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Mitologia Grega

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Hermes Trismegistus
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 01:33

Midas julgou ver uma nuvem de tristeza nos olhos lindos da estranha e encantadora visitante.

— Pois bem. Que assim seja.

— E vai ser já?

— Amanhã, ao nascer da Aurora. A partir de amanhã teu desejo será satisfeito. Receberás o “toque de ouro”.

Midas quis cair-lhe aos pés, para agradecer. Mas a fada já havia desaparecido. Seu vulto suave como que se dissolvera no ar.

Naquela noite, Midas não dormiu. Foi noite de agitação e de febre. Principalmente de dúvida. A dúvida começara quando se viu de novo no subterrâneo escuro onde adorava o seu ouro. Tinha dúvidas de que, realmente, a fada tinha-lhe visitado. Não haveria de ter sido ilusão? Não seria o produto da febre de riqueza que fervia em seu sangue? A fada merecia confiança?

Midas reconstituía o episódio, o diálogo, lembrava o seu golpe baixo de fingir que contava. Quando ela percebia que pulava um número, corregia-o e ameaçava que ele teria que começar a contar de novo.

E as horas não passavam... Já vivera muitas noites de insônia, de tanto pensar nos seus tesouros. Mas era insônia agradável, de horas gostosas. Mas não agora. Passava uma noite sem estrelas no céu. A cada passo, deixava o seu leito, inquieto, abria a janela, não via sinal nenhum do dia raiar. Apenas a Noite negra, que dormia um sono de pedra. Ia aos aposentos da filha, ansioso por ouvi-la falar. Chegou a tocar-lhe no braço, a chamá-la pelo nome, sussurrando:

— Áurea!

Não iria contar, é claro. Ele queria guardar a surpresa. E não pretendia, também, arriscar-se a anunciar, antes de se tornar realidade, alguma coisa que poderia não acontecer. Já tinha fama de transtornado do juízo, não queria que o tomassem por louco. Mas se Áurea despertasse, ele poderia falar com ela, encher o tempo, ajudar a passar as horas. Mas desistiu de acordá-la.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 01:34

Saiu pelos corredores do palácio. A cada passo encontrava um soldado em posição de sentido, meio sonolento, mas trêmulo de medo ante a aproximação inesperada do seu rei. Midas acendeu as luminárias de um vasto salão. Estremeceu de satisfação ao pensar que, se a fada não o tivesse enganado, aqueles móveis, aquelas mesas de mármore, aqueles vasos de lugares distantes, tudo aquilo poderia ser, no dia seguinte, de ouro maciço, pesado e fulgurante. Bastaria o seu toque mágico. E teria que se preocupar com a segurança de seu tesouro.

— Já sei...

Midas caminhava inquieto pelo palácio.

— Convocarei os meus exércitos, mobilizarei os meus escravos, contratarei soldados das províncias vizinhas. E para sustentá-los, quando tiver o exército maior do mundo, farei com que eles ataquem os outros reinos... Eles serão pagos com os despojos das guerras e voltarão para a Frígia, ricos e felizes, para defender-me da inveja e da ambição dos outros reis... Porque, quando este palácio se transformar todo em ouro, certamente os ladrões da Frígia e os reis sem escrúpulos, das outras nações, hão de querer arrebatar o ouro que é só meu...

Naquele meio delírio, a Noite, afinal foi passando. Já entrava em leve clarão pelas janelas. Faltava apenas o Sol, que era o selo das manhãs. Já os primeiros pássaros cantavam. Mas Midas não ouvia gorjeios sem trinados. Ouvia, apenas, seu coração reboando de angústia, batendo no peito, querendo saltar pela boca.

— Ah! Fada, fada, se tu me enganaste...

Foi então que Midas abriu uma de suas janelas, e viu o Sol fulgurando o alto do céu. Encarou-o, pálido, num último receio. Mas ao baixar os olhos, viu que a janela, antes de madeira, tornara-se loura como os cabelos de sua filha.

— Não é possível! Estou delirando outra vez!

Voltou-se. A um canto, estava um longo vaso de alabastro, e foi tocá-lo com a mão trêmula. Tornou-se de ouro fulgente.

— Zeus, estou sonhando! Estou sonhando!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 01:35

Levou a mão ao peito e o manto real, que vestia, em ouro se tornou. Correu para o leito e ao mais ligeiro toque de seus dedos o longo leito e seu imenso dossel se fizeram de ouro reluzente. Voltou para a janela, contemplou o parque, onde as árvores mais belas, as flores mais raras e as folhas de verde mais sereno se aqueciam ao calor nascente da manhã.

— Não é possível! Funciona! Serei o rei mais rico do mundo!

Quis saltar a janela, mas uma luz de raciocínio fê-lo sentir que não ficava bem para um rei pular janelas. Recuou em tempo. Ganhou a porta do quarto, saiu quase a voar pelos corredores, diminuiu a marcha ao dar com o olhar de espanto de uma sentinela que se porfilava.

— Guarda! Vem cá!

O soldado se aproximou, segurando, firme, a sua lança. Ainda sem acreditar muito, Midas estendeu o braço e tocou, de leve, a lança bem polida, de aço, e ver se transformar em ouro. A prova maior foi o próprio olhar de pavor da sentinela. Valia a pena descer do parque e fazer a experiência nas árvores, trocando seu verde vulgar pela cor fascinante das moedas de ouro. Mas antes tomou a lança do soldado, ordenando-lhe:

— Não saias daqui. E não digas uma só palavra a ninguém, se não queres morrer...

No parque real foi a mesma aventura. Havia uma figueira em frente à larga escadaria. Quase calmo, Midas se aproximou e estendeu a mão. Toda uma árvore de ouro. Viu uma pedra no chão. Apanhou-a. De ouro. Passava um faisão prateado, sua ave favorita, por ser a única que não lhe fugia, quando descia ao parque para meditar nos seus tesouros. Amorosa, como sempre, a ave se aproximou. O rei pensou:

— Com ela também?

E tocou-a. Não mais um faisão prateado, nem sequer dourado, mas de ouro, ouro puro, que Midas entendia como ninguém. Em seguida, começou a circunvagar o olhar pelo parque.

— É tudo meu... Tudo pode ser de ouro! É questão de tempo... Sou o rei mais rico, mas poderoso do mundo!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 01:35

Viu um canteiro de rosas maravilhosas, sua flor predileta, de todas as cores... Correu uma por uma, tocando-as de leve, tornando-as de uma só cor, a cor do seu coração. Modificou sua essência, seu valor, e fez perder seu perfume...

Os frutos tornaram-se de ouro, ouro, tudo ouro... Inclusive a sua macieira preferida, de onde costumava apanhar os seus saborosos frutos.

Midas não podia acreditar. Meio zonzo ainda, foi até a fonte lavar as mãos e banhar o seu rosto, quando de suas mãos caíram reluzentes pingos de ouro, que escorriam de seus dedos. Sentiu temor, e não lavou suas faces.

Apesar da evidência, uma certa incredulidade apertava-lhe ainda o coração. Estaria acordado? Não estaria sonhando? Foi quando uma abelha picou-lhe o braço, que começou a doer.

— Não... Sonhando não estou...

Outra abelha passou-lhe no ombro. Tentou repelir o inseto agressivo e viu-o cair no chão, num ruído seco. Colheu nervoso o pequeno inseto transformado em ouro. E seu pensamento voou para a fada:

— Obrigado... Obrigado...

Midas se encontrava sozinho no parque, já que recém havia amanhecido. Os guardas palacianos, os serviçais da sua casa, os seus generais, aos poucos despertavam e se movimentavam, e ninguém ousava se aproximar do rei, a menos que fosse chamado por ele. Todos pareciam desnorteados e cheios de interrogação, pois vislumbravam de longe o ouro que, da noite pro dia havia surgido no parque. Como proteger os seus novos tesouros? Como evitar a inveja e a ganância dos outros? Como defender suas ilimitadas riquezas de agora em diante? Só uma ideia parecia clara ao seu espírito: não tocaria nada que pertencesse aos outros... Encolheria as mãos fora dos seus domínios...

Até que começou a sentir fome. Estendeu o braço para uma vermelha maçã que pendia num ramo.

— De tanta alegria eu tinha esquecido essa coisa tão sem importância que é comer...
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 01:36

E já ia levar a maçã à boca, faminto, quando sentiu-a fria e dura na sua mão. Era de ouro. Levou um primeiro choque. Teve a tentação de jogá-la à distância, mas se lembrou de que valia agora uma fortuna e escondeu-a no bolso interior de seu manto real, onde já havia rosas, abelhas e outras peças maiores e menores, todas de ouro. E correu para o palácio, gritando:

— A rainha já chegou?

Os criados, meio estupefatos, responderam:

— Ainda não, Majestade.

Midas, louco para lhe contar a novidade, pensou:

— Onde andará essa mulher?

E foi fazer outra tentativa, já que tinha fome. Passava do meio-dia, e toda aquela correria havia aberto seu apetite. Foi sentar-se à mesa. Tocou, muito de leve, uma fatia de pão. E havia-se tornado ouro puro. Fosse real ou imaginário, precisava comer.

Logo as baixelas de prata foram surgindo nos braços dos escravos. Um criado destapou a primeira, da qual se levantou uma nuvem branca e cheirosa. Os olhos do faminto Midas lutavam por devassar a nuvem e descobrir o que o aguardava.

— Pernil de carneiro com amêndoas e tâmaras!

Parecia até que o cozinheiro havia adivinhado que aquela era uma data especial. Outros pratos foram sendo colocados na mesa, cada qual mais apetitoso que o outro. Midas pegou o garfo de prata, que se transformou em ouro, e espetou as amêndoas e levou-as à boca, e lembrou-se que não podia comê-las, pois se transformaram em ouro puro.

E, esquecendo-se de novo, resolveu atacar o assado, arrancando um pedaço de pernil com as próprias mãos, e mordeu com gula, quando o seu canino estalou e Midas esfregou-o com o dedo, gemendo de dor. No mesmo instante, não só este dente como todos os demais transformaram-se em luzentes dentes dourados.

E chamou um soldado.

— Dá-me uma fatia de maçã, soldado.

— Imediatamente, Majestade.

E estendeu ao rei o fruto.

— Não. Coloca na minha boca.

O soldado hesitou. Nada compreendia.

— Vamos, homem! Faze o que te ordeno, ou então morrerás, miserável!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 02:11

Completamente confuso, porque nunca, antes, recebera tal ordem, tremendo de medo, estendeu o braço e apresentou a maçã para o rei comer. E, ao encontro dos lábios e dos dentes de Midas, transformara-se em ouro. O soldado arregalou os olhos e tremeu todo.

— Sai da minha frente! Some da minha frente... mas deixa a maçã aqui, paspalho!

E o soldado foi saindo com toda a pressa. Midas ficou um momento incerto, meio cambaleante e pensativo, pressentindo, angustiado, as desgraças que o esperavam. Estaria impedido, desde então, de se alimentar? Morreria de fome?

Mas conteve-se. Assumiu uma expressão augusta e grave, como convinha a um soberano, impassível e sério. No parque, sob os olhares curiosos à distância, árvores, frutos e flores de ouro reluziam ao Sol. Os palacianos, de quando em quando, deparavam-se com algum objeto de ouro, alguma coluna ou utensílio ou porta, que Midas havia tocado sem notar. E horas depois, a mesma surpresa teve a rainha ao chegar de seu passeio diário. Estava linda como sempre, os cabelos molhados caídos de modo displicente sobre os ombros.

— Querida, tenho uma grande notícia!

— Ficaste mais rico?

— Sim! Tu estás diante do rei mais rico e poderoso da Terra!

Hermódice, ao vê-lo abrir sua alegre bocarra, notou:

— Midas, o que houve com os teus dentes? Estão reluzentes! O que comeste?

O rei, então, parou, pois sabia que ela não compreenderia.

— Não, outra hora te conto... Deixa-me!

A rainha estava confusa, pois encontrava sua casa muito diferente do que havia deixado pela manhã. Mas retirou-se para seus aposentos. A caminhada, abaixo do Sol ardente, lhe causou cansaço, e foi deitar-se.

À noite, Midas procurou isolar-se, não apareceu para o jantar com sua mulher e sua filha. Passou também a noite sem dormir.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 02:12

A fome do rei apertava. Na sala das refeições matinais, sobre a mesa de mármore, uma grande variedade de frutos, manjares vindos de terras longínquas, queijos raríssimos, taças de vinho o esperavam, como todas as manhãs. Quase nunca os provava. Sofria de falta de apetite. Mas naquela manhã, sentia mais fome que a de todos os pobres da Frígia. E o apetitoso aroma dos frutos aumentava, ainda mais, o seu desespero. Nem ao menos se atrevia a cheirar os alimentos. Prendia a respiração. Nisso, ouviu os passos e a voz sempre alegre da filha, que acabava de despertar.

— Papai! Papai!

Midas se alegrou com a suave aparição da menina. E, esquecido por um momento o problema, correu para ela, a dar a grande novidade.

— Olha, querida! Olha a nossa riqueza!

Mostrava os móveis, os vasos, as colunas de ouro. A menina ficou deslumbrada.

— Que maravilha, papai! Que beleza!

— Vai até a janela. Olha o parque.

Áurea foi até ela, abriu a janela de maçaneta de ouro reluzente e vislumbrou:

— Que lindo, papai! Nunca vi nada mais bonito! Como o conseguiste?

Midas disse-lhe, com ar modesto...

— Depois eu te explico...

Mas Áurea, apesar de achar tudo muito bonito, não se impressionava, pois dava pouco valor às riquezas. Mais importância tinha o amor de seu pai. E estava faminta. E, como todas as manhãs, era em companhia do pai que tomava a sua primeira refeição e era ele quem escolhia os frutos mais frescos e mais saborosos, ela se voltou para a mesa com gulodice.

— Escolhe, papai. Quero como todas as manhãs. Dá-me o fruto que escolheres. Tu sabes, coloca os grãos em minha boca, como sempre achamos divertido...

— Hoje, não, querida. Já estás ficando moça, uma princesa responsável. Não precisas de ajuda.

— Ah, papai! Tu não gostas mais de mim...
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 02:13

Duas lágrimas lhe rolavam pelo rosto. Movido pelo seu amor à filha querida, Midas aproximou-se e, instintivamente, tomou-a nos braços. As lágrimas secaram, viraram duas bolinhas de ouro. Midas, alucinado, voltando à realidade, olhou-a com terror, deu um grito, acordando a rainha num sobressalto, e saiu correndo como um cego. Já não via nada. Nem prestava atenção, tocando em tudo o que estava em seu caminho, em tudo o que esbarrava, onde se apoiava, tudo se tornava ouro. E quase todo o palácio, paredes, colunas, o próprio chão onde ele caía cambaleante, tudo virava ouro. O espanto e o deslumbramento de todos transbordava. Ninguém entendia o milagre. E saíam correndo quando o rei tentava se apoiar em um deles. A rainha Hermódice, assustada com os gritos, desceu depressa e, ao ver tudo aquilo, inclusive o estado em que se encontrava a sua filha, deu um grito e caiu de joelhos.

O deus Dionisos, que a tudo assistia, ria-se às gargalhadas das desgraças do rei. Entretanto, apiedou-se, acabando por permitir que a fada voltasse a procurá-lo.

Midas tentava desesperadamente alimentar-se. O pão endurecia em sua mão, ou na sua boca, até o vinho era uma coisa sem gosto que não lhe descia pela garganta. Sua esposa já o julgava um louco e que era vítima de uma maldição, e não ousava confortá-lo, pois levara um grande susto ao deparar-se com sua filha convertida numa estátua de ouro. Não havia mais o que fazer.

Nem mesmo Midas sabia o que fazer. Já não tinha sentido descer ao subterrâneo para admirar o seu tesouro. Estava transtornado. Ficou por uns instantes paralisado, só que de espanto. E um ruído sibilino acordou-o de seu horrendo devaneio. Sobre a mesa, Mimeus, seu gato de estimação, o encarava, arregalando os grandes olhos de pupilas horizontais. Cercado de alimentos dourados, inúteis para ele, o gato parecia cobrar com seu miado estridente uma solução, o que encheu o coração do rei de um ódio assassino.

— Gato maldito, desaparece já da minha frente!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 02:14

E pulou sobre o gato, pretendendo estrangulá-lo. Errou o alvo, conseguindo agarrar apenas a cauda de Mimeus, que se transformou instantaneamente em ouro. O gato voltou-se para trás e, ao perceber aquela surpreendente transformação no seu traseiro, arreganhou os dentes e sumiu porta afora.

E a porta se abriu mais uma vez: era seu cunhado. E Midas, muito furioso, pensou:

— Vem me pedir dinheiro outra vez, o desgraçado! Não adiantou fazê-lo ministro!

E perguntou:

— Quanto é desta vez?

O cunhado, aliviado por poder dispensar os preâmbulos, respondeu com um sorriso amarelo:

— Bem, quinhentas moedas desta vez está bom...

E Midas, sorrindo, chamou-o:

— Tudo bem, perdoa meus modos. Vem, me dá um abraço.

E agarrou o infeliz pelos ombros, enquanto aguardava o resultado.

— Pronto, agora terás ouro para o resto de tua vida.

Então, o rei sentiu-se fraco, já que há dois dias não se alimentava, e começou a cambalear; os cortesãos que se atrevessem a socorrê-lo eram transformados em valiosíssimas estátuas.

— Ah, fada! fada! Por que me enganaste?

— Eu não te enganei, ó soberano. Fiz o que prometi. Não recebeste o toque de ouro?

Midas virou-se.

— Mas por que não me avisaste?

— Eu te mandei contar até mil...

Midas, sem nada a dizer, baixou a cabeça.

— Não te sentes feliz, Midas?

Ele passeou o olhar pelo tesouro infinito que era agora o seu palácio e começou a chorar. Então, carinhosa e doce, a fada disse-lhe ao ouvido:

— Queres te libertar do poder mágico que te foi concedido, Midas?

— É possível?

— É, se o teu coração ainda não se tornou de ouro, também. É, se preferes não uma filha de ouro, chorando lágrimas de ouro, mas de carne e osso e de sorriso nos lábios. É assim que a preferes?

— Eu juro que sim!!!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 02:15

— Ainda existe esperança, filho de Górdias. Vai banhar-te no Páctolos, o rio que passa aqui perto. Toma um cântaro da água do rio e vai espargindo com ela cada um dos objetos que desejas devolver à sua antiga essência. Acredito que serás feliz pela primeira vez em tua vida. Vai!

Midas não esperou segunda ordem, mesmo não acostumado a recebê-la. Apanhou um cântaro grande de barro, que em seguida se transformou em ouro. Midas virou-se para a fada, com tristeza...

— Não tem importância. Isso passa... Vai, Midas.

No caminho do rio, as plantas em que os seus braços tocavam iam-se tornando fulvas também, mas Midas ia cheio de fé e decisão. Chegou à margem, adentrou-se em suas águas e encheu o cântaro. E ele, de ouro que se tornara, voltou a ter a cor e consistência do barro de que fora feito. O coração de Midas vibrou de alegria. Voltou e, pelo caminho, foi transformando em flores e frutos o ouro maldito que o seu toque produzira. Seus criados foram, um a um, voltando à vida. E, quando quis tocar a água do Páctolos em seu cunhado, parou e pensou se deveria. Desistiu da ideia de deixá-lo assim, pois certamente não encontraria paz se não o fizesse retornar à vida. E foi obrigado a fazê-lo, não sem antes por em seu bolso as quinhentas moedas que lhe pediu. Então, deixando-o meio atordoado, avistou, de longe, imóvel e impassível, a filha querida. Voou para ela. Atirou-lhe a água. As cores voltaram, o riso voltou e os olhos brilharam.

— Papai!

— Minha filha!

Midas sentia-se feliz como nunca antes se sentira, recebendo-a nos braços. Áurea não tivera consciência de sua transformação em estátua de ouro por um lapso de tempo.

— Eu pedi uvas, papai, não um banho! Por que me molhaste?
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 02:15

Midas atendeu-a alegremente. Apanhou um cacho de uvas, pô-lo em sua mão e um grão em sua boca e, inventando uma desculpa sem sentido, saiu a correr, com o cântaro na mão. Foi ao Páctolos e voltou jogando jatos de água nos últimos objetos por salvar. Tudo voltou a ser como antes. Recordação da sua loucura só restava, agora, nas areias do Páctolos, que brilhavam como ouro.

Quando voltou para a mesa, Áurea, com o lindo sorriso de sempre, ofereceu-lhe o cacho de uvas que havia recebido.

— Não queres, papai?

— Não. Hoje eu só quero maçã. Vou comer uma... talvez duas... três... cinqüenta... mil maçãs de uma só vez!

E foi sentar-se faminto à mesa.

— Ora, papai! Tu és muito exagerado... Só falta tu dizeres que maçã vale mais do que ouro... Pelo que te conheço...

— E não vale?

Disse o rei, em deslumbramento, olhando as duas maçãs rosadas que ela tinha no rosto, agora muito mais bonitas que os cabelos dourados que lhe caíam nos ombros.

Dionisos, além de devolver a realidade ao rei, passou a amá-lo como seu protegido, e ainda ajudou-o a conquistar a poderosa Macedônia. E a partir de então, Midas procurou preocupar-se menos com a sua riqueza, e passou a andar com mais freqüência pelos campos e florestas, onde honrava o deus campestre Pan, na companhia de seu amigo, o sileno Mársias.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 02:16

Um dia, a deusa Atena encontrou um belo e longo chifre de cervo. Era um objeto interessante, e ela queria fazer com ele algo útil e atraente. Logo se decidiu e começou a trabalhá-lo cuidadosamente e com muita arte. Retirou as extremidades dos dois chifres, limpou-os bem por dentro, depois abriu orifícios no sentido do comprimento e, para terminar, fez belas embocaduras nas partes superiores. Havia inventado a flauta dupla e pôs-se a tocar, soprando na embocadura e dançando os dedos sobre os orifícios; e tocara nela algumas melodias encantadoras, tanto gostou mas teve a infelicidade de, um dia, tocar durante um banquete olímpico. Héra e Afrodite, porém, começaram a soltar uns risinhos de escárnio, cobrindo a boca com as mãos, e Atena não conseguia entender o motivo.

— Por que estais rindo de mim? Todos apreciam a minha música, mas vós zombais de mim!

— Se tu visses teu rosto ao soprar esse instrumento, entenderias porque estamos rindo.

No entanto, Atena não se abalou, e murmurou:

— Elas devem estar com inveja de mim, pois sou criativa e a favorita de Zeus.

Então, Atena foi para a Frígia, onde achava poder tocar sossegadamente. E lá, estando sozinha, observou sua imagem em um riacho na montanha enquanto tocava a flauta. Quando viu a cara de boba com que ficava — as bochechas estufadas e o rosto todo vermelho — ela jogou fora a flauta, lançando uma maldição sobre qualquer pessoa, deus ou gênio que a pegasse:

— Maldito instrumento! Por tua causa fui ridicularizada. Maldito seja quem te pegar e te puser nos lábios!

O sileno Mársias, que estava à espreita, apanhou a flauta e, quando levou-a aos lábios, dela saíram melodias tão maravilhosas que decidiu aprender a tocá-lo, foi elogiado muitas vezes pelos camponeses frígios.

— Muito bem, Mársias! Nem o próprio Apolo pode fazer melhor música!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 02:17

Mársias foi tolo o bastante para não os contradizer. Quis superar o deus Pã, da Arcádia, mas foi infeliz em querer desafiar o Apolo, o deus da música. Logo que tocava para outros ouvirem, dizia-se capaz de tocar melhor que Apolo, o deus de cabelos dourados. E Midas, seu amigo, tentou, precavidamente, demovê-lo da ideia:

— Não sei, Mársias, mas não acho recomendável pretender bater-se com o próprio Apolo. Com sua lira, ele não tem rival.

— Afinal, tu és meu amigo ou amigo de Apolo?

E não demorou muito este em aparecer diante do sátiro. O rutilante deus da música estava magnificamente vestido e trazia consigo sua lira dourada E as nove Musas o acompanhavam.

— Como ousas considerar-te melhor músico que eu? Pode haver alguém no mundo, deus ou mortal, com técnica e talento musical comparáveis aos meus?

— Basta fazermos um duelo. Deixa que tuas nove irmãs julguem qual de nós toca melhor. E quem vencer poderá impor qualquer punição ao perdedor ou receber dele qualquer prêmio.

Apolo, imediatamente, soltou a voz:

— Pois bem. Vou derrotar-te e esfolar-te vivo por tamanha insolência!

Apolo, no intuito de obter juízes que lhe fossem favoráveis, pediu às Musas que fossem escolhessem o vencedor. Entretanto, do lado de Mársias, convidou como juízes os seus amigos: o rei meônio Tmolos, filho do deus Áres e Teógone, e o grande rei frígio Midas, filho de Górdias e da deusa Cíbele, que era amigo dos Silenos, dos Sátiros e dos Faunos. E o lugar do duelo foi marcado: onde hoje se ergue a colina de Boz.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 02:18

Mársias, sentando-se numa grande pedra, foi o primeiro a tocar, não demonstrando sequer preocupação pelas ameaças de Apolo, pois tinha certeza de vencer. As doces e tristes melodias de sua flauta ressoaram pelas encostas da montanha, e os pastores ficaram fascinados ao ouvir aquelas notas que lhes tocavam o coração. Até os pássaros, em êxtase, pararam de gorjear para ouvir. E o próprio monte, que também se chamava Tmolos, afastou um pouco as árvores de seu ouvido para melhor apreciar. As folhas das árvores despejavam o orvalho acumulado em suas folhas com tal intensidade que parecia que choravam, comovidas com os acordes. Os deuses escutavam com atenção, agradavelmente impressionados. Alguns julgavam mesmo que dificilmente Apolo faria melhor com sua lira.

As Musas entreolharam-se e ouviram com profundo respeito. Apolo pensou estar sendo enganado pelos próprios ouvidos, pois a música que fluía da flauta de Mársias era tão perfeita que deus ou homem algum conseguiria superá-la.

Quando Mársias terminou seu recital, todos aplaudiram-no com entusiasmo.

Em seguida à execução do sátiro, Apolo lançou para as costas a sua túnica púrpura e empunhou sua lira. Quando seus dedos feriram as cordas, a mais maravilhosa música encheu a montanha e os vales com sons majestosos. Toda a Natureza ouviu inebriada as notas que saíram da lira de Apolo, que maviosamente cantava; até as árvores pararam de respirar e não deixaram cair uma só folha em toda a região. Mas pareceu ser tão boa quanto a de Mársias, não melhor.

Depois que Mársias tocou sua flauta e Apolo sua lira, a princípio os juízes não conseguiram chegar a um acordo sobre qual dos dois concorrentes tivera melhor desempenho. Então Apolo disse a Mársias:

— Nesse caso, eu o desafio a tocar teu instrumento virando-o de cabeça para baixo, como eu faço.

E, assim dizendo, virou a lira e tocou quase tão bem quanto da primeira vez. Já que Mársias, naturalmente, não podia fazer o mesmo com sua flauta, as Musas resolveram:
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Mitologia Grega - Página 10 Empty Re: Mitologia Grega

Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 02:19

— Apolo venceu.

— Não, essa prova foi injusta.

Apolo surpreendeu-se e dirigiu o olhar para os dois reis. Tmolos ficou com medo de ser punido pelo deus, e resolveu apoiá-lo. Mas Midas manteve-se firme:

— Não! Mársias é o vencedor! Foi decisão injusta! Apolo é imbatível com sua voz melodiosa e sua lira afinada, todos sabem. Infelizmente para ele, hoje sua lira esteve minimamente desafinada, o que qualquer ouvido mais apurado deve ter percebido. Entretanto, a flauta de Mársias esteve simplesmente perfeita, e os sons que saíram dela não perderam um tom do seu brilho e musicalidade. Foi uma execução absolutamente impecável e, por isto, não hesito em afirmar que Mársias foi, sem dúvida, o vencedor.

No entanto, as Musas, nove contra um, discordavam dele. Midas não temia Apolo, visto que mantinha estreita amizade com Dionisos e o seu séquito, mas esquecia-se que Dionisos se encontrava distante, ocupado em expandir o seu culto pelo mundo. Afinal, Midas nada entendia de música mesmo.

Alguns aplausos soaram, mas Apolo estava francamente revoltado com o julgamento do rei frígio. Seu semblante alterado denunciava a sua vaidade ofendida, pois esperava vencer com a unanimidade dos votos, tornando sua vitória absoluta e irrefutável.

E pensava:

— Quem este demente pensa que é?

Apolo fuzilava um olhar mortal em Midas. Este, percebendo a fúria acesa nos olhos do ofendido deus, tentou consertar:

— Mas quero deixar bem claro que a derrota de Apolo, no meu modesto entender, se deu não à sua imperícia, mas a um defeito de afinação do seu instrumento...

Mas já era tarde demais; o estrago já estava feito, e seu adendo perdeu-se em meio ao burburinho dos circunstantes, que começavam a se dispersar.

Apolo, aproveitando a deixa, foi ter com Midas, em particular, e disse-lhe ao ouvido:

— Burro! Quem te nomeou juiz? O que essas orelhas sabem de música?
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 02:19

E tocou de leve em suas orelhas, que imediatamente cresceram e ficaram peludas como as de um asno. As Musas, que estavam por ali, riram dele, e Midas, confuso e pouco a entender, pôs as mãos nas orelhas. Quando levou um susto e saiu correndo de vergonha. Cobriu a cabeça com um manto e foi esconder-se.

Ninguém, exceto as Musas, entendeu o que se passava e, assim que quase todos já haviam deixado a montanha, Apolo foi de encontro a Mársias.

— Tu tens que morrer, mísero mortal, pela ousadia de desafiar o próprio deus da Música!

E atravessou o coração de Mársias com uma flecha. Depois, tirou a pele dele e deu-a aos Sátiros para que dela fizessem tambores. As Ninfas dos bosques choraram por Mársias e sepultaram-no perto de um rio. As Musas apiedaram-se do desditoso sátiro e pediram a Apolo que dele se compadecesse. Apolo, arrependido, quebrou sua lira e foi até seu pai Zeus a fim de pedir que o ajudasse. O senhor do Olimpo ouviu suas súplicas: Mársias não desceu para as negras profundezas do Inferno; seu espírito foi liberado no rio próximo à sua sepultura, que passou a levar o seu nome: Mársias, onde hoje dá lugar ao rio Tchina. Em seguida, consagrou a flauta a Dionísios.

Desde então, as águas do rio Mársias correm tão melodiosamente que os homens bons de espírito, que as ouvem, ainda reconhecem um doce som de flauta. Mas, quando o rio se lembra da cruel vingança de Apolo, suas águas avolumam-se e uivam ameaças ferozes, espalhando o medo e a tristeza por onde passam.

Depois disto, Apolo, cheio de orgulho, foi desafiar o deus Pan para um concurso musical, pensando assim em puni-lo por um dia ousar lhe profanar o Oráculo de Delfos, e venceu-o com facilidade. Pan, então, foi isolar-se nos campos da Arcádia.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 02:20

Foi então que o rei Midas teve a ideia de inventar um chapéu alto, de modo que cobrisse suas novas orelhas: o barrete frígio. Em seguida, implorou às Musas que não comentassem o assunto, e fez sacrifícios ao deus Apolo.

Infelizmente, o barbeiro de Midas, chamado para cortar o cabelo de seu senhor, encheu-se de assombro ao deparar-se com as orelhas de asno. Quis rir, mas o rei, tomando-lhe a tesoura, ameaçou matá-lo se ele contasse seu segredo a um único ser vivo.

— Cala-te, não digas uma palavra, idiota! Se ousares abrir o bico e contares para alguém, corto fora as tuas orelhas!

Ele, assustado, silenciou rapidamente, executando a sua tarefa com discrição, mas segurando o riso que ameaçava explodir. E, ao final do trabalho, juntou seus instrumentos e afastou-se, e permitiu seu riso solto sair de sues pulmões. O barbeiro, com aquele segredo estourando dentro dele, tinha que desabafar, sua língua ardia. Não podendo mais se conter, decidiu correr para o bosque e foi cavar com sua tesoura um buraco na margem do rio Páctolos — então conhecido pelo nome de Crisórroas, de águas de ouro — olhou muito bem à sua volta, com medo de que alguém pudesse ouvi-lo ou vê-lo, e sussurrou para dentro dele:

— O rei Midas tem orelhas de burro...!

E tapou imediatamente o buraco para enterrar logo o segredo. Depois, foi-se embora, muito satisfeito. Porém, um junco nasceu justamente naquele buraco e, sacudido pelo vento, passou a sussurrar para todos os outros juncos:

— O rei Midas tem orelhas de burro! O rei Midas tem orelhas de burro!

Logo, logo, os passarinhos já sabiam da novidade e levaram-na até um velho herói chamado Melampos, que vivia na Hélade e que compreendia a língua das aves. Melampos contou aos amigos, que levaram a novidade de volta para a Frígia. Finalmente, Midas, ao passar conduzindo sua carruagem, ouviu em coro o seu povo a gritar:

— Tira o barrete da cabeça, rei Midas! Nós queremos ver as tuas orelhas!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 02:21

Depois disso, Midas tomou uma primeira atitude: mandou cortar a cabeça do barbeiro; depois, desapareceu da vista de todos, para sempre. Diziam que havia-se suicidado de vergonha.

Midas tivera dois filhos, Litierses e Ancouros. Diz-se que, um dia, depois de ter-se livrado da maldição do toque de ouro, tendo perto de Pessinunte um amplo abismo, o rei Midas foi consultar o oráculo a fim de saber a maneira de conjurar essa ameaça ao povo da cidade. Respondeu-lhe o oráculo que ele deveria mandar lançar no precipício o que tivesse de mais valioso. Todo o tesouro do rei foi ali atirado, sem obter o menor resultado. Por fim, o jovem Ancouros se atirou no imenso buraco, que imediatamente se fechou.

Seu filho Litierses ocupou o trono da Frígia, em seu lugar, mas o nó de Górdion (Górdias) jamais foi desfeito.

ALEXANDRE E O NÓ DE GORDION

Muitos séculos depois, ocupava o trono da Macedônia, em 336 a.C., um jovem de vinte anos, chamado Alexandre, que sucedia ao seu pai, Filipe II. Era ambicioso, culto, inteligente e notável guerreiro. Conhecia a Literatura grega e defendia os seus costumes. E tinha como sua principal missão combater todas as populações persas e apoderar-se das riquezas do Oriente.

E sua primeira tarefa foi realizar os planos de seu pai, invadindo a Grécia (a antiga Hélade), iniciando a expansão de seu Império. Tebas foi destruída e os tebanos mortos ou escravizados. Depois de aclamado generalíssimo dos helenos, Alexandre dirigiu-se à Ásia Menor, a fim de iniciar a luta pela conquista do Império Persa.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 02:22

Como Alexandre não era dos que se intimidava pelas intrigas, mas bem ao contrário, suas manobras bélicas se redobraram, ainda antes do início do inverno. E se dispôs a conquistar a Frígia e a Pisídia. O rei macedônio se pôs à frente de seus melhores infantes e adentrou-se nas mesetas nevadas. As tribos que habitavam estas montanhas geladas ficaram desconcertadas ao ver aparecer em seus inacessíveis territórios as disciplinadas colunas de um exército que ascendia. Alexandre conhecia perfeitamente a seus macedônios, agrianos e trácios, montanheses que portanto estavam em seu terreno, e este genial estratego sabia que os belicosos guerreiros daquelas alturas eram mais vulneráveis no inverno, pois não poderiam retirar-se dos cumes. O exército macedônico terminou impondo sua lei. Dos magníficos guerreiros frígios e pisidas, Alexandre recrutou um importante contingente de voluntários. Com estas façanhas, o Hegemão da aliança helênica cumpria seu primeiro ano de guerra na Ásia. No prazo de um ano, havia realizado o sonho de seu pai. Agora faltava vingá-lo.

Estes milagres não só se deviam ao gênio tático do jovem rei, como também a seu domínio da estratégia, pois graças ao magistral emprego desta ciência, Alexandre havia neutralizado a frota imperial persa, e havia evitado seu desembarco na Grécia, solucionando ao mesmo tempo as necessidades de abastecimento para seu próprio exército e garantindo a ordem nos novos territórios conquistados. E para celebrar seu primeiro aniversário de vitórias, Alexandre Magno efetuou um golpe de propaganda. Na cidade de Górdion, havia um carro que o famoso rei Midas havia consagrado a Zeus. Em torno desta lenda, surgiu uma profecia: o homem que lograsse desatar o nó que unia o carro ao seu eixo, se converteria no senhor absoluto da Ásia. Ninguém o havia conseguido. Esse nó havia sido feito por Górdion, o antigo rei da Frígia.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 02:22

No mês de abril, em 333 a.C., o rei dos macedônios vestiu sua melhor armadura, e no lombo de seu cavalo, Bucéfalos, empunhando o escudo mágico que havia pertencido ao seu ídolo maior, Aquiles, e seguido por todo o exército, se dirigiu ao Templo aonde estava o carro de Midas. Era um momento decisivo. Esse mesmo dia mostraria o futuro de Alexandre, se continuaria a triunfar ou não. Alexandre entrou com passo seguro ao santuário, seguido por seus companheiros, e os soldados que puderam entrar no recinto. Todos os olhares se dirigiram ao jovem monarca que ousava descobrir seu destino, com o mesmo valor de Aquiles, o maior dos heróis gregos em Tróia. Uma vez conhecendo o enigma da profecia, o rei favorecido pelos deuses surpreendeu a todos. Assim que estudou os emaranhados do complicado nó gordiano, e verificar que efetivamente era um nó cego, Alexandre, com a mesma astúcia com que domou a Bucéfalos, desembainhou a espada, levantou-a, e ante milhares de guerreiros, descarregou um feroz golpe sobre o jugo do carro consagrado a Zeus. À força de espada, o nó estava desfeito e a profecia ironicamente revelada. Enquanto o rei erguia a sua espada, como sinal de vitória, e com outra mão mostrava a corda rompida, os soldados jubilosamente gritavam, aclamando o seu comandante. A conquista da Ásia era um fato. Verificava-se, a partir de então, que Alexandre era protegido por Zeus, Atena e Héracles, e de todo o panteão helênico. A vitória estava garantida.

Depois da derrota de um exército persa, na famosa Batalha de Issos, provocando a fuga do grande rei Dario III, Alexandre levou seus domínios à Síria, sitiou Tiro, na Fenícia, numa resistência de oito meses, entrou em Jerusalém sem luta, tomou Gaza, dos filisteus, e foi calorosamente recebido no Egito, em 332 a.C., já que os egípcios tinham aversão aos persas. Naquele país, fundou Alexandria, consultou o Oráculo de Ámon, no deserto, e foi saudado como filho do deus.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 02:24

No tempo em que as Amazonas habitaram próximas do mar da Hyrcania (hoje mar Cáspio), a rainha Taléstria compartilhou o leito com Alexandre o Grande, a quem buscava por sua fama com o fito de ter com ele um filho.

Em 331 a.C., na célebre Batalha de Arbelas, na Assíria, Alexandre derrotou os persas, fazendo novamente fugir o rei Dario III, que em seguida foi assassinado pelo sátrapa Bessos. Depois, o rei dos macedônios conquistou a Ásia Central, especialmente a Bactriana, a Sogdiana, e fundou inúmeras cidades que levaram o seu nome.

No outono de 327 a.C., Alexandre marchou rumo à Índia, penetrou no Pendjab e derrotou o rei Póros. E, por causa do cansaço de seus soldados, as chuvas, as tormentas e o calor, Alexandre teve que retornar para o Ocidente. Durante o inverno compreendido entre 324 e 323, ele e seus soldados permaneceram em Babilônia, capital de seu vasto Império, fazendo planos. Mas, vítima de febre maligna, ali morreu em junho de 323 a.C., antes de completar 33 anos de idade. E, devido a esse acontecimento, seus generais, os diádocos, entraram em luta entre si, provocando o esfacelamento do Império, dando origem a novos Estados: Seleucos ficou com a Pérsia, a Mesopotâmia e a Síria, a Lisímacos coube a Ásia Menor e a Trácia, e Cassandros obteve a Macedônia e a Grécia.

FIM
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 05:17

O mito de Faéton

Enquanto reinava Cécrops na Cecrópia, no longínquo Quemit (ou Nilótis) reinava o jovem Épafos, filho de Zeus e Io. Era este o principal entre um grupo de jovens de países vizinhos que de vez em quando se reunia para pôr em dia os seus causos e folguedos. Reuniam-se ora num lugar ora noutro, contavam suas pirraças, suas travessuras de outrora, as histórias extraordinárias de seus pais, e um jovem persa chamado Faéton constantemente mencionava o nome de seu suposto pai; não era de estranhar que Épafos, rei de muitos, fosse filho de Zeus, mas era inaceitável que Faéton fosse filho do mais majestoso dos astros, ele, simplório que era. E ainda dizia que suas irmãs eram as Helíades.

— Pois afirmo que eu seria capaz de guiar o carro de meu pai.

— Tua mãe mente para ti, Faéton, o deus Hélios não pode ser teu pai. E o pior é que tu nunca poderás saber de que mortal és filho. Ademais tu sabes que o carro do Sol só pode ser guiado pelo próprio Sol!

As palavras de Épafos feriram gravemente o coração de Faéton, que orgulhava-se muito de seu pai imortal. E pensou:

— Uma flecha em meu coração teria sido melhor do que os insultos que acabo de ouvir.

E o jovem Faéton, sem nada responder, procurou sua mãe, Clímene, para confirmar a sua ascendência divina.

— Mãe, Épafos disse que eu não sou filho do divino Hélios!

— Não dês ouvido às conversas dele, meu filho. É claro que tu és filho do Sol. Basta olhar para os teus cabelos dourados e tua pele bronzeada.

— Minha mãe, eu jamais teria vergonha de ser filho de um pai mortal. O que me cobre de vergonha é pensar que fui enganado por ti! Preciso da verdade, porque sempre que revejo meus amigos, sou insultado e duvidam da minha origem divina. Se sou na verdade de origem celeste, dá-me, minha mãe, uma prova disso, que me assegure o direito de reclamar minha honra.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 05:18

Clímene, filha de Océanos e Tétis, havia tido do titã Jápetos filhos famosos, os Titãs Prometeus, Átlas, Mênetos e Epimeteus. Mais tarde, casando-se com o deus Hélios, teve Faéton e as Ninfas Helíades. Ela, desejando que seu filho conhecesse o pai, estendeu os braços para o céu, exclamando:

— O que estás dizendo, meu filho?! Tomo por testemunha o Sol que nos olha, de que te disse a verdade. Se menti, seja esta a última vez que contemplo esta luz. Não é preciso muito para tu mesmo ires averiguar; a terra onde mora Hélios fica próximo da nossa. Vai esta noite perguntar-lhe se te reconhece como filho. Tu és, realmente, filho do Sol.

O Sol, cujo nome era Hélios e tinha um palácio na Índia e outro na Cólquida, para além do Euxinos, no mesmo país onde seguia acorrentado o titã Prometeus, havia sido colocado entre os Astros depois que os Titãs o haviam afogado. O titã foi incluído entre os deuses menores. Ficou encarregado de, todo dia, no amanhecer, atrelar quatro cavalos brancos a um carro de fogo — tão brilhante que ninguém podia olhá-lo sem ferir os olhos — e o guiava através do Céu para outro palácio no Extremo-Ocidente, perto do Jardim das Hespérides e dos Campos Elísios. Lá ele desatrelava as parelhas e, depois de dar comida aos cavalos, carregava-os, assim como ao carro, em uma barca dourada, na qual navegava adormecido em torno do mundo, seguindo a Corrente Oceânica até chegar novamente à Cólquida. Hélios gostava de olhar o que se passava no mundo lá embaixo, mas jamais podia tirar férias de seu trabalho.

O palácio do Sol era um lugar fulgurante. Tinha o brilho de ouro, o lampejo do marfim e a cintilação das jóias. Por dentro e por fora, tudo era resplendor e luminescência. Era sempre meio-dia, e a penumbra sombria nunca vinha turvar a claridade. A Escuridão e a Noite eram ali desconhecidas. Poucos dentre os mortais teriam resistido por muito tempo àquela luminosidade imutável, mas também poucos tinham descoberto o caminho que levava até lá.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 05:19

Faéton ouviu deleitado essas palavras. Cruzou a Pérsia e viajou para a Índia, junto das regiões do Nascente, aonde seu pai também tinha um palácio, como na Cólquida, e onde costumava estar. E, cheio de esperança e orgulho Faéton chegou naquele país e foi em busca do reluzente palácio do Sol.

Desde que avistou ao longe o palácio reluzente, teve que parar muitas vezes para esfregar os olhos ofuscados por tanta luz, mas o propósito que o trouxera até ali era tão urgente que ele se manteve firme e apressou ainda mais os passos até alcançar aquele lugar.

A fortaleza do deus-Sol era construída sobre esplêndidas colunas, e brilhava coberta de reluzente ouro e rubis flamejantes. O frontão superior era emoldurado por marfim alvo e brilhante, e os portões duplos eram de prata, ornamentados com impressionantes relevos esculpidos por Hefaístos, representando a Terra, o Mar e o Céu com seus habitantes. A perfeição da obra sobrepujava o material.

Foi nesse palácio que entrou Faéton, atravessando as portas polidas que conduziam à sala do trono. Pediu para falar com seu pai. Subiu as escadarias de mármore, que despediam reflexos de um dourado intenso, de tal modo que não se sabia se eram as escadarias que refletiam o ouro das paredes ou se as paredes que refletiam o ouro das escadarias. Parou a uma certa distância, pois mais perto já não era possível suportar a luz que emanava do trono. Hélios, vestido com um manto de púrpura, estava sentado sobre o seu trono, ornamentado com esmeraldas. À sua direita e à sua esquerda, estava o seu séquito, o Dia, o Mês, o Ano, o Século e as Horas, que andavam de um lado para outro, do Oriente para o Ocidente, sempre fazendo escala no Olimpo. Do outro lado, a Primavera, com sua coroa de flores, o Verão, com suas espigas de cereais, o Outono, com uma Cornucópia cheia de uvas, e, meio deslocado, o Inverno, com seus cabelos brancos como a neve.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 11/3/2021, 05:21

Hélios, sentado no meio destes, logo percebeu o rapaz, impressionado com este cenário magnífico. Ele o reconheceu, e perguntou:

— Que te traz ao palácio de teu pai, meu filho?

Faéton sentiu-se alegremente lisonjeado por começar a acreditar que era realmente filho do Sol. E respondeu:

— Honrado pai, na Pérsia, onde eu moro, todos me ridicularizam e maldizem minha mãe Clímene. Afirmam ser falsa a minha origem divina, dizendo que sou filho bastardo, de um pai desconhecido. Contei tudo a ela, e sua resposta foi que eu viesse pessoalmente procurar-te. É por isso que estou aqui, para pedir-te um sinal que prove a todos na Terra que sou teu filho.

Hélios então tirou sua coroa de raios que brilhavam em torno de sua cabeça e ordenou ao jovem que se aproximasse:

— Vem, filho, tu que és o mais velho entre os que concebi de tua mãe Clímene.

Abraçou-o, então, e continuou:

— Tua mãe Clímene disse a verdade. Eu jamais haverei de renegar-te. Não duvides da minha palavra. Se assim não fosse, de que forma poderias encarar-me?

— Meu pai, meus companheiros não querem acreditar na minha origem. Peço-te que me concedas uma graça para que eu possa demonstrar a verdade.

Hélios, que percebeu uma profunda dor estampada nos olhos do filho, a quem adorava, exclamou:

— Isso parece coisa de teu companheiro Épafos, que enche a boca par dizer ser filho de Zeus. Vou queimá-lo agora mesmo e mostrar ao mundo que ninguém pode insultar meu filho!

— Não quero que tu queimes com teu fogo, pai, mas que me dês uma prova que faça calar para sempre a boca de Épafos.

— É mais um de seus pequenos ardis... Não vale a pena aborrecer-se com suas brincadeiras tolas.

— Não foi brincadeira. Ele falou sério. Não consigo mais olhá-lo nos olhos. Prefiro desaparecer da face da Terra a ser alvo de chacotas e ouvir que nunca saberei de quem sou filho.

— Pois grita bem alto para todos ouvirem que tu és meu filho e tua mãe é Clímene!

— Sim, mas quem irá acreditar em mim?
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