ficar fazendo oferendas a alguém que tem muito o que aprender comigo.

Atena teve vontade de acabar com a petulância de Aracne, ali mesmo, naquele momento, mas conteve-se, pois deveria mostrar às mulheres de Atenas, às Ninfas e aos deuses do Olimpo que jamais poderia ser desafiada e ser superada.

— Pois bem, Aracne. Proponho que façamos um concurso para decidir quem é a melhor fiandeira. Caso tu percas, teu dom de bordar e fiar será dado a outra mortal menos arrogante que tu.

Aracne confiava tanto em seu talento natural, que aceitou o desafio impensavelmente, subestimando Atena em se tratar de uma deusa. Algumas mulheres que estavam escondidas, presenciando tudo, saíram correndo para espalhar o que havia acontecido.

A deusa voltou para o Olimpo a fim de preparar-se. Pediu proteção ao poderoso Zeus, iluminação a Apolo, encantamento a Afrodite e coragem a Áres. Depois, foi descansar.

Dias antes do concurso, Atena não resistiu e foi espionar sua concorrente. Imaginava que estivesse desesperada, treinando feito louca. Porém, surpreendeu-se com Aracne terminando o bordado do deus Hélios, cantarolando, feliz da vida.

A deusa, então, resolveu disfarçar-se de velha de novo e ir aconselhar, mais uma vez, a jovem artista, pensando em dar a ela uma chance de se arrepender e pedir-lhe perdão.

— Escuta, minha filha, sou uma velha adivinha. Vivi tantos anos e vi muitas coisas... Mas nunca soube de um único mortal que tivesse desafiado os deuses e se dado bem. Pensa bem e volta atrás. Todos os mortais adquirem seus talentos graças aos deuses.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 18:42

— Não te preocupes, boa senhora! Sei o que estou fazendo. Atena não é páreo para mim.

Estas palavras eram mais do que a paciência da deusa poderia suportar. No mesmo instante, desfez-se do disfarce e gritou, furiosa:

— Comecemos agora mesmo este concurso! Vou provar tua inferioridade perante a minha sabedoria e poder. Depois, tu nunca mais bordarás novamente.

Assim, tomando seus lugares nos teares preparados às pressas, elas pegaram as agulhas e começaram a bordar, no momento em que alguns deuses surgiam para testemunhar a competição. As mãos divinas de Atena tocavam a laçadeira com movimentos rápidos e graciosos. Como se estivessem dançando ao som de melodias celestiais, seus dedos corriam ágeis entre as bobinas coloridas, colocando fio por fio na posição exata.

Durante três dias, as concorrentes não pararam nem para comer ou dormir, sob os olhos atentos dos deuses. Ao final do quarto dia, Atena e Aracne terminaram o trabalho diante de Ninfas, deuses e alguns mortais, que estavam ali para o julgamento.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 18:43

O bordado da deusa Atena era perfeito. Trabalhado com uma perícia sem igual, via-se a Acrópole de Atenas. Lá estavam reunidos todos os deuses do Olimpo votando para quem deveriam entregar a proteção da cidade de Cécrops: a Atena ou a Poseidon. Nos quatro cantos do grande retrato principal, ela teceu quatro pequenos quadros que retratavam casos de pura arrogância humana e sua punição pelos deuses. Em um via-se o rei trácio Hémos com sua mulher Ródope, que chamavam-se de Zeus e Héra e foram transformados em montanhas; em outro canto, via-se a infeliz mãe dos pigmeus que, vencida por Héra, foi transformada em garça e obrigada a lutar com seus próprios filhos; no terceiro quadrado estava Antígone, a belíssima filha de Laómedon, que se orgulhava tanto de sua beleza e de seus cabelos que se comparava a Héra e, por isso, teve seus cabelos transformados em serpentes que mordiam durante todo o dia até que Zeus, apiedado, a transformou em cegonha; por fim, retratou Cíniras lamentando o destino de suas filhas, que haviam excitado o ódio de Héra com seu orgulho... A deusa as transformou em degraus de seu próprio templo. Todos esses retratos foram rodeados com uma coroa de folhas de oliveira.

Atena, sem olhar o trabalho de Aracne, já se sentindo vitoriosa, desafiou, mostrando o seu:

— O que haveria de mais criativo e belo para se bordar?

Todos bateram palmas e reconheceram quão maravilhosa ficara a sua arte. Foi então que Aracne mostrou sua obra. Todos fizeram silêncio por alguns minutos. Boquiabertos, eles pareciam enfeitiçados com tamanho esplendor.

— É magnífico! A mais bela obra de todos os tempos! Esplêndido!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 18:43

Em seu tear, Aracne havia tecido uma cena representando os deuses dominados por sua fraqueza e baixos instintos. Cada detalhe na tapeçaria era um insulto aos deuses do Olimpo. Especialmente, bordara o poderoso Zeus e todos os seus amores proibidos, que eram nada mais nada menos que quarenta desenhos. Todos os gráficos foram rodeados por uma coroa de louros com pequenas flores harmoniosas. A jovem estava emocionada com o resultado. Nem ela imaginava que fosse capaz de tal perfeição. Atena não se conformou com a evidente derrota, porque notara que todos os Olímpicos aplaudiam convulsivamente:

— Tende coragem de aplaudir esta mulher? Ela está ofendendo o poderoso Zeus! Olhai para isto e julgai!

E, como ninguém lhe dava a menor atenção, inclusive Héra, que deveria aborrecer-se por tamanha ousadia, Atena puxou sua espada e disse zangada:

— Que pena! Mas que esta seja uma lição para que todos aprendam que a arte nasce do Amor e não da Provocação!

E, agarrando a tapeçaria de Aracne, fez em mil pedaços a obra da jovem artista. Aracne gritou, blasfemou e, em meio a tanta humilhação, correu para fora em desespero para enforcar-se numa árvore. Zeus, do alto do Olimpo, repreendeu:

— Oh! Pobre menina! Por que fizeste esta maldade, Atena? Era o melhor bordado que já vi... Trata de dar um jeito de reparar teu erro!

Arrependida por tamanha injustiça e temendo a fúria de Zeus seu pai, Atena decidiu consolá-la. Aproximando-se da árvore em que a infeliz se preparava para enforcar-se, usando seus poderes, no momento em que a jovem se atirava para a Morte, Atena sustentou-a no ar, impedindo que se estrangulasse, e disse-lhe:

— Viverás, Aracne, mas continuarás a tecer e ficarás para sempre pendurada desta maneira; será o castigo teu e de toda a tua posteridade.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 18:45

Ao mesmo tempo, Aracne sentiu que a cabeça e o corpo lhe diminuíam de volume; minúsculas patas lhe substituíram os braços e as pernas, e o resto do corpo se transformou num enorme ventre. Atena transformou Aracne num aracnídeo artrópode, que, a partir de então, passou a tecer delicadas teias por todos os lados, e a ele deu o nome de aracne, “aranha”.

Do Olimpo, a deusa Atena zelaria por ela, pois o tear de Aracne ainda continuaria encantando as Ninfas, os deuses e os homens por muito tempo.

Aracne não era de Atenas, mas de Cólofon, na Lídia, mostrando aos olhos dos gregos uma singular audácia ao se comparar com a ateniense Atena, mas os tecidos do Oriente eram inimitáveis, e procurados ansiosamente em todos os mercados da Hélade.

FIM
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Mensagem por Legolas 10/3/2021, 19:05

Espetacular! Mas isso me lembra o poder de Athena, a filha de Zeus, nascida da sua cabeça, que me parece fazer oposição a Dioniso, numa possível linha sucessória. Por curiosidade, quem são os inimigos de Athena e do Dioniso? Como era a relação entre eles?
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Mensagem por Legolas 10/3/2021, 19:11

Faço a seguinte leitura deste mito ...


O ser humano pode desafiar os deuses, mas sempre se render ao seu status divino, mesmo que lhe seja superior em qualidade, habilidade, competência, e pareça vence-los.

Vejamos nossa tecnologia, onde a ciência como combinação de conhecimentos artificializados de coisas da natureza, faz maravilhas insuspeitáveis pela própria natureza (status divino), mas isso pode levar à destruição da humanidade, caso não reconheça este poder no que faz e conquista e se considere superior a natureza. Nesse caso, a natureza age e agirá os destruindo, transformando o homem num inseto e cérebro pequeno, etc. etc.

A rendição ao status divino seria reconhecer a ciência como simples versão oficial dos conhecimentos da natureza, bem definida por Montesquieu e a sua artificialidade, aplicação, conquistas para além da própria natureza, mas dentro dela, como observo na esfera tecnológica, terá consequência trágica se o ser humano desdenhar a própria criação, a natureza.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 19:41

Atena não tinha Dionisos como inimigo, apesar de suas atribuições contrárias: Atena uma deusa casta, virtuosa, e Dionisos um deus libitinoso, aventureiro. Porém, o inimigo natural de ambos foi a deusa Héra, por ambos terem sido gerados clandestinamente. Atena tinha aversão a Áres, filho de Héra, e Dionisos era inimigo declarado dos que se punham no seu caminho, impedindo que o deus introduzisse os seus mistérios e os seus hábitos orgíacos, relacionados à cultura da vinha.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 10/3/2021, 19:43

Os mitos, de modo geral, no caso o mito de Aracne, nos mostra não o desejo de vingança por parte de Atena ou de qualquer deus, mas que eles exigem serem respeitados. A própria Bíblia mostra que Deus deveria ser respeitado como tal, e eram castigados os ímpios, os profanadores e os que pecavam contra o seu nome.

O problema de Aracne foi o de desafiar Atena para um duelo artístico. Isso ocorreu em outros episódios, como por exemplo o mito das Piérides, ou o de Mársias, e todos os que o fizeram foram castigados. Ulisses ofendeu Poseidon, Hémos e Ródope tentaram igualar-se a Zeus e Héra, Salmoneus tentou se passar por Zeus, Licáon tentou enganar os deuses oferecendo a eles a carne do filho Arcas, Sísifos ousou enganar a Morte, Tântalos ousou roubar ambrosia e néctar dos deuses através de seu filho Pélops, Prometeus roubou o fogo divino para conceder à raça-humana, e assim por diante.

A intenção desses mitos é a de que devemos respeitar os deuses como seres superiores, criadores da vida, como deuses que beneficiam a raça-humana, e devemos tê-los em consideração, seja Zeus, seja Deus, seja qual divindade for, de qualquer religião ou credo.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 01:22

O ouro de Midas

Górdion (ou Górdias) era um camponês que se tornou rei porque com ele se cumpriu um oráculo que prometia a realeza àquele que, conduzindo uma carroça, primeiro penetrasse no Templo de Zeus. Enquanto o povo estava deliberando, Górdion chegou à praça pública numa carroça, com a mulher e o filho Midas. Górdion consagrou o carro que havia utilizado para sua consagração ao rei dos deuses, colocando-o no Templo e amarrando-o com uma corda, cujo nó era complicadíssimo. Era tão complexamente entrelaçado que ninguém jamais poderia desfazê-lo. E uma promessa surgiu de que aquele que conseguisse desatá-lo reinaria por toda a Ásia. E sua promessa virou lei e um desafio para os pretendentes. Muitos tentaram, mas todos fracassaram. Mesmo seu filho Midas não logrou ser o escolhido.

Séculos depois, só em 334 a.C., à frente de um exército de 40.000 homens, Alexandre, o Grande, cruzaria o Helesponto e iniciaria uma grande campanha contra a Pérsia, inimiga secular da Nação Helênica. A vitória sobre os persas no rio Grânicos permitiria a conquista da Lícia, da Panfília, da Pisídia e da Frígia, em cuja capital, Górdion, haveria de cortar com sua espada o “nó gordiano”, o que, segundo a lenda, anunciava seu domínio sobre a Ásia.

Midas era filho de Górdion e neto de Oricônion (ou Erictônio), um dos soberanos de Dardânia, um território vizinho de Tróia. Mas Midas, tal como o pai, não governou em Tróia ou na Dardânia, mas foi reinar na Frígia, e tornou-a rica, próspera e poderosa, no tempo do rei Trós, que havia fundado Tróia, e de Tmolos, que governava a Meônia.

Midas foi o primeiro soberano estrangeiro a enviar oferendas ao santuário de Apolo, em Delfos.

O frígio Agdístis, que era hermafrodita, foi embebedado e castrado pelo deus Dionísios. De seu sangue nasceu a romãzeira.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 01:23

Um dia, Nana, filha do deus-rio Sangários, colheu um dos frutos da romãzeira e guardou-o no seio, resultando em sua gravidez. Desse prodígio, nasceu Ateus. Porém, Sangários obrigou a filha a enjeitar o menino, que foi recolhido por alguns passantes e criado com mel e leite de cabra. Isto lhe valeu a troca do nome para Átis (atagus, em frígio), “bode”.

A deusa Réia (ou Cíbele, que, diziam ser filha de Méon e Díndimo, rei e rainha da Frígia), certo dia enamorou-se do jovem Átis, a quem confiou o cuidado do seu culto, tornando-o seu pastor e ministro, sob a condição de que ele não violaria o seu voto de castidade. No entanto, amou-o e perseguiu-o Agdístis, causando indignação aos parentes de Átis. E, a fim de iludir a perseguição de Agdístis, os parentes de Átis o enviaram a Pessinunte, cidade dos gálatas, onde reinava Midas, que destinou-o a desposar sua filha Calitéia. Átis, então, esqueceu o juramento que fizera a Cíbele, aceitando desposar a princesa.

Tinham já cantado o hino de Himeneus, quando apareceu Agdístis, que disputou a posse do jovem com a deusa Cíbele. Átis ficou muito magoado e foi atacado de loucura pela deusa, castrou-se sob um pinheiro e morreu de hemorragia. A filha do rei, Calitéia, se matou de desespero, e do seu sangue nasceram violetas, ficando órfão o pequeno Lidos.

Cíbele enterrou o moço, e do seu túmulo nasceu a amendoeira. Zeus, tocado pelas súplicas de Agdístis, concedeu-lhe que o corpo de Átis jamais se corrompesse e que seus cabelos continuassem a crescer. Agdístis transportou o cadáver para Pessinunte, onde tornou a enterrá-lo, iniciando ali um grupo de sacerdotes e promovendo festas em seu louvor. Seu túmulo foi posto na cidade de Pessinunte, às margens do Sangários e a oeste de Górdion, com a permissão do rei Midas.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 01:24

Enquanto vários reis se destacavam pelo espírito guerreiro, pela sua justiça e bondade, pela maldade, pela expansão de seu império, ou pelo seu reinado de paz e abundância, Midas havia-se tornado célebre pela avareza. Amava o ouro, as jóias, as pedras preciosas. Mas, acima de tudo, o ouro. Já pensava em riquezas desde a sua infância. Havia príncipes, como ele, que sonhavam fundar cidades e conquistar nações. Outros adoravam as estátuas, as pinturas, a música, tudo quanto fosse belo. A maior parte sonhava, simplesmente, com a glória. Ele, quando sonhava conquistar outros reinos, pensava em suas riquezas e acumular tesouros em seu palácio, na Frígia. Certamente, o que encontrasse e adquirisse pela força, estátuas, utensílios, escravos, carros de guerra e armaduras, venderia, trocaria por ouro. Não seria capaz de dar seus pertences aos seus generais, às mulheres mais lindas da sua corte, nem ao seu povo. Ao invés, preferia converter tudo em ouro, pois só o ouro lhe atraía.

Amava o Sol, porque despedia raios dourados pela Terra, porque parecia uma imensa bola de ouro encravada no Céu. Desde a infância, sabia que o Sol não era propriamente de ouro. Pelo menos era o que diziam seus mestres e amigos. Certamente, se tivesse provas de que o Sol era de ouro, convocaria todos os sábios da Terra para que fizessem-no descer do Céu e levar o rei até ele.

Assim foi crescendo, devorado pela grande paixão. Passava horas a contemplar as jóias da rainha sua mãe, acariciando com ternura as peças valiosas. Entre as jovens que frequentavam o palácio real, só admirava as que tinham cabelos louros, de tranças douradas.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 01:25

Um dia, já adolescente, Midas se apaixonou por uma princesa da Hélade que visitara o seu país. Chamava-se Hermódice (ou Demódice). Górdias (Górdion), o rei seu pai, e o rei seu futuro sogro aprovaram com alegria a sua escolha. Uniam-se dois reinos poderosos com o casamento de Midas. Maior ainda foi a alegria da princesa, quando lhe contaram que Midas a amava. Ela o amava em segredo, desde a primeira vez que se falaram. Ficava imaginando as suas carícias, sonhando com as suas palavras, pensando nas alegrias que teria ao seu lado.

Casaram-se os dois e houve grande festa, por todo um mês, na corte de seu pai, em Górdion. Vieram de vários reinos amigos e de povos subjugados reis, rainhas, príncipes, guerreiros, para assistir ao casamento, portadores de belos presentes. Estavam os jovens noivos trocando palavras de amor, alguém trazia um presente. Midas olhava com avidez o que chegava. Aves raras, animais estranhos, objetos de valor inestimável não impressionavam o príncipe, que brevemente seria rei. Mas se viessem objetos de ouro, anéis, jóias, taças, baixelas de prata e bronze, Midas saltava como desvairado e a carícia que antes pertencia à princesa se prolongava, com ternura muito maior, naquelas fulgurantes peças. Chegava quase esquecê-la.

Uma noite, Midas surpreendeu-a chorando. Aflito, quis saber a razão.

— Tu não gostas de mim.

Midas não entendeu e retrucou:

— Eu te adoro, minha rainha. Tens cabelos dourados...

Disse isso com tal ternura e deslumbramento, que a princesa sorriu, novamente feliz. E desejava ouvir mais palavras de amor, começando a provocá-lo.

— Para te agradar, eu gostaria de ser a mulher mais linda da Terra.

— Mas Hermódice, tu tens cabelos de ouro.

— Eu gostaria de ter um corpo de beleza impecável.

— Teus cabelos têm a cor de ouro.

Midas tremia sua voz. E a princesa continuou:

— Eu queria ter seios mais perfeitos que os de Afrodite.

— Teus cabelos são dourados como uma taça de vinho.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 01:26

— Eu queria, para te encantar, ter uma voz que soasse como um gorjeio de pássaro...

— Teus cabelos descem como fios de ouro.

— Eu queria ter olhos verdes como os das Nereidas...

— Verdes por quê? Verdes por quê? Verde é cor de planta, de relva, de folha, de árvore, de campo. Verde não é cor.

E, olhando-a nos olhos, disse-lhe:

— Se fossem cor de ouro, como os teus cabelos, então, sim, serias a mulher de maior beleza em toda a Terra. Olha como é linda a cor do ouro...

Tomou-lhe a mão delicada, levou-a à flor dos lábios e beijou, com muito amor, uma pulseira de ouro que lhe adornava o pulso. Com muita doçura, puxou-lhe a pulseira e continuou a acariciá-la.

— É ouro do mais puro, do mais fino lavor... Presente de quem, querida?

— De uma princesa da Macedônia.

— Macedônia, é? Há muito ouro na Macedônia?

A princesa mal entendeu sua curiosidade, mas logo acabaria entendendo.

Numa noite, a então jovem rainha confidenciou ao recente rei Midas:

— Eu vou ser mãe, meu querido... Queres que seja menino ou menina?

— Somente quero que tenha cabelos cor de ouro, como tu.

Pois nasceu uma menina, uma princesa.

— Midas, meu esposo, ouvi profecias de uma futura rainha que despertará a atenção do mundo por sua beleza, e seu nome será Helena. Por ela, os homens lutarão numa guerra de dez anos. Gostaria que nossa filha se chamasse Helena?

— Por quê, Hermódice? Prefiro chamá-la Áurea.

— Áurea? Por que Áurea?

— Áurea... de ouro... cor de ouro.

Disse isso acariciando uma pesada corrente de ouro.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 01:26

Daí por diante, ninguém mais teve ilusões. Ficaram realmente convencidos de que não era a rainha, não era a Frígia, não era o poder o que ele mais amava, mas o ouro. Não sonhava com a glória, sonhava com o ouro. A verdadeira glória, para ele, seria possuir todo o ouro da Terra. E Midas, acima de tudo, tinha medo de perder seu ouro, medo de ser roubado, medo de não ganhar mais, ainda que fosse roubando... Era uma doença, uma obsessão! Entretanto, em segundo lugar, outro amor o humanizava: sua filha Áurea. Somente ela o podia arrancar, embora por momentos, ao constante trabalho mental de pensar no seu ouro, de recordar as peças de ouro que possuía, de avaliar o seu preço e temer os ladrões.

— Áurea, meu amor! Vem aos meus braços, filha querida.

Mas assim que ela se aproximava, doce e linda para receber o seu beijo, quando ele a chamava, enternecido, de “meu tesouro”, ou quando lhe acariciava os cabelos macios, já desviava o pensamento para o fatídico metal que vinha acumulando como um possesso das forças do mal.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 01:27

Na realidade, o ouro não o tornava totalmente feliz. Porque nunca o satisfazia. Queria sempre mais. E porque receava que os ladrões fossem roubá-lo. Foi por isso que Midas retirou todas as peças de ouro do seu palácio e as recolheu num vasto, escuro e escondido porão, onde o julgou melhor protegido e onde ninguém, a não ser ele, poderia entrar. Era grande, úmido, escuro e triste, mas pensar nele, ou nele entrar, aquecia o seu coração. Não tinha janelas, para não ser assaltado. Apenas uma fresta, cuidadosamente planejada para nela entrar um raio do Sol, o bastante para incidir sobre a peça de ouro que ele estivesse examinando. E embora já fosse muito rico e amasse ver o brilho de seus objetos de ouro puro, Midas raramente usava outra luz que não fosse a do raio do Sol. A luz, saindo à noite pela fresta reservada para o Sol, denunciaria aos estranhos a existência do tesouro subterrâneo, que ninguém conhecia. Sim, porque Midas o mandara construir em segredo e mandara matar, depois de pronto, todos os operários e engenheiros que haviam trabalhado nele.

Misterioso e disfarçado descia o rei para contemplar e acariciar os seus bens. Mulher nenhuma fora tão docemente acariciada pelos dedos amorosos.

— Meu tesouro... meu tesouro...

Ele descia ao subterrâneo e mesmo que o Sol não estivesse presente com seu raio de luz, ele via e sentia toda a riqueza imensa já acumulada. Tomava na mão cada peça e pelo peso conhecia o seu valor e com ele se regozijava.

Midas, além de todo o ouro que lhe inspirava, passava por ser também amante de prazeres e o primeiro no mundo a plantar um roseiral — ainda que lamentasse as rosas não serem douradas — e passava os dias inteiros dando festas e ouvindo música.

Certa manhã, um de seus jardineiros foi queixar-se a ele:

— Um velho sátiro bêbado está todo emaranhado na tua melhor roseira, Majestade...

— Um sátiro?! Traze-o aqui!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 01:28

O sátiro chamava-se Sileno. Não passava um dia sem aprontar alguma. Sempre embriagado e montado no seu burrico, vagava o dia inteiro, sem rumo certo, até ser encontrado dias depois, caído pelos caminhos, a dormir o pesado sono dos bêbados. Ele teria ido à Índia e voltado como tutor de Dionisos. Sileno tomava parte regularmente das festas em honra de Dionisos; durante uma delas, sobre as colinas coroadas de videiras do Tmolos, bebeu um pouco mais do necessário e, embriagando-se, afastou-se dos companheiros e foi parar no jardim do rei Midas.

Camponeses que passavam por ali logo o reconheceram.

— Vede, aquele não é Sileno, o pai adotivo de Dionisos?

Os outros, parando em frente ao dorminhoco, que estava todo emaranhado na roseira, logo também o reconheceram. Os camponeses frígios amarraram-no, cingiram-no com coroas de flores e depositaram-no sobre as ancas do seu burro. Logo, chegou o jardineiro do rei e ordenou que o levassem ao seu rei. Então, após desmontar, Sileno entrou no palácio andando, já podendo equilibrar-se com suas próprias pernas.

— Ora, se não é Sileno, pai de meu grande amigo Dionisos!

E, respeitosamente, o rei mandou que o libertassem, cumprimentou o semi-deus, recebeu-o bem e hospedou-o, com um belo banquete. Ele, muito alegre, contou a Midas histórias fascinantes:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 01:29

— Podemos imaginar que estivemos no Egito? Havíamos andado por toda a África, até a Etiópia, espalhando alegria e bom humor. Na Líbia, encontramos as belicosas Amazonas, mas elas nos receberam muito bem e juntaram-se a nós; com sua ajuda, combatemos os Gigantes que haviam expulsado o deus Ámon do Egito. Nós os derrotamos, e Ámon voltou a ser o deus daquela gente. Essa foi a nossa primeira vitória; depois vieram outras. Mais tarde fomos para a Meônia, a Pérsia e a Arábia. Rumamos para o norte e chegamos a Bactres, uma terra no coração da Ásia, banhada pelos rios Óxos e Iaxartes. Fomos muito bem recebidos em todos os lugares. Oferecíamos vinho às pessoas, e elas dançavam e se divertiam conosco. Então ficavam ansiosas para aprender a plantar videiras e fazer vinho. Só o cruel rei de Damascos lutou contra nós, mas a insolência e a impiedade nunca foram boas armas — derrotamos seu exército, e Dionisos matou o rei. Depois disso, acolheram-nos com música e muita alegria.

E continuou, após um bom gole de vinho:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 01:30

— Mas nossa expedição para a Índia foi a mais difícil. Cruzamos o Êufrates passando sobre uma ponte de cordas que fizemos com grossas trepadeiras de videira e hera. Mais tarde, as pessoas daquela terra fundaram uma cidade e deram-lhe o nome de Zeugma, “o lugar da travessia”. Agora mostram aos visitantes pedaços das cordas com que atravessamos o Êufrates. Quando, continuando nosso caminho, chegamos a outro rio muito grande, o Tígris, encontramos um leão enviado pelo poderoso Zeus para levar-nos à outra margem. Por fim, chegamos à Índia, uma terra hostil onde guerreiros selvagens nos esperavam. No começo eles riram de nosso peculiar exército. Mas, quando foram atingidos por nossos bastões enfeitados com hera e por nossas espadas, passaram a nos respeitar. Mesmo assim tivemos de lutar três anos na Índia, devido à sua resistência obstinada. No fim nós os atacamos com serpentes e com touros selvagens cujos berros, tão poderosos, puseram os guerreiros apavorados em fuga. Nós os derrotamos, mas eles não estavam totalmente subjugados e ainda nos tratavam como inimigos. Continuamos a tratá-los com bondade, e assim, pouco a pouco, conseguimos ensiná-los a cultivar a terra, plantar videiras e fazer vinho com as nossas sementes. Só depois de beberem o primeiro vinho eles finalmente pararam de nos hostilizar. Seu ódio transformou-se em amizade, e construíram altares para Dionísios, ofereceram grandes banquetes e festas em sua homenagem.

Os convivas da Frígia ouviam atentamente às convincentes palavras do velho sátiro, que continuava a sua narração, sempre depois de bons goles de vinho.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 01:30

— Quando deixamos a Índia, avançamos para o leste. Chegamos a um grande rio que corria para o mar, com as águas girando num redemoinho gigante. Na margem havia árvores altas, de cujos galhos pendiam suculentas frutas vermelhas. Já estávamos esticando os braços para apanhá-las, quando Dionisos preveniu-os de um grande perigo a respeito daqueles frutos. Recuamos imediatamente, mas logo estávamos salivando diante da visão dos estranhos frutos que brilhavam ao Sol na margem oposta. E Dionisos também nos preveniu que não deveríamos tocá-los, pois esses frutos tornariam jovens, cada vez mais jovens, os que deles comessem. E tivemos muito medo. E assim voltamos pelo mesmo caminho.

Sileno continuou:

— Outra ocasião fomos para o oeste. Ensinamos as pessoas a cultivarem videiras na Itália, no país dos rédones e na Ivíria. Fomos até a terra das Hespérides e oferecemos vinho para o triste Átlas, o poderoso titã que sustenta nos ombros a abóbada celeste. Depois cruzamos o Oceano e chegamos a um continente desconhecido de todas as regiões da Europa, da Ásia e da África, separado de todas as terras do mundo, onde jamais imaginaríamos um dia chegar. Ficamos impressionados com a beleza daquela terra e com seu povo admirável. Eram homens belos e altos como deuses. Viviam em cidades imponentes, como jamais havíamos visto em nossas viagens. Mais espantoso ainda era o modo como tinham organizado sua vida. As leis eram baseadas na bondade e na justiça, e todos viviam felizes e em paz, numa comunidade governada pelo respeito mútuo e o amor fraternal. Gostavam de trabalhar, ensinavam às crianças o significado da bondade e da beleza, cultivavam as artes e as ciências e deleitavam-se com música, dança, pintura, escultura e poesia. Resumindo, tinham uma civilização com a qual aqui nem podemos sonhar.

— Por que não os conhecemos?
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 01:31

— Perguntamos por que nunca tinham visitado nossas terras, eles responderam que já haviam estado na terra dos Hiperbóreos, para eles o mais encantador e civilizado deste lado do mundo. Ora, construíram navios, e mais de um milhão de tripulantes de Eusébia para o norte seguiram. Mas, quando chegaram lá e compararam os dois mundos, ficaram desapontados e juraram nunca mais viajar para outras regiões, tão feios que pareceram os lugares e tão má a forma de viver.

— Mas como é possível?

— Ouvindo isso, ficamos envergonhados pela primeira vez. Fomos embora sem oferecer-lhes vinho, porque eram as primeiras pessoas que conhecemos que não precisavam dele...

Midas estava impressionado, e ouvia a tudo atentamente, e todos passaram horas a maravilhar-se com as histórias do sátiro. Por tudo isso, Midas hospedou Sileno durante cinco, talvez nove dias e, no seguinte, mandou-o ileso de volta para Dionisos, que se encontrava nas planícies da Meônia com as Mênades e os Sátiros. Eles o procuravam, pois havia sumido. E Dionisos, após dar uma descompostura no velho, muito satisfeito, em sinal de gratidão, após o retorno de Midas, o deus mandou uma fada a fim de procurá-lo.

Certa vez, ao fim da tarde, Midas contemplava, à luz de ouro do Sol que entrava pela fresta, uma peça de incalculável valia, quando lhe pareceu ver um vulto ao seu lado, pensou:

— Ladrões!!!

Mas logo raciocinou. Viu que era impossível. Porém, o vulto parecia agora mais nítido e despedia aliás uma certa fosforescência que marcava de maneira magnífica o seu contorno.

— Quem és tu?

— Não me vês?

— Por onde entraste?

— Eu não preciso entrar. Estou onde quero.

— És uma fada?

— Tu o disseste.

— E a que vens?

— Conhecer-te melhor.

— Já me conhecias?

— Midas: teu nome é famoso em toda a Terra... Tua paixão também!

Midas estremeceu.

— Já sabem lá fora de meu tesouro?

— Todos os homens sabem, mas ignoram o lugar onde o escondes...
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 01:32

O rei sorriu intimamente, feliz por haver tido a precaução de matar os engenheiros e operários.

— Mas... quem sabe, então?

— As forças do espírito. Eu, por exemplo.

— Tiveste poder para entrar aqui?

— Assim parece.

— És amiga ou inimiga?

— Nunca fui inimiga de ninguém. Minha missão é fazer felizes todos aqueles que encontro.

— Fazer como?

— Realizando os seus desejos mais íntimos.

— Vieste aqui para isso?

— Também.

— E se eu desejar ardentemente alguma coisa, posso contar contigo?

— Podes. Se é um desejo profundo do teu coração. Tens um desejo assim?

— Tenho!! Posso fazer o meu pedido? É apenas um?

— Sim...

— Então...

— Calma, querido Midas. Não te precipites. Pensa bem no pedido que vais formular. Precisas, antes de mais nada, saber se é, realmente, esse o que tem mais importância para o teu coração.

— É sim, tenho a certeza!!

— Precisas saber, também, se esse é o desejo mais sábio...

— Claro que é...

— ... e se já pensaste em todas as suas consequências...

— Claro que pensei!

— ... e se ele é capaz, realmente, de fazer a tua felicidade. Eu só quero que tu sejas feliz.

— Serei!! Serei o rei mais feliz deste mundo!

— Pois bem, pede. Mas conta, antes, até mil.

Midas, excitado, começou:

— Um, dois, três, cinco, vinte e sete, cinqüenta e oito, cento e oitenta, quatrocentos e dez... mil! Eu desejo...

— Calma. Conta um por um.

— Mas... precisa? É muito número!...

— É a única exigência que eu trago. Enquanto contas, vais medindo, pensando e aprofundando o teu desejo.

Midas contou até mil o mais depressa que pode. Até que...

— Contaste?

— Sim.

— Pensaste bem?

— Sim.

— Então pede.

— Quero que todos os objetos em que eu tocar, de agora em diante, se transformem em ouro reluzente.

— Só isso?

— Mas ouro puro, puríssimo!

A fada ficou em silêncio e, após olhá-lo atentamente, disse:

— Acho que esta não é uma boa escolha.
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