A Saga de Enéias

Depois de conquistarem toda a Itália, os romanos se expandiram pelas nações adjacentes e chegaram finalmente às terras longínquas da Ásia e da África. As Ilhas Britânicas foram uma de suas últimas conquistas. Apesar dos belos monumentos que deixaram, em todas as regiões dominadas, foram, porém, seus rígidos princípios de direito e justiça a herança maior que serviu de modelo para a humanidade em tempos futuros.

FIM

É difícil separar as mitologias Grega e Romana, pois elas têm uma forte relação histórico-cultural, apesar dos nomes de seus deuses serem diferentes, mas basicamente querem dizer a mesma coisa. Por isso que tratamos o assunto por Mitologia Greco-romana justamente pela sua íntima relação cultural.

Os troianos não eram exatamente gregos, Trôade não era uma colônia helênica. Tinha, em parte, sua origem na Itália e em Creta, mas, como uma cidade grande para a época e um polo de comunicação entre povos diversos, Tróia reuniu em torno de si e dentro de suas muralhas outras origens, como hititas, frígios, míssios e meônios. Portanto, Tróia falava muitas línguas, mas de modo geral cultuava as mesmas divindades trazidas de Creta por Escamandros e Teucros.

Já li a ENEIDA. É uma história incrível. Nos momentos finais do livro eu já estava quase que lendo de pé, tamanha a minha empolgação na leitura. Não é brincadeira não, é verdade!
Você sabe se existe algum filme sobre a Eneida?

Há um filme antigo chamado "A guerra de Tróia", e o personagem principal do filme é ENÉIAS. Não sei o ano que foi produzido, tenho em VHS. Mas sobre a Eneida, propriamente dita, acho que ainda não fizeram algum filme.

A herança e a descendência de Enéias

Este mito refere-se basicamente à lenda de Rômulo e Remo, que teriam como antepassado o herói Enéias, famoso príncipe troiano destacado nos últimos anos de guerra contra os invasores gregos em defesa dos muros de Tróia.

Existem algumas lendas e histórias romanas que fazem jus de serem mencionadas junto com os mitos gregos (ou helênicos), assim como houveram tantos mitos como assírios, macedônicos, babilônicos, egípcios e fenícios igualmente mencionados e assimilados pela cultura grega.

A DESCENDÊNCIA DE ENÉIAS

Enéias, sobrevivente entre os príncipes de Tróia, conduziu um grande contingente de troianos, dárdanos e aliados para além do mar Egeus, rumo a uma terra prometida, de seus antepassados. Errante, a frota sobrevivente singrou os mares. Enéias conduzia entre tantos seu velho pai Anquises e seu filhinho Ascânios. Além de Ascânios, que tivera com sua antiga esposa, Creúsa, o herói dos troianos teve também filhos com uma princesa italiana, Lavínia, assim que derrotou as forças rútulas do príncipe Turnos. Dessa união nasceram Sílvio, Rómus e um filha, Emília.

Enéias, entretanto, tinha vários inimigos. Grande parte dos antigos chefes, vencidos nas numerosas batalhas, ansiavam por vingança. A outros repugnava ter como governante um estrangeiro. Aos poucos os descontentes se reuniram e acabaram formando um grande exército que marchou contra sua nova cidade, que chamou de Lavínion, em honra de sua esposa Lavínia. Enéias saiu com as suas tropas ao encontro dos atacantes e infligiu-lhes terrível derrota, mas não regressou à cidade.

Diziam alguns que tinha morrido afogado num rio que desembocava no mar, perto do campo de batalha; outros asseguravam que havia sido levado pela deusa Afrodite. O fato é que nunca mais foi visto por ninguém.

A princesa Lavínia havia tido então um filho primogênito de Enéias, e Ascânios resolveu deixar a cidade de Lavínion para o irmãozinho e construir outra povoação para si. Era grande, aliás, o número de troianos, latinos, etruscos e gregos oriundos da cidade do rei Evandros, e um só lugar se tornava insuficiente para abrigar tanta gente. Lavínia ficou governando a cidade que tinha seu nome, até que o filho atingisse a maioridade, e Ascânios, cerca de trinta anos após a fundação de Lavínion, fundou outra cidade, aos pés do monte Albano, à qual chamou Alba. E os latinos (aborígines e troianos) uniram-se, por tratados, aos etruscos.

Pouco depois, morreu muito velho o rei Evandros e, como não deixasse herdeiros, a pequena cidade de Palanteus, construída entre as sete colinas junto do Tiberis, ficou rapidamente deserta, com a mudança de seus habitantes para Alba ou para Lavínion.

Durante longo tempo, o lugar onde ficava Palanteus ficou desabitado, e a cidade ficou exposta à ruína. Depois de muito tempo, o monte no qual havia-se erguido, passou a levar o nome de Palatino. Mais tarde, ali mesmo, nessa região do Palatino, se ergueria uma cidade com fama de “eterna”.

Ascânios teve por filhos Emilos, Rómus e Íulos, que viria a ocupar o governo de Alba, que, crescendo sempre, para ambos os extremos, passou a chamar-se Alba-a-Longa. Quanto a Emilos, a família patrícia dos Emílios pretendeu descender deste lendário rei.

Depois de Íulos, reinaram em Alba seu meio-irmão Rêmulos Sílvios, Enéias, Latinos e Alba.

Havia um rei da Lídia, que era bisneto de Héracles e filho de rei Alceus e de Cótis. Seu nome era Átis, o primeiro rei da Segunda Dinastia dos lídios. Ele, mantendo-se neutro à guerra que se fazia em Tróia contra a invasão dos gregos, visto que não lutaria contra seus parentes, havia decidido partir da Lídia, levando sua família para a Itália, aonde reinaria, mais tarde, como sétimo rei de Alba, no Lácio. Seu filho Tirrenos havia-se tornado companheiro de Ascânios, filho de Enéias, o chefe dos troianos.

Então, depois de Átis, reinaram Cápis, Cápetos e Tiberinos. Logo, surgiu Agripa, filho de Tiberinos, e seu neto, Rômulos Sílvios, que foi morto por um raio. A coroa passou a Aventinos, sepultado na colina mais tarde conhecida pelo seu nome.

Depois veio Sílvios Procas, que teve dois filhos, Númitor e Amúlio. Númitor foi o último dos reis albanos.

Vários anos mais tarde, um vilarejo começou lentamente a crescer e a espalhar-se pelas cercanias da velha Palanteus. Era um sítio tranqüilo, não perturbado por terremotos, pois estes não atingiam o vale do Tiberis. E muita gente que se achava em dificuldade em outras cidades ficava contente por encontrar um refúgio seguro naquela pacífica localidade do outro lado do rio.

Mais tarde, um importante acontecimento histórico ali começou a se desenrolar, exatamente como fora previsto pelo deus Hefaístos e ficara gravado no escudo de Enéias.

RÔMULO E REMO

Era o século VIII a.C., e os latinos chegaram às margens do rio Tibre, onde ergueram vários pequenos povoados. E subia ao trono de Alba-a-Longa o notável Númitor. Porém, Amúlio, irmão menor do novo rei, mediante uma conspiração, depôs Númitor do trono, expulsou-o do reino, matou a todos os seus filhos varões, e declarou-se rei de Alba-a-Longa, obrigando Réa Sílvia (Ília), única filha do irmão, a tornar-se Vestal, sacerdotisa de Vesta (a Héstia dos gregos), temendo que esta tivesse descendentes que viessem a prejudicá-lo mais tarde. Com isso, ela não poderia se casar nem ter filhos, sob pena de severo castigo, e assim se sucedeu durante trinta anos.

A vestal Réa Sílvia, filha de Númitor, o rei deposto, foi à fonte buscar água para lavar os objetos para o rito. Cansada, sentou-se no chão para refrescar-se com o peito descoberto, de modo que a sombra da árvore, o canto dos pássaros e os ruídos da água lhe causaram profundo sono. O deus Áres (ou Marte) por ela se apaixonou e a possuiu, usando seus poderes para ocultar o ultraje.

Sem realmente o saber, as Vestais trataram de explicar a gravidez de Réa Sílvia, e para que não fosse tão grave, se difundiu o rumor de que havia sido um deus. Porém, quando Amúlio soube do acontecido, já que sua gravidez não poderia ser oculta por muito tempo, meteu-a na prisão até o término da gravidez. As Vestais, inteiramente consagradas ao culto divino, sabiam que não podiam casar nem ter filhos, sob pena de morte. E esta foi a sorte de Réa Sílvia. Segundo as tradições do país, a infeliz foi enterrada viva e os filhos, que eram gêmeos, atirados ao Tiberis (Tibre).

Mas o servo, que devia executar a ordem, pusera o cesto, onde se encontravam os dois meninos, sobre as águas do rio, em época de enchente. O cesto encalhou entre os caniços das margens, ao pé do Palatino, e os pequenos foram encontrados por uma loba, que, enviada pelo deus Marte, ao invés de dilacerá-los, amamentou-os.

Mais tarde, o pastor Fáustolos recolheu-os, levou-os para sua choupana e criou-os como filhos, junto de sua esposa Aca Laurência, que no passado havia sido uma prostituta, e chamou-os Remo e Rômulo. Aca amava-os como seus filhos, mas Faústolos tinha sérias suspeitas de que se tratassem dos filhos de Réa Sílvia, ou seja, eram de estirpe real, e temia que um dia iria perdê-los.

A DISPUTA ENTRE RÔMULO E REMO

Ao chegarem à idade adulta, Remo e Rômulo conheceram sua origem através de seu pai, o deus Áres (Marte), e em seus corações acendeu-se o desejo de vingar-se do usurpador. à frente de um grupo de jovens guerreiros, assaltaram o palácio, mataram Amúlio e reconduziram ao trono Númitor, que desde longos anos mofava como prisioneiro.

Os jovens heróis desejaram, então, ser independentes, e conceberam a ideia de fundar uma cidade no mesmo lugar onde haviam sido amamentados pela loba, entre duas colinas. Ademais, a população havia aumentado consideravelmente, inclusive os pastores da região haviam resolvido mudar-se para Alba. Tanto Lavínion como Alba haviam ficado pequenas para tanta gente. Por isso, Númitor doou aos netos uma área de terra junto à margem esquerda do Tibre, não distante do ponto em que o pastor Fáustolos os encontrara quando meninos. Naquele lugar haveriam de construir uma nova cidade.

A primeira dificuldade se deu porque queriam mandar os dois. Rômulo e Remo eram gêmeos, e ambos tinham os mesmos direitos de primogenitura. A solução buscaram nos deuses: fariam sacrifícios às divindades protetoras do país, que por meio de sinais, os augúrios, indicaram sua vontade. Um dos dois seria o rei, e este haveria de dar o seu nome à nova cidade.

Rômulo desejava construí-la sobre o Palatino, mas Remos sobre o Aventino, mais ao leste e mais perto do rio. Mas este acabou cedendo. E os dois irmãos puseram mãos à obra, demarcando, antes de tudo, os limites da nova cidade. Era o dia 21 de abril do ano 753 a.C.

Como ambos desejassem dar o próprio nome à cidade, resolveram interpretar a vontade dos deuses, estabelecendo que aquele dos dois que visse voando maior número de pássaros seria o escolhido. Subiram a dois morros diferentes: Remo foi para o Aventino e viu sete abutres que lá pousaram. No momento em que iam anunciar que Remo havia sido favorecido, Rômulo, sobre o Palatino, avistou doze abutres, e ali pousaram, como um sinal mais importante. E Rômulo começou a demarcar o Pomerium, recinto sagrado da cidade que haveria de nascer. A cidade, de Rômulo, passaria a chamar-se Roma, “cidade do rio”, já que Rumo era um antigo nome dado ao Tiberis (o Tibre).

Remo, despeitado porque acreditava ser o vencedor, por ter sido o primeiro favorecido, não deu o braço a torcer. Foi logo tomando o arado tirado por um cavalo e um boi, ambos alvos como a Aurora, e começou a produzir sulcos para delimitar a extensão de sua cidade, bem como o costume dos tirrenos, seus vizinhos. Começou com uma simples discussão, e acabou com censuras e provocações. Remo largou o arado e foi apanhar pedras para erguer os muros que rodeariam o Septimontium, as sete colinas que a região abrangia. E Rômulo fez o mesmo. Devido à vitória que considerava injusta do irmão, Remo ultrapassou, em gesto de desprezo, o sulco, insultando-o publicamente; porém Rômulo, tomado de cólera, atravessou-lhe a espada, demonstrando, assim, que a ninguém era permitido ultrajar Roma. E disse-lhe:

— Assim farei sempre que alguém tente invadir o que é meu.

Em seguida, enterrou-o no Aventino.

Quando tudo ficou pronto, Rômulo notou que o lugar só era um trecho de pântano e mata. Rômulo, preocupado em povoar a localidade, criou o Capitólio e acolheu os primeiros habitantes em seu pequeno povoado: eram bandidos obrigados a fugirem de suas terras, pastores sem morada fixa, homens rudes e ferozes. Foram esses os primeiros romanos, os progenitores daquele povo que iria conquistar o mundo.

Rômulo realizou sacrifícios a muitos deuses segundo a maneira e o rito dos albanos, mas os sacrifícios a Hércules (o Héracles grego) os levou a cabo segundo o rito grego, como o havia instituído o antigo rei Evandros. E este foi o único culto estrangeiro que adotou Rômulo, como predizendo a imortalidade a que estava chamado.

Rômulo havia fundado uma cidade sem habitantes. Para isso, não teve outra ideia senão convertê-la em lugar de asilo, reunindo-se a ele fugitivos e mendigos. Dessa forma, reuniu-se em Roma uma multidão de pessoas de toda classe e condição, mas todos do sexo masculino. Os primeiros habitantes foram os latinos e os sabinos. Reuniram-se, vindos de todos os quatro cantos da Itália, acamparam no Palatino, fortificaram-no e, depois, lançaram-se a atacar os mercadores transeuntes, enquanto que no Aventino crescia uma colônia de pacíficos lavradores sabinos, lado a lado com os romanos. Viviam com suas mulheres e filhos, constantemente aterrorizados pelos seus turbulentos vizinhos.

Nessa época, já havia sido realizada a primeira Olimpíada, na Grécia; governava o Egito o Faraó Kashta ou Nimaatre; os chineses já haviam inventado a xilografia; havia nascido em Judá, sob o reinado de Amasias, um menino chamado Isaías, destinado a ser um grande profeta.

Rômulo tornou-se, assim, o primeiro rei de Roma, e dedicou-se também às tarefas de paz. Dividiu a população em tribos e fez-se assistir por uma assembléia, denominada “senado”, pois era constituída de cidadãos já de idade avançada.

Rômulo instituiu ministros da religião romana, e chamou-os Arúspices, que estavam encarregados de examinar as entranhas das vítimas do sacrifício aos deuses, a fim de tirar os presságios. Esse gênero de divinação havia sido ensinado aos romanos pelos etruscos (tirrenos).

Foi instituído um calendário pelos romanos, que era estritamente lunar pelo que não correspondia com as estações. Era o Calendário de Rômulo, que ele havia criado no mesmo ano da fundação de Roma. O ano se iniciava com o equinócio da Primavera e tinha dez meses, cuja duração alternava trinta e trinta-e-um dias. Estes meses não encaixavam com nenhum ciclo astronômico nem sequer de maneira aproximada. E ao primeiro mês do ano chamou Março, em honra a seu divino pai.

O RAPTO DAS SABINAS

Havia uma cortesã chamada Aca, que, sorrateiramente, havia passado uma noite no Templo de Hércules; o deus de tal maneira agradou-se da moça que, querendo recompensá-la, prometeu-lhe fazê-la feliz com a primeira pessoa que encontrasse ao deixar o santuário. Tácio, homem rico e poderoso, foi a primeira pessoa que Aca viu ao sair do templo. Tornou-se Tácio tão perdidamente apaixonado por ela, que a desposou imediatamente.

A população da recém-nascida Roma era formada exclusivamente por homens. Se deram conta disso, e perceberam que em tais circunstâncias a cidade não duraria mais do que durassem seus habitantes. Então, decidiram mandar embaixadores aos povos vizinhos, para estabelecer contatos matrimoniais, dando-lhes a entender que seria muito bom para todos estabelecer um parentesco com os romanos. Assim que se apresentaram os embaixadores nas aldeias e cidades ao redor, transmitiam:

— Todas as cidades nascem do zero, mas se fazem importantes as que contam com o apoio dos deuses e com o valor de seus habitantes. Já se sabe que os deuses estiveram presentes na origem de Roma, e a seus habitantes não lhes falta o valor. Portanto, seria uma honra para os que quiserem mesclar seu sangue com o sangue romano.

Todos se olhavam e, diante desta embaixada tão soberba, ninguém quis saber de matrimônios. Houveram os que agiram de forma inesperada, expulsando-os de sua cidade. Outros preferiram apenas insultá-los:

— Por que não abris também um lugar de asilo para as mulheres? Dessa forma, teríeis matrimônios com pessoas de vossa mesma condição.

— É, ide embora. Desde que fundastes a vossa cidade, respiramos mais aliviados, porque os bandidos têm sumido.

Aos romanos, então, cheios de mágoa, maquinaram outras estratégias, pois estava em jogo a sobrevivência de sua cidade e de sua raça.

Então, Rômulo organizou uma festa em honra de Netuno-Equestre (o Poseidon dos gregos), chamados Ludi Consuales, os Jogos Consuales. Como era de supor, convidou para esta as famílias do povo limítrofe, os sabinos, num lugar fora da cidade, e veio gente de Cenina, Costumeria e Antemnes. Da Sabínia praticamente se apresentaram todos, com suas mulheres e filhos. Já o povo de Alba se recusou a comparecer.

Os visitantes ficaram boquiabertos ao ver como havia prosperado tanto uma cidade em tão pouco tempo. Começaram os jogos, e, quando estavam mais animados do que nunca os convivas, Rômulo fez sinal aos romanos, e estes atiraram-se para cima das moças sabinas e, entre o espanto dos sabinos, levaram-nas rapidamente a galope para sua cidade. E as mais belas foram separadas em Roma para os altos cargos da cidade. E os sabinos, ainda bêbados e mal recuperados, tentaram persegui-los, mas fecharam-se as portas de Roma, e tiveram que recuar derrotados, acusando os romanos de haver rompido o pacto da hospitalidade.

Os romanos tiveram que convencer as mulheres de que o que haviam feito era o melhor que lhes podia ter acontecido. Em primeiro lugar, devido à soberba de seus pais, que não aceitaram os contatos matrimoniais com Roma, propiciando esse rapto. Ademais, haviam sido raptadas para o matrimônio, de maneira que iam receber um tratamento correto e haveriam de compartilhar todos os bens, e, sobretudo, os filhos, que por certo as que eram mães iriam recuperar. Por outro lado, como não poderiam votar contra ou a favor, deveriam suportar de boa vontade ao que havia sido começado pela força. Os romanos as fariam esquecer de sua cidade e seus familiares.

Os romanos se portaram admiravelmente com elas, de forma diferente, talvez ousada, mas ao mesmo tempo se mostraram apaixonados e ardentes, de forma que o sentimento das mulheres foi mudando aos poucos.

Os sabinos atuaram com astúcia e valeram-se da traição. à frente da guarnição de Roma estava Spurio Tarpeyo, que tivera com uma dama romana uma filha chamada Tarpeya. Os assaltantes se puseram em contato com ela e lograram que lhes facilitasse a entrada. Uma noite, saiu Tarpeya como para ir apanhar água, pois necessitava para os sacrifícios, e junto com ela entraram muitos guerreiros sabinos. E mataram-na ali mesmo, cobrindo-a com seus escudos. Conta-se que quando os sabinos lhe perguntaram qual seria o preço de sua traição, pediu-lhes o que tinham no braço esquerdo. Ela se referia aos seus braceletes de ouro, mas não se deu conta de que era o mesmo braço em que levavam os escudos, e, atirando-os para ela, mataram-na. E um deles falou:

—Que isto sirva de exemplo aos traidores, que jamais devem ser confiados.

Os sabinos ocuparam a cidadela e num primeiro ataque puseram em fuga os romanos, tendo a frente Hostius Hostilius. Na segunda fila estava o próprio Rômulo junto à porta do Palatino. Ali reuniu aos que fugiam , e invocou a Júpiter levantando as mãos para o Céu:

— Oh, Júpiter! Pus a perder a proteção desta cidade. Os sabinos ocupam o Capitólio e vêm contra nós. Salva-nos! Tira o temor dos corações de nossas tropas. Aqui mesmo, donde nos fizeres forte e pararmos nossos inimigos, te prometo que levantarei um templo em honra de Júpiter-Stator!

Então, se voltou para os romanos e lhes disse:

— Romanos! Júpiter nos ouviu e nos manda resistir e sair para a luta!

Neste lugar se deu o encontro dos sabinos que voltavam da cidadela com as tropas de Rômulo. E pareceu que a batalha se inclinava do lado dos romanos.

Nesse momento, apareceram trinta mulheres sabinas, motivo principal daquela guerra insana. Se apresentaram com os cabelos revoltos, com suas vestes amarrotadas, em meio à batalha sem temer as flechas que zuniam acima delas. Intrometeram-se entre os pais e os maridos, seus raptores, e uma delas tomou a frente:

— Que estais fazendo? Devemos ficar sem pais e sem maridos no mesmo dia? Quereis que nossos filhos vivam órfãos de pais e avós? Porque nossos filhos são filhos dos romanos, mas netos dos sabinos. Se vos envergonhais por termos casado com os romanos, nós é que somos culpadas. Tirai nossas vidas, porque preferimos morrer a ficarmos viúvas e órfãs ao mesmo tempo!

Fez-se silêncio repentino, e, aos poucos, as armas foram caindo por terra. Acabaram confraternizando e resolveram fundir-se num só povo, embora conservando cada qual o seu próprio rei. Rômulo do lado dos romanos e Tito Tácio do lado dos sabinos, ainda que Roma se tornasse a sede do reino. A população se dividiu em trinta cúrias, cada qual tirada do nome das mulheres que haviam parado a guerra. Rômulo fez dos romanos um grande povo com suas instituições e sua personalidade própria.

Mas Tito Tácio, que era rei dos sabinos, foi morto, e Rômulo passou a reinar sozinho. Estava, porém, convencionado que, ao morrer este, seria eleito um rei sabino, depois de haver assegurado um período de paz de mais de quarenta anos. Quando, em 715 a.C., durante uma revista militar, na planície que havia perto do Pântano das Cabras, desabou uma tremenda tempestade, com muitos raios e trovões, ficando Rômulo no centro da tormenta. E ele desapareceu misteriosamente.

No dia seguinte, o céu serenou.

— Que houve? Onde está Rômulo?

O trono estava vazio. E os patrícios começaram a crer que Rômulo havia sido levado pela tormenta. Espalhava-se a notícia de que ele tinha sido assassinado pelos seus inimigos políticos e o despedaçaram para que não fosse encontrado o seu corpo. Era esta uma atitude freqüente na época helenística em que se manifestava a hostilidade existente entre os aristocratas e os tiranos. Este rumor se estendeu, mas ninguém se atreveu a expressá-lo abertamente. Ainda assim, haviam os que acreditavam em sua divina ascensão.

— Viva Rômulo, filho dos deuses!

— Viva Rômulo, rei e pai da cidade de Roma!

E convenceram-se de que ele havia-os deixado por seu povo e seus filhos.

No entanto, ocorreu um feito que fez que se abandonasse definitivamente o temor e a ideia de conspiração. Um certo Próculos Júlio se apresentou diante da multidão angustiada, e falou:

— Romanos! Rômulo, nosso pai, baixou do céu esta manhã, eu o vi. Me enchi de temor e respeito, e eu não ousava encará-lo. Porém, ele me falou desta maneira: “Vê e anuncia aos romanos que a vontade dos deuses que Roma seja a capital do mundo.” Falou-me que devemos nos tornar peritos na arte militar para demonstrar a todos que não há quem possa vencer os romanos, e que nenhuma obra humana seja invencível em relação às nossas armas.

O povo murmurou, e ele continuou:

— Depois que me disse estas coisas, desapareceu, elevando-se ao céu.

E os senadores, ouvindo isso, convenceram-se que o deus Marte o havia raptado em um carro de fogo, levando-o para o Céu. A confiança voltou ao coração do povo, e, a partir de então, ninguém mais duvidou de que Rômulo vivia como um imortal. Foi considerado o deus protetor da cidade e adorado sob o nome de Quirinus, simbolizado por uma lança com a lâmina voltada para cima.

NUMA POMPÍLIO, O SUCESSOR DE RÔMULO

O novo rei sabino foi Numa Pompílio: religioso e pacífico, ele deu sábias leis ao seu povo, instituiu o Colégio dos Pontífices e erigiu um templo em honra ao deus Janos, cujas portas permaneceriam fechadas durante o tempo de paz e abrir-se-iam em tempo de guerra. E escolheu virgens de Roma para sacerdotisas da deusa Vesta, e Canuléa a primeira entre elas.

Além de inúmeras obras importantes, Numa instituiu outras tantas festas em honra dos deuses, chamados pelos romanos Consentes, enquanto os gregos chamavam-nos de Olímpicos. A Júpiter (o Zeus dos gregos) instituiu as Diálias, enquanto o sacerdote do deus era chamado Dialis flamen, que ocupava o primeiro lugar entre os sacerdotes e gozava de prerrogativas muito extensas.

Numa, baseando-se no calendário dos gregos, modificou o Calendário de Rômulo, criando um período de 354 ou 355 dias (doze lunações). Criou dois meses a mais no ano e pô-los no final: “januarius” (dedicado a Janos) e “februarius” (dedicado a Plutão, o Hades grego). Cada um se compunha de vinte-e-oito dias, e posteriormente pôs um dia mais a “januarius”.

Os assírios do rei Sargon II, há muito tempo, já haviam saqueado e destruído Samária, em Israel. Reinava no Egito o faraó Shabaka (ou Neferkare), quando, no ano 48 da fundação de Roma, 706 anos antes de Jesus Cristo, a peste se estendeu por toda a Itália e não cessou até que se viu cair do céu um escudo de cobre.

Ancile era o nome de um escudo sagrado, chanfrado de ambos os lados, que havia caído do Céu, e ao qual estavam ligados os destinos de Roma. Numa Pompílio foi consultar a ninfa Egéria, que lhe preveniu conservar o escudo intacto, o que dependia a sorte do Império pois seria a égide de Roma contra todas as suas desgraças. Diante deste anúncio, Numa Pompílio fez construir onze escudos iguais a fim de que não fosse reconhecido o original se alguém quisesse roubá-lo. A custódia destes doze escudos foi confiada a doze sacerdotes de Marte aos que se lhes chamava “Salicus Palatius”, ou simplesmente Sálios, e para os grandes patrícios romanos constituía uma honra poder fazer parte do seu cortejo. Estes sacerdotes, revestidos de pompa, percorriam solenemente pela cidade todos os anos, recitando a Assamenta, a fim de mostrar à multidão os escudos que cada um levava no braço direito, e tal era a religiosidade da festa que enquanto esta durava não se autorizava aos exércitos romanos empreender campanha alguma nem tampouco se consentia a ninguém contrair matrimônio, já que se acreditava que qualquer empresa não podia acarretar nenhum bem.

A partir de então, Numa continuou a visitar Egéria sob o pretexto de ir pedir-lhe conselhos. Na verdade, inteiramente apaixonado, chegou a cortejá-la e tomá-la por esposa. E foram felizes até que Numa morreu, e a ninfa experimentou tão viva dor que não cessou mais de gemer e suspirar. Apiedada, a deusa Ártemis metamorfoseou-a em fonte. Daí, Egéria passou a fazer parte do número das deusas Camenas. Mostra-se ainda hoje, perto da antiga porta Capena, em Roma, no vale de Caffarella, a gruta e a fonte de Egéria.

OS PRÓXIMOS REIS DE ROMA

O terceiro rei de Roma, Tulius Hostilius, foi, ao contrário do segundo, demasiadamente belicoso. Mandou arrasar Alba-a-Longa, depois do combate entre os Horácios e os Curiácios. Os primeiros, três irmãos romanos, deviam enfrentar, em combate, os segundos, que também eram irmãos. Dois dos Horácios já haviam tombado. O supérstite fingiu fugir, e os adversários passaram a persegui-lo. Assim, ele pôde enfrentá-los isoladamente e matá-los, um a um.

Tulius Hostilius, numa de suas contribuições, instituiu a ordem dos Collini, que faziam parte da casta dos sacerdotes Sálios.

O quarto rei de Roma, Anco Márcio, era neto de Numa Pompílio, no tempo em que ainda vivia Aca, viúva do antigo rei Tito Tácio. Foi um rei sábio e pacífico. Mandou construir a cidade e porto de Óstia, a ponte Sublício e o cárcere Mamertino. Protegeu a agricultura e a religião e dilatou o domínio de Roma, reunindo o Aventino à cidade.

Aca, no fim da vida, instituiu o povo romano seu herdeiro universal e por esse motivo seu nome foi inscrito nos fastos e celebrado com festas nas quais Aca recebeu o nome da deusa Flora. As festas levaram o nome de Acálias.

Antes de se proclamar a República, houveram os três últimos reis, e eram etruscos. O primeiro, Tarquínio Prisco, após haver usurpado o trono de Anco Márcio, derrotou os latinos e os sabinos. Mandou construir aquedutos, o Circo Máximo, o Forum e a Cloaca Máxima, e ainda iniciou a construção do Capitólio.

Assassinado o primeiro, subiu ao poder Sérvio Túlio, que foi o primeiro a criar moeda, na Itália, por meio de cunhagem. Ampliou Roma, dando-lhe novas muralhas. Dividiu o povo em tribos, segundo o domicílio; em classes, conforme a fortuna de cada um. Organizou o exército, criou os “comícios centuriais” e o censo que deveria ser realizado de cinco em cinco anos e deu ao povo uma constituição menos dura, o que lhe valeu a inimizade dos patrícios.

Aproveitando-se do descontentamento, o genro, Tarquínio, assassinou-o e tornou-se o último rei de Roma, sob o nome de Tarquínio, o Soberbo. Mandou matar muitos cidadãos e senadores e rodeou-se de um corpo de guardas armados que permaneceram para sempre como símbolo de autoridade e justiça. Quanto às suas obras, terminou a construção do Capitólio e a Cloaca Máxima. E foi deposto pela aristocracia romana.

ROMA, A ETERNA

A História de Roma começou mesmo por um período mais ou menos clássico ou lendário, durante o qual reinaram sete reis sucessivos (de 754 a 510 a.C.).

A República foi proclamada em 510 a.C., quando a população romana era, então, resultante da fusão dos ramnenses (latinos), dos ticienses (sabinos) e dos luceres (etruscos). Os chefes da revolução patrícia foram Brutus e Colatino, e o pretexto foi o ultraje feito por Sexto, filho de Tarquínio, o Soberbo, a Lucrécia, esposa de Colatino. A implantação da República deu lugar à criação de novas funções, tais como o Consulado e a Ditadura. E o primeiro ditador romano foi Tito Laércio, em 498 a.C.

As lutas entre patrícios e plebeus duraram até o ano 300 a.C. Após inúmeras lutas contra os povos vizinhos, como os volscos, os équos, os veios, os galos e os samnitas, e consolidar seu interior, Roma passou à conquista da Itália (296 a 270 a.C.), com a luta contra os tarentinos (estes apoiados por Pirros, rei do Épiros), e, de 264 a 201 a.C., travou as duas guerras púnicas contra Cartago, que só terminaram com a destruição dessa sua grande rival, em 146 a.C. (3ª Guerra Púnica).

A seguir, Roma reduziu a Macedônia, a Síria, a Grécia, o Pérgamos e o Egito a províncias romanas, passando a receber principalmente a influência benéfica dos povos helênicos.

Depois se deu a era de Tibério Graco, de Caio Graco, as guerras civis entre Mário e Silas, a revolta de Espártacos, a conjuração de Catilina, o Primeiro Triunvirato, a luta entre Caio Júlio César e Pompeus, as guerras de Alexandria e contra Farnaces, as guerras da África e da Hispânia. Em 15 de março de 44 a.C., Caio Júlio César foi assassinado por uma conspiração chefiada por Caio Cássio, Marco Brutus e outros senadores. Em seguida, deu-se o Segundo Triunvirato.

Em breve tempo, Roma se tornara senhora do mundo de então e, em 31 a.C., Otávio, seu grande general, foi proclamado imperador (imperatur), sob o nome de Augusto, iniciando a Distastia dos Césares. Com a morte deste (em 14 d.C.), o poder supremo passou aos seus sucessores (Tibério, Calígula, Claúdio, Nero, Galba, Óton e Vitélio, depois Vespasiano, Tito e Domiciano — estes também chamados de Flávios). Então, surgiram os imperadores Antoninos (Nerva, Trajano, Adriano, Antonino Pio, Marco Aurélio e Cômodo), os quais gozaram paz, prosperidade, regularidade administrativa e grande progresso. Até Roma entrar na instabilidade política, iniciando uma crise, sob o reinado dos imperadores Septímio Severo, Caracala, Heliogábalo, Alexandre Severo, Aureliano, Probo, entre outros. Depois surgiu a Tetrarquia, destacando-se o imperador Diocleciano, na chamada “era dos mártires cristãos”, e no ano de 324, sob Constantino, o Império Romano foi unificado, transferindo a capital para Bizâncio, que se chamou Constantinopla. E foi sob o reinado de Teodósio, que o Império definitivamente se dividiu: surgiam o Império Romano do Ocidente, com a capital Roma, e o Império Romano do Oriente, com a capital Constantinopla.

Atualmente capital da Itália, nela está incrustado o menor Estado do mundo, o Vaticano, sede do Chefe Supremo da Cristandade: o Papa. A Cidade Eterna, também denominada de Roma das 7 Colinas, é constituída hoje por doze montes (Janículo, Vaticano, Capitolino, Palatino, Esquilino, Aventino, Quirinal, Viminal, Célio, Píncio, Citério e Testácio). A cidade é notável por um grande número de monumentos da Antiguidade (templos, palácios, basílicas, palácios, vilas e museus) e por obras-primas de toda natureza, em que palpitam documentos da história do mundo e da Cristandade.

FIM

Mito de Dido

Múton, filho de Pigmálion e Galatéia, ocupou o trono de Tiro, na Fenícia, e foi também chamado pelo nome de Belos, confundido com o terrível deus Baal dos fenícios e Bel dos sírios. Múton teve os filhos Pigmálion (como o avô), Alashia, Ana e Barca.

Alashia (Elissa) era uma princesa, uma das filha de Belos, o soberano de Tiro. Muito moça desposara Sicarbas (Siqueus), sacerdote do deus-marinho Melkart (identificado com o semideus Héracles). Sicarbas, seu tio materno, era homem de grandes posses e de muito prestígio. Entretanto, já havia-se desenrolado a guerra dos gregos em Tróia, o rei Belos recebera em seu reino o herói salamínio Teucros, que havia sido expulso de sua terra. E Belos foi levado do mundo dos vivos, ascendendo ao trono seu filho Pigmálion. Era este um príncipe cruel e avaro. Era tanta a sua ganância, que secretamente assassinou Sicarbas, seu cunhado, enquanto sacrificava a Melkart, e apossou-se de seus tesouros.

Pigmálion conseguiu por longo tempo manter encoberto o seu crime,e inventando mil pretextos, burlou com vãs esperanças a triste Alashia. Mas esta, advertida em sonhos pelo marido, que lhe apareceu com o peito nu mostrando a lâmina traspassada, revelando o crime, tomou uma decisão e, com a ajuda de alguns fiéis amigos, apoderou-se de vários navios que estavam ancorados no porto e neles recebeu todos aqueles que já estavam cansados da odiosa tirania de Pigmálion. Às ocultas, em companhia de seus irmãos Ana e Barca, transportou para os navios as riquezas que conseguiu apanhar, que estavam enterradas, tanto as de Sicarbas como as de Pigmálion, e se fez ao largo.

Depois de longo tempo, enfrentando os perigos naturais do grande mar que se estendia pela frente, desde a costa da Fenícia às águas ao sul de Creta, Alashia — conhecida agora pelo nome de Dido, “a errante”— com sua frota, abordou a costa africana, onde encontrou terra firme e iniciou a construção de uma nova cidade: Birsa.

Zeus, sorrindo, olhou para a filha, que amava tanto quanto Atena, e, dando-lhe um beijo, disse-lhe:

— Não tenhas medo, minha filha. O destino dos teus protegidos continua imutável. Os muros de Lavínio se erguerão na Itália. Numa guerra terrível, Enéias vencerá, dominará povos altivos e estabelecerá a lei e a ordem. Por três anos, reinará no Lácio seu filho Ascânio, que os locais chamarão de Íulos, o qual transferirá a capital do reino de Lavínio para Alba. Durante três séculos ocupará ali o trono a estirpe de Príamos, até o dia em que uma sacerdotisa de Héstia, da casa real, terá dois filhos gêmeos do deus da guerra. Um deles, Rômulo, amamentado por uma loba, levantará novos muros a seu pai Áres, e será fundador do povo romano, a quem eu farei senhor do mundo. A própria Héra, que agora atormenta teu filho, se reconciliará com os netos e, comigo, os protegerá; o maior dos romanos será um descendente Ascânios, e será chamado Júlio. A sua glória se elevará até as estrelas, e ele, teu descendente, minha filha, será acolhido no Céu entre os deuses. Depois das guerras, desfrutarão os homens de paz eterna, e sólidos ferrolhos cerrarão as portas da Discódia.

Assim falou Zeus, e imediatamente mandou seu filho Hermes, o mensageiro dos deuses, a Cartago, a fim de preparar aos troianos hospitaleira acolhida. Era aquele país uma colônia de fenícios, e Héra a fazia alvo de sua especial proteção. Guardavam-se ali a sua armadura e o seu carro, e, havia muito tempo, desejava a deusa fazer daquele país um império. Na época, ocupava o trono a rainha Dido, viúva do fenício Siqueus, a qual construíra a nova cidade e a fortaleza de Cartago.

Na manhã seguinte, fazendo-se acompanhar de Acates, seu amigo mais fiel, Enéias, empunhando dois dardos, resolveu explorar as redondezas. Caminhavam despreocupadamente, quando, de súbito, viram à sua frente uma bela caçadora, com trajes espartanos. Tinha um arco pendurado ao ombro, trazia os cabelos soltos e sua túnica terminava na altura dos joelhos.