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Mitologia Grega

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Hermes Trismegistus
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Mensagem por Hermes Trismegistus 12/3/2021, 14:57

O mito de Éros e Psiquê

A paixão do deus da guerra, depois de ser flagrado por Hefaístos, jamais foi suplantada pela vergonha, e meses depois de sua união com Afrodite nascia uma filha, Harmônia, cujas características seu nome sugeria, a “harmonia”, e que veio para estabelecer uma ligação equilibrada entre o amor e a paixão. No entanto, segundo a gente da Samotrácia, Harmônia era filha de Zeus e Electra, e havia-se tornado esposa de Cadmos.

Áres e Afrodite tiveram também os filhos Éros (o Amor, a Paixão), Himéros (o Desejo), Ânteros (o Amor dividido), Foibos (o Medo) e Deimos (o Terror), todos resultantes da harmonia entre o Amor e a Guerra.

Afrodite, através do amor clandestino com o deus da guerra, deu à luz um menino, que já nasceu de arco em punho, e tão logo veio ao mundo abriu suas asas e saiu atirando suas flechas aleatoriamente, por instinto, porque notadamente era cego, já que o Amor é cego, e não escolhia sua vítimas. Os atingidos não morriam, mas despertavam a paixão.

A mãe, percebendo que o menino molestava deuses e homens, por vezes tomava-lhe o arco e passava a observar os seus movimentos. Mas o malicioso menino haveria de se vingar, e várias vezes a mãe experimentaria o efeito de sua crueldade. Ela mesma, a deusa do amor, haveria de se apaixonar, e, contra a sua natureza, cairia aos pés de homens mortais. Então, Afrodite e os demais deuses do Olimpo perceberiam que Éros era a própria encarnação de Ágape, que já existia desde os primeiros tempos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 12/3/2021, 14:58

Éros era de múltipla natureza. A princípio, havia surgido nos primórdios do Tempo, nascido de Nix, a divindade da Noite, através de um ovo, o qual se partiu e formou Géa e Úranos. Porém, segundo Platão, pelos lábios da sacerdotisa Diotima, Éros foi concebido da união de Póros (o Expediente) e Penía (a Pobreza), no Jardim dos Deuses, após um grande banquete, em que se celebrava o nascimento de Afrodite. Com o tempo, surgiram várias outras genealogias a respeito de Éros: seria filho de Hermes e Ártemis-Ctônia, ou de Hermes e Afrodite-Urânia, como neto de Úranos. No entanto, sendo também considerado filho de Áres e Afrodite, precisando esta ser esta filha de Zeus e Díone, era também chamado de Ânteros, o “amor contrário”, unindo e às vezes desunindo as vítimas de seus dons, ou mesmo, Ânteros foi um de seus irmãos.

Seja como for, Éros era o espanto dos homens e dos deuses. Zeus, prevendo os males que ele causaria, até mesmo guerras por ele causadas, quis obrigar Afrodite a desfazer-se dele. Para furtá-lo à cólera do senhor do Olimpo, viu-se Afrodite obrigada a ocultá-lo nos bosques, onde ele sugou o leite de animais ferozes. Mas logo voltou ao convívio dos Imortais e passou também ao convívio dos homens e mulheres da Terra.

Um dia, Afrodite ofendeu-se pelo fato de seu filho Éros nada poder contra a deusa Atena:

— Ó, filho, pois tu que venceste os demais deuses, Zeus, Poseidon, Apolo, e eu própria, tua mãe, por que poupas apenas Atena? Contra ela o teu archote não tem fogo, a tua aljava não tem setas, tu não tens arco... Não sabes mais disparar uma seta?

— Tenho medo dela, minha mãe. Ela é terrível, os seus olhos são terríveis, o seu aspecto imponente e viril. Todas as vezes em que avanço contra ela para lançar-lhe uma seta, ela me espanta; tremo e as setas me fogem das mãos.

— Áres, por acaso, não é mais terrível? E, no entanto, tu o desarmaste e venceste.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 12/3/2021, 14:58

— Sim, mas ele próprio se oferece aos meus golpes; chama-os. Atena, pelo contrário, sempre me fita com desconfiança. Um dia, quando por acaso voava para ela, segurando o archote, ela ameaçou: “Se te aproximares de mim, juro por meu pai que te varo com esta lança, pego-te pelo pé e atiro-te ao Tártaros, onde te dilacerarei com as minhas próprias mãos para matar-te.” São essas as suas ameaças sem fim, e ao mesmo tempo lança sobre mim olhares furiosos; traz, ademais, sobre o peito, uma cabeça horrorosa, cuja cabeleira é feita de víboras e que sempre me causa o maior terror. Creio estar vendo um fantasma e fujo mal a percebo.

Não era nada mais nada menos que o desejo de Atena permanecer casta para todo o sempre.

Éros, o pequeno arqueiro, conhecia o seu próprio poder, até mesmo contra Zeus. Tendo deposto o arco e o archote, Éros, de cabelos encaracolados, tomou um aguilhão de boieiro e suspendeu ao pescoço o alforje de semeador; depois, atrelou ao jugo uma parelha de bois vigorosos e nos sulcos atirou o trigo de Deméter. Olhando, então para o céu, dirigiu um desafio a Zeus:

— Vem e fecunda estes campos, ou então, touro da Europa, eu te atrelarei a este arado.

Zeus o temia, pois sabia que Éros era infalível, e jamais poderia ser castigado com a Morte, pois o próprio Destino o protegia. Mas queixava-se, ele, o senhor do Universo. E chamou Éros diante de si, ameaçando acorrentá-lo.

— Sim, se cometi um erro, perdoa-me, Zeus. Sou ainda menino e não atingi a idade da razão.

— Tu, Éros, um menino?! Tu és a encarnação de Ágape, mais velho que o próprio Jápetos. Por não teres barba nem cabelos brancos, por não cresceres, julgas-te ainda menino? Não. És velho e velho maldoso.

— E que mal te fez este velho, como dizes, para que penses em encadeá-lo?
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Mensagem por Hermes Trismegistus 12/3/2021, 14:59

— Vê, pequenino malandro, se não é grande mal insultar-me a ponto de fazer-te superior a mim e fazeres com que eu me revestisse da forma de sátiro, touro, cisne e água para atingir teus objetivos. Não fizeste com que mulher alguma se apaixonasse de mim próprio, e não sei absolutamente que, pelo teu sortilégio, eu tenho conseguido agradar a uma que fosse. Pelo contrário, devo recorrer a metamorfoses e ocultar-me. É verdade que amam o touro ou o cisne, mas se me vissem morreriam de medo.

Zeus não o persuadiria, não abalaria o pequeno deus que existia para causar paixão a cada ser, mortal ou imortal. Era natural que Éros continuasse e haveria de perpetuar. Nada poderia ser feito. O Amor devia continuar livre e solto. Talvez amadurecer...

— Aonde vai esta gente toda?

— Tu vens de longe?

— Sim. Estou impressionado com esta massa humana.

— Estão indo todos fazer o que fazem todos os dias: admirar a beleza da filha do rei.

— É. Pelo jeito deve ser muito bonita...

Ninguém mais visitava os templos de Afrodite, a mais graciosa das deusas. Ao invés disso, todos dirigiam-se à formosura de uma simples mortal: a princesa Psiqué.

Psiqué era a mais nova das três filhas de um rei, todas elas belíssimas e capazes de despertar tanta admiração que muitos vinham de longe apenas para vê-las. Mas, por mais encantadoras que fossem as duas mais velhas, era possível encontrar na linguagem humana elogios proporcionados ao seu mérito, ao passo que a menor era de perfeição tão rara, tão maravilhosa, que não havia termos que a exprimissem. Porém, depois que os pretendentes a contemplavam, ficavam confusos de admiração, e, prosternando-se, a adoravam com religioso respeito, como se tratasse da própria Afrodite. Alguns, de forma exagerada, chegavam mesmo a acreditar tratar-se da própria deusa.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 12/3/2021, 15:00

Em breve, espalhou-se a nova de que era a própria Afrodite que vinha habitar a Terra sob a aparência de simples mortal, e o prestígio da verdadeira deusa ficou abalado. Ninguém mais ia a Cnido, ninguém mais ia a Páfos, ninguém mais navegava para a ilha de Cítera. Os antigos templos de Afrodite estavam ficando vazios, as cerimônias negligenciadas, os sacrifícios suspensos, e os seus altares solitários só apresentavam uma cinza fria no lugar do fogo onde antes ardiam incensos. Mas quando Psiqué passava, o povo, reunido, tomando-a por Afrodite, lhe apresentava grinaldas, atirava-lhe flores, dirigia-lhe votos e preces. De todas as partes do mundo vinham peregrinos oferecer-lhe vítimas.

Afrodite, que do alto do Céu via tudo, não pôde refrear a indignação:

— Como?! Eu, Afrodite, a primeira entre as filhas de Zeus, eu que fecundo o Universo, devo partilhar com uma simples mortal as honras devidas à minha posição suprema! Deverá o meu nome, que é consagrado no Céu, ser profanado na Terra, terei eu de ver os meus altares descuidados por uma criatura destinada a morrer? Ah, a que assim usurpa os meus direitos vai arrepender-se da sua insolente beleza!

Imediatamente chamou o filho, o menino de asas, tão audaz, o qual, na sua perversidade, desafiava a moral pública, armava-se de archotes e setas, cometendo com impunidade as maiores desordens e jamais fazendo o menor bem. Excitava-o com as suas palavras, e diante dele dava vazão a todo o seu enorme despeito:

— Éros, meu filho, preciso de tua ajuda!

— Pois não, mamãe.

— Filho, em nome da Ternura que te une a mim, vinga tua mãe ultrajada; mas vinga-a plenamente. Só te peço uma coisa: faze que a jovem se inflame da mais violenta paixão pelo último dos homens, por um infeliz condenado pela Sorte a não ter nem posição social, nem patrimônio, nem segurança de vida; enfim, por um ser de tal modo ignóbil que no mundo inteiro não se encontre outro igual!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 12/3/2021, 15:01

Assim falando, beijou o filhinho e despediu-o.

E Éros começou a matutar. Pensou, pensou... e não lembrou-se de ninguém, pelo menos que ele conhecesse ser assim tão vil como sua mãe descrevia. Mas pôs mão à obra. Sempre obediente, partiu para cumprir sua missão.

Havia duas fontes no jardim de Afrodite, uma de água doce, outra de água amarga. Éros encheu dois vasos de âmbar, cada um com água de uma das fontes, e suspendendo-os no alto de sua aljava, ao cair da noite, o jovem deus entrou no quarto onde Psiqué dormia e tocou -a de lado com a ponta de um de seus dardos, depois de embebê-lo no filtro do amor de água amarga. Tivera a ideia de que, logo que ela acordasse, a primeira pessoa que visse iria por ela se apaixonar, e certamente induziria a pessoa mais horrenda para ir vê-la, um homem das ruas, de aspecto repugnante.

Na escuridão do quarto, quando Éros já ia enfiar a seta no peito da jovem, foi surpreendido por um gesto inesperado. Ao afastar os cabelos do rosto, em profundo sono, um brilho intenso fosforesceu seu belo aspecto, e a mão de Éros estremeceu, e acabou ferindo a ele próprio. A seta caiu ao chão, causando um leve ruído, mas o suficiente para abrir os olhos de Psiqué, que nada enxergou. Estava sozinho no quarto. E Éros, invisível, muito confuso, sem saber exatamente o que deveria fazer, esperou que ela voltasse a fechar os olhos e, tendo o único pensamento de desfazer o mal que fizera, derramou as balsâmicas gotas de alegria sobre os sedosos cabelos da jovem, e retirou-se, impossibilitado de desejar qualquer mal para uma jovem tão encantadoramente bela.

Afrodite, por sua vez, extravasara sua cólera, cujos efeitos já se faziam sentir, porque, enquanto as duas irmãs de Psiqué já haviam desposado reis, a infeliz jovem, culpada de excesso de beleza, encontrava por toda parte adoradores, mas não marido. E suas irmãs caçoavam:

— Onde está o príncipe encantado de nossa querida Psiqué?
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Mensagem por Hermes Trismegistus 12/3/2021, 15:01

Desorientados, os pais de Psiqué buscaram ajuda através do Oráculo de Apolo.

— Vossa filha não se casará com um mortal, mas com um ser alado e perverso, que se compraz em ferir os seres humanos, até mesmo os Imortais. A menina deve ser vestida com as roupas destinadas ao casamento e abandonada no alto de um rochedo, onde o ser monstruoso virá buscá-la. E, para vosso bem, não deveis desobedecer às ordens de Apolo.

Essa terrível predição do oráculo encheu a todos de desânimo, e os pais da jovem entregaram-se ao desespero. Psiqué, porém, lhes disse:

— Por que me lamentais, queridos pais? Devereis antes ter sofrido quando todos me cumulavam de honras indevidas e a uma voz me chamavam de Afrodite. Percebo agora que sou vítima daquele nome. Resigno-me. Levai-me ao rochedo a que me destinou meu desventurado destino.

Mesmo sentindo-se pesarosos pelo destino da filha, seus pais seguiram as instruções recebidas, pois temiam que poderia ser ainda pior desobedecer. A menina sofreria algum mal terrível e eles mesmos seriam punidos por alguma maldição. Após vários dias consagrados ao pranto e à tristeza, preparam a pompa do fúnebre himeneu. O archote nupcial foi representado por archotes cor de fuligem e cinza. Os cantos jubilosos de himeneu se transformaram em uivos lúgubres, e a jovem noiva enxugava as lágrimas com o próprio véu nupcial.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 12/3/2021, 15:02

Uma vez terminado o cerimonial, conduziram a infeliz Psiqué ao rochedo em que deveria aguardar o esposo. Era uma montanha alcantilada. Assim, sozinha, no alto da montanha, apagaram-se os archotes nupciais que haviam iluminado a festa fúnebre do triste himeneu, e cada um voltou para casa. Os pais de Psiqué, encerrados no palácio, recusaram-se a sair, condenando-se às trevas eternas. Tremendo de espanto, Psiqué afogava-se nas lágrimas no pico da montanha, pois acreditava que o seu destino era o holocausto. O tempo foi passando sem que nada acontecesse, e Psiqué acabou adormecendo. Quando de súbito, surgiu o monstro, e um vento muito forte começou a soprar; o monstro tratava-se de um ser alado, como as aves de rapina: era Zéfiros, o mais formoso dos Ventos, de sopro delicado, que, agitando amorosamente os ares, fez ondular dos dois lados a veste que a protegia, cujas dobras se encheram invisivelmente, e carregou-a pelos ares com delicadeza, para não acordá-la. Os pequeninos Amores se elevaram docemente e arrebataram Psiqué sem lhe perturbarem o sono tranqüilo. Zéfiros fêla deslizar por um declive insensível e depositou-a no fundo de um vale, onde havia uma fonte de águas claras, sobre a relva coalhada de flores.

Quando acordou, se viu num paraíso florido, tal qual descrevia-se os Campos Elísios. Olhou em volta de si e percebeu uma fonte transparente como cristal, no meio de árvores altas e copadas. Perto das margens, erguia-se uma morada real não construída por mãos humanas, um castelo de ouro e mármore. Viu seus muros recobertos de baixos-relevos de prata e os soalhos de mosaico de pedras preciosas cortadas em mil pedacinhos e combinados em variadas pinturas. Maravilhada com a visão, percebeu que ali tudo era mágico... as portas se abriam para ela, vozes sussurravam sobre tudo o que ela precisava saber. Psiqué criou ânimo a ponto de ultrapassar o limiar, e, cedendo à atração de tão grande número de maravilhas, a tudo observava.

— Há alguém aqui?
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Mensagem por Hermes Trismegistus 12/3/2021, 15:03

Sua voz ecoou pelas colunas de ouro, perdendo-se nos corredores amplos e vazios. O que ao mesmo tempo a impressionava era a solidão absoluta em que se encontrava.

Psiqué subiu lentamente os degraus de uma imensa escadaria de pórfiro, cujos corrimões eram do mais puro e esverdeado jade. Depois percorreu várias salas, repletas das mais belas estátuas que seus olhos já haviam contemplado. Todas, se exceção, representavam amantes nus, cujos braços enlaçavam os corpos dos seus seres amados. Cada sala revelou-se mais bela do que a outra, até que a princesa, finalmente, chegou a quarto espaçoso, iluminado pela luz alegre de uma imponente lareira. Um leito perfeitamente arrumado estava no centro do quarto, enquanto uma refrescante brisa agitava as finíssimas cortinas rendadas das janelas.

No entanto, subitamente, uma voz saída de um corpo invisível lhe soou nos ouvidos:

— Por que, soberana, tu te admiras de tão grande opulência? Tudo quanto vês é teu. Entra nestes aposentos, aguarda-te um banho, para refazeres as forças, e o banquete real que te é destinado não se fará esperar. Nós, cuja voz estás ouvindo, estamos às tuas ordens, e executaremos atentamente a tudo que nos ordenares ou pedires.

Na parte interior do aposento havia uma peça para o banho. Psiqué adentrou-o e percebeu, maravilhada, que uma banheira de mármore cheia de espuma parecia aguardá-la.

E voz se fez ouvir:

— Permite que te ajude a te despir.

A moça sentiu que sua pequena túnica deslizava por sua pele, retirada por uma delicada mão invisível. Logo a jovem estava despida e mergulhada na água refrescante, sentindo que mãos invisíveis ensaboavam seu corpo.

Em seguida, após ficar alguns minutos sozinha, quando tudo permanecia em silêncio, secou-se e vestiu uma túnica nova, que lhe foi preparada por alguém que ela não conseguia ver. Então, desceu ao salão principal.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 12/3/2021, 15:03

Psiqué viu realmente um repasto magnificamente preparado, digno de uma rainha. Sentou-se, então, à mesa, e diante dela se sucediam os vinhos mais deliciosos, as iguarias mais incomuns, mas aparentemente trazidas por um sopro, pois não distinguia nenhum ser visível. Um delicioso concerto a alegrou, mas os cantores não lhe apareciam. Admirada, e ao mesmo tempo assustada, pensando no esposo que aguardava, cedeu, no entanto, à fadiga e adormeceu, ali mesmo, sem que nada ou ninguém lhe perturbasse o repouso.

Quando chegou a Noite, deitada em seus aposentos, despertou e ouvindo as mesmas vozes misteriosas, que antes recebeu os mesmos cuidados de seres que não conseguia distinguir.

— Quem és tu e por que nunca apareces?

Vários dias transcorreram sem que lhe fosse dado ver alma viva. Se o esposo invisível a visitou, foi com certeza quando ela estava adormecida, pois nada havia visto, e o amo do palácio em que estava era tão desconhecido como os criados que a serviam.

Foi quando uma borboleta, de repente, começou a esvoaçar sobre a sua cabeça, ela que estava sentada num cabeço de relva; o seu aspecto ingênuo e algo espantado se explicou pela presença do seu noivo que, invisível para ela, lhe deu um beijo na testa. Então, percebeu ao seu lado a presença de alguém que só poderia ser o seu esposo predestinado pelo Oráculo.

— Quem está aqui?

E, em resposta, recebeu um beijo nos lábios. Ela, assustada, recuou um pouco, e a voz soou novamente:

— Não te assustes, meu amor...

E uma brisa leve começou a soprar. Psiqué fechou os olhos e sentiu o tocar carinhoso de seu noivo secreto.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 12/3/2021, 15:04

Então, dois braços fortes a ergueram do chão, como se fosse o próprio Vento, e levou-a para o seu aposento. Chegava a Noite, e Psiqué foi delicadamente depositada sobre o leito. E, sutilmente, as mãos do noivo acariciava todo o seu corpo, deixando-a extasiada ao prazer. Durante a noite inteira, os dois entregaram-se ao Amor. Psiqué, sem nunca poder ver as formas de seu amado, procurava enxergar com as mãos, deslizando seus dedos pelo rosto e pelo corpo inteiro daquele ser desconhecido, que fazia o mesmo como se também a procurasse.

Depois, ambos adormeceram.

Os dias se passaram, e Psiqué era visitada com freqüência, todas as noites, não deixando nunca de satisfazê-la. A jovem foi aos poucos se familiarizando com todo o esplendor do castelo e, passada a novidade, começou a sentir-se sozinha. E saiu pelos corredores a chamar:

— Meu noivo, por que não vens fazer-me companhia? Como posso amar um ser invisível?

Psiqué não ouvia resposta alguma, mas esperou, porque sentia que alguém a acompanhava. Até que ouviu a voz novamente:

— Minha visão te seria funesta, adorada Psiqué. Eu poderia ferir-te e provocar-te sofrimentos como nunca antes tenhas experimentado.

— Que me importa? Que mal me farias? Se fores uma criatura terrível, eu aprenderei a amar-te da mesma forma.

E Psiqué não obteve resposta imediata. No entanto, ele, invisível, a advertiu:

— Psiqué, minha doce amiga, minha companheira adorada, a Sorte cruel te ameaça de um terrível perigo; tuas irmãs, já turbadas com a ideia da tua morte, procuram-te, e não tardarão em te encontrar.

— Minhas irmãs?

— Não te comoves com os seus falsos queixumes, e não te deixes ceder aos perniciosos conselhos que elas te derem para levar-te a me ver. A sacrílega Curiosidade nos há de separar para sempre e te há de mergulhar num abismo de males.

Psiqué concordou. Aliás, o tom daquela voz era tão penetrante que se sentia atraída a ele por uma força desconhecida. Assim, prometeu-lhe que obedeceria.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 12/3/2021, 15:05

E assim foram seus dias, ela tinha tudo que desejava, era feliz, muito feliz, porque seu marido, na escuridão da Noite, lhe trazia uma sensação do mais profundo amor e lhe era extremamente carinhoso.

Entretanto, Psiqué, lembrando-se do Oráculo de Apolo, tremia de espanto, pensando que, apesar da voz tão doce, fosse o esposo sem dúvida um horrível monstro, visto que o temiam homens e deuses.

Com o passar do tempo, porém, ela começou a sentir saudades de seus pais.

— Tenho saudades de meus pais, também de minhas irmãs. Gostaria imensamente de poder revê-los...

— Lembra-te do que te disse sobre as tuas irmãs?

— Sim... Mas preferes uma noiva feliz ao teu lado ou uma infeliz, angustiada e sem vontade de continuar a viver?

O noivo invisível calou-se, porque seria a última coisa que poderia desejar de sua amada. Ele relutou, os Oráculos advertiam de que esta viagem traria péssimas conseqüências, mas ela implorou, suplicou... até que ele cedeu.

— Psiqué, estou disposto a permitir que tuas irmãs te encontrem.

Radiante de alegria, ela abraçou o vazio.

— Obrigada, meu querido noivo!

— No entanto, toma cuidado. Elas certamente te invejarão quando souberem que tu és senhora de um magnífico palácio, de tantas riquezas e de tanta servidão. Visita teus pais, conforta-os e dá-lhes boas notícias. Tenho certeza que voltarás.

E da mesma forma que a havia trazido para o palácio, o vento Zéfiros levou-a à casa de seus pais. Psiqué foi recebida com muita alegria e levou muitos presentes para todos. E as irmãs, ao ouvirem as narrações da feliz Psiqué e ao vê-la tão bem, se encheram de inveja e começaram a crivá-la de perguntas:

— E é tudo teu?

— Te tratam tão bem assim?

— Ele é mesmo tão rico como descreves?

— E teu maravilhoso esposo, onde está? Ele é mesmo um ser monstruoso?

Psiqué respondeu com dúvidas:

— Bem... na verdade... jamais pus os olhos nele, nem em qualquer pessoa viva desde que cheguei naquele lugar encantado. Mas eu prometo que estou muito feliz...
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Mensagem por Hermes Trismegistus 12/3/2021, 15:05

— Psiqué, se o teu marido for um monstro, cedo ou tarde irá te tirar a vida...!

— Não, eu...

— Logo vi! Deve ser tão monstruoso que não tem coragem de aparecer abertamente. Deves tomar precauções!

A jovem, atordoada por aqueles sombrios prognósticos, encheu-se de medo. Uma das irmãs correu até a cozinha e ao voltar lhe estendeu uma faca afiada, ordenando:

— Tu deves matá-lo.

— Matá-lo? Não...

— Mata-o, antes que ele o faça. Hoje à noite, presta atenção, tu farás o seguinte: assim que deitares, fica atenta para quando ele vier visitar-te. Tão logo sentires que ele adormece, levanta-te e acende uma vela, ilumina-o, a fim de veres quem é verdadeiramente o teu marido.

— Em seguida, enfia a faca em seu coração. E não penses duas vezes...

— Mas...

— Psiqué... pensa.

Psiqué parou para pensar, e as vozes enlouquecidas de suas irmãs lhe enchiam os pensamentos. Afinal, ela mesma não entendia as reações misteriosas de seu marido, que evitava se dar a conhecer. Pensava no conselho de suas irmãs, que, mesmo violentos, não deixavam de ser audíveis, já que as previsões do Oráculo se faziam verdadeiras. Evidentemente que as intenções delas eram apenas de prejudicar Psiqué, já que ela havia feito uma promessa a ele.

Ao voltar para sua casa, a Curiosidade tomou conta de seu coração. Tão logo veio a Noite, ela esperou que ele adormecesse e assim, em silêncio, abriu os olhos e foi acender uma vela para poder vê-lo. Em seguida, retirou debaixo do travesseiro, a adaga maldita.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 12/3/2021, 15:06

Então, fez a volta no leito e, aproximando-se, dirigiu a luz em direção do vulto estendido. No entanto, uma exclamação mal contida de espanto escapou de seus lábios ao se deparar com tão linda figura, e ela se perdeu em sonhos e ficou ali, embevecida, admirando-o. Era um ser alado, maravilhoso, de beleza inexplicável. Mas, na distração, esqueceu-se da vela que tinha nas mãos. E um pingo de cera caiu sobre o peito de Éros, seu marido oculto, fazendo-o acordar com a dor. Éros viu-a empunhando numa das mãos uma vela queimando e na outra uma adaga para ele preparada. Levantando-se, exclamou:

— Então é isto! Preferiste seguir os conselhos maldosos de tuas pérfidas irmãs, em vez de confiares em mim!

Psiqué lançou fora a adaga e mal sabia o que dizer:

— Não, não, jamais pretendi jazer-te mal algum! Eu só queria... queria...

Sentido com a quebra da promessa da esposa, partiu, fazendo cumprir a sentença do Oráculo. Ela lhe estendeu o braço em sinal de súplica, mas Éros não lhe foi complacente:

— És tola, Psiqué, não é assim que deves retribuir ao meu amor. Depois de haver desobedecido às ordens de minha mãe e te tornado minha esposa, tu me julgavas um monstro e estavas disposta a cortar-me a cabeça. Vai. Volta para junto de tuas irmãs, cujos conselhos pareces preferir aos meus. Não te imponho outro castigo, além de deixar-te para sempre. O Amor não pode conviver com a Desconfiança.

Psiqué caiu desconsolada na cama. Quando ergueu a cabeça, percebeu estarrecida que estava que estava deitada sobre a grama verde dos campos. Ao seu redor não havia nem sinal mais do seu maravilhoso castelo.

— O que foi feito de meu palácio?

Relanceando o olhar ao redor, percebeu que estava a pouca distância da casa de seus pais. Psiqué correu para lá, para buscar alguma explicação. E novamente encontrou suas irmãs acompanhadas de seus maridos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 12/3/2021, 15:07

Depois de ser recebida com espanto, contou o que lhe havia acontecido, e a reação de suas irmãs não foi outra:

— Oh, que pena...

— Aí está o preço da ingratidão. Tu não achas que deverias ser mais generosa, depois de tudo o que ele fez por ti?

Psiqué não sabia o que dizer. Estava arrasada. E suas irmãs, desejosas de serem elas mesmas transportadas por Éros como compensação, foram ao rochedo do qual Zéfiros havia levado Psiqué.

— Quem sabe uma de nós não será a escolhida para substituir nossa ingrata irmã?

— Ou mesmo as duas escolhidas...

Sentaram-se ambas sobre a relva e aguardaram que viessem buscá-las. Durante muito tempo esperaram, sem que soprasse a menor brisa. E um calor insuportável desceu do céu, fazendo-as quase perder os sentidos.

— Que Vento idiota! Por que não vem logo?

Em resposta, sentiram a forte brisa soprar em seus rostos.

— Vamos, minha irmã, o Vento nos ouviu, e logo uma de nós estará no palácio encantado de Éros!

— Ou então nós duas!

Dando as mãos, começaram a sentir que o forte Zéfiros erguia as duas ao céu, e sorriam satisfeitas. Porém, subitamente, seus pés pedalaram no vazio e, com um grito em dueto, de pavor, mergulharam no abismo para a Morte.

Enquanto isso, o formoso Éros encontrava-se doente, triste e angustiado, e ouvia as censuras de sua mãe ultrajada:

— Que lindo pai de família não serias! E eu, por minha vez, não tenho idade e dignidade para que me chamem de vovó?

Afrodite mandou procurar Psiqué por toda a parte, e, na sua cólera cheia de ciúme, perguntou a si própria que suplício lhe devia infligir. E decidiu importuná-la, humilhá-la. Psiqué passou a caminhar horas e horas, dia após dia, sem descanso e sem se alimentar, à procura do marido, até avistar uma imponente montanha, em cujo cume havia um templo magnífico. E disse consigo mesma:

— Talvez meu amor, meu senhor, habite ali.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 12/3/2021, 15:08

E, assim dizendo, dirigiu-se ao templo.

Mal entrara, viu montões de trigo, em espigas e em feixes, misturados com espigas de cevada. Espalhados em torno, havia foices e ancinhos e todos os demais instrumentos da ceifa, em desordem, como que atirados descuidadamente pelas mãos de ceifadores cansados, nas horas escaldantes do dia.

A piedosa Psiqué pôs fim àquela confusão indizível, separando e colocando cada coisa em seu devido lugar, convencida de que não deveria negligenciar o culto de nenhum deus, mas, ao contrário, procurar, com sua diligência, cultuá-los todos. A deusa Deméter, de quem era aquele templo, vendo a jovem tão piedosamente ocupada e disposta, assim lhe falou:

— Ó Psiqué, em verdade digna de nossa piedade, embora eu não possa proteger-te contra a má-vontade de Afrodite, posso ensinar-te o melhor meio de evitar desagradá-la. Vai e voluntariamente rende-te à tua deusa e soberana e trata de conseguir-lhe o perdão pela modéstia e submissão, e talvez ela ainda te restitua o marido que perdeste.

A princesa decidiu seguir os conselhos de Deméter e ir falar pessoalmente com Afrodite, e foi ao templo da deusa. No caminho, fortalecia o espírito, repetindo, em voz baixa, o que iria dizer e como tentaria apaziguar a divindade irritada, compreendendo que o caso era difícil e talvez fatal. E Afrodite, furiosa, mas reconhecendo sua coragem, apareceu e censurou-a:

— Tu, a mais ingrata e infiel das servas, lembraste afinal que tens uma senhora? Ou vieste ver se conseguiste acabar com o meu filho? Agora compreendes que os deuses também sofrem?

— Perdão, deusa, jamais tive a intenção de machucá-lo.

— És tão pouco favorecida e tão desagradável, que o único meio pelo qual podes merecer o teu amante é a prova de indústria e diligência. Farei uma experiência de tua capacidade como dona de casa.

A deusa, sem se deixar comover pelas palavras de arrependimento da jovem, decidiu puni-la com serviços, maltratando-a e humilhando-a.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 12/3/2021, 15:08

— Vai ao meu celeiro, no bosque, onde há grande quantidade de trigo, aveia, nilhete, ervilhas, feijões e lentilhas, preparados para alimentar os pombos sagrados, separa todos estes cereais, colocando cada um de acordo com sua qualidade, e trata de fazer isso antes do anoitecer.

Psiqué caiu consternada, diante da imensidade do trabalho, estúpida e calada, sem mover um dedo. Não sabia por onde começar, mas teve que pôr mãos à obra. Porém Éros, que a tudo observava, incitou a formiguinha, nativa dos campos, a ter pena dela. A líder do formigueiro e toda a multidão de suas súditas aproximaram-se do montão de cereais e com a maior diligência, tomando grão por grão, separaram o montão, formando um monte de cada qualidade. Psiqué ficou estupefata e imaginava que algum deus ou deusa havia dela se apiedado. A tarefa aparentemente impossível foi feita por ela através da ajuda das formigas.
Ao aproximar-se do crepúsculo, Afrodite voltou do banquete dos deuses, rescendendo a perfumes e coroada de rosas. Vendo a tarefa executada, exclamou:

— Isto não é obra tua, desgraçada, mas só pode ser daquele que conquistaste para seu infortúnio e para o teu.

Depois, Afrodite mandou-a dormir no relento com a refeição de apenas uma côdea de pão duro, pretendendo assim acabar com a beleza da princesa. Mas Psiqué saiu-se bem.

Na manhã seguinte, vendo que não tinha surtido efeito o castigo, Afrodite deu-lhe nova incumbência:

— Olha para aquele bosque que se entende à margem do rio. Ali encontrarás carneiros pastando sem um pastor, cobertos de lã brilhante como ouro. Vai buscar-me uma amostra daquela lã preciosa colhida de cada um dos velocinos.

Docilmente, Psiqué, apanhando uma tesoura, dirigiu-se à margem do regato, disposta a fazer o que estivesse ao seu alcance para executar a ordem. O deus-rio, porém, inspirou aos juncos harmoniosos murmúrios, que pareciam dizer:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 12/3/2021, 15:09

— Oh, donzela duramente experimentada, não desafies a corrente perigosa, nem te aventures entre os formidáveis carneiros da outra margem, pois, enquanto eles estiverem sob a influência do sol nascente, são dominados por uma raiva cruel de destruir os mortais, com seus chifres aguçados ou seus rudes dentes. Quando, porém, o sol do meio-dia tiver levado o rebanho para a sombra e o espírito sereno da corrente o tiver acalentado para descansar, podes atravessar entre ele sem perigo e encontrarás a lã de ouro nas moitas de arbustos e nos troncos das árvores.

Assim o bondoso deus-rio ensinou a Psiqué o que deveria fazer para executar sua tarefa e, seguindo suas instruções, ela em breve voltou para junto de Afrodite, com os braços cheios de lã de ouro. Não foi, contudo, recebida com benevolência por sua implacável senhora, que disse:

— Sei muito bem que não foi por teu próprio esforço que foste bem-sucedida nessa tarefa e ainda não estou convencida de que tenhas capacidade para executar sozinha uma tarefa útil. Quero que vás à Casa de Hades pedir a Perséfone que me envie um estojo de beleza, pois perdi um pouco da minha ao preocupar-me demais com os sofrimentos de meu filho enfermo. Não demores a executar o encargo, pois preciso disso para aparecer na reunião dos deuses e deusas esta noite.

Psiqué, a princípio pensando que poderia cair nas graças da deusa, partiu, mas percebeu que talvez jamais voltaria. No entanto, sem saber como fazer para chegar aos Infernos, entregou-se ao desespero. Chegou a pensar em desistir até da própria vida, caminho mais curto para se chegar ao Érebos, quando uma voz lhe soou ao ouvido:

— Por que, desventurada jovem, pretendes pôr fim aos teus dias de modo tão horrível? E que covardia faz desanimar diante deste último perigo quem tão milagrosamente venceu todos os outros?

Psiqué baixou a cabeça, sem saber o que dizer ou fazer, já que deveria cumprir a última tarefa sozinha.

— Faze como eu te disser e só assim conseguirás chegar até onde mora Perséfone.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 12/3/2021, 15:10

A mesma voz prosseguiu a lhe falar, indicando o melhor meio para alcançar o Hades sombrio. Psiqué ouviu tudo com muita atenção, e caminhava com toda a certeza de que lá chegaria.

Andou vários dias até chegar perto de uma grande fenda, cercada por uma densa floresta fechada. Ali, já nos limites do Mundo Inferior, encontrou uma velha torre, que possuía a faculdade de falar, através dos Ventos uivantes, e poderia lhe ensinar como proceder. Psiqué perguntou à voz que lhe acompanhara o tempo todo o que deveria fazer, e percebeu que, de novo, estava sozinha. Então, com muitas dúvidas, decidiu arriscar e pedir ajuda para alguém que pudesse estar naquele lugar. Obteve a resposta vinda da velha torre, que ensinou-lhe o caminho e como proceder diante de Cérberos e do barqueiro Caronte. Em seguida, recomendou-lhe:

— Quando Perséfone te der o estojo, tem cuidado, acima de tudo, e não cede à tentação da Curiosidade, que já te foi funesta uma vez.

Esclarecida, Psiqué entrou, munida somente de sua coragem, até, depois de um bom tempo, encontrar um grande rio negro, onde viu um homem, ou pelo menos parecia ser. Era Caronte. Depois de convencer o barqueiro a levá-la para a outra margem do rio, porque vinha numa missão ordenada por Afrodite, Caronte, fingindo não saber sobre o assunto, concordou, e Psiqué atravessou o Aqueronte, na barca de Caronte, fez calar Cérberos atirando-lhe bolo com mel e chegou à presença de Perséfone. Foi-lhe oferecido um suntuoso banquete, que Psiqué teve a inteligência de recusar, apenas contentando-se com pão seco para alimentar-se, revelando a sua humildade. E transmitiu o recado à rainha do Érebos, que lhe entregou o estojo de beleza exigida por Afrodite. Quando voltou à Terra, Psiqué, sozinha, e de posse da caixa cujo conteúdo conhecia, começou a refletir.

— Por que não me há de servir esta caixa, depois de tantos perigos por que passei? E se eu usasse um pouquinho, quem sabe se não conseguiria reconquistar meu marido desaparecido?
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Mensagem por Hermes Trismegistus 12/3/2021, 15:11

Após muita hesitação, a caixa cedeu finalmente ao pequeno esforço por ela feito. Mal abriu um pouco a caixa, ao invés de beleza, saiu um vapor sonífero, e Psiqué, desmaiada, tombou com a face voltada para o chão. A Morte preparava-se para buscar a sua alma.

Então, ao seu lado, surgiu Éros, o dono da voz misteriosa, que vigiado de perto no palácio de sua mãe, havia conseguido não obstante, escapar pela janela.

— Eu sabia, tua curiosidade estragaria tudo outra vez!

Despertou Psiqué de seu sono mortal com a ponta de uma das suas setas e, assim que ela abriu os olhos, percebeu que estava nos braços de seu amado Éros. Com um sorriso inevitável nos lábios, Psiqué ouviu os seus conselhos:

— Psiqué, leva a caixa para Afrodite, minha mãe, mas, pelo nosso amor, não abre outra vez, porque não poderei devolver-te a vida! Enquanto isto vou falar com Zeus para que convença minha mãe a aceitar-te como minha esposa.

Éros voou rápido para os pés do trono de Zeus, que, enternecido pelas suas lágrimas, decidiu interceder a favor de ambos diante de Afrodite. Psiqué foi chamada então ao Olimpo e recebeu das mãos do próprio Zeus uma taça contendo um néctar.

— Bebe isto, Psiqué, e sê imortal. Éros não romperá jamais o laço que atou, mas essas núpcias serão perpétuas. A partir de agora tu terás um lugar entre os deuses.

Enquanto Psiqué bebia o néctar, uma linda borboleta pousou sobre sua cabeça. Zeus deu a Imortalidade a Psiqué, e convidou todos os deuses para um banquete de núpcias. E Psiqué, admitida ao seio dos Imortais, passou a acompanhar o marido. Éros e Psiqué, o Amor e a Alma (por ter ressuscitado), permaneceram juntos por toda a Eternidade, e tiveram uma filha, que lhe deram o nome de Hédone (a Volúpia).

FIM
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Mensagem por Hermes Trismegistus 12/3/2021, 15:11

Agora pergunto a quem puder me ajudar:
- Alguém sabe o nome das irmãs e dos pais de Psiqué?
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Mensagem por Hermes Trismegistus 12/3/2021, 15:12

É, já pesquisei o que pude, e nada consegui descobrir.

1º - O engraçado é que, se esse mito é mais um conto de fadas, uma ficção, o que impediria do poeta grego ter inventado nomes para seus personagens?

2º - Se não for fictício, mas um conto tradicional da época, passado de boca em boca, não teria que ter nomes, conforme valorizavam os antigos gregos?

3º - Se esse mito tenha sido uma parábola para bons ensinamentos ao povo grego, não seria relevante aparecer nomes para tornar mais afetivo e atraente?

4º - Se supostamente fosse parte da história dos gregos, mesmo que enfatizada pela presença da superstição e de deuses, não seria mais viável ainda aparecerem nomes?

Não consigo pensar diferente. Há vários mitos ricos de detalhes na sua narração, mas faltam nomes, épocas e localizações.

Por exemplo, o mito de Éros e Psiquê faltam o nome de seus pais e irmãs. O mito de Filámon e Báucis falta saber em que época teria se sucedido, mesmo se fosse fictício. O mito de Píramos e Tisbe também faltam os nomes de seus pais. Seriam informações irrelevantes? Justo entre os gregos, que davam a maior importância às suas genealogias?
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Mensagem por Hermes Trismegistus 12/3/2021, 19:21

Creta

Conforme se tem relato, Crés (também chamado Creteus) foi o primeiro rei que habitou a ilha mais ao sul do mar Arquipélago (futuro Egeus), no tempo em que imperavam sobre a terra os Titãs, época anterior aos deuses. Foi herói epônimo dos Cretenses. Crés foi gerado pelo próprio solo, sendo então considerado filho de Géa. Dividiu a ilha em províncias e nomeou reis governantes, entre os quais seu filho Olimpos e Melisseus. Carmanor tornou-se rei de Tarra, e Etéarcos governou Áxos.

As filhas de Melisseus foram as Ninfas (quando todas as mulheres da Terra eram Ninfas) que alimentaram e criaram Zeus-menino, quando Cronos engolia os filhos que nasciam de sua esposa Réia (a Grande-Mãe dos Cretenses). Zelado por Coribantes e Dáctilos, o deus recém-nascido foi educado por Olimpos, e o grande Crés lhe deu proteção. E, ao atingir idade adulta e após derrotar os Titãs e assumir o controle do Olimpo, Zeus concedeu vida longa aos reis de Creta, que também passou a chamar-se Coribantis.

Houve um herói da Hélade chamado Téctamos, que era filho de Dóros, da estirpe de Deucálion. Tinha um irmão, Egímios, e uma irmã, Xântipe. Conduzindo uma colônia de Pelasgos e Eólios, invadiu Creta, tomou o poder e casou-se com a filha do rei Crés, da qual teve um filho, Astérion, “rei das estrelas”.

Astérion tornou-se rei supremo no lugar de seu pai, na época em que Cadmos e seus irmãos procuravam Europa, que havia desaparecido da casa de seu pai, o rei Agenor, da Sidônia. Zeus deu-lhe por esposa a princesa Europa, e o rei passou a assumir a paternidade de seus filhos, Minos, Radamantes e Sarpédon, guardando para eles bens e direitos à sucessão. Em seguida, Astérion casou-se e teve uma filha, Cretéia (ou Creteis).
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Mensagem por Hermes Trismegistus 12/3/2021, 19:22

Para agradecer ao rei Astérion pela boa acolhida que dera a Europa e seus filhos, Zeus ordenou que Hefaístos criasse, de alguma forma, um guardião que pudesse defender o país dos invasores e jamais importunasse o seu povo. Daí, o deus-ferreiro fez um homem de bronze sólido, pôs em seu corpo o sopro da vida e uma força espantosa. Nem flecha nem lança ou espada poderiam perfurar sua couraça, e instalou um fluido divino em sua veia e fechando-a com um prego de ouro em seu calcanhar direito. E chamou-o Tálos.

Tálos atirava-se numa fornalha todos os dias e dava três voltas diárias em torno de Creta, fazendo o chão tremer com o estrondo de seus passos; quando ali desembarcavam forasteiros, sem aviso ou sem serem convidados, agarrava-os e destruía-os com seu abraço de fogo.

Se Tálos fosse fruto da imaginação dos homens nessa época, uma coisa é certa: Creta não temia nenhum invasor, pelo menos naquela época. O império da ilha era tão poderoso que suas cidades não tinham muros nem fortalezas para a sua proteção. A ilha era mesmo guardada por um terrível gigante, tão impressionante quanto o lendário Tálos, porém de outro tipo: tratava-se do povo cretense e sua poderosa frota. E esse poder durou pelo menos até a época da invasão dos aqueus, que mais ou menos coincidiu com a conquista de Creta por Teseus, de Atenas. E, um tempo antes, os Argonautas teriam ali chegado e derrotado o gigante, guardião e baluarte da ilha do rei Minos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 12/3/2021, 19:23

Minos, com a morte de seu padrasto, o rei Astérion, adiantou-se ao trono, alegando que, de direito, Creta lhe pertencia por vontade divina e tentando provar aos irmãos mais jovens estar mais apto a governar Knossos, eco histórico evidente de lutas reais pela supremacia de Knossos sobre Faístos e Mália, dois outros grandes centros políticos e econômicos da ilha. Sarpédon opôs-se violentamente, já que defendia o propósito de Astérion, que pretendera dividir o reino em três partes iguais; mas teve que resguardar-se até o momento apropriado para destroná-lo. Já Radamantes aceitou a resolução de seu irmão mais velho, dedicando-se às suas leis e às suas sábias obras. Essa dedicação renderia a Radamantes um terço do reino para seu governo, já que a primeira atitude de Minos foi realmente dividi-lo em três zonas, elegendo uma capital para cada uma, no entanto.

Minos, para bem governar o país, a cada nove ano, ia a uma gruta de difícil acesso do Ida (o monte Iucta), onde havia nascido seu pai Zeus, a fim de obter inspiração por parte dele para criar novas leis, que eram sempre excelentes, passando a equiparar-se a Radamantes como legislador. Ia prestar contas de suas atitudes e de seu governo; se satisfeito, Zeus o reinvestia no poder para mais um período de nove anos. Então, o rei-sacerdote passava novamente a reinar com justiça e doçura, civilizando os cretenses.

Minos casou-se com Creteis, filha de Astérion e sua irmã de criação, e teve dela os filhos Licastos, Xenodicéa, Acacális e Satíria. Acacális teve um filho de Hermes e o chamou Cídon.

Certo dia, hospedada na casa do velho rei cretense Carmanor, em Tarra, Acacális, filha de Minos, teve outro filho, desta vez do deus Apolo, o matador da serpente Píton, e deu-lhe o nome de Náxos, destinado a ser herói-epônimo de Náxos, que até então chamava-se Dia.
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