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O Dilúvio na Mitologia

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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 15:25

Eles adivinharam que a “mãe” a que a deusa se referia tratava-se da Mãe-Terra. Por isso, cobrindo suas cabeças e afrouxando suas vestes, eles jogaram pedras para trás de si. Elas amoleceram e começaram a tomar forma. Pouco a pouco, foram assumindo uma grosseira semelhança com a forma humana, como um bloco ainda mal acabado nas mãos de um hábil escultor. A umidade e o lodo que havia sobre elas transformaram-se em carne; a parte pétrea transformou-se nos ossos; e tudo maravilhosamente se transformou: as pedras lançadas pelas mãos de Deucálion tornaram-se homens e as lançadas por Pirra tornaram-se mulheres. E foram muitas pedras jogadas, centenas delas, até a exaustão. Surgia uma raça forte e bem disposta para o trabalho. E, coincidentemente, referindo-se à etimologia das palavras “pedra” e “povo” eram semelhantes: lâos, “pedra”, e laós “povo”.

Só então, descobriram que haviam outras famílias abrigadas no outro lado do grande monte. Entre elas estava a família de um homem chamado Párnassos, que por ter sido agraciado com a salvação, foi dado o seu nome ao monte, em sua homenagem.

Mais tarde, a família de Deucálion migrou para a região da futura Ftia, onde passaram a reinar, e onde seus filhos, Helenos e Anfictíon, e suas filhas recém-nascidas, Melantéia (Hélene), Protogênia (Pandora) e Thia, teriam descendentes que formariam nações fortes espalhadas por todas as regiões do mundo devastado. Era o fim da Geração de Bronze, dando lugar a uma nova era: a Idade Heroica.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 15:25

Mais justos e mais nobres do que a geração predecessora, os homens da Idade Heroica, descendentes de Deucálion e Pirra, eram belos como os deuses. Após as inundações do Dilúvio, os Imortais desciam freqüentemente do Olimpo e misturavam-se a eles, compartilhando de suas alegrias e tristezas. Muitos heróis e nobres eram filhos de algum deus, e os Olímpicos ficavam a seu lado e protegiam-nos. Cidades grandes e poderosas nasceram e floresceram nesse período. A mais famosa delas se ergueria na Argólida, e a chamariam de Micenas, iniciando a gloriosa era da Civilização Micênica.

Mas essa Era não duraria para sempre, pois estava destinada a dar lugar a uma nova geração. Muitas guerras sangrentas exterminariam grande parte da população, em Tirinto, Pilos, Iolcos, Knossos, Tebas, Tróia, Árgos, Micenas, Esparta, entre tantas outras poderosas cidades. Ademais, com a excessiva fertilidade que o Dilúvio causou, produziu enorme variedade de coisas, boas e más. Entre elas, surgiu Píton, uma serpente enorme, terror do povo, que se refugiou nas cavernas do Párnassos.

Porém, para recompensar os grandes feitos dos homens, Zeus haveria de ressuscitar os heróis e levá-los para viverem longe dos olhos dos homens comuns, nas longínquas ilhas dos Bem-Aventurados, para além do Oceano e em outros remotos confins do mundo conhecido. Nesses lugares, tão distantes, haveriam de levar uma vida livre de sofrimentos e amarguras, onde a terra haveria de produzir três safras anuais, e frutas doces como mel. E esses mesmos heróis seriam coroados e venerados como deuses pela raça dos homens da Geração de Ferro.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 15:26

A DESCENDÊNCIA DE ÈPAFOS

O Dilúvio havia inundado várias regiões da Europa e da Ásia, mas não chegou a tocar as águas do Nilos. Épafos, filho de Zeus e Io, ao alcançar a maioridade, após a morte do Faraó seu padrasto, subiu ao trono, sob a regência de sua mãe, e passou a reinar sobre todos os Quemitas da terra de Nilótis. (Épafos seria o mesmo Amenemhet I ou Sehetepibre?)

Épafos tomou por esposa uma ninfa, Mênfis, filha do deus-rio Nilos, e fê-la rainha. Dessa união nasceram três filhas: Líbia, Lisianassa e Tebe (de cujo nome nasceria a Tebas egípcia).

Bizas e Estrombos nasceram da união entre Poseidon e Céressa, filha de Io, portanto eram sobrinhos de Épafos, o rei de Nilótis. Nasceram na Trácia, não muito longe do Bósforos, e cresceram rivais.

Poseidon uniu-se a duas das três filhas de Épafos e Mênfis, Líbia e Lisianassa. À primeira, o Abalador da Terra deu-lhe um presente especial: um esplêndido vestido vermelho, de cauda, todo bordado com fios de ouro, estampado com cenas históricas dos deuses — confeccionado pelo seu sobrinho, o deus Hefaístos.; teve com ela três filhos, Belos, Agenor e Busíris. E, com a segunda, um filho que também chamado de Busíris, este destinado a ocupar o trono do país, estabelecido pelo deus-rei Osíris.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 15:26

CALISTO E O PECADO DE LICÁON

Nesta época, Arcas nascia de Zeus e Calisto. Ela, uma das filhas do grande rei Licáon, era considerada, por muitos, uma deusa fluvial, que mantinha-se sempre acompanhada pelas Ninfas e por sua melhor amiga, a deusa Ártemis. Esta, que amava a liberdade e jamais unia-se a qualquer deus ou homem, advertia Calisto e aconselhava-a a manter-se afastada do convívio de todos. Todas as manhãs as duas embrenhavam-se mata adentro para caçar, com suas aljavas prateadas penduradas às costas. As outras Ninfas, contudo, sempre invejaram a preferência que a deusa dava a ela, uma mulher comum, que nem ao menos era de verdade uma delas.

Um dia, Zeus, o senhor do Olimpo, viu a bela Calisto a correr pela floresta e por ela se apaixonou. E, conhecedor das advertências de Ártemis, não podendo se aproximar da ninfa, tomou a forma de sua filha e conseguiu achegar-se. E só desta forma pode abraçá-la, beijá-la... e possuí-la.

Mais tarde, Calisto foi censurada por Ártemis e, do alto do Olimpo, a rainha Héra viu nascer uma criança no fundo de um bosque. E reconheceu nela a infidelidade do marido Zeus.

— Vou acabar logo com sua beleza e fascínio!

E, tendo Calisto retornado ao grupo de Ninfas, reconheceu-a e resolveu castigar Calisto.

— Céus, o que está havendo comigo!

A pobre ninfa olhou, horrorizada, para os seus membros peludos, sentindo que sua própria boca aumentava de tamanho, enchendo-se de presas enormes. E pensou:

— Oh, se ao menos tivesse me transformado num felino!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 15:27

E tentou dar alguns saltos ágeis, mas caiu por terra, com todo o seu peso. Seu espírito, contudo, permaneceu ileso. E, temendo pela vida de seu filhinho, foi procurá-lo, e não mais o encontrou. Antes que Héra pudesse fazer algum mal à criança, Zeus tomou-a e confiou-a a Maia, filha do gigante Átlas e mãe do deus Hermes. A deusa criou o menino como seu. E quanto a Calisto, agora uma ursa, ficou a vagar pelos bosques pelásgicos, procurando manter-se afastada de seu filho. No entanto, não abandonou o seu lugar; andava pelos mesmos lugares em que antes caçava, olhando as Ninfas se divertirem no bosque de Ártemis.

Às vezes Calisto vagava noites inteiras ao redor de sua casa, esperando ainda ver o seu filho desaparecido, ou mesmo para fugir da escuridão que assolava a floresta na noite apavorante e ruidosa. Mas ela agora não podia mais conviver no meio dos humanos, e seu espírito não admitia a possibilidade de ter de conviver com as embrutecidas feras selvagens.

O menino crescera no território dos Pelasgos. O rei Licáon, que obtivera graças diante das divindades do Olimpo, livre das desgraças da ira de Zeus sobre os povos da região do Párnassos e da Ápia, passou a freqüentemente hospedar os Imortais em sua casa, especialmente as Ninfas e os Gênios das florestas da região que reinava.

Mas Licáon, ao invés de mudar seu comportamento devido à ira de Zeus, considerou-se ainda mais importante e orgulhoso por ter sido poupado. Achava-se o rei mais importante e poderoso de todos os reinos. Dizia-se favorito de Zeus. E esnobava todos os visitantes que freqüentemente achegavam-se em seu reino para as festas Licaias, como era tradição anual. Licosura, após o Dilúvio, tornara-se um monte de ruínas, mas outras cidades surgiram ao seu redor, e Parrásia tornou-se a sede do reino dos Pelasgos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 15:28

Licáon duvidava da origem divina de seu neto Arcas. Para tanto, maliciosamente, a fim de experimentar sabedoria e clarividência dos deuses, resolveu convidá-los para um banquete especial, um dia antes das festas Licaias. O próprio Zeus foi convidado. Entre os convivas estava o deus Pan, que era o mais venerado por aquelas paragens. Talvez Licáon se sentisse invejoso, já que coincidentemente o pequeno Arcas levava fama de ser filho daquele deus campestre. E pretendia livrar-se do menino.

Por isso, serviu à mesa dos deuses o pequeno Arcas em pedaços, temperado e assado. Deméter, sempre a mais gulosa que os demais deuses, já havia devorado uma parte do ombro humano, quando Zeus deu pelo engano. Com um olhar fulminante, fez parar a ceia, antes que algum outro deus experimentasse o assado:

— Então este é Licáon, o mortal estimado pelo Olimpo?! Como ousas insultar o senhor do mundo de modo tão desonroso? Não aprendeste nada com o que se sucedeu à humanidade?

O espanto foi geral, causando a maior confusão. Cheio de cólera, Zeus virou a mesa, e os deuses, muito aborrecidos, abandonaram a casa do rei e recolheram os pedaços de Arcas. E o rei, amedrontado, foi esconder-se.

No Olimpo, Zeus fez ressuscitar o pequeno Arcas e, como estava sem uma parte do ombro, ordenou ao filho Hefaístos que fizesse para ele um ombro de marfim. Em seguida, devolveu o menino à plêiade Maia, a mãe de Hermes, e pediu que lhe desse educação.

O pai dos deuses, ainda muito irado pelas atitudes grotescas dos humanos, golpeou com o raio a casa do rei, que foi totalmente destruída pelas chamas. O rei fugiu para o campo aberto. E o primeiro grito de dor que soltou foi um uivo. Suas roupas transformaram-se em pelos espessos, seus braços tomaram formas de patas; havia se transformado em lobo. Assim, o rei do Olimpo pôs fim aos inúmeros crimes desse malfeitor, adepto dos sacrifícios humanos.

Esta passagem alude na crença de uma das versões sobre o surgimento da raça amaldiçoada dos lobisomens.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 15:28

Em seguida, Zeus, ciente dos crimes que os filhos de Licáon cometiam também, começou por fulminar os Licaônidas, transformando-os todos em lobos, que passaram a infestar a região de um monte que, a partir de então, tomou o nome de Licaios. E, entre os cinquenta filhos varões de Licáon, somente Níctimos, o mais novo, foi poupado, já que era vítima constante do abuso de seus irmãos.

De volta ao Olimpo, o rei dos deuses, desgostoso com a espécie humana, quis enviar contra eles um novo dilúvio e exterminá-la de uma vez por todas, mas lembrou-se do pacto que fizera e resolveu, com isso, iniciar um longo processo de nascimentos, os heróis, para que tivessem um papel fundamental entre os homens, para civilizá-los, orientá-los e protegê-los contra a vilania e as mais diversas formas de violência. E muitos deles haveriam de nascer do próprio lícor de Zeus.

Então, Níctimos, o único entre os filhos de Licáon, assumiu o trono dos Pelasgos.

BIZAS E ESTROMBOS

Entrementes, depois que havia causado a morte de seu melhor amigo, Faéton, o filho do Sol, por tê-lo instigado a provar sua origem divina e com isso ter causado tamanha catástrofe na Terra, abdicava ao trono o grande Épafos, e ascendia, ao seu lugar, o novo rei (Sesóstris I ou Kheperkare?), que não era seu filho, já que seus filhos varões eram ainda muito jovens.

Enquanto isso, ao tornarem-se adultos, Bizas e Estrombos brigavam pela posse do território que dava para o Bósforos. Bizas venceu a disputa e expulsou o irmão daquela terra.

Para tirar todas as suas dúvidas do que deveria fazer em seguida, construir uma cidade e encontrar prosperidade, como fazia a maioria dos reis da época, Bizas foi para Delfos consultar o Oráculo de Apolo, que pela boca da Pítia lhe disse:

— A cidade que buscas está defronte aos cegos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 15:29

Bizas, com a ajuda de Poseidon, seguindo as ordens do Oráculo, conduziu uma colônia de Megareus para o leste e chegou ao extremo da Propôntida, um pouco ao norte de onde havia travado um duelo com seu irmão Estrombos. E, donde estavam, via-se um povo do outro lado do estreito, na parte asiática.

— Serão eles os cegos?

Certo de que estavam no lugar onde os deuses o haviam mandado, fundou às margens do Bósforos, na Propôntida, uma próspera cidade: Bizâncio (mais tarde chamada Constantinopla, onde hoje ergue-se Istambul).

Hémos, filho de Bóreas e de Orítia, e sua esposa Ródope, foram marcados pela ira de Zeus por terem ousado exigir do povo trácio que os adorassem sob os nomes de Zeus e Héra. Hémos era soberano da Trácia e, como tal, decidiu invadir a nova cidade que surgia, Bizâncio, e tentou conquistá-la. Mas Bizas, o rei, expulsou-o e a seus exércitos para o interior do seu país de origem, deixando Bizâncio aos cuidados da rainha Fidaléia, sua esposa.

E, encurralado sobre os montes Nisa, Bizas tirou-lhe a vida. E toda cordilheira passou a chamar-se Hémos (hoje Balcãs). E a ninfa Ródope, ao saber da morte do marido, suicidou-se, e a montanha vizinha de Hémos passou a levar seu nome. Hémos e Ródope deixaram órfão um filho, Hébros, que breve haveria de ocupar o trono de seus pais. E Ródope deixou também um filho, que tivera do deus Apolo; chamava-se Cícon, e estava destinado a reinar sobre os Cícones da Trácia.

Na ausência de Bizas e seu exército, Bizâncio foi atacada por Estrombos e seu aliado Odrises, rei da Cítia. Mas a cidade foi salva, desta vez por Fidaléia, a rainha, que atirou no campo inimigo grande quantidade de serpentes, causando-lhes pânico e morte.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 18:20

ARCAS E A URSA

Voltando a Arcas, muito tempo havia passado desde que Arcas separara-se de sua mãe, quando ele ainda era um bebê. Havia sido criado pela ninfa Maia, e morado, mais tarde, na corte de seu avô, o rei Licáon. E, ouvindo muitos boatos sobre sua mãe ser uma ninfa, resolveu entrar na floresta onde ela vivia. Mas mal sabia ele que Zeus era seu pai e que a vingativa Héra ainda guardava rancor em seu divino coração, e pretendia vingar-se da infidelidade do marido.

Então, foi Arcas para as montanhas, que ficava no meio do bosque, em companhia de seus filhos e servos, com o fito de fazer o que mais gostava, caçar, e de encontrar também a gruta onde, diziam, havia nascido, e viu que uma ursa surgia detrás de uma árvore; era gigantesca.

A ursa, com todos os seus instintos maternos, reconheceu-o e tentou chamá-lo e abraçá-lo:

— Meu querido filho, enfim vieste me encontrar!

Mas o que saiu de sua boca foi apenas um terrível rugido que encheu o jovem de pavor... e coragem! E, retesando a corda de seu arco, correu a persegui-la a fim de tomar a sua pele como troféu, perseguindo-a pela floresta até ao Templo de Zeus.

De repente, a ursa, muito cansada pela fuga incessante, velozmente aproximou-se dele como que pretendendo afagá-lo, mas Arcas se surpreendeu e assustou-se, sentindo-se ameaçado; Arcas apanhou uma seta, empunhou o arco e atirou. E antes que a seta pudesse acertar o alvo, a ursa desapareceu diante de seus olhos; em seguida, sentiu seu corpo mudar, mudar rapidamente, como numa metamorfose; Zeus o transformava num pequeno urso. Este, reconhecendo sua mãe, correu ao seu encontro para receber suas carícias e seu afeto.

Mas Héra, a esposa de Zeus, insatisfeita porque a estrela da ninfa brilhava no Céu, dirigiu-se ao oceano para queixar-se a seus pais adotivos, Océanos e Tétis.

— Bem-vinda, ó rainha da corte celestial! Por que deixaste o Olimpo e vieste a estas profundidades?
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 18:21

— Por que estou aqui? Sabeis que estou suplantada no Céu: meu lugar é dado a outra. Já não posso mais viver com dignidade entre os deuses, eis que meu marido me afronta de maneira vil, fazendo com que eu seja suplantada pela sua amante e, ainda, o seu filho!

— Héra, não podemos acreditar que...

— Dificilmente acreditareis em mim. Isto eu sei.

— Sabemos da infidelidade de Zeus, mas não podemos acreditar em tamanha afronta!

E, em prantos, Héra disse-lhes:

— Então olhai para o céu durante a noite e vereis meus dois inimigos límpidos e brilhantes! E debocham de minha honra ultrajada! Quem hesitará em me vilipendiar daqui por diante, quando é este o prêmio de todo aquele que ousa me afrontar? Não a considerei digna de se revestir da forma humana, e agora ela é exaltada entre as estrelas! Tal é o resultado do meu castigo, tal a extensão de meu poder!... Seria melhor que ela tivesse recuperado a forma humana, como permiti que Io recuperasse. Talvez Zeus pretenda desposá-la, e deixar-me de lado.

— Héra, minha querida...

— Vós, meus pais de adoção, se estais a meu lado e encarais com desgosto esse indigno tratamento que me foi imposto, mostrai, peço-vos, uma forma de não permitir que entrem em vossas águas.

Infelizmente para Héra, desta vez a sua ira teve de se satisfazer com uma bem pequena recompensa, pois a única providência que Poseidon, o rei dos mares e seu irmão, pôde tomar foi a de nunca permitir que Arcas e Calisto pudessem submergir no oceano, sendo obrigados a fazer seu curso em círculos ininterruptos sob o céu, pois Zeus, apiedado, colocou nas Constelações a imagem de um pequeno urso, Bootes, e uma ursa, Arcturo, sua mãe Calisto.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 18:22

CADMOS E O RAPTO DE EUROPA

O filho de Poseidon e Líbia, Agenor, o “comandante de homens”, tornou-se o soberano de Sídon, numa vasta região da Síria. E seu reino chamava-se Sidônia. Nos jardins do palácio, costumavam brincar cinco filhos de Agenor e Teléfasse, “que ilumina longe”, também chamada Argíope, “a de rosto branco”. Eram quatro meninos — Fineus, Cadmos, Fênix e Cílix (ou Cálix) — e uma menina, Europa. Brincavam muito despreocupados, em grande algazarra.

Uma noite, Europa sonhou que duas mulheres lutavam ferrenhamente por sua posse: chamavam-se Oriente, que tinha traços semelhantes aos seus, e Ocidente, de pele mais branca. Se Oriente vencesse, Europa permaneceria no lugar de seu nascimento, com seu povo; se Ocidente triunfasse, levaria Europa consigo, numa longa viagem para o Oeste, o outro lado do mar azul.

Ocidente venceu a luta. Com o coração partido, Oriente disse adeus à princesa nascida e criada em seu solo, cuja deslumbrante beleza era o orgulho de toda a Ásia, enquanto a estrangeira, de forma violenta, a seduzia:

— Vem comigo, minha querida, vou levar-te para junto de Zeus! Isso está determinado em teu destino!

Europa acordou aterrorizada, pois nada no mundo a faria deixar a terra em viera ao mundo e os pais que tanto amava. De joelhos, rezou e suplicou aos deuses, sobretudo a Baal, seu deus maior, que a impedissem de afastar-se da pátria e da família. E quem era Zeus? Por que deveria segui-lo? Por algum tempo ficou sentada na cama, imóvel, quando entrou sua ama às pressas, para acudi-la, já que havia acordado com seus gritos. A princesa abraçou-a e lhe falou coisas confusas:

— Qual dos deuses me enviou aquelas imagens? Quem era aquela estranha que vi no sonho? Que miraculosa saudade é esta que despertou em meu coração? E com quanto carinho ela se aproximou de mim, como eram cheios de amor os seus sorrisos, mesmo quando me raptou com violência!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 18:22

— Calma, princesa, foi só um sonho...

— Possam os deuses fazer com que este sonho me seja favorável! Vem, querida ama, ajuda-me a sacrificar aos deuses e pedir-lhes proteção!...

Porém, Zeus, o senhor dos deuses do Ocidente, tinha outros planos. Fora ele quem mandara Óneiros, o deus dos pesadelos, penetrar o sono de Europa, para descobrir se ela gostaria de partir e deixar sua terra natal. Mesmo sabendo que a princesa estremecia só de pensar em deixar o seu reino, o poderoso Zeus estava dominado pelo desejo de levá-la consigo e desposá-la. E o que ele desejava tinha de ser realizado. Zeus concebeu um plano secreto para raptar a princesa, que de nada suspeitava, e faria isso também com o fito de desviar-se dos olhos de sua esposa, a vingativa Héra. E, com esse objetivo, chamou seu filho Hermes e ordenou-lhe:

— Apressa-te, filho, fiel cumpridor de minhas ordens! Vê. Adiante do mar, nas praias da Síria, encontra-se Sídon. Vai para lá e conduz o rebanho do rei Agenor, que agora se encontra nas montanhas, aos cuidados dos pastores. Dá-lhes um profundo sono, e faz o que te peço: leva-os à beira-mar.

Poucos instantes depois, ao clarão do luar, o deus alado chegou às pastagens sidônias, adormeceu com o Caduceu os pastores cansados e conduziu o rebanho do rei, em meio ao qual, misturou-se um belo touro branco, sem que o próprio Hermes pudesse perceber. E levou-os até as ravinas de Sídon.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 18:23

Num dado momento, no dia seguinte, ensolarado de primavera, a princesa Europa, seus irmãos e suas ancilas reuniram-se nos jardins do palácio. Foram-se encontrar com as filhas das melhores famílias, e foram fazer um passeio pelas ravinas à beira-mar, um dos pontos de encontro preferidos pelas moças e rapazes daquela região. Ali as moças se alegravam com o colorido das flores e com o murmúrio inebriante do mar, enquanto os rapazes viam ali melhor lugar para cortejá-las. As meninas trajavam belos vestidos enfeitados com flores. Europa, em particular, filha única do rei Agenor, usava um esplêndido vestido vermelho, de cauda, cujo tecido era bordado com fios de ouro, retratando cenas da história dos deuses, como Baal e Astarte. Na verdade, descendente do povo da Hélade, através de Io, a família real, acostumada a gerações a cultuar os deuses de Sídon, ignorava a existência dos Olímpicos. No entanto, os trajes de Europa haviam sido especialmente confeccionados por Hefaístos, como um presente antiquíssimo que Poseidon, certa vez, dera de presente a Líbia, quando a estava cortejando. De Líbia, o vestido chegara como herança à casa de Agenor. Trajando esse ornamento nupcial, a bela Europa corria, à frente de suas companheiras, em direção às ravinas floridas. Rindo, as donzelas se espalharam, cada qual em busca de suas flores prediletas, e preparavam-se para receber os rapazes que apareciam sem ao menos serem convidados.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 18:24

Porém, a pequena Europa se afastou dos irmãos e das amigas, saindo a colher flores para preparar uma grinalda, a certa distância das ancilas, onde pastavam os rebanhos do rei Agenor, seu pai. A princesa ria e brincava, correndo de flor em flor. Seu rosto irradiava a alegria de partilhar aquele lugar com as amadas companheiras. A Brisa acariciava-lhe os cabelos sedosos, e que os raios dourados do Sol emprestavam seu brilho, emoldurando e embelezando ainda mais aquele rosto encantador. E estava assim distraída, quando ouviu um ruído de passos macios sobre a relva. Voltou-se, curiosa, para o lado de onde vinha o rumor. E, com surpresa, viu um belo touro branco, com doce olhar amigo. Vinha tão calmo e tão manso que, apesar de nunca visto antes, não lhe causou o menor susto. Pelo contrário, sentiu um súbito desejo de acariciá-lo, pois era soberbo. De forma esplêndida, tinha músculos intumescidos no pescoço e uma papada imponente. Os chifres eram elegantes e pequenos, como se tivessem sido feitos pela mão de um artista, e mais transparentes do que diamantes. Era um touro de doce hálito, perfumado tal qual a ambrósia, e dorso macio. O pelo tinha um tom de branco-dourado. Uma barra preta na fronte destacava a perfeição de sua cabeça branca, coroada por cornos muito separados e brilhantes como duas meias-luas de pedra preciosa. Os olhos azuis rutilavam, prenhes de desejo e paixão. O raríssimo touro branco, amavelmente, recebeu a carícia leve no pescoço que Europa lhe aplicava.

Europa, na sua imaginação juvenil, teve a impressão de que aquele grande e poderoso animal devia alimentar-se exclusivamente de flores. Por isso, aproximou o buquê de rosas do focinho do animal e este lambeu, afetuosamente, as flores e a delicada mão da donzela. Parecia um velho amigo. Só faltava sorrir e falar. E encostava-se nela, muito amoroso, como se a estivesse convidando para um passeio no campo.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 18:24

Tentada pela ideia, Europa acariciou novamente o belo animal de pelo branco e chifres de marfim. Ousou beijar-lhe a testa luzidia. O animal mugiu de prazer, mas o seu mugido era incomum, soava como uma flauta da Meônia ecoando por um vale entre montanhas. Em seguida, foi buscar a cesta de flores, com as quais fez uma guirlanda em torno dos seus chifres. Beijou-lhe o focinho e disse-lhe:

— Posso passear em ti, boizinho?

Parece que outra coisa não desejava o animal, porque dobrou as pernas, se abaixando, e esperou que a menina subisse. Europa sentiu-se muito feliz.

— Os meus irmãos vão ficar muito espantados quando nos virem.

E, com um pequeno esforço, conseguiu ajeitar-se no seu dorso.

— Cadmos! Fênix! Fineus! Cílix! Vinde ver!

E, dando com os pezinhos nos flancos do touro, começou seu passeio, passando por suas ancilas, que acenavam rindo e fingindo despedir-se.

— Depois eu vos deixo montá-lo. É amigável e delicado, diferente de outros touros do rebanho. Acho que é inteligente; só falta falar!

E ela chamou seus irmãos:

— Cadmos! Cílix!

Os irmãos, que corriam atrás de uma borboleta, ouviram-lhe os chamados e foram atendê-la apressadamente.

— Que é isso, irmãzinha?

— Estou dando um passeio...! Na volta eu conto o que vi.

Sem entender, os príncipes viram que o belo touro branco se afastava.

— Toma cuidado, Europa!

Mas logo se assustaram. O touro acabava de transpor o largo portão do parque real e tomava o rumo do mar, que ficava perto da cidade. Correram atrás dele. O touro começou a correr também. Chegara à praia. Não parou, continuou a correr, e entrou no mar. E as ancilas, que esperavam a vez de andar também no lombo do touro branco, seguiram-no.

— Espera, aonde vais?
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O Dilúvio na Mitologia - Página 5 Empty Re: O Dilúvio na Mitologia

Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 18:25

E Zeus, surdo aos gritos, arremeteu em meio às mulheres que avançavam pela água, obrigando-as a se afastarem, assustadas, tomando o rumo do alto-mar. E daí a pouco o touro e a pequena Europa já estavam longe, desapareciam na distância, caminhando sobre as águas do mar. Europa ficou com medo de largar os chifres, já que mal sabia nadar. Com a mão direita agarrava-se a um dos chifres, com a esquerda apoiava-se às costas do animal.

— Socorro!

As crianças começaram a gritar, pediram socorro. Gente da cidade e pescadores chegaram num instante. Os de vista melhor ainda viram aquele ponto cada vez mais longe, Europa cada vez menor, agarrada aos chifres do estranho touro. Era um touro mágico, ou seria obra de um deus?

EM BUSCA DE EUROPA

Agenor, rei da Síria e pai de Europa, ouviu, desesperado, a notícia trazida pelos filhos. Enviou os seus servos a procurar pela filha, fez partirem várias embarcações para o alto-mar, a ver se a recuperavam. Quando se convenceu da tragédia, indignado com os filhos, que julgava culpados, deu-lhes estas ordens:

— Ouvi minha vontade. A angústia que sinto sem minha amada filha é maior do que meu coração pode suportar. Só terei paz se ela for encontrada. Vós sois jovens e fortes, ide e procurai em todos os lugares. Vasculhai o mundo inteiro, se preciso for, e trazei-a de volta. E não ousais retornar sem ela, pois vos arrependereis!

Fineus, Cadmos, Fênix e Cílix baixaram a cabeça, confusos e extremamente angustiados.

— Fora! E não voltai sem ela!

Os quatro saíram cabisbaixos. Ao transporem o portão real, armados apenas com suas lanças, tiveram um consolo. Dois voluntários ofereceram-se a acompanhá-los na dura peregrinação que os príncipes iam iniciar: um amigo de brinquedos que adorava Europa, Tásos, e Teléfasse, mãe dos jovens príncipes. E Cadmos, assustado, vendo o seu extremo abatimento e prevendo as agruras e privações que iam passar, disse:

— Mamãe, volta para o palácio.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 18:25

— Não, Cadmos. Ela é tão minha filha quanto vossa irmã. Vamos procurá-la juntos... Ela não deve estar muito longe.

Foi dura a jornada... longa... muito longa. Primeiro por terra, por cidades e aldeias e casas e homens ao acaso dos campos. Depois pelo mar, por onde Europa sumira no dorso do touro, perguntando de um a outro barco se tinham notícia de um touro branco, nadando — ou voando, e uma menina formosa chorando e pedindo socorro. Mas ninguém dava notícia. Ninguém vira, absolutamente nada. E ninguém ouvira falar sobre isso. Outros riam-se dessa situação inacreditável. Era evidente, já que Zeus lançara uma forte maldição sobre todo aquele, deus ou mortal, que revelasse que ele havia levado a princesa em direção de Creta.

ZEUS E EUROPA EM CRETA

A viagem para o Oeste foi majestosa e triunfal. O vento soprava em seu vestido, como se fosse a vela de um barco, e, temerosa, ela olhava para todos os lados, e não via mais terra alguma.

— Pára...! Para onde estás me levando? Ó deus das águas, me protege e amansa este animal ousado!

Poseidon, o irmão de Zeus, subjugou as ondas com seu tridente mágico, ordenando que as águas ficassem calmas e não molhassem mais do que a barra do vestido da princesa. Em seguida, para que a deusa Héra não os visse, fez surgir uma neblina densa acima de suas cabeças. Com sua esposa, Anfitrite, ele acompanhou Zeus num carro dourado puxado por quatro imponentes cavalos-marinhos, observados pelos olhos assustados e maravilhados de Europa, que viu também uma legião de Ninfas, as Nereidas, que vinham na esteira do deus do mar, e de ambos os lados golfinhos mergulhando e saltitando, enquanto aves marinhas revoluteavam no alto. O filho de Poseidon, Tríton, puxava o cortejo, tirando acordes triunfais de uma grande concha coniforme para anunciar a chegada da filha de Agenor às regiões ocidentais.

Mas ela, pobre menina, não sabia o significado daquilo. Agarrava-se ao dorso do touro, amedrontada, saudosa de casa e dos entes queridos, que talvez não tornasse a ver.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 18:26

Desse modo, ao cair da Noite, eles chegaram a uma praia distante, do outro lado do mar desconhecido por ela, pois jamais havia deixado sua terra natal. O touro subiu para terra firme e, sob uma árvore, deixou que a donzela deslizasse suavemente de suas costas e desapareceu. Em seu lugar surgiu um homem esplêndido, de aspecto ocidental, semelhante aos deuses, que lhe declarou ser o senhor daquela ilha e que a protegeria se ela concordasse em casar-se com ele. Mas lhe daria tempo para pensar.

Europa, ainda meio confusa, em seu abandono inconsolável, deu-lhe a mão, em sinal de sua concordância, e assim o homem desapareceu como que por encanto, da mesma maneira como havia surgido.

Então, Hipnos desceu do Céu e lhe fez adormecer, enquanto que Morfeus foi confortá-la e dar-lhe sonhos agradáveis.

Europa despertou de um sono profundo quando Éos já surgia no alto do céu. Perturbada, olhou à sua volta e chamou por seu pai. Mas não reconheceu aquele lugar, e lamentou-se:

— Eu, filha infiel, como ouso pronunciar o nome de meu pai?

Que loucura fez com que me esquecesse de tudo? Mas será que estou mesmo acordada, será que tenho culpa e devo me envergonhar do que aconteceu? Não, certamente não tenho culpa alguma, e é só uma imagem de sonho que me perturba o espírito.

Passou as mãos pelos olhos, como se quisesse apagar o terrível sonho. Mas os objetos distantes permaneciam ali, árvores e rochedos desconhecidos a cercavam e um mar assustador rugia, borrifando os arrecifes.

— Ah! Se ao menos o maldito touro voltasse! Eu quebraria seus chifres! Mas isto é só um desejo, meu lar está distante, só me resta morrer. Mandai, ó deuses celestes, ó Baal mil vezes poderoso, um leão ou um tigre para me devorar!

Mas não apareceu nenhuma fera. Aquela região desconhecida estendia-se, pacífica, à sua frente, e no céu sereno, permanentemente azul, brilhava o Sol.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 18:26

Como que tocada pelas Erínias, Europa ergueu-se, de um salto, e vociferou consigo mesma:

— Criatura miserável, não estás ouvindo a voz do pai que chora, que te amaldiçoará se não puseres um fim à tua vida desonrada? Ou será que preferes servir como esposa e escrava a um príncipe bárbaro, tu, a filha de um nobre rei?

A infeliz e abandonada moça só pensava em morrer, mas não conseguia encontrar coragem para isso. Subitamente, ouviu um sussurro baixo e irônico atrás de si e voltou-se, assustada. Irradiando um brilho sobrenatural, uma deusa apareceu, extremamente bela, e junto dela seu filhinho, que portava um pequeno arco. Um sorriso pairou nos lábios da deusa antes que ela começasse a falar:

— Esquece o teu ódio, princesa, não te zangues! O touro odiado voltará, e oferecerá os seus chifres para que tu os quebre. Sou Afrodite, a deusa do coração, e este é meu filho Éros, que desfere a flecha do amor, e o sonho que tiveste esta noite, fui eu que te mandei. Não o conheces, mas foi Zeus, o senhor do Olimpo, quem te trouxe aqui; tu agora és a deusa terrestre do deus invencível... Teu nome será imortal, pois doravante a terra longínqua que te acolheu levará o teu nome!

E, inesperadamente, sem que percebesse, uma flecha encantada do pequeno Éros foi de encontro ao seu coração. Europa fechou os olhos, sentiu a paixão lhe dominar, e não mais viu os deuses que a visitaram.

Na caverna de Díctis, escondida entre as montanhas de Creta, as quatro deusas Horas aprontaram o leito nupcial para a amada de Zeus. As três Cárites aspergiram-na com a fragrância da beleza e pentearam seus cabelos de seda de modo que mulher alguma pudesse rivalizar em encantos com ela.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 18:27

Então Zeus, agora transformado em águia, uniu-se finalmente a Europa. E dessa sagrada união nasceram três filhos: Minos e Radamantes (Rhadamanthys), que, mais tarde, viriam reinar em Creta e tornarem-se juízes no reino dos mortos, e de um terceiro filho chamado Sarpédon. Além do mais, por ordem do rei dos deuses, propagou-se que todo o território entre o Oceano e o Bósforos levaria o nome de Europa.

Zeus ofertou à sua esposa mortal, Europa, muitos presentes valiosos. Entre eles estavam Lélape, o cão de caça que jamais deixava a presa escapar, e um arco de ouro com flechas mágicas que nunca erravam o alvo.

Era constante o medo de Zeus de que Europa deixasse Creta ou fosse encontrada por seu pai, Agenor, e levada de volta para Sídon. Para prevenir-se, já que ele não poderia estar com ela todo o tempo, resolveu apresentá-la ao rei de Creta, Astérion, “rei das estrelas”, para que este a tomasse por rainha e a mantivesse consigo em seu palácio.

Assim, Astérion tomou Europa por esposa e adotou os três filhos de Zeus, e deu-lhes abrigo, bens e direitos à sucessão. Para agradecer ao rei Astérion pela boa acolhida que dera a Europa e seus filhos, Zeus ordenou que Hefaístos criasse, de alguma forma, um guardião que pudesse defender o país dos invasores e jamais importunasse o seu povo. Daí, o deus-ferreiro fez um homem de bronze sólido, pôs em seu corpo o sopro da vida e uma força espantosa. Nem flecha nem lança ou espada poderiam perfurar sua couraça, e instalou um fluido divino em sua veia e fechando-a com um prego de ouro em seu calcanhar direito. E chamou-o Tálos.

Tálos atirava-se numa fornalha todos os dias e dava três voltas diárias em torno de Creta, fazendo o chão tremer com o estrondo de seus passos; quando ali desembarcavam forasteiros, sem aviso ou sem serem convidados, agarrava-os e destruía-os com seu abraço de fogo.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 18:28

Se Tálos fosse fruto da imaginação dos homens nessa época, uma coisa é certa: Creta não temia nenhum invasor, pelo menos naquela época. O império da ilha era tão poderoso que suas cidades não tinham muros nem fortalezas para a sua proteção. A ilha era mesmo guardada por um terrível gigante, tão impressionante quanto o lendário Tálos, porém de outro tipo: tratava-se do povo cretense e sua poderosa frota. E esse poder durou pelo menos até a época da invasão dos Aqueus, que mais ou menos coincidiu com a conquista de Creta por Teseus, de Atenas. E, um tempo antes, os Argonautas teriam ali chegado e derrotado o gigante, guardião e baluarte da ilha do rei Minos.

UMA LONGA E ÁRDUA VIAGEM

Os anos passaram. Já haviam-se rasgado as roupas. Pareciam mendigos, cansados, trôpegos, maltrapilhos. Precisavam muitas vezes empregar seus braços em duros labores para ganhar o seu pão, eles que vinham de um palácio real.

Depois de longos anos e infindáveis caminhadas, já sem esperança, muitas vezes quase não tinham vontade de perguntar. Era trabalho perdido...

— Pergunta, mamãe.

— Não, filho, faze-o tu.

A mãe envelhecia, os filhos cresciam. Mas não desistiam. Procuravam sempre. Até que...

— Não há mais esperança, mãe. Vamos voltar.

— Não. Vós podereis voltar, não eu.

— Nem nós. Continuaremos.

E continuaram a busca. Paravam por vezes, que algum adoecia. Mesmo assim, os outros saíam pela manhã e voltavam à noite, sempre sem notícias...

— Já somos homens, mãe. Muitos anos passaram. Mesmo que Europa se encontre viva, mesmo que ela seja encontrada, Europa não se lembrará de seus irmãos e de sua mãe.

— Mas a mãe sempre reconhece os filhos. Continuemos!

FÊNIX

E continuaram a busca, ano após ano, de país em país, com muito sofrimento, perguntando... perguntando... Até que, numa noite, Fênix, timidamente, traduziu o que estava em seu coração nos últimos tempos. Encontravam-se nas proximidades da Líbia (África).
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 19:11

Entretanto, ao contrário de Fênix, jamais retornaria para a Síria, visto que Agenor havia-os proibido retornar sem Europa, e ele não soubera da morte de seu pai. Teléfasse, Fineus, Cadmos e Tásos ajudaram Cílix a construir uma cabana, depois partiram.

Cílix ficou. Outros camponeses, admirando-lhe a maneira altiva e o olhar dominador, vieram juntar-se a ele. Construíram suas cabanas ao seu lado, e outra cidade estava nascendo. Quando os bandoleiros os atacavam, ou animais ferozes, Cílix os comandava, e a vitória era certa.

Certo dia em que acabavam de destroçar um bando de malfeitores, os companheiros, agradecidos, resolveram proclamá-lo rei.

— Vamos construir para o rei um palácio de mármore.

Construíram. Era belíssimo.

— Que nome daremos ao palácio?

E a resposta fluiu do jovem soberano.

— Europa. Era minha irmã, que infelizmente morreu. Mas seu nome viverá sempre no meu palácio. E haveremos de construir um país neste território.

De fato, surgiu um grande país que levou o nome de Cilícia. Cílix tornou-se rei de um povo de marinheiros e também o maior dos piratas de sua época.

FINEUS

Parou pelo caminho, rumo ao Ocidente, o filho mais velho de Agenor, Fineus, que chegou até as margens do Euxinos, desistiu da busca e foi morar junto do Bósforos, na Trácia. Passou naquela terra mil desventuras, até construir uma cidade: Salmidessos, onde então se casou com Cleópatra (filha de Bóreas e Orítia). Em seguida, Fineus mandou construir um palácio, que chamou de Europa, em homenagem à irmã desaparecida.

Anos mais tarde, quando Frixos perdeu Héle, desceu em Salmidessos para orientar-se. Fineus indicou-lhe o caminho certo para chegar à Cólquida.

Fineus, afeiçoando-se a Idea, filha do rei Dárdanos, colocou Cleópatra na prisão e cegou os seus dois filhos, Pandíon e Plexipos. Em seguida, desposou Idea.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 19:12

Fineus trocou os olhos por longos anos de vida, causando a indignação do Sol, por vê-lo desdenhar sua luz. Hélios, por isso, enviou-lhe as Hárpias para atormentá-lo. Além desse motivo, e também pela sua crueldade, por ter dons de adivinho, costumava revelar aos homens as intenções dos deuses. E só ficou livre de seu pecado, depois de muito sofrimento, passando fome durante anos, ao hospedar em sua casa os aventureiros Argonautas. Zétes e Calais, seus cunhados, afugentaram as monstruosas Hárpias e, depois de livrá-lo desse mal, reconheceram sua irmã Cleópatra na prisão e libertaram-na. Em seguida, tiraram a vida de Fineus.

TÁSOS

Enquanto isso, Teléfasse, Cadmos e Tásos ainda caminhavam em busca de Europa. Perambulavam pelas regiões do ocidente da Ásia. Tomaram um barco, a fim de atravessarem o Arquipélago em direção da Hélade, nas proximidades do monte Olimpo. E chegarem numa ilha ao sul da Trácia. Chamava-se Khryse, ou Odonis, e era habitada.

Cansado e resolvido a desistir, o mais jovem, Tásos, resolveu ficar naquela ilha. Ele também queria construir uma cabana, e Teléfasse e Cadmos o ajudaram, de bom coração.

A rainha e seu filho prosseguiram. Tásos ficou. Os habitantes do lugar foram atraídos pela sua força e coragem, e resolveram viver à sua sombra. Ergueram cabanas, todas vizinhas, e atraíram todos os que habitavam os arredores, e uma nova cidade surgiu. Chamaram-na Aéria, mas logo assumiu o nome de seu rei: Tásos. E, para celebrar uma grande vitória que ele alcançava sobre os seus inimigos, seus companheiros de luta vieram dizer-lhe que haviam resolvido construir para ele um palácio de mármore, visto que Tásos havia-se tornado rei.

E Tásos completou:

— Aceito, mas com uma condição: o palácio levará o nome de Europa.

Todos concordaram, e o palácio se ergueu. Também a ilha de Khryse passou a chamar-se Tásos. E o mesmo Tásos passou a explorar as minas de ouro daquele país.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 19:13

TELÉFASSE

Os irmãos Fineus, Fênix, Cílix, mais Tásos, agora reis, nem por isso se desinteressaram pela pequena Europa, desaparecida há tantos anos. Eles enviavam constantemente homens de confiança a percorrer outros reinos e terras, indagando e procurando, mas sempre em vão.

Teléfasse, apoiada ao braço amoroso e fiel de seu filho, o príncipe Cadmos, já quase não tinha forças para caminhar. Ainda assim continuava... Até que, certa manhã, sentindo-se mal, despertou carinhosamente seu derradeiro e fiel companheiro de jornadas.

— Meu filho, quem vai descansar agora sou eu.

— Queres que eu construa uma cabana para repousares?

— Minha cabana, agora, é no seio da Terra. Meu repouso, agora, é permanente.

Cadmos empalideceu ao ouvir aquelas palavras. Compreendeu que Teléfasse ia morrer.

— Minha querida mãe! É tão triste saber que não tiveste o consolo de rever tua filha e minha irmã...

— Tenho certeza de que vou encontrá-la, um dia, do outro lado da vida.

— E que será de mim? Que devo fazer de agora em diante?

— Depois que fechares meus olhos e fechares com terra minha última morada, não fiques aqui, não caminhes a esmo. Vai a Delfos, com última tentativa, consultar o Oráculo que tudo sabe e tudo prediz. Ele te dirá o que deves fazer de agora em diante. Foste um filho fiel, mereces a ajuda dos deuses ainda que estrangeiros.

— Delfos? Onde fica Delfos?

— Filho meu... Delfos é famosa no mundo todo. Segue teu coração, pede aos homens desta terra, e lá chegarás.

O filho mais novo de Agenor, Cadmos, por sua vez, era diferente dos irmãos. Para ele, ordem de pai era obrigação sagrada. Cadmos tinha muito mais força e coragem que um homem comum e estava determinado a fazer o impossível para devolver a irmã à família. Foi então que, após a morte de sua mãe, dias depois, Cadmos e um pequeno grupo de fiéis seguidores embarcaram num navio e navegaram para o Sul. Tinham viajado vários dias quando avistaram as montanhas de Creta.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 19:13

Cadmos nada entendia dos costumes daquela terra, não conhecia os seus deuses nem os seus reis. Fez novas perguntas, mas não obteve resposta. Compreendeu que tudo o que devia fazer estava dito. Retirou-se, vagamente atordoado pelo estranho das respostas ouvidas, contando apenas com a Sorte.

Na manhã seguinte, ao alvorecer, deixou as colinas de Castália e saiu em busca do rebanho de um tal rei Pélagon, caminhou muitos dias, incerto e sem dinheiro, ao acaso das rotas.

OS DENTES DO DRAGÃO

Uma tarde, caminhando por entre um rebanho, Cadmos avistou uma vaca malhada muito formosa. Parou a contemplá-la. A vaca olhou-o também, como se Cadmos fosse um velho conhecido. E, erguendo-se, sempre a olhá-lo, como se o chamasse, começou a caminhar vagarosamente.

Foi então que viu em suas ancas duas luas cheias estampadas, e Cadmos se lembrou, pela primeira vez, do último conselho ouvido no Oráculo de Delfos. Por isso, em agradecimento, ergueu uma prece ao deus Apolo, a primeira vez que fazia isso a um deus estrangeiro. Mais do que depressa, pagou um alto preço pelo animal ao rei daquele país e, em seguida, resolveu segui-lo. Imaginava que seria curta a jornada. Não foi. A vaca malhada parecia incansável. Abaixava-se às vezes para abocanhar uma relva mais tenra e marchava de novo, assim dia e noite, em direção do Oeste. Cadmos já estava cansado, mas continuava, agora já convencido de que aquele era o animal anunciado pelo Oráculo. Cruzou toda a região de Pito (a futura Fócida), sem parar para descansar, depois prosseguiu rumo à região de Ogígia (mais tarde Beócia, a “terra da vaca”).
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