Mestres do Conhecimento
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

O Dilúvio na Mitologia

4 participantes

Página 6 de 8 Anterior  1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8  Seguinte

Ir para baixo

O Dilúvio na Mitologia - Página 6 Empty Re: O Dilúvio na Mitologia

Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 19:14

Os barris caíram das mãos dos homens apavorados. O susto fez com que o sangue parasse em seus corpos. O dragão eriçou as escamas preparando-se para o bote. Erguendo-se, olhou para a floresta embaixo e por fim investiu contra eles, matando alguns a mordidas e esmagando outros com seus abraços, não lhes dando a menor possibilidade de fugir. Outros, que conseguiram afastar-se pelo menos um pouco, morreram sufocados pelo seu hálito maligno ou por sua baba venenosa.

Cadmos, satisfeito, contemplava a paisagem e fazia seus planos. Foi quando um imenso rugido, toda uma série de horríveis rugidos, abalou aquelas paragens. Vestindo sua pele de leão e apanhando a sua lança, Cadmos correu em direção do bosque, de onde vinham também gritos humanos, vozes de pavor e pedidos de socorro.

Já chegava tarde. Seus últimos companheiros estavam sendo devorados por um espantoso dragão azulado de crista vermelha e bocarra feroz. De seus olhos saía fogo, seu corpo estava inflamado e suas três línguas sibilavam sobre as três fileiras de dentes. E muitas patas que terminavam em garras e cauda monstruosa que se agitava como um açoite. A fonte pertencia ao deus Áres, que ali mantinha o imenso dragão como guardião.

— Ah, monstro miserável!

Como um relâmpago, Cadmos pegou uma pedra enorme e lançou-a sobre o monstro, mas as escamas do dragão eram mais duras do que a pedra, e o impacto não lhes causou nenhum dano. Esse contratempo não desencorajou o filho de Agenor, que sacou da espada e fincou-a entre as escamas do monstro, atingindo sua espinha. Os estrondos que se seguiram foram como os de um terremoto. A horrenda criatura contorceu-se de dor, debatendo-se contra as pedras e jogando-as por todos os lados. Batia nas árvores com a cauda, quebrando-as como se fossem galhos secos, empinava e corcoveava. Cadmos pulava de um lado para outro para se esquivar do dragão e esperava uma última oportunidade de dar cabo da fera, segurando uma lança em seu braço direito.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

O Dilúvio na Mitologia - Página 6 Empty Re: O Dilúvio na Mitologia

Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 19:15

Até que finalmente surgiu a oportunidade que ele esperava, e, quase sem pensar, Cadmos avançou para vingar seus companheiros. Entrou correndo de lança em riste pela enorme caverna espantosa que era a boca do dragão. Tão de repente foi que o monstro nem teve tempo de fechar a bocarra e triturá-lo; Cadmos cravava a lança por dentro, indo a mesma cravar-se numa árvore milenar, fazendo o monstro estrebuchar e amolecer, soltando um rugido de dor e arrancando do chão a árvore em que estava presa. No abrir agonizante da boca, Cadmos saltou fora como um gato, e pôde ver assim o rápido estremecer do medonho dragão que havia devorado seus companheiros. E, sem esperar reação do monstro, esmagou-lhe a cabeça com uma rocha.

Cadmos cantou vitória, mas mal acreditava que havia conseguido. Ficou ali, perplexo, por alguns instantes, e entristeceu por estar sozinho de novo. Olhou para a vaca malhada que a tudo assistia, e parecia a tudo saber.

— E agora?

Como num passe de mágica, a vaca se dissolveu no ar, desaparecendo ante seus olhos. E perguntou a si próprio:

— Que prodígio é esse? Talvez um deus tenha me dado a força necessária para matar esse monstro, pois nenhum homem o faria sem ajuda divina. Que deuses são venerados nesta terra? Ao deus desconhecido eu agradeço do fundo de meu coração.

E uma voz soou aos seus ouvidos, subindo da terra ou descendo do céu: era Atena, que já sentia antecipadamente cheiro de carne assada e descia do Olimpo para lhe prestar auxílio.

— Os deuses ajudam os bravos e destemidos. Essa grande façanha foi somente tua, ó filho da Ásia. Mas fica avisado de que o dragão pertencia a Áres, o terrível deus da guerra, e talvez um dia ele te faça pagar por essa perda, por mais justificada que ela tenha sido. Ouve com atenção e segue meu conselho: arranca os dentes do dragão e planta-os na terra como sementes! Faze o que te digo, antes que seja tarde.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

O Dilúvio na Mitologia - Página 6 Empty Re: O Dilúvio na Mitologia

Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 19:16

O herói Cadmos, surpreendido pela voz, olhou rapidamente para todos os lados e não viu ninguém. Era uma ordem estranha. Mas Cadmos não costumava hesitar. Apanhou uma grande pedra, esfacelou a cabeça do dragão e, pacientemente, foi arrancando, um por um, os enormes dentes do monstro. E, depois, examinando-os, imaginou:

— Que é que se faz com isto?

— Planta-os, Cadmos, planta-os.

Cadmos, de novo, tentou encontrar a dona da voz misteriosa, e começou a perceber que se tratava mesmo de uma divindade. Por isso, sem hesitar mais, tratou de obedecer. Com sua lança, fez os buracos, e começou a plantar os dentes como se fossem enormes sementes. Cobriu, com eles, uma grande área. E não esperou muito tempo. Dentro de minutos, a terra com que cobrira sua sementeira começou a agitar-se. Depois vieram apontando, de todas as covas, lâminas brilhantes como o aço — pareciam pontas de lanças. As lâminas iam subindo muito rápidas, apontando lanças e, em seguida, capacetes de bronze. E cabeças se prolongavam em corpos robustos de soldados, cujos olhos faiscavam de ódio, e, em segundos, já havia todo um pequeno exército feroz que parecia preparado para a guerra.

— Ora essa! Mais essa agora?!

Ao deparar-se com estranhas criaturas, fez menção de desembainhar a espada ensanguentada, quando a voz já conhecida de Cadmos soou suavemente:

— Não toques na espada, Cadmos. Apenas apanha uma pedra e atira no meio deles! Verás que voltarão as armas uns contra os outros, e tu estarás salvo.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

O Dilúvio na Mitologia - Página 6 Empty Re: O Dilúvio na Mitologia

Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 19:17

O misterioso exército se auto-destruía. Até que restaram apenas cinco guerreiros que se entreolhavam com ódio, dispostos a uma última auto-destruição. Cadmos olhava a tudo estupefato.

Foi quando a voz veio-lhe aos ouvidos novamente:

— Ordena a esses cinco guerreiros que embainhem as espadas. Eles te ajudarão a construir uma próspera cidade.

Cadmos, revoltado contra aquele espetáculo monstruoso e inexplicável de ferocidade, contra o qual nada podia fazer, pois encontrava-se movido e provocado por forças estranhas, apressou-se em ordenar, com voz irretorquível:

— Embainhai vossas espadas! Já!

Os cinco guerreiros, estonteados de ódio estúpido e feridos, detiveram-se bruscamente, ouvindo e temendo a voz autoritária de Cadmos. Ainda faziam movimentos quase instintivos de ataque, mas o olhar de Cadmos dominava-os.

— Agora calma. Acabaram-se os ódios. A luta acabou. Vamos agora construir uma cidade, juntos, e atrair moradores, homens de paz,, que queiram viver tranquilamente num mundo menos brutal. Entendido?

Os cinco sobreviventes quase nada entenderam. Mas sentiam, sabiam no íntimo, que agora havia um senhor e que era preciso obedecer-lhe. Deram-se as mãos, como bons amigos, ajoelharam-se na frente de Cadmos e juraram-lhe lealdade e dedicação eterna. Cadmos tratou de seus ferimentos e cuidou deles até que se refizessem. Muito gratos, os cinco juraram obedecê-lo, tanto na paz quanto na guerra, se preciso fosse.

Como eram rijos e fortes e precisavam dar ocupação a seus braços, enchendo o seu tempo aproveitando suas energias, puseram-se no mesmo instante a trabalhar.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

O Dilúvio na Mitologia - Página 6 Empty Re: O Dilúvio na Mitologia

Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 19:17

Os Spartói, “homens semeados”, também conhecidos, daí então, como “sementes com elmo de ouro”, eram seres de potência sobrenatural, incansáveis e muito ágeis. Seus nomes eram Éveres ou Udaios (homem do chão), Ctônios (homem da terra), Peloros (gigante), Hiperénor (mais do que homem) e Equíon (homem-serpente). Seus descendentes, a família reinante de Tebas, diriam nascidos da Terra e trariam uma lança tatuada no corpo como sinal de nascimento.

Suas energias se multiplicavam, e a obra de suas mãos crescia e subia como por milagre. E logo, casas e ruas foram-se erguendo, e camponeses e filhos de outras cidades, vendo aquela surgir rapidamente, tão bela, juntaram-se ao seu trabalho, ajudando-os. Os cinco guerreiros nascidos dos dentes do dragão, mais tarde, se tornariam os fundadores das cinco grandes famílias daquele povo.

CADMOS E HARMÔNIA

A nova cidade passou a ser chamada de Cadméia, em homenagem ao seu rei, e o país de Beócia, “terra da vaca”. E, ao redor de Cadméia, mais tarde, nasceria a poderosa Tebas.

Cada um dos Spartói, saídos dos dentes do dragão, e cada um dos voluntários que haviam surgido para ajudar a construir a cidade tinha a sua casa. Eram belas as casas, alinhadas em ruas largas e ensolaradas.

Faltava agora construir, para Cadmos, que voltava ao convívio dos demais, um palácio, digno do seu nome e do futuro que esperava o seu reino. Cadmos e seus companheiros saíram, portanto, a escolher o local. Foi eleita uma colina que dominava a cidade nascente.

— Bem, ide descansar agora. Vós precisais dormir um pouco. Amanhã nós começaremos a construir o palácio mais esplêndido que já existiu!

Não foi preciso. Na manhã seguinte, quando todos despertaram, viu-se com surpresa que, no alto da colina, já brilhava, aos primeiros clarões da Aurora, o palácio real, todo feito de mármore espelhante e de nobres colunas de majestosa austeridade.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

O Dilúvio na Mitologia - Página 6 Empty Re: O Dilúvio na Mitologia

Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 19:18

Cadmos, cheio de alegria, foi o primeiro a penetrar no palácio, deslumbrado com a bela obra dos deuses que ele não conhecia e jamais ouvira falar. E seus novos e fiéis servidores bradaram:

— Longa vida ao nosso rei, no seu belo palácio!

Havia um amplo salão, ladeado por colunas imponentes. Ao fundo, viu Cadmos um suave e delicado vulto feminino. Cadmos, certo de que aquele devia ser o coroamento de suas longas e penosas jornadas, alegrou-se.

— É minha irmã Europa, que eu encontro afinal!

Mas quando se aproximou da maravilhosa mulher, atordoado pela sua beleza, compreendeu que se enganara. Não era conhecida sua. Não lembrava em nada sua irmã, de aspecto oriental. Era loura, quando todos os seus eram morenos. A voz que lhe vinha falando, nos últimos momentos, confirmou-o:

— Não é tua irmã, Cadmos. É tua esposa. Não se chama Europa; seu nome é Harmônia. E, com ela, terás filhos e fundarás um grande reino, e farás a felicidade de milhões! Em Harmônia, a filha do Céu, encontrarás reunidos todos os que amaste!

Realmente assim foi. E quase todos os deuses quiseram assistir às suas núpcias, realizadas na cidade recém-fundada. Quase, pois Héra havia recusado sair de casa para assistir àquele casamento. Cada um levou um presente a Harmônia de cabelos dourados, “a congraçadora”, entre os quais, Afrodite, sua mãe legítima, entregou-lhe também um colar e um peplo, que se tornariam famosos entre as gerações futuras daquele povo. Apolo homenageou os noivos tocando a sua lira, enquanto cantavam as Musas. E Zeus, para honrar o casal, fez questão de sentar-se na mesma mesa que eles, na hora do banquete.

Para a procissão nupcial o casal foi trazido por um grupo notável, com um javali e um leão jungidos à carruagem. Apolo caminhava ao lado da carruagem, com as Musas puxando o coro: “O belo é sempre caro” e o verso “Um objeto de beleza é uma alegria para sempre”.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

O Dilúvio na Mitologia - Página 6 Empty Re: O Dilúvio na Mitologia

Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 19:19

As bodas de Cadmos e Harmônia — que os próprios tebanos pensavam ser filha de Zeus e Electra —, foram inesquecíveis, com a presença quase completa do panteão olímpico, cujos tronos foram então colocados no mesmo lugar em que, mais tarde, haveria de ser construído o mercado de Tebas, e com a presença imprescindível dos novos amigos de Cadmos. Com o passar do tempo, a tradição, segundo costa, reconheceria em Harmônia uma filha de Ares e Afrodite.

Entre os convivas, dois eram especiais, Dárdanos e Iásion, parentes da noiva, por assim dizer. Iásion prendeu a atenção de Deméter, que por ele se apaixonou. Inflamados pelo néctar, os amantes saíram da festa e se deitaram em um campo que havia sido lavrado três vezes. Quando voltaram, Zeus, adivinhando o que tinha acontecido, ficou irado e, por ter Iásion tocado em Deméter, começou a planejar o seu fim.

Além de Héra, dois Imortais também não compareceram à cerimônia: Áres, o deus da guerra, porque Cadmos havia matado o seu dragão, e Éris, a deusa da discórdia, porque não podia tolerar a companhia dos que se amavam verdadeiramente. Pois, além do esplendor, outro motivo tornou aquelas bodas memoráveis: naquele momento, deuses e homens juntaram-se para celebrar um dos mais sinceros casos de amor que o mundo já vira.

Cadmos a ela se uniu e teve filhos que foram sua grande alegria, prêmio de tantos sacrifícios passados. Foi rei de um povo grande e poderoso. Tornou seu povo feliz, governando com sabedoria.

Em memória de sua irmã raptada pelo touro misterioso, chamou de Europa o seu palácio, o mesmo nome que levaria todo o continente...
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

O Dilúvio na Mitologia - Página 6 Empty Re: O Dilúvio na Mitologia

Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 19:19

Cadmos e Harmônia viveram e reinaram com alegria e ternura durante muitos anos, constituindo para toda a Hélade um modelo de casamento perfeito. Adotaram uma jovem ninfa, Místis, destinada a ser ama de seus futuros filhos. Mais tarde, nasceu um filho, Polidoros, “o de muitos dons”, também chamado de Pínacos, “o que escreve em lâminas”, porque seu pai Cadmos trouxera de Sídon as letras que foram aperfeiçoadas, fazendo surgir o alfabeto grego, a fim de tornar aquele povo e seus filhos sábios e bons, já que até o momento o povo grego não utilizava a forma escrita. E teve também quatro filhas, Autónoe, Ino, Sémele e Agave (Agaúê), “a augusta”.

Uma ninfa, Círene, por haver um dia domado sozinha os leões selvagens que atacavam o rebanho de seu pai Hipseus, rei dos lápitas, ganhara o amor do deus Apolo, que a levara para bem longe, na Líbia. Desta união nasceu um menino, Aristeus, “o melhor”. Naquele país, criaram-no as Ninfas, e nutriram-no de ambrosia e néctar, tornando-o um semideus. A mãe ensinou-lhe todas as artes úteis, a criação de abelhas e a cultura das oliveiras. Depois de ser levado da Líbia para a região entre o Olimpo e o Ossa, onde havia sido educado pelo bom centauro Quíron, de aprender música e Astronomia com as Musas e ser educado também pelas deusas Horas, Aristeus passou a cuidar e apascentar os rebanhos de carneiros das Ninfas, na planície tessaliana de Ftia. E numa de suas andanças, foi para Cadméia, onde reinava o grande Cadmos e, auxiliado por seu pai Apolo, caiu nas graças do rei e casou-se com uma de suas filhas, Autónoe. Nesse país, suas abelhas o tornaram rico e famoso. Da união entre Aristeus e Autónoe, nasceu um menino, destinado a ser um excelente caçador, e o chamaram Actéon (Aktaíôn). Logo que transpôs os dias de infância, foi educado pelo sábio centauro Quíron, na fresca montanha do Pélion, coberta de florestas. E ali aprendeu a ser destro caçador. Seu maior prazer era ocupar-se da caça por vales e serras.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

O Dilúvio na Mitologia - Página 6 Empty Re: O Dilúvio na Mitologia

Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 19:20

Átamas, rei de Orcômenos e filho de Éolos, que era filho de Hélenos e neto de Deucálion, para se aproximar de Ino, desejou fazer aliança com o soberano Cadmos, já que as duas cidades eram vizinhas. Cadmos, em troca da aliança, deu a Átamas, a seu pedido, sua quarta filha, Ino, por esposa. Para tanto, Átamas, o rei de Orcômenos, teve que repudiar e abandonar a ninfa Néfele, mãe de Frixos e Héle, alegando que com freqüência tinha ataques de loucura, que agora tinha de vê-lo sob a influência nefasta da princesa Ino, a nova e perversa rainha. Néfele, então, desapareceu e nunca mais foi vista. Triste, havia pedido aos deuses que lhe poupassem de tanto sofrimento e lhe permitissem zelar por seus dois filhos. Apiedados, os deuses permitiram-na permanecer na forma de nuvem, passando a acompanhar seus filhos de perto. E ainda permitiu que Átamas inserisse no seu rebanho Crisómalos, um carneiro de velo de ouro, pois pressentia que um dia seus filhos dele precisariam.

CADMOS, ESCRAVO DE ÁRES

Quando Áres se queixou da morte cruel de seu dragão de estimação, o Conselho dos Olímpicos condenou Cadmos a ser criado de Áres durante noventa e nove meses.

Contudo, se o amor de Cadmos e Harmônia durou até o fim, com sua felicidade não aconteceu o mesmo, pois, das quatro filhas que tiveram, duas — Sémele (mãe de Dionisos) e Ino (esposa de Átamas) — foram vítimas do ciúme da deusa Héra, e isso lhes custou a vida. Cadmos pensou que aquelas trágicas mortes estavam, de algum modo, ligadas ao deus Áres, que nunca lhes perdoara a morte de seu dragão, e deveria sofrer. Teve que aceitar a punição outorgada por Zeus: deveria se tornar escravo do deus da guerra.

No entanto, desejava que o trono pertencesse ao seu filho Polidoros, que deveria passá-lo ao seu neto Penteus, filho de Equíon. No entanto, essa responsabilidade era grande demais para jovens inexperientes, e preferiu entregar o trono ao seu fiel general Equíon.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

O Dilúvio na Mitologia - Página 6 Empty Re: O Dilúvio na Mitologia

Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 19:21

Após entregar o trono a seu servo Equíon, Cadmos, sempre acompanhado de Harmônia, partiu para a Trácia para cumprir o seu destino durante os noventa e nove meses e evitar que outras desgraças se abatessem sobre seus descendentes. E foi nessa época que o deus, aproveitando um momento de solidão de Harmônia, levou-a para a Acmônia frígia e fê-la mãe das primeiras rainhas Amazonas. Na Trácia, Cadmos e Harmônia tiveram mais um filho: Ilírios, onde cresceu e viveu. E, a fim de torná-lo forte, os deuses acalentaram o menino entre os anéis de uma serpente.

TIRÉSIAS

Tirésias era um jovem filho de Éveres (ou Udaios), um dos Spartói de Tebas, e de uma ninfa chamada Cáriclo, do séquito de Palas-Atena. Um dia em que passeava pela encruzilhada do monte Citéron, o menino, ao separar duas serpentes que se acasalavam e tendo matado a fêmea, foi metamorfoseado em perfeita donzela. E assim haveria de permanecer durante sete anos.

Nesse meio tempo, foi desejada e seduzida por Apolo, e a jovem cedeu, e em troca o deus lhe ensinou música. Mas a moça se negou a continuar se entregando a ele. Apolo percebeu que ela havia se apaixonado por um argivo chamado Cálon, por isso, não querendo forçá-la, passando-se sete anos, preveniu-a que sofreria as conseqüências de suas intromissões.

Enquanto isso, Cadmos, depois de haver ajudado Áres em várias guerras, acabou sendo libertado da escravidão e obteve do deus da guerra permissão para voltar para sua terra, enquanto lá reinava seu filho único, Polidoros.

Estavam, um dia, Zeus e Héra a discutir sobre o desfrute do amor, enquanto saboreavam o néctar e descansavam, sem ter nada por fazer. Zeus disse, em tom despreocupado:

— As mulheres desfrutam mais dos prazeres do amor que os homens.

Militantemente Héra se opôs com veemência. E assim continuaram a discutir.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

O Dilúvio na Mitologia - Página 6 Empty Re: O Dilúvio na Mitologia

Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 19:21

Enquanto se erguiam os muros de Tebas, Tirésias, formosa donzela, que esperava um filho de Cálon, foi atacada por um homem chamado Glífios, de Troézen, que tentou violentá-la enquanto ela se banhava. Mas Tirésias estrangulou-o. Zeus, curioso pelo acontecimento, querendo saber mais sobre o que pensava Tirésias na forma de mulher, este lhe revelou, na frente da rainha dos deuses:

— Tens razão, ó senhor do Olimpo. A mulher goza mais intensamente que o homem dos prazeres do amor. Se os prazeres do Amor são representados por “dez”, as mulheres ganham “nove” e o homem somente “um”.

Esta resposta desagradou a Héra, já que Tirésias não deveria revelar os segredos mais íntimos de uma mulher. E resolveu castigar Tirésias, principalmente depois que ela caçoou de uma de suas estátuas. Assim que lhe nasceu o filho, este padeceu de estrabismo, o que lhe valeu o nome de Estrábon. Em seguida, devolveu a Tirésias o seu sexo original, mas deu-lhe um aspecto feio, tanto que passou a ser chamado de Píton.

Certo dia, no silêncio do meio-dia, Tirésias, passando pela fonte de Hipocrene, no Hélicon, pensou em refrescar-se e beber um pouco de água, quando viu a deusa Atena tomando banho nas imediações do Citéron, muito embora o coitado não tivesse querido ser curioso. Vermelha de vergonha e indignação, Atena imediatamente cerrou-lhe os olhos. Então, Tirésias tornou-se cego.

A ninfa Cáriclo, mãe de Tirésias, não se conformou com a desgraça de seu filho. Foi em busca de Atena para queixar-se a ela e lhe pedir piedade.

— Tirésias só te viu porque estavas diante de seus olhos. Eu sou tua servidora mais dedicada, e meu pobre filho merece o teu perdão.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

O Dilúvio na Mitologia - Página 6 Empty Re: O Dilúvio na Mitologia

Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 19:22

As palavras da ninfa tocaram o divino coração de Atena, que se apiedou. Então, a deusa foi procurá-lo, humilhado e tateante, e ficou com pena e quis fazê-lo enxergar novamente. Mas não foi possível. A luz de seus olhos jovens havia desaparecido para sempre. Mas, para compensar o mal que lhe havia causado, tornando-o menos infeliz, a pedido de sua mãe Clárico, que era sua amiga íntima, Atena aguçou-lhe os ouvidos de modo que ele conseguisse entender a língua dos pássaros e prever o futuro. Atena também lhe entregou um cajado de ouro com o poder mágico de guiá-lo tão bem como se pudesse enxergar.

Tirésias, assim munido, por dom divino, tornou-se o maior de todos os profetas da Hélade.

Tal acontecimento mostrou como a severidade de uma deusa tanto podia tornar-se em brandura como em boa vontade. O espírito de bondade que havia no coração de Atena era tão reconhecido que nenhum tribunal decidia se o acusado era culpado ou inocente se os juízes se dividissem em opiniões contrárias. Sendo assim, o inocente era solto. Nesse caso, o voto de desempate seria de Atena (o voto de Minerva), e ela sempre decidia em favor da vítima. E fato se consumaria muitos e muitos anos depois, com o drama de Orestes, filho do rei Agamémnon, de Micenas.

Mas Glífios, que havia sido morto por Tirésias, era amado por Poseidon, que foi pedir o julgamento das Moiras para que ele fosse punido e lhe tirassem a capacidade profética. Encaminhado, Tirésias reaprendeu sua arte com o centauro Quíron, e com ele, mais tarde, se fez presente nas núpcias de Peleus e Tétis.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

O Dilúvio na Mitologia - Página 6 Empty Re: O Dilúvio na Mitologia

Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 19:23

DIONISOS E PENTEUS

Penteus era filho de Equíon e Agave, filha de Cadmos. Era irmão de Épiros. Portanto, era também primo de Dionisos, filho de Zeus e Sémele. Após a morte de seu pai, despojou Polidoros do trono de Cadméia e passou a ocupar o seu lugar. E mudou o nome da cidade para Tebas.

Acolheu Nicteus e Licos, exilados de Eubéia pela morte de Flégias, e deu-lhes hospitalidade. A Licos deu o cargo de polemarca, ou seja, comandante geral de suas tropas.

Após percorrer a Ásia, a Europa e a África e de procurar a cura na Frígia, junto de Réia-Cíbele, Dionisos, que havia nascido em Cadméia, agora Tebas, na casa real de Cadmos, desejou que esta cidade fosse a primeira da Hélade a conhecer-lhe o culto.

— Eis-me, finalmente, na terra dos Cádmios, eu, Dionisos, gerado por Sémele, após ser visitada pelo fogo dos raios; deixei a forma divina por outra mortal e venho visitar a fonte de Dirce e as águas de Ismenos. Vejo perto do palácio o túmulo de minha mãe atingida pelo raio, e as ruínas fumegantes de sua morada, e a chama celeste ainda viva, eterna vingança de Héra contra minha mãe. Aprovo a piedade de Cadmos, que, tornando este lugar inacessível aos pés dos profanos, o consagrou à filha; e eu o sombreei por toda parte de pâmpanos verdejantes. Deixei os vales da Meônia, onde abunda o ouro, e os campos dos Frígios; atravessei as planícies ardentes da Pérsia e as cidades da Bactriana, a Média coberta de pedras e a feliz Arábia, e a Ásia inteira, cujo mal salgado banha as margens cobertas de cidades florescentes, povoadas simultaneamente pelos filhos de Hélenos e pelos bárbaros, e esta é a primeira das cidades desta terra em que entrei após ter conduzido de um lado para outro as danças sagradas e celebrado os meus mistérios, para manifestar a minha divindade aos homens. Ó Tebas, a Cadméia dos meus ancestrais, és a primeira em que faço ouvir os brados das Mênades cobertas de nébrida e armadas do tirso envolto em hera.

Com isso, Dionisos passou a ser chamado de Tebano.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

O Dilúvio na Mitologia - Página 6 Empty Re: O Dilúvio na Mitologia

Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 19:23

À medida que o culto de Dionisos espalhava-se pela Hélade, ocorria com muito entusiasmo e pouca resistência, salvo em Tebas, onde Penteus recusava-se a aceitá-lo. Vindo acalorado das cercanias de Tebas, chegou ao palácio do jovem rei Penteus, o “homem da desgraça”, um mensageiro para narrar o que ele mesmo presenciara nas suas andanças pelo monte Citéron, a elevação maior próxima à cidade. Penteus, de fato, era primo-irmão de Dionisos e alinhava-se com os partidários que negavam a ele qualquer vestígio de divindade, acusando-o de nada mais do que um bastardo condenado pela deusa Héra, a esposa de Zeus, a vagar sem destino pelo mundo, arrumando encrencas por onde passava.

A característica principal do culto de Dionisos era a formação de grupos de mulheres, as Bacantes, discípulas das Mênades; vagavam por dias a fio pelas áreas das montanhas, num transe ou frenesi, bebendo vinho, alimentando filhotes de animais, ou despedaçando-os e comendo-os depois, encantando serpentes e de uma maneira geral se portando de maneira selvagem. Devido a estes aspectos semelhantes a orgias e também pelos principais seguidores serem mulheres, a adoração de Dionisos, que já era honrado como deus, era vista com desconfiança pelas autoridades masculinas, que gostavam de manter as mulheres em casa e sob o seu controle. Por esse motivo, o próprio Dionisos foi a Tebas, determinando a punir a família de sua mãe por sua falta de fé, tanto nas suas irmãs como nele próprio. As mulheres de Tebas, incluindo as irmãs de Sémele, seguiam entusiasmadas o deus nascido de uma mortal; no correr da festa, altos brados ergueram-se do monte Citéron devido as brincadeiras.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

O Dilúvio na Mitologia - Página 6 Empty Re: O Dilúvio na Mitologia

Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 19:24

O rei Penteus foi visitado por seu parente, o adivinho Tirésias, que o advertiu a não insultar o deus que se aproximava de Tebas, aconselhando-o a dar-lhe hospitalidade. Informado de que homens, mulheres e crianças de Tebas também participavam do séquito do novo deus, pôs-se a esbravejar, enfurecido:

— Que loucura tomou conta de vós, levando-os a participar de um cortejo de moleirões e de mulheres embriagadas? Será que esquecestes completamente de que família de heróis descendeis? Quereis permitir que um rapaz efeminado conquiste Tebas, um fracote vaidoso com uma coroa de videira sobre sua cabeleira cacheada, que se veste com púrpura e ouro em vez de aço, incapaz de dominar um cavalo e que se acovarda diante de qualquer combate? Se voltardes à razão, vereis que ele é um mortal assim como eu, que sou seu primo. Zeus não é seu pai, e todas essas honrarias dignas de um deus que ele recebe são falsas!

E voltou-se para seus servos e ordenou-lhes:

— Trazei a mim esse covarde, agora! E o trazei acorrentado!

Os amigos e parentes do rei assustaram-se diante dessa ordem pecaminosa. Tirésias cobriu os olhos vazados pela cegueira, procurando entender tamanha afronta. Até seu avô, Cadmos, já muito velho, balançou a cabeça, reprovando o gesto do neto. Mas isso incitou ainda mais o ódio de Penteus.

Mais tarde, os servos, com as cabeças ensanguentadas, vinham contar ao rei que até sua mãe, a rainha Agave com suas duas tias, estava acampada lá no alto com as Mênades.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

O Dilúvio na Mitologia - Página 6 Empty Re: O Dilúvio na Mitologia

Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 19:25

— Algumas delas, as mais jovens, depois de despertarem, simplesmente amamentam animais, além de corças, até os filhotes de lobo sugam o seio opulento de uma ou outra tresloucada. Batendo com os cajados no chão, elas fazem saltar fontes de água pura e, querendo leite fresco, basta esfregarem os dedos sobre o solo para que ele brote em abundância! Uns pastores que subiram na montanha as viram e, acoitando-se por detrás das sebes e arbustos, tentaram, liderados por um mais afoito e corajoso, resgatar tua rainha-mãe de um dos coros organizados pelas Mênades, pensando assim poder agradar a ti. Mas foi um desastre! Tomadas por uma fúria divina, empunhando tirsos, centenas delas saíram em disparada atrás deles! Não só seguiram-nos morro abaixo, como invadiram duas aldeias, não sem antes estraçalhar bois e vacas que encontraram pelo caminho, lançando-se a esviscerar novilhas com as mãos. Um horror! Os ferros e as lanças que os aldeões jogaram contra elas revelaram-se inúteis! Elas realizavam prodígios que as deixavam imunes aos assaltos, enquanto uma simples sacudida do tirso abriam chagas enormes a quem se impusesse!

Penteus estava estupefato. E perguntou-lhes:

— Onde está Dionisos? Eu vos ordenei que o trouxessem!

— Não vimos Dionisos em lugar nenhum. Mas te trouxemos um homem de seu séquito. Parece que só há pouco tempo está com ele. Queres interrogá-lo?

E o trouxeram à sua presença. Penteus fitou o prisioneiro com olhos cheios de ódio e então gritou:

— Tu estás condenado à Morte! Ainda sabes quem são teus pais? E ainda te lembras de onde vens? E por que segues esses costumes bárbaros?
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

O Dilúvio na Mitologia - Página 6 Empty Re: O Dilúvio na Mitologia

Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 19:26

Sem temor, o homem respondeu:

— Meu nome é Acetes, minha terra é a Meônia. Meus pais são gente do povo, e de meu pai não herdei terras nem gado. Ele só me ensinou a pescar, pois era dessa atividade que provinha toda a sua riqueza. Logo também aprendi a comandar um navio, a observar as estrelas, os ventos e os portos, e também comecei a navegar. Uma vez, navegando em direção a Delos, cheguei a uma praia desconhecida. Saltei para a areia úmida e dormi sozinho à beira-mar. No dia seguinte, levantei-me logo ao amanhecer e subi uma montanha para observar os Ventos. Enquanto isso, meus companheiros também tinham desembarcado e, no caminho de volta para o navio, encontrei-os. Estavam justamente levando um jovem que tinham raptado na praia. O rapaz era de uma beleza sobre-humana. Parecia embriagado, cambaleava de sono e tinha dificuldade em acompanhá-los. Parecia ter feito uma longa viagem e estava muito cansado. Discutimos muito sobre o que fazer com ele; tentei impedi-los, mas riram de mim, e até tentaram acabar comigo, atirando-me do navio; eu poderia ter-me afogado se não tivesse conseguido me segurar nas cordas. E voltei para o navio, mas me mantive à distância. O jovem foi posto a bordo e ele ali ficou, sonolento. A ideia era levá-lo para longe e vendê-lo como escravo por um bom preço.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

O Dilúvio na Mitologia - Página 6 Empty Re: O Dilúvio na Mitologia

Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 19:27

E continuou:

— O rapaz, ao acordar, pediu que o levassem para a sua morada, em Náxos, mas mentiram para ele, prometeram que o levariam, mas o ludibriaram. E, para encurtar, o navio, miraculosamente, parou em alto-mar, como se estivesse encalhado em terra seca. Em vão os homens remavam. De repente, videiras se emaranharam nos remos e, subindo pelos mastros, já se enrolavam nas velas. O rapaz ergueu-se, esplêndido, com a cabeça coroada, brandindo um tirso recoberto de vides. Tigres, linces e panteras surgiram,.como que por encanto, deitados à sua volta, e um fluxo perfumado de vinho começou a jorrar pelo navio. Os homens saltaram, amedrontados. O primeiro que quis gritar teve a boca e o nariz subitamente transformados em boca de peixe, e antes que os outros tivessem tempo de assustar-se, o mesmo lhes aconteceu. Seus corpos cobriram-se de escamas azuladas, encurvaram-se, seus braços se transformaram em nadadeiras, seus pés, em caudas, todos viraram golfinhos, pularam na água e sumiram. Dos vinte homens, só eu fui poupado, mas tremia e esperava, a qualquer instante, que a mesma transformação fosse acontecer comigo. Mas ele falou em tom amigável, pois eu lhe dera mostras de bondade. Pediu-me para levá-lo a Náxos, e assim o fiz. Quando ali chegamos, ele me consagrou, em seu altar, ao serviço solene de sua divindade. Esse jovem era Dionisos.

E Penteus, já com a paciência por um fio, gritou:

— Já estamos fartos dessa conversa mole. Vamos, levai-o daqui para as masmorras. Torturai-o e o enviai a Hádes!

Os guerreiros tebanos obedeceram e atiraram o marujo acorrentado numa prisão escura. Mas uma mão invisível o libertou.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

O Dilúvio na Mitologia - Página 6 Empty Re: O Dilúvio na Mitologia

Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 19:27

Penteus enfureceu-se; ordenou para que seus guardas fizessem uma expedição ao monte Citéron para reprimir as Mênades, responsáveis, segundo ele, pela calamidade que atingiu a cidade. E os guerreiros tebanos atacaram as Mênades, de surpresa, entre as quais estavam as mulheres da casa de seu avô Cadmos, ou seja, também sua mãe, Agave, que participava do inebriante ritual em honra do deus. O rei mandou buscá-las e aprisionou todas as conspiradoras Bacantes, aprendizes das Mênades, na masmorra da cidade. No entanto, semelhante ao que acontecera a Acetes, sem a interferência de nenhum mortal, suas correntes se desfizeram, as portas do presídio se abriram e no delírio báquico elas correram de volta para a floresta.

O guarda encarregado de aprisionar o próprio Dionisos pela força das armas voltou consternado, pois o deus, sorrindo, deixara-se acorrentar de boa vontade. E assim ele estava agora diante de Penteus, que, muito a contragosto, ficou impressionado com a beleza juvenil e divina de Dionisos. Mas ainda assim persistia em sua cegueira, tratando-o como um caluniador que ostentava falsamente o título de um deus, como seu próprio nome indicava.

— Por que vieste? Como te intitulas o filho de Zeus, quando ameaças os bons costumes das famílias que o próprio senhor do Olimpo protege?

— Eu sou Dionisos, o filho de Zeus, e tu és meu parente. E os deuses aprovam a minha missão, é o meu destino e o meu ofício para alcançar o Olimpo. Preciso que pares de ameaçar-me com armas, a mim e meus seguidores, e peço-te que vás tu mesmo verificar no monte que minhas liturgias são puras.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

O Dilúvio na Mitologia - Página 6 Empty Re: O Dilúvio na Mitologia

Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 19:28

Penteus zangou-se terrivelmente. Depois de entrevistá-lo, mandou que ele fosse trancafiado na parte mais escura do palácio, junto aos estábulos, num buraco escuro, e preso por pesadas correntes. Mas, sob o chamado do filho de Zeus, as Mênades se agitaram e iniciaram, na floresta, a dança entusiástica de Dionisos. E logo um terremoto fez com que as paredes se abrissem e as correntes desaparecessem. Ileso e mais esplêndido do que nunca, ele voltou para o meio de seus adoradores.

Um mensageiro após outro vinha informar ao rei Penteus dos feitos milagrosos das mulheres tomadas pelo poder do deus, conduzidas por sua mãe e as irmãs dela. Quando seu bastão atingia um rochedo, fazia brotar água ou uma bebida espumante, muito estranha; os córregos fluíam cheios de leite, em vez de água; das árvores escorria mel.

— Sim, Majestade, se tu estivesses lá e visses Dionisos com teus próprios olhos, terias te ajoelhado diante dele!

E só serviu para enfurecer ainda mais o rei Penteus. Enviou então todos os seus guerreiros fortemente armados, todos os seus cavaleiros e todos os seus guerreiros. Dionisos, então, apareceu diante do rei. Prometeu-lhe que lhe apresentaria as Mênades, sob a condição de que o rei se vestisse como mulher para que, por ser homem e não-iniciado, não fosse despedaçado por elas. Penteus, o soberano de Tebas, considerava seu primo de cabelos longos e modos afeminados com razoável desconfiança, mas, como deus gradualmente o acabava deixando maluco, confessou seu desejo de ir à montanha e dar uma espiada nas Mênades.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

O Dilúvio na Mitologia - Página 6 Empty Re: O Dilúvio na Mitologia

Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 19:29

De repente, recebeu uma rajada de pedras, galhos e tirsos, e quase caiu de susto. Não o atingiram, e permaneceu sentado, trêmulo. Por fim, com galhos de carvalho, Penteus notou que escavavam a terra em torno do pinheiro até que as raízes ficassem nuas e a árvore começasse a balançar, ameaçando cair. E foi isso que aconteceu. O pinheiro desabou, e Penteus despencou do galho, mas caiu sobre a relva macia e não morreu, apesar de ter-se arranhado todo e se machucado gravemente. E, ao levantar os olhos, viu à sua frente sua mãe, Agave. O rei teve medo, e disse-lhe, tentando abraçá-la:

— Mãe! Me ajuda! Não reconheces mais o teu filho, o teu filho Penteus, que nasceu de teu ventre, na casa de Equíon? Tem piedade de mim, não permite que me façam mal!

Porém a sacerdotisa de Dionisos, enlouquecida, com os olhos arregalados e a boca espumante, não via em Penteus o seu filho. Parecia-lhe estar diante de uma besta. Agarrou-o pelo ombro e lhe arrancou o braço direito, enquanto suas irmãs apareceram e arrancaram-lhe o esquerdo. Penteus deu um grito de dor e horror, e todo o bando selvagem o atacou, cada uma agarrando um dos membros, despedaçando-o. A própria Agave agarrou a cabeça com seus dedos ensanguentados e ostentou-a, como se fosse a cabeça de uma fera, espetada num tirso, e levou-a pelas florestas do Citéron adentro; retornou triunfalmente a Tebas ostentando a cabeça do filho, alucinada com o poder da embriaguez, diante dos olhos horrorizados dos seus habitantes.

Depois que Agave participou da morte de seu próprio filho Penteus e de cometer a loucura de expor a sua cabeça pelas ruas de Tebas, voltando à sanidade, teve que fugir daquela terra e refugiar-se junto de Licoterses, rei de um povo bárbaro, a noroeste da Hélade, em terras estranhas, de costumes e deuses igualmente estranhos. No entanto, o soberano, atraído pela sua formosura, pediu-a em casamento; e ela prontamente aceitou, tornando-se sua rainha.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

O Dilúvio na Mitologia - Página 6 Empty Re: O Dilúvio na Mitologia

Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 19:30

E foi durante o reinado de Anfictíon, filho de Deucálion, que Dionisos, acompanhado por Deméter, visitou pela primeira vez a Ática, mostrando assim que o cultivo da vinha e do trigo foram precedidos pelo da oliveira, que Atena ensinara ao povo no momento em que surgira a cidade do rei Cécrops.

Porém, o uso da cultura foi abafado.

Com a morte de Penteus, Cadmos e Harmônia, extremamente abalados, saíram de Tebas numa carruagem puxada por bezerros, e exilaram-se para a terra dos bárbaros Enquelianos (enhelanes), a noroeste da Hélade, cujo rei era Licoterses, para nunca mais voltar a Tebas. E lá encontraram a filha Agave como sua rainha, por isso foram bem recebidos e hospedados. Esse era o mesmo povo que os Trácios chamavam de “filhos de Hermes”. Agave matou seu próprio esposo, o rei, para assegurar ao pai a posse daquele país. Por esse e muitos outros crimes, a filha de Cadmos foi devidamente punida e fulminada pelo senhor do Olimpo.

Penteus, o rei de Tebas, perdera a vida devido a fúria das Mênades, e Polidoros, o antecessor, ainda vivia. No entanto, estando em seu leito de morte, confiou seu jovem filho Lábdacos aos cuidados de seu sogro, Nicteus, e confiou-lhe o reino. Este passou a governar como regente, até que chegasse o dia em que Lábdacos pudesse reinar.

Lábdacos, então, mais tarde, tornou-se o substituto do pai no governo de Tebas.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

O Dilúvio na Mitologia - Página 6 Empty Re: O Dilúvio na Mitologia

Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 19:31

Actéon seguiu mais para dentro da floresta, procurando um lugar fresco e umbroso, onde houvesse água, onde pretendia também passar dormindo o calor do meio-dia e retemperar assim seus membros cansados.

Não longe dali havia um vale cheio de pinheiros e de altos ciprestes. Chamava-se Gargáfia e era consagrado à deusa Ártemis. Ali, num recanto do vale, havia escondida uma gruta cercada de arvoredos e, junto dali, brotava uma fonte murmurante, cuja água clara, cercada de verde relva, se estendia num pequeno lago. Segundo corriam os boatos naquelas paragens, era ali que a deusa juvenil, fatigada da caça, banhava o corpo sagrado e inviolável. Querendo saber se esse lugar realmente existia, Actéon para lá dirigiu-se.

Acontece que ela, a deusa Ártemis, tinha justamente entrado na gruta, seguida pelas Ninfas que a serviam.

— Meninas, vigiai bem enquanto vou-me banhar.

Dardos, aljavas e arco, tudo entregou-os ela à sua escudeira, outra tirou as vestes da deusa e duas servas desamarraram-lhe as sandálias. A bela Crócale, a mais habilidosa delas, juntou num coque seus cabelos ondulados. E então, as servas Néfele e Híale, com as urnas, apanhavam água e deixavam-na escorrer por sobre sua senhora. E comentavam umas com as outras:

— Ninguém tem um corpo tão belo.

— Não é à toa que ela não permite que homem algum a veja neste estado. Seria impossível conter o assédio e o desejo, caso se espalhasse a perfeição de seu corpo.

Ártemis recolhia a água com a mão em concha e despejava delicadamente às costas. As demais Ninfas, distraindo-se momentaneamente a brincar, jogando água umas nas outras, afastaram-se um pouco para também se refrescarem, e as que vigiavam também se distraíram com gracejos e brincadeiras.

Enquanto se distraía assim a deusa no seu banho de costume, um vulto aproximava-se a passos descuidados, por tortuosos caminhos. Era Actéon. Mau destino o guiava pelo bosque sagrado até a gruta de Ártemis. Entrou, despreocupado, alegre por ter achado um pouso fresco para descansar.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

O Dilúvio na Mitologia - Página 6 Empty Re: O Dilúvio na Mitologia

Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 19:31

— Parece que estou com sorte.

Assim que seu olhar se desvencilhou de alguns galhos, foi pousar sobre o grupo das Ninfas, sem perceber que a própria Ártemis estava ali, de um modo como nunca mortal algum a vira antes. Mal as Ninfas ouviram e viram o homem, gritaram em altas vozes e juntaram-se em volta de sua senhora, para ocultá-la com os próprios corpos. Actéon ficou um bom tempo a observar as Ninfas, que também haviam se livrado das roupas. E sorriu, satisfeito. Mas a deusa soergueu a cabeça acima delas. O rosto embraseava-lhe de cólera e de vergonha, e os olhos fitaram o intruso, que permanecia imóvel, estupefato, deslumbrado pelo maravilhoso espetáculo. Era real! E ainda mais, como era mais alta que as servas Ninfas, o caçador pôde vislumbrar uma pequena parte do seu corpo abaixo de seu delicado pescoço.

Com a mão Ártemis ainda tentou cobrir a parte superior do peito, mas não havia nada a fazer.

— Ele viu minha nudez...!

Vendo que o mal já estava feito e que a punição para o invasor já estava decretada no seu íntimo, Ártemis decidiu conceder ao condenado uma última dádiva.

— Meninas, deixai-me ser vista.

As Ninfas, espantadas, foram se afastando, a princípio de maneira relutante. E murmurou uma delas:

— O que há com ela?

Apesar de fugir de qualquer olhar masculino, Ártemis sempre tivera curiosidade em ver como seria este dia, afinal.

E Actéon, tentando lisonjear a vaidade feminina e escapar ao seu rigor punitivo, disse-lhe:

— É uma honra para mim, adorável deusa, ser o primeiro a contemplar teu divino corpo.

A deusa não parecia surpresa. Parecia que o esperava, que talvez desejasse ter um motivo para puni-lo. Antes Actéon houvesse fugido tão rápido quanto lhe pudessem os pés.

— Olha bem, caçador, aproveita, porque será esta a última coisa que verás.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

O Dilúvio na Mitologia - Página 6 Empty Re: O Dilúvio na Mitologia

Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 19:32

A deusa inclinou-se um pouco para o lado, apanhou na mão um pouco de água da fonte, borrifou com ela o semblante e os cabelos do jovem e bradou-lhe, com voz violenta:

— O que acabas de ver, anuncia-o agora aos outros homens, se puderes!

E Actéon, que se dizia melhor caçador que a própria Ártemis, agora apoderava-se dele indizível pavor. Precipitou-se para fora em passos rápidos e, na carreira, admirava-se da própria velocidade. Não notava o infeliz, que do alto de sua cabeça, lhe haviam brotado galhos, que o pescoço se alongara, que as orelhas se estreitaram, que os membros se transformaram em patas e as mãos e os pés em cascos. Já lhe cobria uma pele mosqueada; já não era mais homem e andava de quatro. Havia sido transformado num cervo. E, desconfiado, foi espelhar-se no leito do ribeiro, e lhe saiu da boca uma voz animalesca, impronunciável, algo como:

— Ai de mim, desventurado! Fílon, aqui! Ajuda-me!

No entanto, tudo o que seu amigo escutou foi o mugido de um enorme e magnífico cervo, que, parado à frente, com ar cansado, parecia pedir para ser caçado. O cão chamado Melampos foi o primeiro a ladrar, chamando a atenção dos caçadores:

— Vê aquilo, Fílon!

— Não posso acreditar... Rapazes, vamos lá! Neste bosque a caça vem ao nosso encontro! Desta vez vamos mostrar a Actéon o que também sabemos fazer!

E açularam todos os cães. Actéon avistou-os e pensou que deveriam reconhecê-lo. Então, de súbito, precipitou-se toda a matilha, trinta e dois ao todo, sobre o animal, começando por Melampos, seguido de Pânfagos, Dorceus, Lélaps, Téron, Nape e Tigre. Cobiçando a caça, corriam os cães por montes e vales, por sobre rochedos aguçados e abismos. Assim também fugia Actéon, amedrontado, pelos atalhos que ele mesmo conhecia tão bem quando era o perseguidor. E duas vezes quis voltar-se e bradar, implorando:

— Poupai-me! Sou eu: Actéon!
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

O Dilúvio na Mitologia - Página 6 Empty Re: O Dilúvio na Mitologia

Mensagem por Conteúdo patrocinado


Conteúdo patrocinado


Ir para o topo Ir para baixo

Página 6 de 8 Anterior  1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8  Seguinte

Ir para o topo

- Tópicos semelhantes

 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos