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A Saga de Enéias

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A Saga de Enéias - Página 5 Empty Re: A Saga de Enéias

Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 14:51

— Será, sem dúvida, um feito glorioso, digno de reconhecimento e louvor, Nisos. Mas não te deixarei enfrentar o perigo sozinho, pois te acompanharei. Não deves desprezar-me, considerar-me só um rapazinho imberbe e inferior a ti. Julgas-me capaz de permitir que vás sozinho em missão tão perigosa? Não, não foi assim que me educou meu pai Ofeltes, nem tampouco tu me conheceste assim, até agora. Eu também desprezo a vida, e será com prazer que com ela pagarei a glória.

— Nunca temi isso de tua parte, Euríalos. Mas se me sucedesse uma desgraça ou se um deus decretasse a minha morte, como se verifica bastas vezes em empresas tão arriscadas, gostaria que sobrevivesses a mim. A tua juventude é mais digna que a vida. Gostaria, mais, que alguém salvasse o meu corpo ou o resgatasse e o sepultasse, ou, pelo menos, se não me fosse dada tal sorte, me fosse celebrado um funeral e erguido um monumento. Por outro lado, como poderia causar a tua mãe tão enorme dor, a ela que, dentre todas as mães, foi a única que, desistindo de ficar na Trinácria, te seguiu nesta outra aventura?

— São fúteis os motivos que apresentas, Nisos. A minha resolução está tomada. Vamos agora mesmo!

Nisos tentou em vão demover o amigo. Conformou-se, finalmente, e foram ambos acordar a patrulha que os devia substituir. E, em seguida, foram pedir permissão para fazer parte ao conselho, a fim de comunicar seu intento aos chefes militares, que se encontravam reunidos discutindo as medidas a tomar para a defesa do acampamento, apoiados nas lanças e nos escudos. Ascânios, que, apesar de tenra idade, representava o pai na assembléia dos chefes, ordenou que os deixassem entrar e, reconhecendo-os, amigos de seu pai, concedeu a palavra a Nisos, visto que era dos dois o mais velho.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 14:52

— Ouvi-nos, e não julgueis a nossa proposta pela nossa idade. Exploramos estes lugares e verificamos que, para os lados confiados à nossa vigilância, perto do mar, onde se bifurca o caminho da porta, há espaços consideráveis entre as fogueiras inimigas. Por ali, é possível deslizar-se com facilidade. Se nos permitirdes provar o nosso valor, oferecemo-nos na qualidade de mensageiros a Enéias, e em breve estaremos de regresso companheiros e rica presa.

Os heróis consideraram com admiração a proposta dos dois mancebos. E exclamou Aletes, o mais velho dentre eles:

— Deuses, não pensais, sem dúvida, em aniquilar os troianos, se despertais tamanha decisão no espírito destes jovens!

Dizendo tais palavras, colocou as mãos nos ombros dos dois rapazes. Imediatamente falou o jovem Ascânios, que teve que concordar:

— Possa Tróia contar sempre com filhos briosos como Nisos e Euríalos, estimados pelo grande Enéias! Confio-vos a minha sorte e esperança. Trazei de volta meu pai e não teremos mais preocupações. A partir deste momento, pertencem-vos duas taças de prata, duas valiosas trípodes, dois talentos de ouro e o formoso jarro que Dido deu de presente a meu pai. E meu pai ainda vos entregará doze prisioneiros do campo latino, homens de armaduras completas, mulheres e inúmeros bens. Se conquistarmos esta terra, prometo-te, Nisos, que te darei os cavalos e as armas de Turnos, e propriedades do rei Latino. Euríalos, tão jovem quanto eu sou, serás também altamente recompensado! E desde agora te acolho por companheiro de armas e inseparável amigo.

Euríalos respondeu:

— Não há de chegar o dia em que me mostrarei indigno da resolução tomada. Mas acima de todos os presentes, peço-te, apenas, que consoles e reconfortes minha mãe, se eu acaso não regressar. Bem o sabes que ela descende da antiga estirpe real de Príamos, teu avô materno, e quis seguir-me. Agora, deixo-a sem dela me despedir, pois não poderia resistir às suas lágrimas.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 14:52

A tais palavras, mais ainda se avivou na alma de Ascânios o amor filial, e pôs-se a chorar, contagiando os demais.

— Olharei por ela como se fosse minha própria mãe, Euríalos.

Ascânios, em seguida, entregou a Euríalos sua espada com bainha de marfim e empunhadura de ouro que, comovido, estreitou-o contra o peito. A atitude nobre do jovem príncipe com ares de comandante lhe valeu, daí em diante, um novo nome: Íulos. Tanto que, também, os outros chefes, depois de presenteá-los com alguns objetos necessários, abraçaram os dois jovens destemidos. Mnesteus, tirando dos ombros a pele de leão, colocou-a nos de Nisos; Aletes trocou com ele de elmo.

Momentos após, bem armados, acompanhados até os limites do portão pelos nobres, jovens e velhos, se esgueiraram para fora do acampamento, transpuseram a vala exterior que corria ao longo da base das muralhas e, com grande cautela, protegidos pelas trevas, se aproximaram do campo dos laurentos e dos rútulos, infiltrando-se pelas linhas adversárias, e encontraram-nos vencidos pelo Sono e pelo vinho, deitados no meio das rodas dos carros, tendo as armas espalhadas pelo chão. E Nisos murmurou ao amigo:

— O momento nos é favorável, Euríalos. Protege-me as costas, que eu abrirei caminho.

Enquanto progrediam, Nisos teve a oportunidade de apunhalar três soldados inimigos, inclusive Ramnetes que, deitado na relva, ressonava a plenos pulmões, não sabendo prever a própria morte, embora desfrutasse a fama de adivinho. Depois foi a vez do capitão Remo, que ele surpreendeu no meio dos cavalos. Muitos outros morreram ainda, trespassados pelas espadas dos dois amigos. Euríalos, desfazendo-se do elmo, apoderou-se de outro, latino, enfeitado de penacho, que pertencera a Méssapos. E assim foram atravessando as fileiras latinas sem serem percebidos, deixando atrás de si um rastro de sangue. Entusiasmado, Euríalos chegou até as fogueiras, semi-apagadas, do acampamento do comandante rútulo Méssapos, cujos corcéis, amarrados, pastavam tranquilamente.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 14:53

Mas Nisos chamou-o:

— Não vês que a luz da Éos está prestes a surgir? Basta de mortandade! Já abrimos caminho. Vamos embora!

Os dois deixaram toda a presa para trás. Mas Euríalos guardou apenas o freio de Ramnetes e o seu talabarte, que passou em volta dos ombros, levando na cabeça, alegremente, o reluzente elmo de Méssapos. Em seguida, abandonando o acampamento dos inimigos, os dois companheiros correram para o campo limpo.

Entretanto, um capitão de nome Volcentes se aproximava do acampamento latino, trazendo da cidade de Laurentos, como reforço, uma tropa de trezentos cavaleiros, um dos quais avistou Euríalos por causa do elmo, que brilhava à luz da Lua. Em voz alta, Volcentes disse-lhe:

— Hei! Quem tu és? Identifica-te!

E viu que eram dois desconhecidos:

— Aonde ides tão depressa? Sois rútulos?

Euríalos, sem responder, tentou fugir, embrenhando-se no mato. Porém, sentia-se incomodado pela presa, e o medo o levou a errar a direção. E os soldados inimigos cercaram-no e o capturaram. Nisos, pelo contrário, saiu felizmente do bosque e rumou tranquilamente para os lagos que, com o tempo, se chamariam Albanos. Talvez lograsse escapar se tivesse permanecido oculto, mas não quis abandonar o amigo. Deteve-se, então, pondo-se a procurar inutilmente o amigo perdido, chamando-o:

— Euríalos, onde estás? Onde te encontras?

Tornou a embrenhar-se no bosque, e não tardou a ouvir cascos de cavalos e cornetas de retaguarda; pouco depois, viu o destacamento levar prisioneiro Euríalos, vencido. Nisos não sabia o que fazer, se continuava oculto e depois seguisse para cumprir sua tarefa e ir de encontro a Enéias, ou se deveria buscar a Morte nas espadas em defesa do amigo. Parou um instante para observar e ouvir o furioso comandante, que de cima de seu cavalo, interrogava o refém:

— Vamos, cão frígio, diz onde está o outro!

E Euríalos, sem responder, levava uma série de bofetadas e chutes, enquanto, sentado, de cabeça erguida, seu sangue escorria pelo nariz.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 14:54

E Volscenos, sacando da espada, tomou a decisão:

— Basta, não temos mais tempo a perder!

E, logo, brandindo a lança com o braço dobrado e dirigindo o olhar à deusa radiante da Noite, Sélene, pálida no céu crepuscular, Nisos ergueu-lhe uma súplica, tomando-lhe por Ártemis:

— Ó deusa, protetora dos bosques, filha de Leto, se jamais te dediquei a minha caça, guia esta lança e permite que eu disperse o bando.

Do seu esconderijo, com toda força, arremessou um dardo contra o ombro do rútulo Sulmon, que segurava o prisioneiro, e a ponta foi-lhe sair pelo peito. Os cavaleiros, amedrontados, olharam para todos os lados, quando um segundo dardo sibilava, matando outro rútulo, de nome Tágos, furando-lhe as têmporas. Vendo os seus soldados mortos e não sabendo de onde vinham os dardos, Volcentes foi tomado de grande cólera.

— Pagarás por isso, verme!

Gritou, dirigindo-se a Euríalos e sacando da espada, pronto para matá-lo. Nisos, vendo que assistiria a morte do amigo, apresentou-se.

— Não!!

Saiu do esconderijo e em três largos passos postou-se diante de Volcentes.

— Foram meus dardos que abateram teus soldados! É de mim que deves vingar-te! Ele é inocente, juro! O seu único crime foi a sua fidelidade a um amigo!

A interferência não foi o suficiente, pois o capitão cravou no peito de Euríalos a sua espada. O troiano caiu ao solo, causando imensa dor e desespero de Nisos que, esquecendo-se da própria segurança, avançou contra Volcentes e ameaçou-o:

— Agora morre tu também, canalha!

E atingiu-lhe a boca com um golpe de espada, fazendo-o cair do cavalo, ao lado do corpo de Euríalos. Volscentes ficou um tempo escoicinhando o chão, até que finalmente a alma lhe abandonou.

Os soldados latinos se lançaram sobre Nisos, que, atacado por todos os lados e crivado de setas, correu até o corpo de Euríalos para lhe dirigir as últimas palavras:

— Euríalos, meu amigo... Aqui está a glória que tantas vezes juntos buscamos!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 14:54

Não demorou a juntar-se a Euríalos na viagem para o Mundo dos Mortos, desabando sobre seu corpo. Os soldados, irados, enfiaram suas lanças nas costas de Nisos, quase sem parar, até que ficassem os dois corpos totalmente cobertos de sangue.

Havia falhado a missão de Nisos e Euríalos; os cavaleiros despojaram das armas os inimigos abatidos e levaram-lhes os corpos, com o de Volscentes, ao acampamento de Turnos.

O INÍCIO DA BATALHA

Na manhã seguinte, mal o dia começou a clarear, a batalha recomeçou. Os latinos espetaram as cabeças de Nisos e Euríalos na ponta de duas lanças e as exibiram triunfantemente às sentinelas teucras, que, do alto dos baluartes, atentamente os observavam. A notícia da morte dos dois bravos depressa se espalhou pelo acampamento, causando grande dor e tristeza aos troianos. A nova da desgraça não poupou também a mãe de Euríalos; foi procurá-la ao pé da roca, onde cuidava da labuta diária. O fuso escapou-se-lhe das mãos e ela, desalinhando os cabelos, correu para a muralha, na primeira fila dos combatentes, sem dar atenção ao perigo, e gritando de tal maneira que os seus gritos penetraram fundo no coração dos guerreiros mais endurecidos. Finalmente, Ascânios, com muitas lágrimas, e com ele o sábio Ilioneus, ordenaram a dois velhos heróis que a levassem para casa.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 14:55

Os clarins ressoaram ensurdecedoramente no campo dos rútulos. Ergueu-se impressionante grita, respondida pelo eco das montanhas. A princípio, as tropas latinas tentaram tomar o acampamento por meio de um tipo de ataque chamado “tartaruga”, por lembrar, em seu conjunto, a carapaça grossa e resistente desse animal. As tropas avançavam em fileiras cerradas, com os escudos erguidos acima das cabeças e os homens unidos uns aos outros, de maneira a formarem um teto impenetrável aos dardos inimigos. Ao pé dos muros, protegidos por essa formidável cobertura de escudos, alguns soldados puseram-se a cavar a terra, numa tentativa de abalar os alicerces da muralha; os defensores, porém, começaram a lançar enormes blocos de pedra sobre a “tartaruga”, conseguindo rompê-la em vários pontos. Logo choveram lanças sobre os escavadores, muitos dos quais pereceram, e assim o primeiro assalto foi repelido.

Um segundo ataque à muralhas foi tentado, pouco depois, com o auxílio de altas escadas, mas os troianos arremessaram paus e pedras contra os afoitos que se aventuravam a subir por elas. Muitas escadas foram derrubadas, e os poucos latinos que lograram alcançar o topo dos muros foram trespassados pelas espadas dos defensores.

Foi o fogo, porém, que causou o maior dano aos troianos. Num dos ângulos do acampamento erguia-se uma torre de madeira, ligada à muralha por uma ponte, ocupada por um grupo que incansavelmente disparava setas e dardos contra o inimigo, provocando muitas vítimas. Com grande coragem, adiantou-se Turnos, brandindo um archote e ateando fogo à madeira. Soprava uma brisa forte e em pouco tempo as chamas se espalharam. Finalmente, toda a construção desabou com estrondo e apenas dois homens escaparam da Morte no incêndio: Licos e Hélenor. Este, logo cercado pelas hostes latinas, opôs tenaz resistência, sendo morto em combate, enquanto Licos, ágil e veloz, tentou galgar o muro e alcançar novamente o interior do campo teucro.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 14:56

Aproximava-se da borda da muralha, quando foi derrubado pela lança de Turnos. A batalha prosseguiu com fúria cada vez maior e registraram-se muitas baixas de ambos os lados.

Das fileiras latinas, um guerreiro chamado Numanos (ou Rêmulos), cunhado de Turnos (pois havia recém casado com sua irmã mais nova), não parava de insultar os troianos.

— Não vos envergonhais de aturar um novo cerco? Só sabeis vos esconder atrás de muros e paliçadas? Somos uma raça viril; nossos meninos se exercitam na caça, nossos homens manejam o arado e a espada. Nem mesmo velhos descansamos e cobrimos os cabelos brancos com o elmo. Mas vós, troianos, sabeis vestir roupas com púrpura e vos perfumais como fazem as mulheres. Que loucura vos induziu a virdes à Itália?

Tais provocações indignaram o jovem Ascânios, que até aquele momento nunca fizera uso do seu arco senão na caça aos animais selvagens. Revoltado com a arrogância do guerreiro inimigo, arrancou uma flecha da aljava, ajustou-a na corda e disparou, levantando uma prece muda a Zeus, para que guiasse a seta ao alvo. E, com efeito, ela foi alojar-se na testa de Numanos, postando-o por terra.

— Eis a resposta dos troianos duas vezes vencidos, latino fanfarrão!

Os troianos deram poderosos gritos de entusiasmo, e o inimigo, amedrontado, recuou alguns passos.

Apolo, sentado numa nuvem, a tudo observava.

— Continua assim, filho de Tróia!

Porém, intimamente ponderava:

— O jovem não deve arriscar-se demais.

Descendo à Terra, tomou a aparência de um ancião, que no passado fora escudeiro de Anquises, e disse a Ascânios:

— Castigaste o guerreiro arrogante, e isso basta. Apolo te concedeu este glorioso começo de carreira; agora permanece afastado da luta!

Os soldados que estavam perto, ouvindo essa ordem, voltaram o olhar na direção da voz. Enquanto olhavam, a aparição se desfez no ar. Contudo, pelo tinir da aljava, logo identificaram o deus dos arqueiros e persuadiram o moço a que aceitasse o conselho de Apolo e se abstivesse de participar dos combates.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 14:56

Havia entre os troianos dois irmãos gêmeos, jovens e altos. Eram Bícias e Pândaros, filhos de Alcánor, vigorosos e esbeltos guerreiros, vindos dos pontos mais altos do Ida. Tinham por incumbência defender a porta do acampamento; mas, em vez de conservá-la cerrada, resolveram escancará-la, possibilitando assim a penetração do inimigo. À medida que os laurentos e os rútulos entravam, Bícias, postado de um lado, e Pândaros, do outro, atravessavam-nos com as suas lanças. Até o ânimo dos troianos se inflamava cada vez mais e alguns chegaram a abandonar a proteção do acampamento para combater fora dos muros, desobedecendo às ordens dos chefes militares.

Percebendo o que se passava, Turnos foi até a entrada do acampamento, acompanhado de um grupo de guerreiros, e matou Bícias, ferindo-o com sua lança provida de comprida ponta de ferro. Os troianos ficaram consternados, pois Bícias era um dos seus mais fortes e valentes guerreiros. Rapidamente, tendo visto tombar seu irmão, Pândaros fez girar sobre os gonzos os batentes da porta e empurrando-os com o ombro, fechou de novo a porta, deixando muitos combatentes do lado de fora. Turnos, não obstante, já tinha penetrado no acampamento e, sedento de sangue, parecia um tigre no meio de um rebanho de ovelhas. Os troianos fugiam à sua aproximação, exceto Pândaros, que não temia ninguém e que, ademais, ansiava vingar a morte do irmão. E gritou para Turnos:

— Que procuras aqui, verme rútulo? Este lugar não te pertence! Este é o acampamento de Tróia, do qual não sairás com vida!

Turnos deu uma risada e retrucou:

— Começa, se tens coragem de lutar comigo! Se te consideras comparável a Heitor, encontrarás outro Aquiles aqui na Itália!

Pândaros atirou a lança (cheia de nós e recoberto de casca) com toda a força, mas Héra desviou a arma, que foi cravar-se na porta de entrada do acampamento.

Turnos, que havia-se esquivado, gritou:

— Não evitarás este golpe!

O príncipe rútulo ergueu a espada e desferiu terrível golpe na testa de Pândaros, partindo-a ao meio.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 14:57

Tivesse Turnos, nesse momento, aberto a desguarnecida porta aos seus soldados que acometiam do lado de fora, e o dia teria terminado com a vitória do seu exército. A sede de sangue, todavia, o arrastou para o interior do acampamento, onde, brandindo a espada em todas as direções, ceifou a vida de muitos inimigos. Diante do terrível morticínio, os troianos se acovardaram e começaram a fugir e a se esconder, embora fossem muitos contra um homem só, enquanto os de fora, ansiosos por participar, gritavam:

— Turnos, abre a porta! Queremos entrar também!

Então, acorreram os capitães teucros, Serestos e Menesteus, e com palavras candentes conseguiram deter os soldados tomados de pavor, que fugiam em todas as direções:

— Para onde ides, tolos? Onde estão outras baluartes, onde estão outros fortes? Para onde pretendeis fugir? Não podeis ver que somente dentro destes muros encontreis segurança? Este é um dia de desonra e vergonha para os filhos de Tróia! Como podeis permitir que um único homem semeie tanta destruição? Foi por causa desse homem que se diz comparar-se a Aquiles? Covardes! Não sabeis que estais traindo a desventurada Pátria e não temeis a ira do grande Enéias?

Envergonhados, os troianos retrocederam e investiram contra o destemido Turnos, que não teve alternativa, senão recuar cada vez mais, até atingir a margem do rio. Por duas vezes avançou e ganhou terreno, mas finalmente, exausto, por lutar sozinho, com o escudo partido e o elmo rachado, teve de desistir da luta desigual. Mas foi perseguido por Mnesteus, que ia-lhe ao encalço.Teve que dar as costas ao inimigo, apesar de não temê-lo. Ainda assim, não se entregou; saltou no Álbula e, a nado, alcançou a margem oposta com fortes braçadas, sob uma chuva de flechas e lanças, recebendo também pedradas nas costas e contra seu elmo de bronze, reduzindo a farrapos o penacho, e seu escudo repleto de dardos cravados, e pesava tanto, de tal modo, que o braço esquerdo mal conseguia sustentá-lo.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 14:58

Mas conseguiu, ajudado pelo deus-rio local, chegar à outra margem, onde se encontravam os seus guerreiros.

A VOLTA DE ENÉIAS

Numa reunião dos deuses, ouvira Zeus as queixas de Héra e os rogos de Afrodite, e decidira entregar tudo ao Destino, sem nenhuma intervenção divina. Assim, ia-se prolongando o sítio da colônia troiana e a luta em torno dos muros.

Entretanto, Enéias chegara à florescente cidade etrusca de Ágila, à testa da parte do exército que o acompanhava e da cavalaria arcádica. A cidade expulsara o cruel soberano Mezêncios, e, havendo-se ele refugiado no reino de Turnos, os habitantes viviam em constante e mortal inimizade com os rútulos e latinos. Assim Enéias, mal revelou a sua estirpe, o seu nome, e falou dos preparativos da guerra de Turnos e Mezêncios, foi acolhido de braços abertos pelo novo soberano, Tárcon,, o qual não somente uniu as suas forças às de Enéias, como também fez com que participassem da campanha as cidades aliadas etruscas. Não tardou Enéias em ver-se à frente de grande exército e, após enviar, por via terrestre, as tropas montadas arcádicas e etruscas, zarpou com trinta barcos da costa da Etrúria.

Sem mais tardança, Enéias empreendia a viagem de regresso, rio abaixo, seguindo no primeiro barco da frota e tendo ao seu lado Palas, filho de Evandros. Trinta navios seguiam o capitânia, carregando as tropas etruscas e outros soldados do norte da Itália. Favorecidos pelos Ventos, navegavam rapidamente.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 14:59

Enéias, impaciente e ansioso para chegar ao acampamento, manobrava o leme da nau capitânia. Por volta da metade da noite teve uma visão singular. Enquanto empunhava pessoalmente o leme de noite, como medida de precaução, e guiando o rumo do barco, que era seguido dos demais, viu-se, dali a pouco, rodeado por ruidosas Ninfas; eram os barcos troianos que a deusa Cíbele, para salvar de Turnos, transformara em divindades marinhas, na foz do Tiberis. Vivificadas e animadas, reconheciam o seu senhor. A mais eloquente, agarrando-se ao barco com a direita e emergindo das águas até os ombros, acariciou com a esquerda a onda, aplacou-a, e disse:

— Vigias, amado filho de Afrodite? Sim, vigia e faze com que o Vento te infle as velas.

Enéias, achando ser apenas uma visão ilusória, nada respondeu. E a ninfa continuou:

— Faze bem, Enéias, porquanto muitos problemas reclamam tua proteção. Somos os pinheiros do Ida, somos os teus fiéis barcos, que, subtraídos por generosidade de Cíbele ao fogo dos rútulos, fomos transformados por Zeus em divindades marinhas.

Enéias arregalou os olhos, surpreso, mas nada disse.

— Corre, pois que Ascânios, teu filho, protegido pelo muro e pelos fossos, está sitiado pelos rútulos, e a luta se fere diante da muralha. os teus cavaleiros estão a pouca distância do acampamento, mas Turnos já o sabe e resolveu alinhar as suas forças entre eles e o acampamento. Apressa-te, portanto. Veste tua couraça e, quando surgir o Dia, estarás na foz do Tiberis; empunha, então, o escudo de ouro que Hefaístos te deu, e apresenta-o ao acampamento dos teus companheiros. Se não desprezares o meu conselho, serás vitorioso no dia que se aproxima.

Acabando de falar, deslizou a mão por baixo da quilha da nave e a empurrou suavemente, enquanto as companheiras faziam o mesmo com os demais navios da frota. Cortando velozmente as águas, os barcos chegaram à foz do Tiberis ainda ao romper da Aurora. E já tinha Enéias o acampamento diante dos olhos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 15:40

Ouvindo aquilo, remaram os etruscos com a força possível, impelindo os barcos para a frente, até estarem as proas em seco e as quilhas se cravarem na areia. Somente o barco de Tárcon ficou preso num banco de areia que se estendia transversalmente, sob as águas; após muita luta contra o choque das ondas, partiu-se o madeiramento, e caiu ao mar todo o carregamento e a tripulação, no meio de remos despedaçados e de lenhos flutuantes. Com enorme dificuldade, puderam Tárcon e os seus alcançar a margem.

Turnos, verificando que o inimigo havia desembarcado, desistiu do assédio, e apressadamente reuniu o seu exército; depois, alinhando-o ao longo da costa, mandou que os clarins dessem o toque de assalto. Também Enéias dispusera em ordem de batalha os seus troianos e aliados, e, para iniciar o combate, foi o primeiro em se lançar contra os grupos dos pastores latinos, causando grandes estragos. Começou por matar Têrones, o mais alto dos soldados do exército de Turnos, atravessando-lhe com a espada a cota da malha. Em seguida, tombaram os dois filhos de Melampos, ambos gigantes, que lutavam com enormes clavas, sendo Enéias atacado depois por sete irmãos, que simultaneamente lhe arremessaram seus dardos; uns resvalaram no escudo do troiano, outros quase o atingiram, mas nenhum o feriu. Dos sete irmãos, dois foram mortos por Enéias, tendo os outros fugido.

O combate recrudesceu. Ambos os exércitos lutavam obstinadamente, e ninguém podia dizer qual o mais valente exército.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 15:41

Em outra parte da planície, num lugar em que a torrente havia acumulado rochedos no seu leito e coberto as margens com inúmeras árvores arrancadas, lutavam Palas, o jovem filho de Evandros, e seus cavaleiros árcades, que lentamente cediam terreno. A irregularidade do terreno não lhes permitia valer-se dos corcéis; não acostumados a lutar a pé, acabaram por fugir diante do impulso dos latinos e dos rútulos. Com palavras ardentes, Palas exortou seus soldados a não recuarem:

— Pela glória e pelas vitórias de meu pai, pela minha própria esperança, suplico-vos que vos mantenhais firmes, confieis em vossas mãos e não em vossos pés! Não nos resta outra alternativa: para a frente, em direção ao acampamento troiano, ou para trás, em direção ao mar.

Convenceu-os a lutar, e ele próprio avançou, dando o exemplo. Sua primeira vítima foi Lagos, morto com um golpe de lança quando tentava arrancar uma pedra do chão; depois foi a vez de outro soldado latino, Hisbon, abatido quando tentava surpreendê-lo pelas costas. Em seguida, enfrentou dois irmãos gêmeos, tão parecidos, que nem seus pais eram capazes de distingui-los; mas Palas tornou-os cruelmente distintos, decepando a cabeça de um e a mão direita do outro. Até que o deteve Lausos, o valoroso filho de Mezêncios. Os árcades retiraram-se para os amigos etruscos e troianos, mas no meio de todos fazia rumores o herói itálico com as suas tremendas acometidas. Finalmente, viram-se, frente a frente, Lausos e Palas, ambos jovens com pouca diferença de idade, ambos avantajados e ambos destinados a encontrar naquela guerra morte prematura. Não obstante, nenhum dos dois morreria às mãos do adversário daquele momento; ambos cairiam aos golpes de inimigo muito mais poderoso.

Turnos, que estava percorrendo as tropas montado no seu carro de guerra, viu os dois que lutavam.

— Alto, Lausos! Quero lutar sozinho com Palas. A mim exclusivamente é que cabe arrancar-lhe a vida. Prouvera aos deuses pudesse vê-lo morrer seu pai Evandros!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 15:42

Ao ver a figura nobre e altaneira do príncipe, o aliado dos troianos, surpreso, pensou:

— Vale a pena lutar com este. Se eu o vencer, ficarei famoso, e, se sucumbir, terei uma morte gloriosa!

E desafiou:

— Hoje ganharei uma armadura de chefe ou a Morte! Ambas serão bem acolhidas por meu pai. Portanto, trata de poupar as tuas ameaças.

Palas avançou pelo centro do caminho aberto por Turnos, no instante em que este, saltando do carro, se lhe atirava ao encontro, enquanto a tropa se deixava estar imóvel, paralisada pelo medo.

Palas, antes de aprontar o dardo para o arremesso, ergueu uma prece a Héracles:

— Héracles, herói poderoso, lembra-te da casa onde um dia encontraste hospitalidade e ajuda-me neste combate. Talvez seja audácia demais da minha parte querer enfrentar tão famoso guerreiro. Conto, porém, com teu auxílio, para vencer esse orgulhoso rútulo e despojá-lo de suas armas.

Héracles, sentado no seu trono celeste, no Olimpo, ouviu a prece de Palas e ficou triste por não poder prestar-lhe a ajuda implorada, não pretendendo opor-se aos desígnios do Destino e de seu pai Zeus. Contudo, este se pronunciou, pretendendo consolá-lo:

— Meu filho, a vida dos homens é curta e cada um tem sua hora de morrer. Mas os bravos continuarão vivos na memória dos povos. O jovem Palas vai morrer, mas seu nome jamais será esquecido. Turnos não poderá rejubilar-se por muito tempo, porque as Moiras já decidiram seu fim próximo.

Palas, frente ao inimigo, atirou o dardo que, atravessando o escudo do adversário, feriu-o levemente no ombro. Ao ver que apenas o ferira, Palas desembainhou a espada. Em seguida, foi a vez de Turnos, que, brandindo por longo tempo o dardo de ponta afiada, exclamou:

— Vê agora como entra mais profundamente a minha arma!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 15:42

Arremessou sua lança e o fez com tanto vigor que ela partiu o escudo de Palas e trespassou-lhe a couraça, ferindo o árcade mortalmente no coração. Palas tentou arrancou a arma do corpo, mas perdeu as forças e caiu sobre seus joelhos. Turnos empurrou com o pé o corpo inerte do adversário e apoderou-se do cinturão de ouro do cadáver, lavrado em ouro a luta dos Centauros, troféu cuja posse lhe traria mais tarde amargas consequências.

— Não nego ao rapaz a sepultura, árcades; levai daqui o cadáver a seu pai Evandros!

Voltou para o carro de combate, enquanto os árcades retiravam, por entre queixumes, o filho morto do rei, e os etruscos e troianos, acossados pelos rútulos, iniciavam desordenada fuga.

Quando Enéias veio a saber que Palas tinha morrido e que seus soldados haviam perdido o ânimo combativo, apressou-se em socorrer os árcades em fuga. Matou muitos inimigos e não teve compaixão quando lhe pediam clemência. Buscava alcançar Turnos. Os olhos da sua mente viam a hospitaleira mesa de Evandros e o nobre mancebo Palas que o pai lhe confiara com tão sentidas lágrimas. A dor e a sede de vingança enchiam-lhe o coração. Prendeu quatro filhos de Sulmon e outros tantos de Ufentes, e deu ordem que os tirassem da batalha, para depois sacrificá-los como vítimas expiatórias em honra de Palas. Furioso como a torrente desencadeada ou como o furacão noturno, não perdoava a ninguém que se lhe desafiasse. O jovem Ascânios, agora Íulos, notando que o momento era favorável, saiu à frente dos seus troianos.

Dois irmãos, num carro tirado por cavalos brancos, bravatearam que iriam dar cabo de Enéias. E gritou o áuriga:

— Quando os gregos assediaram Tróia, tu conseguiste fugir! Escapaste também de Diómedes e de Aquiles, mas não nos escaparás. O término de tuas batalhas e de tua vida está próximo!

Enéias não se dignou responder. Arrojou com ímpeto a lança, que atravessou o escudo do desafiante e se cravou na sua coxa. Atirado fora do carro, o jovem latino tombou na relva, moribundo.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 15:43

— Que achas disso? Teus cavalos são velozes e não se espantam facilmente. São superiores aos corcéis de Diómedes e de Aquiles. Por que os abandonas?

E agarrou os cavalos pelo freio. O irmão implorou-lhe que lhe poupasse a vida, mas Enéias, ainda a escarnecer, e cravando-lhe a espada no peito, retrucou:

— Não creio que desejes viver sem teu irmãos!

Quando Héra compreendeu que ninguém conseguiria fazer mal a Enéias, disse consigo mesma:

— Hoje é teu dia de vitória; se chegares a encontrar Turnos, certamente o matarás.

Por isso, Héra foi ter com seu esposo e irmão, Zeus, rogando-lhe permissão para salvar o chefe Turnos das mãos de Enéias e retirá-lo da luta.

— Se me pedes apenas que lhe adie a Morte, posso conceder este favor. Mas se com isso cuidas de mudar a sorte da guerra, muito te enganas.

Héra respondeu-lhe aos prantos:

— Ah, se o teu coração me outorgasse o que a tua boca me nega! É realmente necessário que o meu inocente protegido termine de modo tão triste? Tomara me engane um falso temor! Ah, se tu, que tudo podes, substituísses por outros os teus primeiros planos!

Rodeada de nuvens, fez que a Tormenta a levasse através dos ares, e em breve chegou ao acampamento dos laurentos. Ali, fazendo com uma porção de nuvem uma imagem incorpórea, extraordinariamente parecida a Enéias, cobriu-a de uma sombra de couraça, escudo e elmo, exata reprodução da esplêndida armadura do filho de Afrodite, e deu ao vulto o porte do troiano e o som da sua voz, embora não o espírito. E mandou a similar imagem de Enéias misturar-se às primeiras linhas dos combatentes e aparecer diante de Turnos, que, julgando tratar-se do troiano pessoalmente, investiu impetuosamente contra ele. Turnos atirou-lhe a lança; então, o espectro foi recuando até chegar ao ancoradouro dos navios, deu meia-volta e ali penetrou num dos barcos etruscos, dando a impressão de querer ocultar-se.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 15:43

Turnos, iludido, lançou-se-lhe em perseguição com a espada desembainhada e insultando-o, sem observar que abandonara a linha de batalha, mas não conseguiu achar Enéias, e, enquanto vasculhava o convés, Héra cortou o cabo da embarcação, empurrando o barco para o alto-mar. Quando Turnos se apercebeu do que ocorria, estava longe da praia e nada pôde fazer, senão tentar conduzi-lo de volta, o que não conseguiria fazer. Turnos ergueu as mãos, exclamando:

— Ó Zeus! Que fiz para sofrer semelhante opróbrio? Julgaste-me merecedor de tão grande desonra, de tão dura punição? Que pensarão de mim os latinos, quando derem pela minha ausência? Abandonei os amigos metidos em cruel luta de morte. Quisera que as ondas me sepultassem ou que os Ventos me impelissem contra os rochedos!

Três vezes tentou jogar-se ao mar, três vezes quis suicidar-se com a espada, mas Héra frustrou-lhe todas essas tentativas, fazendo-o perceber ser mais útil voltar para os seus. Turnos, então, resolveu voltar a nado, mas Héra lhe antepunha as ondas; o redemoinho o arrastou e conduziram-no são e salvo à cidade do pai, o rei Daunos, em Árdea.

A luta diante dos muros do acampamento ia crescendo de intensidade, e os troianos tinham vantagem. Após o desaparecimento de Turnos, o rei Mezêncios colocou-se à testa do exército dos laurentos e rútulos, denominados então, genericamente, latinos. Era um homem mau, mas valente. Nem os troianos, nem os árcades ou os etruscos puderam detê-lo. Começou matando Mimas, um troiano da mesma idade do já falecido Páris, filho de Príamos; depois, Ácron, que embora de estirpe grega, tinha vindo lutar ao lado dos troianos. Abateu também Orodes, o homem mais alto do exército troiano, e ouviu dos lábios do moribundo a predição de sua morte próxima, ali mesmo na planície, diante do acampamento troiano.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 15:44

Os etruscos, vendo avançar o feroz inimigo, e sentindo que se lhes avivava o velho ódio, atacaram-no por todos os lados, mas ele, firme como rocha, continuava a abater todos quantos lhe caíam ao alcance das mãos, etruscos e teucros. Não tardou a batalha em se equilibrar de novo e os troianos não puderam dizer-se vencedores. Mezêncios abrira uma brecha por entre a massa dos adversários, e o seu vulto elevado avançava, protegido pelas poderosas armas. Enéias, que até então estivera lutando na extremidade oposta, notando de longe o terrível combatente, abandonou o setor e investiu contra ele. Mezêncios esperou-o, impávido, e, tomando seu filho Lausos pelo braço, disse-lhe:

— Que outros supliquem a vitória dos deuses, se assim o desejarem. Meus deuses são a minha mão direita e a minha espada! Quanto a ti, Lausos, hás de ser o sinal vivo da minha vitória contra este bandido, quando exibires a armadura que daqui a pouco vou conquistar.

E arremessou o dardo, que atingiu o escudo de Enéias, mas não o atravessou. Entretanto, o arremesso não fora inútil. Ricocheteando, o dardo foi cravar-se no flanco de um dos soldados árcades, Antores, antigo companheiro de Héracles e fiel servidor de Evandros, quando este passou para a Itália. Antores, ao cair, despediu-se com um suspiro de queixa da longínqua pátria grega.

Foi então a vez de Enéias arremessar a lança, que, sibilante, partiu o tríplice escudo de Mezêncios, varou-lhe a ilharga e feriu o rei na virilha. A ferida não foi fatal, mas Enéias, vendo jorrar o sangue do etrusco traidor, sacou a espada, avançou rapidamente contra ele. Mezêncios, ferido e sem lança, quis retirar-se, e certamente seria morto, se seu filho, Lausos, ao notar que o pai não podia mover-se, por causa da lança fincada no corpo, não fosse em seu auxílio, aparando o golpe de espada com o escudo. Uniram-se-lhe, com enorme grita, os amigos, e atirando os seus dardos, obrigaram Enéias a deter-se e a proteger-se com o escudo.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 15:45

O coração de Enéias abrandou-se ao ver o rapaz acudir o pai, e, não desejando matá-lo, gritou:

— Louco, por que vais ao encontro da Morte? Que queres? Vencer-me? É façanha que excede tuas forças!

Lausos não ligou à advertência; enquanto o pai era retirado do combate, insistia em atacar Enéias, que, zangado, vibrou-lhe tão forte golpe de espada, que, partindo em dois o escudo do jovem e cortando-lhe a cota de malha bordada, obra-prima de sua mãe, fê-lo cair de joelhos e desabar na relva. Diante da lividez que cobriu o rosto do infeliz, apiedou-se, e, a imagem do amor filial lhe fez estremecer o coração de pai. Estendendo a mão ao agonizante, disse-lhe:

— Infeliz! Que poderei fazer agora, que seja digno do teu heroico gesto? Fica com as tuas armas. Daqui a pouco dormirás com os teus antepassados e saberás, ao menos, que sucumbiste às mãos de um inimigo generoso!

E Enéias abandonou o jovem guerreiro, permitindo que os seus o acudissem, porém tarde demais.

Mezêncios se afastara para a margem do rio e alguns dos seus ajudantes lhe examinavam o ferimento. Pendurara o elmo nem galho de árvore e sentara-se, apoiando o corpo com as mãos. Perguntava sempre por Lausos, e, quando os soldados trouxeram o filho, estendido sobre o escudo, o rei chorou e abraçou o cadáver, exclamando:

— Ó filho querido, por que permiti que te expusesses, em meu lugar, sob o risco de morreres? Que terrível desgraça! Se estás morto, por que vivo ainda? Como lamento o meu desterro, como é profunda a minha ferida! Continuo vivo, e não abandono ainda aos mortais a luz do dia? Que os deuses, pelo menos, me ajudem a vingar-te!

Levantou-se, apesar da tremenda dor e, não obstante o grave ferimento, ordenou lhe trouxessem o cavalo, que era toda a sua alegria, o vitorioso companheiro de inúmeras lutas. Também o cavalo parecia entristecer-se, visto que permanecia de cabeça baixa, com a crina a flutuar sobre o pescoço. E tentou confortar o belo animal:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 15:45

— Vivemos bastante, meu caro Febos. No entanto, hoje, vingarás comigo Lausos e levarás para casa, em sangue, a cabeça e a armadura do seu algoz, ou então cairemos ambos, pois espero que não permitirás te monte um dos troianos.

Tornou a armar-se, sem demora. O bronze do elmo lhe iluminou a cabeça, o penacho flutuou mais uma vez no ar, a mão empunhou vários dardos. E assim, a Dor, a Loucura e a Coragem o levaram de novo à luta. Montou a cavalo e afastou-se galopando, para enfrentar Enéias, que, vendo-o, gritou:

— Queiram Zeus e Apolo que recomeces o combate singular comigo!

De lança em riste, correu-lhe ao encontro. Mas replicou-lhe Mezêncios:

— Enéias! Enéias! Aqui estou, troiano! Julgas que me podes amedrontar? Agora que meu filho morreu, para mim tudo terminou! Vim para morrer também, mas antes dou-te um presente. Ei-lo!

E arremessou uma, duas, três lanças, sem que nenhuma conseguisse furar o escudo divino de Enéias, que permaneceu imóvel, aguardando o momento propício para atacar. Finalmente, abandonou a proteção do escudo e arremessou uma lança, que atingiu na testa o cavalo do rei. O cavalo rodopiou, ergueu as patas e caiu, arrastando consigo o rei, que ficou imobilizado sob o corpo do animal, com as costelas quebradas. Os troianos e os latinos gritaram de emoção.

Enéias correu e apontou a espada.

— Onde está o grande Mezêncios? Onde se escondeu o insolente?

— Acaba com isso... de uma vez... e me mata! Consegues rir-te... diante da minha morte? Porém... morro na batalha... lutando... com honra. Jamais lhe... pedirei... que me poupes a vida. Peço-te apenas... para ser enterrado... na mesma sepultura... de meu filho... Tu sabes que... me circunda o ódio de... todos os meus súditos... Afasta de mim a cólera... te peço!!...

E, sem medo, ofereceu a nuca ao fio da espada. O sangue correu-lhe sobre a armadura, e ele entregou a alma.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 15:46

A TRÉGUA

Ao alvorecer, Enéias prestou tributo ao deus Marte,assim chamado Áres, o deus da guerra, entre os povos latinos da Itália. Derrubou um carvalho na floresta, decepou-lhe os galhos e fincou-o num montículo de terra. Pendurou depois no tronco da árvore as armas do rei Mezêncios. O elmo manchado de sangue, os dardos de pontas quebradas, a armadura furada em inúmeros lugares e a espada com bainha de marfim.

Convocando os chefes militares, entre troianos, lícios e aliados, mostrou-lhes as oferendas:

— Eis o que resta do grande Mezêncios! Agora resta-nos marchar contra Laurentos, a cidade do rei Latino.

Durante o dia, enterraram os mortos e prestaram honras a Palas, filho de Evandros, o rei de Palanteus. Enéias foi até a tenda onde repousava o corpo do príncipe, velado pelas mulheres troianas e pelo velho Acetes, antigo escudeiro do rei Evandros, e não pôde reter as lágrimas ao ver a grande ferida que ele trazia no peito.

— Infortunado amigo! Esperava ver-te participar da fundação do meu reino, mas não foi essa a vontade dos deuses. Teu ilustre pai, que talvez esteja apreensivo neste momento, orando para que tu retornes são e salvo, terá, pelo menos, satisfação de saber que morreste com honra. Teu pai há de se orgulhar. Que bravo jovem perdeu a Itália e que fiel amigo perdeu meu filho Ascânios!

Envolvendo o corpo do morto num manto de púrpura bordado a ouro, deitou-o sobre um estrado preparado com grossos galhos de carvalho. Os amigos cobriram o estrado, carinhosamente, com ramos e folhas, ergueram-no e se puseram em marcha, rumo ao ancoradouro. Alguns carregavam as armas de Palas, outros conduziam seu ginete. Formou-se um grande cortejo precedido pelo próprio Enéias. O corpo foi embarcado num dos navios e, acompanhado de uma guarda de honra, seguiu para a cidade do rei Evandros, onde numerosas e comoventes cerimônias fúnebres se realizaram.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 18:14

Mais tarde, vieram mensageiros da cidade de Laurentos, acenando com ramos de oliveira e propondo um armistício para que pudessem recolher e dar sepultura aos mortos espalhados por toda a planície. Enéias respondeu-lhes:

— Queris a paz para os mortos. Com prazer eu a daria aos vivos. Desembarquei nesta praia guiado pelos próprios Fados e fui recebido pelo vosso rei com cordialidade; se depois mudou de atitude e agora prefere a amizade de Turnos, que assuma a responsabilidade e sofra as conseqüências do seu gesto. Por que não obrigais Turnos a defrontar-se comigo em combate pessoal? Estarei pronto a enfrentá-lo, no momento em que ele quiser. Concedo-vos o armistício que viestes me suplicar. Podeis enterrar vossos mortos.

O armistício durou doze dias. Troianos, lícios, tirrenos, árcades, rútulos e os demais povos latinos misturaram-se na planura e nas matas, recolhendo os inúmeros cadáveres. Os primeiros derrubaram cedros e pinheiros na floresta e ergueram altas piras à margem do rio, sobre as quais estenderam os corpos e as armas dos companheiros mortos. Os latinos e seus aliados fizeram o mesmo, mas cremaram seus mortos ao pé dos muros de Laurentos.

Entre os latinos, o descontentamento era grande. A guerra contra os troianos era impopular, pois a maioria considerava-a uma disputa pessoal entre Turnos e Enéias. Os príncipes das cidades vizinhas começavam a rejeitar as alianças que o rei Latino lhes propunha. Convencido de que sozinho não poderia vencer o inimigo, o rei resolveu, com muito gosto, reunir o conselho dos anciãos e dos chefes:

— O inimigo cerca as nossas muralhas. Já sofremos duas derrotas; penso que chegou o momento de propormos a paz. Entregarei meu reino aos troianos, se desejarem estabelecer-se na Itália. Se preferirem prosseguir viagem, construiremos para eles quantos navios necessitarem. Enviemos presentes a Enéias, ouro, marfim, luxuosas vestimentas, e deixemos que ele resolva se quer ficar entre nós ou partir.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 18:14

Levantou-se Drances, orador brilhante, que disse:

— A decisão é sábia, Majestade, mas há ainda um assunto importante. Todos o sabem, mas ninguém ousa falar. Enéias pretende a filha do rei, e só Turnos se opõe. Turnos é a fonte das nossas desgraças e dos nossos sofrimentos. Que se faça a vontade de Enéias, dando-lhe Lavínia para esposa. Caso contrário, que Turnos e Enéias se enfrentem, face-a-face, e, de armas na mão, resolvam entre si a disputa.

Turnos ergueu-se de um pulso.

— És muito hábil com as palavras, Drances. Nas convocações do conselho és sempre o primeiro a aparecer e o primeiro a discursar. Mas que tens feito nos campos de batalha? Gostaria que nos desses um exemplo de tua bravura. O inimigo está às nossas portas; convido-te a oferecer-lhe combate. Sempre te manténs à retaguarda, mas ousas pôr em dúvida minha coragem! Não te falaram de Palas, nem dos irmãos que guardavam as portas troianas, nem de todos os guerreiros inimigos que pus fora de combate quando lutava sozinho dentro do acampamento de Enéias?

Drances amedrontou-se e permaneceu calado. Turnos voltou-se para o rei, dizendo:

— Se Vossa Majestade crê que uma derrota decide a guerra, se não tem esperança de que a sorte possa mudar, imploremos paz. Feliz de quem morreu antes de presenciar tamanha vergonha! Mas se dispomos de algumas forças, se há ainda cidades e povos inclinados a nos ajudarem, se a vitória dos troianos vos custou inúmeras baixas, por que perder o ânimo? Estou certo de que não faltam reis e príncipes dispostos a lutar ao nosso lado. Agora, no que me diz respeito, Drances: se julgas que devo enfrentar Enéias peito-a-peito, não me oponho. Mesmo sabendo que é filho de uma deusa e usa armas feitas por um deus, não me esquivo à luta. Minha vida é dedicada inteiramente ao meu país e ao meu rei!

Ainda estavam discutindo, quando chegou a notícia de que o exército troiano se aproximava da cidade. Houve grande tumulto no recinto. Alguns pediam armas, outros exigiam paz imediata. Turnos não perdeu a calma e declarou:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 18:15

— Continuai sentados falando em paz. O inimigo ameaça as portas da cidade, e irei detê-lo!

E precipitou-se para fora do conselho, seguido de seus homens, chefes de seus exércitos de rútulos.

A MORTE DE CAMILA

Turnos adotou medidas urgentes de defesa, mandando que abrissem valas, empilhassem pedras e paus e organizassem turmas de resistência. Alinhou a cavalaria no campo, em formação de combate, e pôs sentinelas em pontos avançados e no alto das torres.

Diante do perigo, todo o povo acorreu, disposto a colaborar na defesa da cidade.

As mulheres, tendo à testa a rainha Amata e a filha Lavínia, levaram oferendas ao Templo de Juno, a Héra dos troianos e dos povos de origem grega, perfumaram-no com incenso e invocaram o auxílio da deusa.

Turnos vestiu a couraça de ouro, protegeu as pernas com caneleiras também douradas, cingiu a espada, cobriu a cabeça com o elmo igualmente de ouro e desceu a cidadela, exultando com a perspectiva da batalha e animado pela esperança da vitória. Junto das portas da cidade encontrou Camila, seguida das suas valentes guerreiras. Esta, vendo-o, saltou do cavalo, e a tropa fez o mesmo; então, disse ao príncipe rútulo:

— Turnos, é lícito ao corajoso confiar em si próprio, por isso comprometo-me hoje de abater as hostes de Enéias, lançando-me contra ele, sozinha, com minhas guerreiras. Quanto a ti, recomendo que não te ausentes da cidade e a defendas.

O herói acolheu com satisfação a proposta.
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