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Mitologia Grega

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Hermes Trismegistus
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 01:50

Mas a deusa não se deixou comover, e também a sexta filha de Níobe foi reunir-se aos irmãos e irmãs, apenas restando-lhe a mais velha, Melibéia, a piedosa, que empalidecia ao ver seus irmãos morrerem instantaneamente, o que lhe valeria, daí em diante, o nome de Clóris, a “verde”.

Desfigurada, a rainha contorcia-se, jogava-se ao chão, levantava os braços para o Céu, batia no peito suplicando:

— Se tu não podes te apiedar de mim, pelo menos mostra clemência por esta criatura inofensiva e piedosa. Tira-me a vida, mas deixa-a viver para chorar, para esquecer e para dobrar os joelhos diante de teu poderoso nome!

Níobe agora se humilhara totalmente diante de Leto. Os últimos fragmentos de seu orgulho haviam se desintegrado. A deusa sentiu nisso grande prazer, mas não teve piedade. Os gritos de Níobe teriam derretido um coração de gelo, mas não abrandaram a fúria da deusa, filha dos Titãs: outorgou que Melibéia e o pequeno Âmiclas deveriam ser levados de Tebas, para bem longe do convívio e do amor maternal.

A rainha ficou em meio à cruel obra dos deuses, como sonâmbula. Os seus filhos estavam mortos e o marido também. A carnificina fora inimaginável, terrível demais para ser descrita, mas inexoravelmente real. Com seu orgulho e sua felicidade arruinados, Níobe não tinha forças sequer para chorar. Permaneceu ali imóvel e muda, como se toda a vida lhe tivesse escoado do corpo. A única mostra de sua dor eram as lágrimas que continuavam a rolar de seus olhos.

Níobe estava imersa em seu profundo sofrimento, quando uma voz áspera e horrenda lhe feriu os ouvidos. Os deuses ainda não haviam completado sua vingança. A profetisa Manto fazia uma nova ronda, gritando em todos os quarteirões da cidade:

— Povo de Tebas, ouvi minhas palavras! Os deuses proíbem que enterrem os filhos de Níobe. Para aumentar a punição dessa mulher vaidosa e mostrar a todos vós, tebanos, o verdadeiro poder do Olimpo, os corpos ficarão insepultos e serão comidos pelos abutres.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 01:51

Inúmeras vezes a profetisa repetiu aquela mensagem com sua voz estridente. Os filhos e filhas de Níobe permaneceram insepultos; e Níobe não pôde mais suportar: devido ao grande desespero e dor que dela se apossou, Níobe petrificou-se, transformou-se num bloco de pedra. E conforme a angústia da rainha aumentava, avolumava-se a rocha em que ela se transformara, elevando-se cada vez mais, ameaçadora, como uma acusação contra a impiedade dos Imortais.

Quando os deuses viram aquele enorme pilar de pedra e as lágrimas que começavam a verter dele, censurando-os por sua hedionda vingança, compreenderam o mal que haviam feito. Primeiro ficaram envergonhados, depois atemorizados...

Sabendo agora que aquilo não fora uma vitória, mas um confronto humilhante, depois de dez dias, eles vieram secretamente, à noite, e sepultaram eles mesmos os filhos de Níobe. Depois, desencadeando um terrível redemoinho, levantaram a pedra e transferiram-na para uma montanha da Meônia; puseram-na atrás do monte Sípilos, para que fosse esquecida, e, debulhada em lágrimas, fez jorrar seu pranto, sob a forma de uma fonte perene — a mesma rocha que hoje se vê nas encostas do monte Mahnissa.

Os únicos sobreviventes, Âmiclas e Melibéia, haviam sido levados a Árgos, onde, mais tarde, construiriam um templo dedicado à deusa Leto. Melibéia, também chamada Pelópia, conhecida assim em honra de seu tio Pélops, agora intitulada Clóris pela sua palidez, haveria de se casar com um homem de Pilos, um certo Neleus, de família nobre, e lhe daria bom número de filhos, entre os quais, Nestor, o abençoado. O deus Apolo, para compensar a morte dos Nióbidas, concedeu a este todos os anos de vida que ele e Ártemis haviam tirado da prole de sua mãe; Nestor morreria muito, muito velho.

Com a morte de Anfíon e Zetos, Tebas, agora rodeada por muralhas, ficara sem rei, e o povo decidiu procurar Laios para suceder os reis gêmeos. E o encontraram exilado na companhia do jovem Crísipos, filho de Pélops. E Laios aceitou tornar-se o novo rei de Tebas.

FIM
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 05:07

A origem de Atenas

Ógigos (Ogygen) governava sobre os pelasgos, e a aldeia onde reinava chamava-se Anagyrous. E toda a região que dominava chamava-se Ogígia.

Périfas sucedeu a Ógigos e passou a governar sobre Ogígia. Fez-se amar de tal maneira por seus súditos, por sua justiça e suas virtudes, que este já em vida lhe tributaram as honras da apoteose e lhe dedicaram um templo em que se podia ler, em letras de ouro: “A Zeus, benfeitor e conservador.” Os seus vassalos adoravam-no como a Zeus, pelo que o rei do Olimpo, então, o quis fulminar; mas Apolo fê-lo transformar-se em águia, e Zeus pô-lo sobre seu Cetro Olímpico.

Porfírion sucedeu a Périfas e apoderou-se de toda Ogígia.

Mopsopas ocupou o trono de Porfírion e mudou o nome da região de Ogígia para Mopsópia.

Múnigos (Mounihos) tornou-se o novo rei de Anagyrous.

Havia um homem chamado Crânaos, que tinha um filho chamado Cólenos (Kolainos). O menino, destinado a ser rei, era tido como descendente do deus Hermes. Depois que atingiu a idade adulta, ocupou o lugar de Múnigos no governo de Anagyrous, sob a intendência de seu pai, Crânaos.

Acteus (Aktaíos) passou a governar no lugar de Cólenos e deu à região que rodeava Anagyrous o nome de Akté.

Cécrops, saído do seio da Terra, teve seu nome na forma original Cércops, “rabudo”, de cauda de serpente. Ele havia emergido da Terra, mas tinha uma cota de forma humana, e, portanto, era um diphyes, “de dupla natureza”, tal qual os Gigantes. Logo que nasceu, Palas-Atena adotou-o, e educou-o para ser o responsável por uma nova raça, uma nova cultura, um novo pensamento, uma nova visão do mundo. Diz-se até que foi quem descobriu, de fato, sobre a dupla natureza dos seres-humanos. Até então, não se tinha certeza absoluta que o nascimento de uma criança dependia também do pai, mas somente da mãe, e que o sêmen era somente fruto do próprio prazer de que sentia o homem (no caso, o pai). Cécrops foi também o primeiro mortal a dirigir-se a Zeus chamando-o pelo nome.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 05:07

Cécrops (Kékrops) ocupou o trono, no lugar de seu sogro Acteus, e chamou a região Cecrópia (Kekropía), e até sua cidade assim passou a ser chamada. Reinou com justiça e bondade, e tornou-se juiz entre os mortais e os Imortais. Nessa época, reinava em Árgos o grande soberano Ínacos.

Os enormes mares que às vezes ameaçam engolir as mais fortes embarcações ou que de outras lambem delicadamente seus cascos eram o reinado de Poseidon. O deus dos terremotos era irmão de Zeus e filho do temível Cronos.

Igual aos mares, esse deus era às vezes duro de coração e, às vezes, gentil e cheio de boa-vontade.

Quando tomado por terríveis acessos de fúria, Poseidon não se importava com quem estivesse nos mares. Ele agitava as águas com seu tridente até que as ondas atingissem a altura de montanhas, atirando-se descontroladas contra as praias arenosas e as pontas rochosas. Azar do navio que estivesse longe do porto, enfrentando os mares tempestuosos... Provavelmente, ele estava condenado. Mas, quando a zanga de Poseidon acabava, ele passava delicadamente seu tridente na superfície das águas e, pouco a pouco, as ondas se acalmavam. Com isso, as menores embarcações conseguiam singrar os mares enquanto os golfinhos seguiam brincando alegres no rastro de espumas deixado para trás.

Sendo um povo navegador, os gregos tinham o maior respeito por Poseidon e sempre lhe invocavam a proteção.

Igual aos demais deuses, Poseidon sonhava em ter uma cidade especial que lhe rendesse culto e para a qual ele pudesse oferecer ajuda e proteção.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 05:08

Cécrops havia engrandecido a velha cidade do rei Acteus, dando-lhe o nome de Cecrópia, dando ao povo novas leis. Porém, era preciso pôr a nova cidade sob a proteção de uma divindade. Decidiu-se que se tomaria por protetor da cidade o deus que produzisse a coisa mais útil. De fato, o senhor dos mares tinha uma certa preferência pela Ática, lugar onde uma nova cidade, Cecrópia, estava sendo construída. O rei da cidade chamava-se Cécrops, filho da Mãe-Terra. Da cintura para baixo, segundo os boatos, ele tinha corpo de serpente. Não se sabia exatamente a verdade, mas o rei evitava mostrar-se de corpo inteiro.

Então, Poseidon foi para o reino da Ática, antes de qualquer outro deus, e encontrou Cécrops na Acrópole. O rei estava supervisionando a construção da nova cidade. Poseidon, pretensioso, pediu-lhe que lhe fosse dedicada a cidade que, em sua honra, deveria ter o nome de Poseidônia.

— Faze o que te peço, e esta cidade será a rainha dos mares. Teus navios singrarão tranquilos os oceanos, e ninguém se atreverá a medir forças convosco.

Dizendo essas palavras, o poderoso Poseidon bateu a terra com o tridente e fez surgir o cavalo, animal maravilhoso que ainda não existia naquela terra (interpretando-se apenas que o cavalo existia, mas ainda não havia sido domesticado pelo homem), e ergueu o tridente e bateu-o em uma rocha. No ponto que acertou brotou uma fonte de água salgada, que mais tarde levaria o nome de “mar de Erecteus”.

— Aí está o meu presente. Quando fordes partir para terras distantes, ajoelhai-vos e encostai o ouvido na fonte. Se ouvirdes o rugir dos mares, não deveis partir. Se partirdes, enfrentareis muitas tempestades pelos caminhos e vossos navios serão engolidos pelas águas.

Em seguida, Poseidon desapareceu.

Cécrops mal havia se refeito da surpresa, quando Atena, a deusa da sabedoria, também lhe apareceu. Ela pediu-lhe que a cidade lhe venerasse.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 05:09

— Se fizeres o que te peço, tua cidade será o centro da beleza e da sabedoria. Nela a Arte, a Literatura e a Ciência florescerão e deste lugar o espírito da Liberdade se espalhará até os últimos recantos da Terra.

Então, Atena domou o cavalo para o transformar em animal doméstico, e, batendo na mesma rocha em que estava a fonte, com a ponta da lança, fez surgir uma árvore carregada de frutos, a oliveira, carregada de azeitonas, pretendendo com aquilo mostrar que o seu povo seria grande pela agricultura e pela indústria.

— Este é o meu presente: a “kekyfia”. Toda a Cecrópia se cobrirá com os brotos verde-prateados que nascerão desta árvore. Os frutos matarão a fome do povo, produzirão óleo para iluminar vossas casas e seus ramos serão um símbolo de paz entre os homens.

Cécrops ficou maravilhado com o presente de Atena e achou ótimo que a sua cidade se transformasse na capital da cultura. Mas como Poseidon havia pedido primeiro, ele não sabia qual escolher.

Inesperadamente, apareceu de novo Poseidon e, furioso, desafiou Atena:

— Eu só desisto do que quero se me venceres em combate.

O deus bem sabia que era muito mais forte do que Atena e que ela não teria a menor vantagem. Atena também o sabia, mas ela não tinha medo, e prontamente aceitou.

— Vamos lá! Vem!

E deu alguns passos para trás, agarrando a lança com ambas as mãos. Poseidon também tomou posição de luta, erguendo seu tridente de um modo ameaçador.

Os dois deuses do Olimpo já estavam prontos para a batalha, quando Zeus em pessoa apareceu entre eles. Com a inesperada chegada do senhor do mundo, os combatentes baixaram as armas porque Zeus era a lei para eles.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 05:10

Embaraçado, consultou o povo, para saber a que deus preferia entregar-se. Contudo, não se tendo naqueles tempos tão remotos imaginado que as mulheres não pudessem tão bem quanto os homens exercer direitos políticos, todos votaram. Ora, sucedeu votarem todos os homens por Poseidon e todas as mulheres por Atena; mas como entre os colonos que acompanhavam Cécrops, houvesse uma mulher a mais, Atena raptou-a. Poseidon protestou contra essa maneira de julgar a divergência, e apelou para o tribunal dos Doze Grandes Deuses.

Zeus, mesmo o mais justo dos deuses, tinha uma especial afeição por Atena e queria entregar-lhe aquela cidade. Sabia, de outro lado, que não podia se esquecer do gênio esquentado de Poseidon. Por isso, resolveu mesmo convocar os demais deuses para que chegassem a uma definição através do voto.

Pouco depois, todos os grandes deuses do Olimpo estavam reunidos na Acrópole, onde o velho Cécrops e Crânaos, testemunhas da votação, contou-lhes tudo o que estava acontecendo. E acrescentou:

— Eu e os moradores da Ática respeitaremos a vossa decisão. Que os templos e as estátuas que adornarão a Acrópole sejam dedicados ao deus que escolherdes para ser o guardião da cidade!

Logo, os Olímpicos votaram, um por um. As deusas votaram em Atena. Os deuses em Poseidon. Como Zeus não tomou partido, como juiz, Atena ganhou por um voto, novamente. Por isso, não teve jeito: a cidade recebeu a tutela de Atena. Esse ato de Zeus fez com que Cécrops a ele concedesse o título de Hípatos, “o altíssimo”.

Em recompensa, a deusa Atena passou a auxiliar Cécrops a fortificar a Acrópole e a construir belos edifícios em seus pontos mais elevados.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 05:10

Além disso, fora a fortificação de Cecrópia ou Anagyrous, Atena ajudou-o a erguer mais onze cidade: Epakría, Dekeleia, Elefsina (Elêusis), Afidnai (Afidnas), Vravrona, Kythyros, Sfettos, Kifisía, Thoricos, Aixone e Oinoe (Ênoe). E dividiu os habitantes em quatro raças: Kekropía, Aktaia, os Aftohthones (aborígenes) e Paralioi, e uniu esses povos, cuja realização haveria de ser celebrada no festival da synoikia.

Assim que Cécrops instituiu a primeira assembléia geral na cidade-sede, ele mandou que cada habitante trouxesse uma pedra, “laas”, e a depositasse no meio da ágora, e foram contadas vinte mil pessoas, sem contar crianças e pessoas debilitadas que não puderam comparecer. Apresentou-lhes as leis que deveriam ser respeitadas, tanto as dos Imortais quanto às dos homens. Oficializou, sob a proteção de Atena, a instituição do casamento no país, repudiando o acasalamento promíscuo. Implantou o costume de sepultar os mortos na terra, de modo que eles, por assim dizer, fossem depostos no seio da Grande-Mãe. Ensinou-os a semear o trigo nos sítios de enterramento, os quais, dessa maneira, em vez de serem reduzidos a cemitérios, eram devolvidos puros aos vivos. Deveriam comer o repasto fúnebre com grinaldas na cabeça e entoar canções em louvor dos que haviam partido. E decretou a punição contra malfeitores e mentirosos.

Essas e muitas outras leis foram implantadas por Cécrops, com o aval de Atena, a filha de Zeus, e a vida digna de seres humanos só assim principiou naquela região. Talvez por esse motivo a Ática tenha sido a mais requintada e civilizada das regiões gregas.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 05:11

Tal disputa e tal derrota desencadearam a ira de Poseidon. Sua fúria tornou-se incontrolável! Atirando ondas para cima, ele fez inundar toda a planície da cidade, destruindo o templo da deusa e as quintas e aldeias do seu povo. Assim, levados pelo terror, os então atenienses foram consultar o Oráculo de Delfos e obtiveram a resposta do que deveriam fazer para acalmar o deus ofendido. A Pítia explicou que a zanga de Poseidon só cessaria se todas as mulheres de Atenas fossem castigadas. Para isso, teriam de perder o direito de votar e não poderiam mais ser consideradas cidadãs. Quanto a seus filhos, eles só poderiam herdar o nome do pai, não mais o da mãe, como acontecia até então.

Foi desse jeito que aconteceu. Como resultado da decisão do Oráculo, perderam-se os últimos vestígios do antigo poder exercido pelas mulheres desde quando as matriarcas regiam as clãs.

Apesar de Poseidon haver perdido a cidade em favor de Atena, os atenienses honraram-no; por isso, ergueram na Acrópole um suntuoso altar ao Olvido, no cabo Sounion, monumento de reconciliação de Poseidon e Atena; em seguida, Poseidon participou das honras da deusa. Assim, os atenienses se tornaram um povo navegador e ao mesmo tempo agrícola e manufatureiro.

Em todo caso, os presentes de Atena e Poseidon perpetuam. Até hoje existe um poço na Acrópole, em Atenas. Segundo dizem, é o mesmo que Poseidon abriu com o golpe de seu tridente. Quando venta no sul, pode-se ouvir um estranho e distante ronco. Parece mesmo uma tempestade em um mar tormentoso.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 05:12

Poseidon, depois de perder a disputa de Cecrópia para Atena, não a perdoou, pois, mais tarde, voltaria a atacá-la roubando-lhe Troézen, acarretando a intervenção de Zeus, que decidiu pela partilha da cidade. O próprio Zeus seria alvo de sua cobiça a respeito da ilha de Égina, também Dionisos, que por pouco perderia a ilha de Náxos. Mas Posseidon continuou a disputar com os demais deuses a posse das novas cidades. E em todas elas fracassou. Só depois de lutar com Hélios, o deus-Sol, pela cidade de Corinto, a Sorte começou a sorrir-lhe.

Nessa oportunidade, foi Briareus, filho de Úranos, quem entrou na arena para ajuizar a causa. Desempenhando suas funções com bom senso e sabedoria, Briareus resolveu entregar a fortaleza mais alta, a de Acrocorintos, a Hélios. Para Poseidon, ele entregou o Istmo e, com isso, o deus dos mares contentou-se.

Os habitantes de Corinto prestavam honrarias ao deus do mar. Uma das mais famosas comemorações na Grécia foram os Jogos Istmicos, muito conhecidos por suas disputas atléticas e artísticas. Nos locais onde aconteciam tais competições havia um esplêndido templo dedicado ao deus do mar. Em seu interior havia uma bela estátua de Poseidon, de pé, altivo, empunhando o tridente.

Por fim, Poseidon reclamou uma terra que pertencia a Héra. Desta vez Zeus não conseguiu chamar seu irmão à razão. Chamou-o para uma reunião no Olimpo para julgar a sua pretensão.

— Está mais do que provado que os deuses todos estão contra mim.

Zeus enfureceu-se:

— Os deuses-rios são honestos. Aceitarás o que eles e o rei dentre os homens daquela terra decidirem?

Poseidon sacudiu os ombros e resmungou:

— Posso tentar.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 05:12

Esperava que os deuses-rios da Ápia não se atrevessem a desagradá-lo. Todavia, Ínacos, Astérion e Céfisos, os principais dentre os rios daquela terra, não tiveram receio de dar o seu parecer em favor de Héra. E Foroneus, juiz da querela, deu a palavra final, desagradando a Poseidon, que acabou perdendo toda a região da Ápia conquistada pela deusa Héra, sua irmã. Especialmente graças a Foroneus, Poseidon passou a guardar rancor contra o seu povo.

Então, em vez de inundar aquela terra, fez secar os rios em que viviam os deuses, transformando-os em lama e caminhos de pedras e expulsando os deuses e Ninfas para as margens áridas. Só quando vieram as chuvas do Inverno os rios tornaram a correr, e, desde então, todos os verões os rios secariam e desapareceriam.

Cécrops teve três filhas com sua esposa Aglaura, filha do antigo rei Acteus, as Agláuridas, cujos nomes eram Pândrose, Herse e Aglaura, do mesmo nome da mãe, e ainda um filho varão, Erisícton, “protetor da terra”, que, como único filho, era aquele que protegia a casa, as irmãs e a terra de seu pai. No entanto, morreu cedo, sem descendência.

Aglaura foi violentada pelo deus Áres, e teve uma filha a que deu o nome de Álcipe, “a égua atrevida”.

Hefaístos, apesar de ter Afrodite como esposa, procurava ainda se aproximar de Atena, a quem havia desejado desde seu nascimento. Aliás, Atena sempre foi muito desejada, por deuses e Titãs, mas ela rechaçou-os. E um dia, Poseidon, aborrecido por ter levado um fora, teve a infelicidade de contar a Hefaístos:

— Atena está interessada em ti, ferreiro. Aproveita que ela deseja ampliar o arsenal bélico e aproxima-te dela. Se lhe deres um presente...
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 05:13

Hefaístos, ouvindo estas palavras, animou-se, e ele mesmo decidiu fabricar as armas e dá-las de presente a Atena. Fabricou para ela um dardo, um escudo, um elmo e uma bela armadura. Ao terminar o seu trabalho, foi procurá-la na Cecrópia, donde era sua protetora. Atena quis pagar por seus serviços, mas recebeu esta resposta:

— Fiz este trabalho por amor.

Atena não entendeu bem o significado dessas palavras, já que desconhecia os dons de Éros. Acabou por concluir que o deus Hefaístos amava o seu trabalho. Porém, o deus-ferreiro colocou-se-lhe na frente e quis dar os passos necessários. Mas a deusa, percebendo as suas intenções, as recebeu de maneira tal que lhe tirou qualquer desejo de recomeçar. O pobre Hefaístos ficou aborrecido, e mostrou-se saber dispensá-la, resolvendo então fecundar a Terra, boníssima criatura, que o aceitou apesar das mãos negras. E era desta forma que os atenienses preferiam acreditar. Porém, a verdade foi outra: Hefaístos tentou violentá-la, e ela se desvencilhou no momento em que o deus ejaculava precocemente, e o sêmen caiu sobre a coxa da deusa. Ela, mais do que depressa, limpou o sêmen com um pedaço de lã, que atirou longe com asco; a lã caiu no chão, indo fecundar a Terra.

— Nunca! Atena é e sempre será virgem! E esse é o seu nobre desejo. A criança é filha de Hefaístos e da Mãe-Terra!

Dessa união nasceu Eriteus, mas, pela sua origem, o povo começou a chamá-lo de Erictônios, “nascido da Terra”, destinado a reinar sobre os atenienses, que pretendiam também, por um laço qualquer, prender-se ao deus do fogo, que presidia às indústrias metalúrgicas.

Revoltada em ter o filho que Hefaístos tentara fazer em Atena, Géa declarou que não aceitaria essa responsabilidade:

— Muito bem. Cuidarei disso eu mesma!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 05:13

Géa, ou Ctônia, a Mãe-Terra, decidindo não criar a criança, temendo as zombarias de Poseidon, e não pretendendo abandoná-la como uma víbora ou um verme qualquer, foi procurar Atena e deixou-lhe a criança aos pés dizendo:

— Esta criança é tua, menina! Era tu e não eu que Hefaístos queria como esposa. Portanto, cuida dela tu mesma!

A deusa concordou.

— Sim, cuidarei!

E, apanhando o bebê, levou-o para o seu santuário, colocou-o num cesto redondo e pôs-se a cantar para adormecê-lo. Junto dele, Atena pôs uma serpente sagrada para protegê-lo contra os perigos.

Mas, apesar de todo o seu bom coração, não conseguia livrar-se de suas preocupações guerreiras, e, estando a galgas a Acrópole levando o cesto, notou que a sua cidade não estava bastante fortificada do lado ocidental. Por isso, entrou na casa do senhor Cécrops, o rei, que tinha três filhas, Pândrose, Aglaura e Herse, e, confiando-lhes o cesto, muito bem coberto, disse a Aglaura:

— Toma conta deste cesto para mim. Não digas a ninguém que eu o entreguei e, aconteça o que acontecer, não deves abri-lo. Se abrirdes, quaisquer de vós, um grande mal vos perseguirá para sempre!

Sua intenção era evitar que alguém soubesse que iria criar o filho de outra mulher.

E acrescentou:

— Virei buscá-lo antes da Noite chegar.

Imediatamente, sem mais detalhes, partiu em busca de uma montanha que julgava necessária para a fortificação da cidade.

Herse, Pândrose e Aglaura moravam na Acrópole, a serviço de Atena. Sua casa tinha três aposentos, e no do meio morava Herse. De vez em quando, Hermes, o deus-mensageiro, vinha espiar as três enquanto carregavam na cabeça as cestas sagradas de Atena numa procissão solene e acabou se apaixonando por Herse, a mais jovem.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 05:14

Porém, antes do por-do-Sol e do regresso da deusa Atena, retornando do festival, Hermes subornou Aglaura para lhe dar acesso a Herse, por quem estava violentamente apaixonado. Aglaura aceitou o ouro de Hermes, mas nada fez para merecê-lo, pois Atena a havia feito sentir ciúmes da boa fortuna de Herse; assim, Hermes transformou Aglaura em pedra e teve sua vontade atendida por Herse. No entanto, Hermes sentiu-se injuriado e quis com um toque do Caduceu mágico transformá-la também numa imagem de pedra, mas o Destino já tinha preparado para ela um trágico fim, e Hermes deixou-a em paz. Herse deu a seu divino amante, segundo diziam os atenienses, um formoso filho, chamado Céfalos, e outro chamado Cérix, o primeiro antepassado da família dos Kerukes, os “arautos” dos Mistérios de Elêusis.

Aglaura e sua filha Herse, então, impelidas pela curiosidade, pretenderam abrir o cesto, não obstante as censuras de Pândrose, que aconselhara aguardar o regresso de Atena. Mal haviam erguido a tampa, uma serpente saiu debaixo dos lençóis e ergueu-se ameaçadora. A simples visão do réptil foi suficiente para aterrorizar Aglaura e Herse. Assustadas, saíram correndo desorientadas e acabaram despencando da Acrópole, indo morrer esmagadas nas rochas do abismo. Mas uma gralha, alva como a neve, que tudo vira, foi contar o fato a Atena, que já segurava a montanha entre os braços, no meio da cidade, e que muito surpresa, deixou-a cair ao chão, originando o monte de nome Licábetos. Atena correu até a criança e, pegando-a nos braços, levou-a até seu templo e ali pessoalmente passou a criá-la. E a serpente seguiu-a.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 05:15

O susto de Atena fez a gralha branca mudar de cor, tornando-se negra, e assim ficaram todas as gralhas depois dela. E nunca mais essas aves voltaram a habitar a Acrópole. Ao invés, as corujas passaram a merecer a simpatia dos atenienses, e seus grandes olhos passaram a simbolizar a sabedoria e a reflexão.

A deusa concebeu tal afeto por Pândrose, que não somente lhe confiou a educação do pequeno Erictônios, como também exigiu que Pândrose, após a morte, recebesse as honras divinas dos seus compatriotas. O que haveria de acontecer quando Erictônios se tornasse rei. E Cécrops, o filho legítimo da Terra, foi o primeiro a reconhecer a paternidade. E adotou o novo ser.

Cécrops governou sabiamente a Cecrópia. Construiu templos a Atena, aboliu certos sacrifícios sangrentos em favor das oferendas feitas com bolos de cevada e instituiu a monogamia.

Depois de cinqüenta anos de governo sobre a Ática, finalmente desceu ao Mundo dos Mortos o grande Cécrops. O lugar de seu túmulo foi mais um sinal de sua relação íntima com a divina Atena. Ficava dentro do recinto mais sagrado da deusa, onde ficava também o lugar em que surgiu a primeira oliveira. Foi demasiado importante, tanto que, ao ser construído o Templo no mesmo sítio, o túmulo, então chamado Cecrópion, teve que ser protegido e mantido intacto. E ali permaneceu Cécrops, a cobra, “a vigia da deusa”.

Crânaos (Kranaos), “pétreo”, até então uma autoridade no governo de seu filho Cólenos, Acteus e Cécrops, agora tornava-se, em plena velhice, o novo e segundo rei de Cecrópia, o sexto da velha Anagyrous. Logo, Crânaos mudaria o nome da região para Kranaia, tirado de seu nome, e Atthis, em honra de seu filho Átis.

Aglaura, ao morrer, deixou órfã a filha, que tivera do deus Áres. Álcipe viveu na casa de seu avô Cécrops até Crânaos ocupar o trono de Cecrópia.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 05:15

Certo dia, Halirrócios, jovem filho de Posseidon e da ninfa Êurite, aproveitando um momento de fragilidade da virgem Álcipe, resolveu violentá-la, já que a moça não se decidia em aceitá-lo. E, impiedosamente, usou a força para satisfazer seus desejos. O que causou a fúria do deus da guerra. Halirrócios conheceu a Morte.

Nesta época, nascia um filho de Crânaos chamado Raros.

Anfictíon, filho do grande Deucálion, destronou Crânaos de Cecrópia e expulsou do reino o filho deste, Cólenos, que foi estabelecer-se em Mirrina, onde consagrou um santuário a Ártemis-Colênis. Em seguida, tomou a filha do soberano, uniu-se a ela e teve dois filhos: Ítonos e Lócros.

A velha Anagyrous, então, em honra de Atenas, deixou de ser a cidade de Cécrops para tornar-se Atenas. Mas a região ainda levava os nomes de Cecrópia, Kranaia e Atthis, de seus reis anteriores. Por isso, para honrar Poseidon, passou a chamar a região de Possidônia, em homenagem ao deus Poseidon.

Anfictíon fundou a Anfictiônia, associação religiosa que reunia periodicamente os enviados das doze maiores cidades da Hélade. Na primavera, reunia-se com os representantes em Delfos, e no outono em Antéia, perto das Termópilas.

Foi no reinado de Anfictíon, o rei de Atenas, que Dionisos, acompanhado por Deméter, visitou pela primeira vez a Ática, mostrando assim que o cultivo da vinha e do trigo foram precedidos pelo da oliveira, que Atena ensinara ao povo no momento em que surgia a cidade do rei Cécrops. Porém, o uso da cultura foi abafado.

Quando Erictônios se tornou rei da então Atenas, após destronar Anfictíon, uma das primeiras coisas que fez, logo depois que Pândrose, sua ama, morreu, satisfez o desejo de Atena de honrá-la como deusa; mas, associando no seu reconhecimento a filha de Cécrops e a deusa que o havia protegido, elevou um templo em duas partes, uma das quais foi dedicada a Atena e outra a Pândrose. Tal construção, séculos depois, seria queimada pelos persas, como todos os monumentos de Atenas.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 05:16

Com a ajuda de Atena, Erictônios construiu o primeiro carro puxado a cavalo, que Poseidon havia feito surgir e Atena domado, descobriu um modo para refinar a prata e cunhou a primeira moeda.

Depois, decidiu contrair matrimônio, e casou-se com a ninfa Praxitéia, com a qual teve quatro filhas e um filho, Pandíon.

O rei Erictônios, de Atenas, alegrava-se muito com sua bela filha, chamada Creúsa. Era um encanto. E Creúsa colhia flores, naquele dia ensolarado. E encontrou, numa profunda caverna próxima de Atenas, lindos botões de açafrão.

— Pronto, meu cesto já está tão abarrotado de botões que já posso voltar para casa; nem Prócris nem Orítia jamais colheram tantos em suas vidas.

Creúsa já se preparava para sair da profunda caverna quando foi brutalmente agarrada por um jovem que surgira do nada. Ele era divinamente belo, mas Creúsa não teve tempo de perceber isto, tal o inesperado ataque do jovem, que fez os açafrões voarem para todos os lados, enfeitando de amarelo as rochas da caverna. Gritou por socorro, chamando por sua mãe e pelas irmãs, mas em vão, pois o viril deus Apolo já a arrastava brutalmente de volta para a caverna escura.

Creúsa lutou com todas as suas forças, cheia de aversão e repulsa, mas os seus esforços resultaram inúteis diante da força e da perspicácia do deus. Alguns minutos depois estava a sós com seu ódio e sua vergonha. Sentia-se tão aviltada em seu corpo quanto em sua alma. A partir daquele dia seu desprezo pelo deus estendeu-se a todos os mortais, e aumentou ainda mais quando descobriu que esperava um filho daquele funesto relacionamento e quando Apolo nem por isso se abalou para auxiliá-la em sua terrível e solitária gestação.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 05:17

Os meses passavam, e a jovem, disfarçando a gravidez entre as dobras de seus longos e complicados vestidos, nada contou, nem à própria mãe. Mas começou a tecer um manto para abrigar a futuro ser que teria. Não podia prever qual seria a reação dos pais; ouvira muitas histórias de jovens que acabaram sendo mortas, simplesmente, ou expulsas de casa. Assim, quando viu que não conseguiria mais esconder, procurou isolar-se, e desapareceu por um tempo, até completar a gestação. Então, mais tarde, voltaria para casa com alguma desculpa qualquer. E assim, quando sentiu que o bebê ia nascer, voltou à caverna e ali deu à luz o seu filho. Com a criança nos braços, ficou um tempo a admirá-la, sem saber o que fazer; mas passado o choque do parto que fizera sozinha, limpou a criança e envolveu-a nas roupas que havia tecido para este propósito. E, para que a criança não ficasse irreconhecível, enfeitou-a com as jóias que usara quando menina. Pôs na cabeça da criança uma pequena coroa de oliveira, depois depositou-a numa cesta e cobriu-a com sua bela capa e partiu, deixando-a ali, temendo a ira de seu pai. Esperava que o deus se apiedasse da criança abandonada.

Apolo, que não ignorava o nascimento de seu filho e não queria trair sua amada nem deixar a criança desamparada, pediu a ajuda de seu irmão Hermes, o mensageiro dos deuses, que trafegava invisível entre o Céu e a Terra.

— Querido irmão, uma mortal me deu um filho. É a filha do rei Erictônios, de Atenas. Por medo de seu pai, ela o escondeu numa caverna, dentro de um rochedo. Ajuda-me a salvá-lo. Traze-o, dentro da cesta onde ele está e com as fraldas que o vestem, para o meu oráculo em Delfos, e deixa-o na entrada do Templo. Cuidarei do resto, pois ele é meu filho.

No meio da noite, Hermes, o deus alado, apressou-se em chegar a Atenas, encontrou o menino no lugar designado, levou-o para Delfos na cestinha de vime e deixou-o a porta do Templo, abrindo a tampa do cesto para que a criança fosse vista.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 05:17

Na manhã seguinte, quando o Sol raiava, a sacerdotisa de Delfos aproximou-se do Templo e, quando estava prestes a entrar, chamou-lhe a atenção a criança, que dormia na cestinha. Achou que se tratava de um crime e já estava pronta para afastar a criança da porta sagrada quando a piedade assenhoreou-se dela, pois o deus lhe tocara o coração. A profetisa então tirou a criança da cesta e levou-a consigo, e deu-lhe sustento, sem lhe conhecer nem o pai nem a mãe. O menino cresceu brincando no altar de seu pai.

Creúsa andava sem rumo, com muitas dúvidas, se voltasse para casa, o que diria para seus pais, como estaria a criança abandonada, se deveria assumir a responsabilidade e levá-la ao rei seu pai, se falasse a verdade ou a esconderia... Até que, arrependida, retornou aos prantos à caverna para resgatar o pobre inocente, que havia deixado entregue à própria sorte. Porém, quando chegou, o bebê não estava lá.

— Oh, deuses, não!

Seu instinto maternal falava agora com mais força do que o sentimento da vergonha e o medo da morte reunidos.

— Não pode ter sido devorado pelas feras!

E começou a procurar algum indício, algum pedaço de roupa ensanguentada...

— A menos que tenha sido arrebatado por uma águia ou um abutre... Oh, deuses piedosos, o que terá sido feito dele? Por que fui deixá-lo aqui?

E ela, procurando esquecer do que havia acontecido e tudo fazendo para levar uma vida normal, voltou para casa e mentiu para seus pais que havia sido perseguida por alguns homens e teve que se esconder por algum tempo. Então, de volta, prometeu que não mais se afastaria do palácio, até que o Destino lhe outorgasse outra condição.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 05:18

E assim, Erictônios, sentindo o peso da idade, e temendo deixar o mundo dos vivos sem que suas filhas se casassem e tivessem filhos, arranjou casamento para elas, mas já o Destino as havia encaminhado, e seus esposos seriam outros, entre deuses e heróis, pois estavam destinadas a ter uma linhagem ainda mais nobre. Outrossim, somente Orítia ainda não havia se casado, e talvez Erictônios nem pretendesse dela se separar tão cedo, já que precisava de uma de suas filhas ao seu lado na sua velhice.

Porém, um dia, em Atenas, no dia do casamento de Céfalos com a princesa Prócris, semelhante a Sélene, a deusa da lua, todos os atenienses elogiaram-no, declarando-o o mais feliz dos esposos, reinando num cantão, na costa leste, em Tóricos, bem perto da extremidade meridional da península ática. E nas montanhas do interior se estendiam os terrenos de caça dos recém-casados. Mas esta felicidade não haveria de durar muito tempo, e o Destino preparava para o jovem casal um final trágico (TEMA PARA OUTRO POST).

E Erictônios não imaginava, também, que perderia sua filha Orítia (TEMA PARA OUTRO POST), mas desta vez não através da Morte.

Erictônios, então, deixou a Terra e foi-se juntar aos Astros, formando parte da Constelação do Boieiro. Por isso, subiu ao trono seu filho e sucessor Pandíon. Era um homem rico, possuía muitos vinhedos, plantações de oliveiras e culturas de trigo. Este casou-se com uma bela náiade, Zêuxipe, que lhe deu dois filhos gêmeos, Erecteus e Butes, assim como duas filhas, Procne e Filómele.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 05:19

Pandíon, rei de Atenas, foi desafiado pelo senhor de Tebas, Lábdacos, que invadiu suas terras, e resolveu declarar guerra ao reino vizinho. Apesar de corajosa resistência, os atenienses tiveram que recuar para o interior de sua cidade e, nessa situação de emergência, Pandíon teve que enviar seus embaixadores a fim de conseguir reunir forças. Só conseguiu um aliado: Tereus, o agressivo rei trácio que instalara-se em Dáulis, no sopé do Párnassos. Era filho de Áres, deus da guerra. Porém, enquanto a ajuda não chegava, Pandíon travava terrível batalha contra o inimigo de Tebas.

Tereus atravessou o mar rapidamente e chegou ao reino da Ática. E sem perder tempo, comandou seus violentos guerreiros contra os inimigos de Tebas e expulsou-os.

Pandíon, deslumbrado pelo poder de seu aliado, que chegava com seus trácios, dando-lhe a vitória, conseguindo empurrar os invasores de volta para Tebas, quis o rei que pertencesse à sua família e convidou Tereus e seu exército a se fazerem presentes numa grande festa em Atenas.

Tereus, filho do deus Áres, o senhor da Trácia, depois de ter auxiliado as forças de Pandíon contra Lábdacos, rei de Tebas, recebeu de seu aliado a mão de sua filha mais velha, Procne, em casamento.

Mas quem rondou o cortejo nupcial não foi Himeneus, o deus das noivas, nem Héra, a deusa protetora do casamento, nem as belíssimas e alegres Cárites. As terríveis Erínias agitavam lúgubres tochas que tinham sido roubadas de um funeral, e o bufo, ave de mau agouro, sentou-se no telhado da casa onde Tereus se casava com Procne. Sem desconfiar de nada, o jovem casal atravessou o mar alegremente. Agradeceram aos deuses e foram recebidos com júbilo pelos trácios.

Procne, em terra estranha, em Dáulis dos trácios, viveu feliz com seu marido por algum tempo. E quando Procne deu à luz um filho, Ítis, houve festas em toda a Trácia.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 05:19

Cinco anos haviam-se passado desde o casamento, quando Procne, que freqüentemente se sentia só longe de sua terra amada, foi tomada de saudades de sua única irmã, Filómele. Afinal, a monotonia já ameaçava a vida do casal, cujo marido não via mais na esposa a mesma que conhecera há alguns anos. Havia tido um filho e já não se mostrava tão bela quanto antes. Por isso, sentindo na pele todas as mudanças, precisava de sua irmã para confortá-la.

— Procne, por que razão estás tão triste?

— Ah, meu esposo, é por estar longe de minha irmã Filómele a quem tanto amo.

— Sim, assim que pudermos faremos uma visita a teu pai...

— Se tu ainda me amas um pouco, deixa-me viajar para Atenas a fim de buscar minha irmã, ou vai buscá-la tu mesmo. Promete ao meu pai que logo a levarás de volta, pois ele a ama muito e não vai querer ficar muito tempo longe dela.

Tereus pensou um pouco, esboçou um sorriso e lhe disse:

— Está bem, Procne, neste caso irei eu mesmo a Atenas pedir a teu pai para trazê-la., pois tu não podes viajar com nosso filho pequeno.

Procne encheu-se de alegria, e foi ela mesma cuidar das provisões para o seu marido. Como não era viável que ela viajasse com seu filho pequeno, Tereus foi de navio a Atenas, ele mesmo, procurar Filómele, para levá-la consigo para a Trácia. Logo chegou ao porto de Pireus, onde seu sogro lhe deu as boas-vindas. Quando chegaram à cidade, Tereus comunicou ao rei o pedido de sua mulher e garantiu ao rei que zelaria pela rápida volta da filha. Ela então se apresentou, esplêndida, para cumprimentar seu cunhado e fazer mil perguntas sobre a irmã distante. Mas, quando Tereus avistou a linda donzela e cunhada, seu coração se viu acometido de uma paixão intempestiva e ele decidiu possuí-la a qualquer preço.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 05:20

Enquanto essa paixão ilimitada se agitava em seu peito, ele falava dos desejos de sua mulher, que estava morrendo de saudades da irmã, não menos de seu pai. Embora estivesse tramando planos indignos, agia como se fosse um marido carinhoso, e Pandíon o elogiou por isso. Filómele também deixou-se embair e abraçou seu pai, suplicando-lhe que lhe desse o consentimento para fazer a viagem. Com o coração pesaroso, ele consentiu. Filómele agradeceu-lhe e os três entraram no palácio real para se refrescar com um vinho generoso e excelentes iguarias. Depois que o Sol se pôs no horizonte, os três se separaram para descansar.

Éos já reluzia na manhã seguinte. Ao despedir-se, o velho Pandíon apertou a mão do genro e, enquanto as lágrimas se derramavam sobre o seu rosto, disse:

— Meu caro genro, só porque todos vós o desejais é que vos confio minha querida filha. Suplico-te, em nome de teu casamento e de nosso parentesco, em nome dos deuses, que a protejas como um pai amoroso e a mandes logo de volta!

Assim disse ele, beijando a filha. Em seguida lhes deu a mão, mandando as mais cordiais lembranças à outra filha e ao neto de apenas cinco anos de idade. As ondas murmuravam sob os remos, e com as velas infladas, o navio zarpou para o mar aberto.

Logo apareceram as cidades da Trácia. Os barqueiros levaram a nau a um porto seguro e desceram para terra firme. Fatigados da viagem, cada qual correu para a sua casa. Mas Tereus levou Filómele a uma choupana solitária, nas profundezas da floresta, onde trancou a assustada donzela; e quando ela, chorosa, perguntou por sua irmã, o traidor, ostentando falsa tristeza, contou-lhe que Procne morrera e que ele inventara a história do convite para poupar o velho rei Pandíon de semelhante dor. Disse que na verdade a trouxera para fazer dela sua esposa.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 05:20

Não adiantou ela chorar nem gemer. E assim, com lágrimas amargas ela se sujeitou a Tereus, tornando-se sua. Mas não demorou muito para que voltasse à razão, e logo despertaram nela terríveis intuições e dúvidas assustadoras. E pensava:

— Por que Tereus me mantém aqui, longe de seu palácio, como uma prisioneira? Por que não me leva ao seu palácio para ser sua rainha?

Uma vez, quando ela ouvia a conversa de seus criados sem que eles a percebessem, descobriu que Procne estava viva! Seu casamento com Tereus era um crime e ela se tornara a rival de sua própria irmã, a quem imaginava morta. Então foi tomada de uma tristeza indescritível e de ódio mortal pelo traidor. Correu ao seu aposento, gritou-lhe na cara que descobrira toda a verdade e, amaldiçoando-o, jurou divulgar a todo mundo o terrível segredo, sua culpa e sua vergonha. Com isso ela despertou o ódio e ao mesmo tempo o temor de Tereus.

Filómele não parava de importuná-lo e ameaçá-lo. Então, Tereus, furioso, agarrou-a à força, violentou-a e deixou-a aos prantos e inconsolável. E, temendo ainda mais que ela revelasse o rapto, tomou uma decisão demoníaca. Queria estar certo de que ninguém descobriria o seu crime, mas não ousava assassinar a moça indefesa. E, depois de amarrar os braços da infeliz às costas, sacou da espada e ergueu a lâmina como se fosse matá-la. Ela esperava alegremente pelo golpe que daria fim aos seus sofrimentos, mas, no momento em que exclamava dolorosamente o nome de seu pai, ele agarrou sua língua e cortou-a ao meio, arrancando um grito de horror de sua garganta. Agora não precisava mais temer ser denunciado. Indiferente, como se nada tivesse acontecido, abandonou a infeliz aos seus criados mais fiéis, ordenando que a vigiassem rigorosamente. E, por sua vez, regressou ao palácio, para junto de Procne.

— Como! Vieste sozinho? Onde está minha irmã Filómele? Meu pai não a deixou que ela viesse?

Ele suspirou e em meio às lágrimas contou:

— Sim, ela partiu comigo de Atenas, mas adoeceu no caminho e veio a falecer.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 05:21

Procne, cheia de dor, rasgou seu vestido bordado a ouro, vestiu-se de luto, construiu de forma improvisada um túmulo vazio e fez oferendas à alma da irmã morta.

E Filómele permaneceu esquecida.

Assim se passou um ano. Filómele, cruelmente emudecida, ainda vivia. Vigias e paredes a impediam de sair ao ar livre, sua boca estava muda, incapaz de denunciar o ato vergonhoso de que fora vítima. O único contato que tinha com alguém era quando recebia alimento e água através de uma pequena abertura na porta. Mas Filómele, do fundo da masmorra, finalmente descobriu um modo de comunicar-se com sua irmã. No tear que recebera graças a um dos criados compadecido, ela tecia com sinais de cor púrpura um tecido branco retratando o terrível acontecimento. E quando terminou o seu trabalho, ela deu o tecido ao criado, que parecia o mais generoso, suplicando-lhe, através de gestos, que o entregasse de presente à rainha Procne. Sem saber o que estava fazendo, o criado atendeu. E foi para o palácio. Encontrando Tereus, apenas lhe disse que se tratava de um presente para a rainha. E Procne recebeu a tela das mãos de seu próprio marido, que não sabia do que se tratava. Procne desembrulhou o tecido e leu nele o terrível segredo. Ao observar melhor os desenhos que continham, entendeu o que se passava e compreendeu a horrível natureza de Tereus. Mas de sua boca não saiu sequer um suspiro e ela não derramou uma só lágrima — sua dor era grande demais. Só lhe restava um pensamento: vingança, vingança terrível contra o criminoso. E adiou sua vingança para a noite das Festas Dionisíacas.
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