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O Dilúvio na Mitologia

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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:32

Mais justos e mais nobres do que a geração predecessora, os homens da Idade Heroica, descendentes de Deucálion e Pirra, eram belos como os deuses. Após as inundações do Dilúvio, os Imortais desciam frequentemente do Olimpo e misturavam-se a eles, compartilhando de suas alegrias e tristezas. Muitos heróis e nobres eram filhos de algum deus, e os Olímpicos ficavam a seu lado e protegiam-nos. Cidades grandes e poderosas nasceram e floresceram nesse período. A mais famosa delas se ergueria na Argólida, e a chamariam de Micenas, iniciando a gloriosa era da Civilização Micênica.

Mas essa era não duraria para sempre, pois estava destinada a dar lugar a uma nova geração. Muitas guerras sangrentas exterminariam grande parte da população, em Tirinto, Pilos, Iolcos, Cnossos, Tebas, Tróia, Árgos, Micenas, Esparta, entre tantas outras poderosas cidades. Ademais, coko a excessiva fertilidade que o dilúvio causou, produziu enorme variedade de coisas, boas e más. Entre elas, surgiu Píton, uma serpente enorme, terror do povo, que se refugiou nas cavernas do Párnassos.

Porém, para recompensar os grandes feitos dos homens, Zeus haveria de ressuscitar os heróis e levá-los para viverem longe dos olhos dos homens comuns, nas longínquas ilhas dos Bem-Aventurados, para além do Oceano e em outros remotos confins do mundo conhecido. Nesses lugares, tão distantes, haveriam de levar uma vida livre de sofrimentos e amarguras, onde a terra haveria de produzir três safras anuais, e frutas doces como mel. E esses mesmos heróis seriam coroados e venerados como deuses pela raça dos homens da Geração de Ferro.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:33

Além do extermínio da raça dos homens ocorrido em diversas regiões isoladas da Terra, muitos acontecimentos passaram pela triste e ampla mente de Prometeus enquanto se encontrava preso à rocha do Cáucaso no interior do Tártaros. Prometeus, destinado a sofrer, foi-lhe permitido ver de longe, do fundo abismo, crescer Épafos, o filho de Zeus e Io, e se tornar rei dos quemitas. Viu nascer Bizas e Estrombos, frutos da união entre Poseidon e Céressa, a filha de Io. Viu também as filhas de Épafos e Mênfis nascerem, se tornarem mulheres e terem filhos de Poseidon: com Líbia teve Belos, Agenor e Busíris, e com Lisiânassa teve também um filho chamado Busíris. Viu nascer Arcas, filho de Zeus e Calisto, tornar-se um menino esperto e servir de alimento aos deuses graças às perfídias de seu avô Licáon. Em seguida, viu Licáon e seus filhos serem devidamente castigados e, após, Níctimos, o único a ser poupado, tornar-se rei dos pelasgos. Viu o imprudente Faéton perder o controle do Carro de Hélios e provocar irremediável catástrofe sobre a Terra. Em seguida, viu Épafos, culpado pelo desespero de Faéton, morrer de desgosto. Viu com aborrecimento a disputa entre os irmãos, Bizas e Estrombos, pela posse do Bósforo. Viu, de cima do Cáucaso, a impiedade Zeus contra Hémos e Ródope, que ousaram comparar-se aos deuses. Viu chocado o triste destino de Arcas e sua mãe Calisto, que havia sido transformada numa ursa por ter sido alvo das seduções de Zeus. Aliás, entre tantas, outras e muitas coisas, percebeu que muitos desses acontecimentos envolviam o senhor do Olimpo, de uma forma ou de outra, e deixou escapar um largo sorriso (algo raro que lhe aconteceu) ao vê-lo, e também Poseidon, seduzindo a deusa Tétis.

Ao perceberem que Prometeus sorria ironicamente, os gênios maléficos da punição lhe retiraram as imagens e sua alegria e o abandonaram à Escuridão.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:33

Afinal, depois de uma série de acontecimentos paralelos através dos anos, quando chegou o tempo de Prometeus ser novamente levado à luz, um fortíssimo terremoto comprimiu as profundeza dos Infernos. Prometeus não estranhou, pois já havia-se acostumado com esses terríveis tremores catastróficos. Porém, a rocha a que estava preso foi atirada pelos ares. Houve uma grande explosão semelhante a trovoadas, e a rocha voltou para os elevados picos do Cáucaso, onde antes havia estado.

Ofuscado pela claridade, a que não via há muitos anos, o cansado e sofrido titã nada enxergava. Muita coisa já havia acontecido, muitos heróis como Cadmos, Belerofonte e Perseus já haviam passado pela Terra e deixado a sua história. Quando, afinal, conseguiu olhar direito, viu diante de si Bia, a Violência, que servia a Zeus. Não demorou que Bia abrisse a boca:

— Chega! Revela qual é o segredo que salvará o senhor do mundo! Agora que tu já viste como é grande o poder de Zeus, já deves haver compreendido que não adianta te opores às vontades do senhor do Olimpo!

Prometeus continuou em silêncio. A simples visão da Violência o repugnava. Por isso, virou o rosto.

— Eu já disse, Prometeus! Exijo que me respondas!

Pensou o titã:

— Seria bem melhor se não houvesse esse sujeito plantado à minha frente! Prefiro mil vezes que a águia comece logo a rasgar as minhas carnes do que ficar escutando esse sujeito me irritar!

— Ouve, Prometeus! Se não obedeceres, a águia de Zeus chegará em um instante. Tua salvação está em tuas mãos!

— Se Zeus precisa de ajudantes como tu, então é melhor eu ficar cravado à rocha. Deixa que a águia venha logo me dilacerar. Eu não cedo! Agora, some de minha vista, animal!

A inesperada fúria de Prometeus assustou Bia que imediatamente voou para o Olimpo.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:34

Pouco depois, a águia apareceu. A filha de Équidna era uma enorme ave com o bico em forma de gancho e garras curvas. Circulando como um raio sobre o titã acorrentado, de repente, atacou. Assim, ela rasgou-lhe as carnes e devorou-lhe o fígado. Entretanto, mordendo os dentes de dor, Prometeus não deixou escapar o menor gemido. Depois que a águia partiu, a ferida aberta doeu o dia inteiro. Só ao entardecer que ela cicatrizou, aparecendo-lhe um novo fígado. Isso, porém, não queria dizer que o sofrimento do titã havia terminado. Era apenas um sinal de que a tortura se repetiria no dia seguinte. Assim, foi acontecendo anos após anos, e muitos anos. Enquanto isso, o grande benfeitor da humanidade continuou lá, acorrentado e cravado à rocha, sofrendo e ansiosamente esperando o dia da libertação.

Frequentemente, as filhas do velho Océanos vinham minorar-lhe os sofrimentos. A admiração que sentiam por Prometeus era cada vez maior. Impressionadas com a resistência dele, elas perguntavam:

— Como tu consegues suportar todo esse sofrimento sem fim, titã? Nós nem conseguimos olhar!

Quando escutavam o bater das asas da águia se aproximando, elas corriam gritando apavoradas e iam-se esconder. E todo o sofrimento de Prometeus recomeçava.

Os anos foram-se passando. As filhas do velho Oceanos não se esqueciam de Prometeus e nem deixavam de ir compartilhar de seus sofrimentos. Às vezes, elas falavam a respeito dos homens, seus desesperos, suas esperanças, tristezas e alegrias. Prometeus acorrentado ouvia com interesse e seu coração se agonizava porque ele nada podia fazer para ajudá-los.

Mas as donzelas do mar o reconfortavam, dizendo:

— Pouco a pouco, todos os homens estão se civilizando, Prometeus. Eles continuam progredindo nas artes que tu lhes ensinaste e fazem sábio uso do fogo que lhes foi dado de presente. A vida está-se tornando cada vez mais fácil.

À medida que o tempo passava, elas traziam novidades cada vez mais confortadoras.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:35

— O tempo cura todas as feridas, Prometeus. Muitas coisas se modificam na Terra e no Olimpo. Com o passar do tempo, Zeus começou a gostar da nova geração humana. Os deuses a chamam de “raça de heróis”. Inspirados por Atena e dirigidos por Deméter, Hefaístos e outros deuses, estes estão auxiliando a humanidade. Como agradecimento, os homens dirigem preces aos deuses, e isso faz Zeus sentir-se satisfeito. É muito comum ver deuses vivendo no meio dos homens. Eles bebem e comem com os humanos, compartilham de suas alegrias e choram quando eles sofrem os duros golpes do Destino. Nas guerras, estão sempre ao lado dos homens e nos tempos de paz nunca deles se afastam. É até comum os deuses se apaixonarem por mortais. Com isso, nascem os semi-deuses que passam a governar reinos. Há também os grandes heróis que dão à raça humana um novo brilho.

Dizendo essas palavras, as Oceânides olharam fundo nos olhos de Prometeus. Pela primeira vez, desde que ele havia sido acorrentado àquela rocha, viram a imutável expressão do titã iluminar-se. Aliás, expressara um leve sorriso agora há pouco, pois acabara de ver ao longe os aventureiros Argonautas se aventurarem em busca do Tosão de Ouro no país vizinho da Cólquida.

— Não sinto ódio contra Zeus. Apenas desejo uma coisa: ajudar os homens para que a vida não se lhes torne tão difícil. Estou contente por saber que aquele que tentou tornar-se meu inimigo só porque procurei ajudar os mortais... agora torna-se mais amigo da humanidade.

Concordaram as Oceânides:

— Sábias palavras, infeliz titã! As horríveis torturas que vêm castigando teu corpo durante séculos não envenenaram a tua alma. Teus pensamentos continuam puros e teus sentimentos são ainda tão nobres quanto antes.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:35

— Ouvi, filhas do meu maior amigo. A teimosia cega é a maior lógica do inimigo. Até mesmo os espíritos mais rígidos dobram-se diante da bondade. Zeus fez-me um grande mal, assim como também foi mau para com a humanidade. Entretanto agora, se ele está tratando melhor os homens, não serei eu quem o continuará odiando. Para dizer a verdade, chegou a hora de ser revelado o segredo que o salvará.

— Tua sábia decisão nos dá coragem e novas alegrias. A bondade e a sabedoria de tuas palavras fortalecem a nossa esperança. Algo parece estar-nos dizendo que não demorará o dia em que terminarão os teus terríveis sofrimentos. Pressentimos que será assim. Está chegando o momento quando deverá vir o grande ser que finalmente partirá os grilhões que te mantêm acorrentado à rocha.

— Vós estais certas. Sinto isso no ar. Sim, Héracles está-se aproximando. É o herói que esperei durante séculos!

Ao ouvirem a revelação, as Oceânides exultaram de alegria, pois sabiam da fama do herói que era filho do próprio Zeus. Era um descendente de Io, Épafos, Acrísios e Perseus que vinha libertar Prometeus. Primeiro, elas se abraçaram, dançaram e pularam. Depois, correram até as mais altas rochas vizinhas e começaram a chamar:

— Héracles! Héracles! Héracles!

O herói, ouvindo as vozes das deusas, a elas dirigiu-se. Apareceu a figura de um homem sob a forma de uma distante silhueta em uma rocha longínqua.

— Héracles!

— Estou indo!

Héracles acenou de longe. Foi de indescritível alegria! As Oceânides se abraçaram e se beijaram. Algumas correram em direção ao herói enquanto outras iam avisar Prometeus.

De início, Héracles não entendeu porque elas o estavam chamando, porém compreendeu que precisavam de ajuda. Por isso., não perdeu tempo. Com passos de gigante, venceu as rochas afiadas, colinas e vales do Cáucaso, cada vez aproximando-se mais.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:36

Héracles estava sempre pronto a oferecer ajuda a quem precisasse, pois dedicava sua vida a essa missão. Por isso, não havia hesitado trabalhar para Euristeus, o invejoso e covarde rei de Micenas que tentou derrotar o herói exigindo que executasse doze trabalhos impossíveis a qualquer ser humano. Entretanto, o herói executava a todas as tarefas e ainda muitas outras, porque Héracles acabou percebendo que, agindo assim, estaria ajudando a humanidade. Ele, pois, atravessou o país de animais ferocíssimos, lutou contra os que faziam o mal, derrotou guerreiros selvagens, abriu novos caminhos para distantes lugares, ligou o mar ao Oceano, lutou contra os Gigantes, viajou pelo mundo inteiro, de norte a sul, de leste a oeste, chegou até a desafiar a força dos deuses. Agora, lá estava no Cáucaso, porque havia chegado o tempo de realizar o trabalho mais nobre da sua vida: libertar das correntes o grande benfeitor da humanidade.

Finalmente, do alto de uma rocha, Héracles parou diante de Prometeus acorrentado. Fazia dias que ele estava perambulando pelas montanhas. Ele havia estado entre os heróis que se tinham juntado à expedição dos Argonautas, tendo porém se perdido numa floresta da Míssia, onde procurava por seu amigo Hilas, que havia desaparecido. E passou a procurá-lo em todos os lugares, até chegar ao Cáucaso.

Héracles, ao ver o titã, com as mãos às costas, cravado e acorrentado à rocha, compreendeu porque o Destino o havia feito perder-se e viajar para tão longe. Provavelmente, se Héracles tivesse a glória de conquistar o velo de ouro de Crisómalos, entre os Argonautas, ele teria retornado à Hélade vitorioso, e Prometeus não seria libertado. Agora sabia o motivo pelo qual seus passos o haviam levado até aquele lugar no deserto onde Prometeus enfrentara as mais terríveis torturas que a mente de um ser poderia conceber.

Logo, vieram as Ninfas e correram abraçá-lo e beijá-lo.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:37

— Enfim chegaste, ó libertador! Vem soltar as inquebráveis correntes feitas por Hefaístos, que prendem para sempre o pobre titã Prometeus à rocha!

Héracles ficou penalizado pela injusta punição do titã. Portanto, resolveu que tais sofrimentos não podiam continuar. Saltando, pois, do alto da rocha, pôs-se de pé e correu para ajudar. Ao chegar junto a Prometeus, não encontrava palavras para expressar a pena e a admiração que sentia por aquele corajoso herói.

De repente, o ameaçador crocitar encheu os ares. Assustadas, as Oceânides cobriram o rosto. Olhando para o Céu, Héracles viu a águia descrevendo círculos. Era a hora da horrenda ave de rapina vir arrancar as vísceras do titã. Héracles não hesitou um só momento. Tirando algumas de suas flechas da seteira que pendia em seu ombro, retesou o arco com toda a força e fez pontaria. Ouviu-se uma vibração quando ele soltou a corda do arco, e, após algumas tentativas, uma seta atravessou os ares com um forte assobio. Em um segundo, a águia despencava das alturas com as asas batendo desordenada e inutilmente à medida que seu pesado corpo era atraído para baixo. Depois, mergulhou no mar e em questão de instantes afundou sem vida.

Ao verem a águia cair, as Oceânides gritaram de alegria.

Naquele instante, o alado Hermes apareceu no Céu, pois acabava de chegar por ordem de Zeus. Sabendo o motivo pelo qual o deus tinha vindo, Prometeus disse-lhe:

— Não será preciso que me faças o mesmo pedido outra vez, porque já chegou o momento de Zeus saber qual é o grande segredo. Mas, como tu também podes ver, chegou a hora da minha libertação. Aí está Héracles teu irmão, o herói que tanto esperei durante estes intermináveis anos. Somente ele será capaz de quebrar as correntes que me aprisionam. Ninguém mais, repito, nem deus ou mortal, será capaz de realizar semelhante façanha.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:37

Hermes, porém, ainda tinha uma pergunta a fazer:

— Zeus não te havia sentenciado a ficar cravado à rocha por toda a eternidade? Embora eu tenha muita pena de ti, pergunto: pode uma sentença de Zeus ser revogada? Sabemos ambos que isso não é possível, nem mesmo que o mundo inteiro o quisesse.

— Não te perturbes com tais perguntas. Existe um modo para que eu seja libertado sem que se quebre a autoridade de Zeus. Agora, ouve bem o grande segredo que tenho a revelar, e vai dizê-lo ao seu senhor: ele não deve unir-se a Tétis, a filha de Nereus, o grande adivinho dos mares. O Destino escreveu que Tétis terá um filho mais forte e mais poderoso que o pai... e esse filho o derrubará do trono.

Mal acabou Prometeus de fazer a revelação, Hermes voou rápido de volta para o Olimpo. Assim que o deus virou as costas, Héracles deu um passo à frente e disse:

— Muito bem, agora posso fazer o que desejo. Ninguém me ordenou que o grande amigo da humanidade deva ficar aqui, prisioneiro para sempre! Por isso, não temo as ordens de meu pai!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:38

Em seguida, o poderoso herói ergueu a clava e começou a bater com tal força na corrente que todo o monte estremeceu. Era uma tarefa difícil, pois os elos forjados pelo deus Hefaístos resistiam até aqueles golpes sobre-humanos. A determinação de Héracles em libertar o titã injustamente punido era tão firme que a força aumentava a cada golpe. Assim, cada pancada era duas vezes mais forte que a anterior. Fagulhas espirravam em chuviscos vermelhos quando ele malhava as correntes. Ao redor do herói parecia estar caindo uma chuva de trovões ensurdecedores. Toda a Terra tremia, e toda a vastidão do Cáucaso ecoava e re-ecoava com os golpes de Héracles. Assim, até que enfim, depois de algum tempo, as então inquebráveis correntes partiram-se. Mal os elos caíram aos pedaços, o poderoso herói arrancou o cravo atravessado no peito de Prometeus. Com isso, o titã respirou profundamente o ar fresco e, afinal livre, ajoelhou-se e deu um grande abraço em Héracles. Enquanto as Oceânides choravam de contentamento, os dois amigos permaneceram abraçados em silenciosa felicidade.

Prometeus, finalmente, libertou o que tinha preso em sua garganta:

— Livre, livre afinal!... depois de tanto tempo pelo crime de haver concedido o fogo aos homens... Não sei como agradecer-te, poderoso herói! Tu me reconquistaste a liberdade e, por mais que eu diga, jamais conseguirei expressar a minha gratidão.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:39

— Nunca aceito a gratidão de ninguém. Nada me deixa mais contente do que haver sido o escolhido para libertar o maior amigo dos homens. Os outros podem me chamar de herói e talvez até estejam certos. Realizei muitas tarefas difíceis, e é possível que as gerações do futuro nunca se esqueçam de mim. Esta, porém, foi a mais difícil de todas, visto que os elos eram mesmo inquebráveis. Eu não tinha certeza que poderia libertar-te. Entretanto, de uma coisa tenho certeza: nem esta e nem todas as minhas outras façanhas postas juntas são dignas de comparar-se às tuas. Para fazer o que tu fizeste, Prometeus, é preciso força de corpo e de mente mil vezes maiores do que as minhas, uma força que nenhum outro ser possui.

— Ouve o que te digo, amigo Héracles, e que o mundo inteiro jamais se esqueça! Todos nós, mesmo o mais humilde dos mortais, podemos conseguir a força que precisamos quando resolvemos lutar contra a injustiça. Por maior que seja a injustiça que domine o mundo, maior será a força que conseguiremos reunir, se resolvermos lutar contra esse estado de coisas!

Em seguida, o titã lhe revelou como Héracles poderia realizar seu décimo-primeiro trabalho imposto pelo rei Euristeus e ensinou-lhe o caminho para chegar à ilha das Ninfas Hespérides através de seu irmão Átlas. Depois, Prometeus calou-se e foi descansar, sentando-se no chão.

Assim, o maior desentendimento no mundo no qual jamais se teve notícia, chegou ao fim. Zeus e Prometeus fizeram as pazes, e a tranquilidade voltou a reinar entre os deuses. No entanto, como último ato, provando ser senhor do mundo, Zeus tornou-o mortal, a fim de impedi-lo de entrar no Olimpo. Isso só viria a acontecer se, um dia, algum imortal trocasse de destino com o seu e o tornasse imortal novamente.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:39

Hermes, porém, continuava remoendo uma grande dúvida: por que a sentença de Zeus não havia sido confirmada? — era o que sempre se perguntava. Mas não demorou muito que tivesse uma resposta àquela pergunta. Assim, Zeus pediu que Hefaístos fizesse um anel que deveria ter encravada uma pedra da rocha na qual Prometeus tinha estado acorrentado. Depois, o senhor do mundo ofereceu o presente ao indobrável titã que passou a usá-lo como gratidão pelo gesto recebido. Dessa maneira, a sentença de Zeus foi mantida para sempre:

— Que Prometeus esteja unido à rocha por toda a eternidade! E assim se cumpra.

E, através da pedra do anel, Prometeus cumpriria aquela promessa. Concluía, assim, a segunda e mais importante lição aos homens: a de que nunca deveriam curvar-se à Prepotência.

Sendo excessivo o peso que a Terra suportava, pela rápida multiplicação dos homens, Zeus resolveu desencadear a Guerra de Tebas, que envolveria o povo de Árgos. Como se julgasse insuficiente essa providência, o pai dos deuses e dos homens, além dessa guerra, pensou em fulminar ou afogar a maioria num novo Dilúvio.

Foi então que Momos, o filho da Noite, em particular, lhe apresentou um meio mais prático: dar Tétis em casamento a um mortal, de que nasceria um menino, Aquiles, e Zeus engendraria uma filha, Helena, que suscitaria a discórdia entre a Ásia e a Europa, envolvendo também a África, provocando a Guerra de Tróia. Tantos seriam os mortos em dez anos de luta, que haveria o necessário equilíbrio demográfico.

Então, Zeus, o senhor do Olimpo, pôs mão à obra: depois de consultar a deusa Têmis, mandou que Hermes procurasse e convencesse o centauro Quíron no monte Pélion e persuadir o herói Peleus, de Ftia, a cortejar a deusa Tétis.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:40

Por sua castidade, os deuses quiseram que Peleus desposasse a deusa Tétis, que, segundo as previsões do titã Prometeus, haveria de ter um filho poderoso, e se fosse filho de um deus, haveria de destroná-lo. Daí, o Olimpo teria um novo rei e o Universo um novo senhor. Por isso, advertidos pela deusa Têmis, Zeus e Poseidon desistiram de seduzir Tétis, a filha de Nereus, e, daí em diante, procuravam melhor pretendente: um mortal. A propósito, Tétis mesmo, em respeito a Héra, que a havia criado, evitava o contato com Zeus.


Mas não seria fácil tirar a deusa do mar do palácio de Nereus e levá-la primeiro para a caverna de Quíron e, finalmente, para Ftia, no fértil palácio em que Eurítion reinara outrora. E o centauro Quíron, sem perda de tempo, começou a orientar o seu discípulo Peleus no sentido de ter sucesso com a filha imortal de Nereus.

— É preciso esperar primeiro uma noite de lua cheia, a noite nupcial. Nesse momento Tétis costuma visitar a praia das lulas, ao pé da encosta abrupta do Pélion, e dançar com as irmãs à volta do altar em que elas, as Nereidas, recebem suas oferendas.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:41

Numa noite de lua cheia, a deusa dos pés de prata emergiu das ondas exatamente como no princípio dos tempos Febe saiu do próprio lago, no lado ocidental da mesma montanha. Cabia ao herói pegá-la num abraço duradouro e segurá-la firme e incansavelmente. Não se tratava de uma simples prova de luta como acontecera com Atalanta, mas um combate de amor. A fim de obter o consentimento de Tétis, Peleus, o escolhido, lutou com ela, segurando-a com firmeza em todos os seus disfarces perigosos. A noiva exibiu todas as velhas artes de transformação das divindades marinhas. Mudou-se em fogo e água, em vento, em árvore, em ave de rapina, arreganhou os dentes de leão e tentou, em forma de serpente, defender-se do abraço de seu oponente, que, mesmo horrorizado, incansavelmente gritava e segurava-a com força. Até que, na forma do mais delicado de todos os peixes, ela rendeu-se. Não conseguiu escapar-lhe, embora o malferisse e, finalmente, cedeu, mas recusou-se a falar com ele, mantendo-se indiferente, pois já sabia da intenção dos deuses do Olimpo. Tétis curvou-se e, como uma escrava, ofereceu as mãos para serem amarradas pelo seu amo. Peleus, ainda meio atordoado, pelo contrário, tomou-a pela mão e ergueu-a respeitavelmente, levando-a para casa. E a costa onde o combate de Peleus e Tétis aconteceu passou a levar o nome de Sepias Akte.

O himeneu se deu no monte Pélion, diante de todos os deuses, enquanto a Musas cantavam o epitalâmio. Enquanto isso, o vizinho Olimpo era preparado para a grande festa de núpcias, talvez a maior desde o casamento de Zeus e Héra.

E foi durante as núpcias de Peleus e Tétis que se deu a disputa entre Héra, Atena e Afrodite pela posse do pomo de ouro de Éris, especialmente pelo desejado título de “a mais bela”. Tal disputa, futuramente, causaria o desejo incontrolável do príncipe Páris em raptar Helena, a mais formosa dentre as princesas da Hélade, e essa atitude imprudente tornar-se-ia motivo suficiente para uma guerra de dez anos entre gregos e troianos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:42

E, dessa união, nasceu um menino, Ligíron, que o próprio centauro Quíron preferiu chamar de Aquiles. Este menino, ao crescer, se tornaria no instrumento ideal para as pretensões de Zeus, em reduzir consideravelmente o número de seres humanos sobre a terra.

Há muito que o Sábio Centauro penava, desde que havia-se ferido numa das flechas de Héracles, naquele episódio de sua luta contra os Centauros. O próprio herói havia ido em busca da cura de seu velho amigo, mas subiu ao Olimpo antes que pudesse encontrá-la. Quíron havia adquirido dos Imortais o dom da Imortalidade; sentia as dores provocadas pelo veneno da Hidra, que escondia-se na ponta das flechas de Héracles, mas a Morte não lhe vinha buscar, e chegava a gritar:

— Por que não haverei de perecer? Porque justamente minha raça é causadora de tanto sofrimento? Quem ficará com a minha Imortalidade para que eu possa descansar em paz?

Foi quando descobriu que os dias de Prometeus estavam contados; Héracles o havia libertado do Cáucaso, que o mantivera vivo por muitos séculos, mas em sofrimento. E o bom titã foi procurar o bom centauro para propor-lhe:

— Ficarei com tua Imortalidade e viverei eternamente para auxiliar os pobres mortais.

E Quíron cedeu-lhe a sua Imortalidade; morreu e cessou de sofrer. O bom titã Prometeus enterrou-o no Pélion; mas Zeus, para recompensá-lo, levou seu espírito para o Céu e colocou-o entre as estrelas, a fim de que vivesse para todo o sempre como uma Constelação, suavemente brilhante, com o nome de Sagitário. E Prometeus, enfim, passou a tornar-se, definitivamente, o protetor divino da raça humana.

FIM
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 15:18

O Dilúvio e a origem de Tebas (Cadmos e Édipos)

IO

Tudo começou quando Io, filha do rei Ínacos, foi perseguida pela deusa Héra, por ser amada por Zeus, o senhor do Olimpo. Enquanto Prometeus sofria com o castigo que haveria de receber por ter sido bondoso com o homens, concedendo-lhes o fogo, insistentemente Io, abandonando Argos, se viu ameaçada por um morcardo, uma mutuca. E Prometeus sabia que ele mesmo não escaparia do duro castigo que Zeus lhe preparava. Por isso, sigilosamente procurou Atena, a deusa de brilhantes olhos azuis, que também amava a humanidade.

— Um destino terrível me espera. Serei preso com correntes infrangíveis e sofrerei torturas medonhas por toda a eternidade. Entretanto, não é isso o que mais temo, e sim que a humanidade fique desprotegida.

— Os sofrimentos que tu estás condenado a suportar já te bastam. Não te tortures também com o destino dos homens. Farei tudo que tu me pedires e muito mais.

Então, Prometeus sentou-se ao lado da deusa e ensinou-lhe arquitetura, astronomia, matemática, construção naval, trabalhos em metal, medicina e várias outras artes, para que ela pudesse ensiná-las à humanidade.

— Talvez seja melhor assim, Atena. Zeus te ama e não obstruirá teu caminho. Além disso, tu sabes como convencê-lo, e eu certamente não sei.

— Fica tranquilo, filho de Jápetos. Podes confiar em mim. E tem coragem.

Na verdade, de todos os Imortais, Atena era a única que podia levar adiante a obra de Prometeus. Sua determinação reconfortou o grande benfeitor da humanidade. Tranquilizado, ele correu o olhar pela fértil terra verde e imaginou quanto ficaria mais bela com o trabalho dos homens. Mas lamentava e temia que a ira de Zeus abalasse tudo quanto os seres humanos haviam trabalhado. Mas tinha Atena ao seu lado. E a felicidade inundou seu coração, e com voz decidida, ele disse:

— Agora, que recaia sobre mim toda a fúria de Zeus. Eu estou pronto.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 15:19

Io, na forma de uma novilha, liberta pelo deus Hermes de seu vigia algoz, o gigante Argos, corria pelas pernas de Hermes e a força de Zeus. Corria como ninguém, a caminho do Oriente, em direção das terras mais remotas, aonde ocidental algum imaginaria um dia chegar. Cruzou a Trácia, e, desesperada, para escapar daquele terrível inseto que a perseguia, jogou-se no mar e nadou, nadou, nadou, até a exaustão. Mas a mão de Zeus a empurrava, e fê-la alcançar a outra margem do estreito, que passou a se chamar de Bósforos, em sua homenagem. Ao chegar na outra margem, conseguiu uma trégua, e parou para descansar. Em seguida, depois que Io fez nascer um filho que levava em seu ventre, voltou a ser violentamente atacada pela mutuca que a procurava, e Io abandonou o pequeno Tróquilos à própria Sorte e seguiu o leito do rio Hibristes, passando pela Frigia e a Meônia, alcançou o país dos Cimérios, até avistar ao longe os picos do majestoso Cáucasos; foi ter com Prometeus aprisionado. Este lhe mostrou sua futura descendência numerosa. Depois desceu para a região dos Arimas e a terra dos Cananeus, através de terrenos montanhosos e desérticos, para alcançar o reino dos Melâmpodes (Quemitas). Ela, exausta, de tanto correr e sofrer, conseguiu forças ainda e aproximar-se mais do seu destino definitivo, guiada por um espírito amigo, e foi ter nas fontes longínquas do rio Nilos, para além do Nilótis, o país dos Melâmpodes, talvez disposta a morrer sem esperanças. Nessa região tão fabulosa como desconhecida, por fim, encontrava o esperado e procurado duplo prêmio do descanso à sua martirizada fuga. Não aguentando mais de tanta dor, dobrou as patas e caiu no chão. E Zeus, comovido, interveio em seu favor, e procurou Héra para, com grande meiguice, prometer-lhe que nunca mais cortejaria Io. Héra, muito satisfeita com a sua vingança, aceitou, contanto que Io nunca mais pudesse retornar ao seu país para rever seus pais e irmãos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 15:19

As desventuras de Io eram tantas, causaram tanta tristeza ao velho rei seu pai, que Ínacos tratou de vingar-se de Zeus, perseguindo-o com ultrajes e ameaças. Porém, o deus, como castigo a tamanha ousadia, enviou a terrível Tisífone, uma das Erínias, para atormentá-lo. E finalmente Ínacos, num acesso de loucura, se atirou ao rio Haliácmon, que a partir daquele momento mudou de nome para chamar-se Ínacos. E deixou a esposa, a oceânide Mélia, mais os filhos Foroneus, Egiáleo, Micene, Árgos, Pelasgos, Cásos, Filódice e a desgraçada filha Io.

Quanto a Tróquilos, que havia nascido de Io, ao atingir idade adulta, se tornaria um herói argivo e sacerdote de Deméter. Diz-se que inventou a carruagem, e foi ele quem construiu o carro sagrado utilizado no culto de Héra-Argiva. Um dia, provocou a ira de Agenor (filho de Tríopas e rei de Argos), e teve que fugir para a Ática. Após sua morte, foi posto entre os Astros e se tornou a Constelação do Áuriga.

Zeus, descendo do Olimpo, aproximou-se de Io e tocou-lhe as costas: os pelos desapareceram do corpo do animal, os chifres sumiram, os olhos se estreitaram, a boca encolheu, transformando-se em lábios, ombros reapareceram, e os cascos deram lugar aos pés e às mãos. Zeus desfez o encanto e deu a Io a sua forma natural, mas sentia-se feliz por ter conseguido plantar nela sua última semente, dando início às previsões de Prometeus.

Mas Héra, notando que Io isolava-se à sua vista, desconfiou que esperava um filho. Por isso, ordenou aos demônios Curetes que se apoderassem da criatura tão depressa nascesse e a fizessem desaparecer. Os Curetes saíram-se bem na missão, raptaram o recém-nascido e o esconderam, tanto que Io não podia encontrá-lo. No entanto, tão atento para defender sua amada e seu filho, Zeus lançou uma rajada dos seus potentes raios e acabou com a ameaça dos Curetes.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 15:20

A atribulada Io, guiada pela mão de Zeus, foi em busca de seu filho em Gebal, na Síria. A criança estava aos cuidados da rainha daquela terra. Io recuperou-a, levou-a de volta para a terra ao sul de Nilótis e nela continuou cumprindo-se o destino, para fazer de seu filho príncipe em país estrangeiro.

Zeus, o senhor dos deuses, levou Io ao rei daquele povo, Telégonos (seria Nebtawyre ou Mentuhotepe?), que, por sua vez, a desposou e adotou seu filho, e o chamou Épafos. O menino se geminou com o sagrado boi e deus Ápis, ao passo que Io acabaria se identificando com a poderosa deusa Ísis.

O DILÚVIO

Depois que Pandora havia libertado os males contra o mundo, abrindo a ânfora de Prometeus, nascia a Geração de Bronze, e o crime irrompeu como uma inundação entre os homens; a Modéstia, a Verdade e a Honra fugiram, deixando em seus lugares a Fraude e a Astúcia, a Violência e a insaciável Cobiça. Os homens, pretendendo transpor as águas, começaram a derrubar árvores nas montanhas e ultrajar a face do Oceano.

A Terra, que até então fora cultivada em comum, começou a ser dividida entre os possuidores. Os homens não se contentavam com o que produzia a superfície; escavou-se a terra e tirou-se do seu seio os minérios e metais. Produziu-se o danoso ferro e o ainda mais danoso ouro. Surgiu a Guerra, utilizando-se de um e de outro como armas; o hóspede não se sentia em segurança em casa de seu amigo; os genros e sogros, os irmãos e irmãs, os maridos e mulheres não podiam confiar uns nos outros. Os filhos desejavam a morte dos pais, a fim de lhe herdarem a riqueza; o amor familiar caiu prostrado.

A Terra ficou úmida de sangue, e os deuses a abandonaram, um a um, até que ficou somente Astréia, deusa da inocência e da pureza, que, finalmente, acabou também partindo. E Zeus, desejoso de exterminar a criação de Prometeus, tentava com tudo isso encontrar uma desculpa para fazê-lo.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 15:21

Assim, apoderou-se de um de seus raios, e já estava prestes a atirá-lo contra o mundo, destruindo-o pelo fogo, quando atentou para o perigo que o incêndio poderia acarretar para o próprio Olimpo. Mudou, então, de ideia, e resolveu inundar a Terra com as águas dos Rios, e ordenou a Poseidon:

— Fende a terra com um golpe de teu poderoso tridente. Abre as comportas dos mares, que, uma vez liberadas, inundarão a tudo e a todos exterminarás.

Neste momento, Deucálion, que morava na Cítia com sua esposa, Pirra, visitava seu pai, Prometeus, no Cáucasos, onde ele havia sido acorrentado, por ter cometido um crime em favor da humanidade. E, vendo-o naquele estado lamentável, tentou libertá-lo, mas não conseguiu.

Prometeus, que tinha o dom de prever o futuro, em agradecimento à boa vontade do filho, avisou-o sobre a catástrofe que Zeus enviaria contra a Terra e o que deveria fazer para salvar-se. Sabia ele que um dilúvio maior e mais terrível do que aquele que já havia ocorrido sobre a Terra na época do rei Ógiges estava prestes a acontecer. Ógiges, filho de Poseidon e Alistra, era, há 250 anos antes, o rei dos Ectenos, no sítio da futura Beócia, que na época chamava-se Ogígia. Havia-se casado com Tebe, uma ninfa, filha de Zeus, e com ela tivera muitos filhos, entre os quais três moças: Áulis, Alalcômene e Telxínoe.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 15:21

Deucálion, então, voltou às pressas para sua terra e começou a derrubar grandes acácias, a serrá-las e ajustá-las em pranchas, com a ajuda de sua mulher Pirra e seus filhos Hélenos e Anfictíon. O trabalho, incansável, avançou rapidamente. Na quilha, feita de grossos troncos de árvore, encaixaram as balizas e prenderam os deques com cavilhas de madeira. Vedaram cuidadosamente as junções com betume. No final, colocaram o teto, que também recebeu uma farta camada de betume. Ao fim de muito trabalho, terminaram de construir uma grande arca, suspensa em terra seca no alto de um morro, a qual encheu com grande quantidade de animais domésticos e selvagens, para seu sustento, bem como com outros bens e suprimentos necessários, e correu para bordo, levando consigo sua família, e ali passou a morar vítima de insultos e chacotas, até o dia tão esperado, o dia da destruição.

Naquele momento, Párnassos, filho do deus Poseidon, despertado pelo som dos lobos que uivavam de medo, resolveu segui-los até o alto de uma montanha vizinha, com sua família e amigos, prevendo que algo catastrófico estava para acontecer e a sua aldeia seria riscada do mapa. E aconteceria. O dilúvio estava prestes a cair sobre a Terra, e a montanha seria a sua salvação. Essa mesma montanha, então, mais tarde, levou o nome de Párnassos e, sobre ela, fundaram uma cidade: Licoréia, a “cidade dos lobos”.

Mégaros, filho de Zeus e da ninfa Sitnida, despertado pelos gritos dos grous que previam uma inundação sobre aquela terra, tomou sua família e amigos e conduziu-os até o monte Gerânia, lugar que salvaria suas vidas. Por isso, bem mais tarde, a região em que vivia passou a levar o seu nome: Megárida.

Pressentindo o Dilúvio que seria enviado por Zeus, a ninfa Cáfire e os Télquines abandonaram Rodes. Os deuses-magos foram dar nas costas da Lícia, onde introduziram o culto a Apolo-Lício, no vale do Xantos. Licos, um dos Télquines, construiu um templo ao deus.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 15:22

Até o rei Licáon e sua família foram poupados, pois conhecia a sua natureza e tinha-lhe grande consideração. Para tanto, deu-lhe uma grande oportunidade de se redimir e assumir uma nova posição e fazer parte de uma nova geração mais digna.

O Vento Norte foi aprisionado; logo depois, Notos, o Vento Sul, libertado, soprou do Oceano e cobriu todo o céu com a escuridão. De repente o céu e a terra foram iluminados por um relâmpago ofuscante, e uma funesta trovoada fez a Terra tremer, ecoando longamente a prenunciar a destruição. Seguiu-se um silêncio mortal, pesado e amedrontador. Então desencadeou-se um desastre. Em meio a um medonho espetáculo de relâmpagos e estrondos de trovões, Poseidon, em um vale seco e pedregoso, com fúria bateu com seu tridente a terra e o enterrou quase que por inteiro; uma rachadura começou a se espalhar do ponto onde se abatera o golpe, espraiando-se para todos os lados. Enquanto a chuva caía em grande quantidade, das imensas fissuras começaram a brotar as águas submersas, e os Rios correram montanhas abaixo, inundando plantações, lançando o refluxo do Oceano sobre as praias, arrastando consigo cidades e templos e engolindo rebanhos, animais selvagens, homens e árvores.

Diante dos olhos deliciados de Zeus — que a tudo observava do alto — desfilaram envoltos em ondas de incrível ferocidade gafanhotos, moscas, ratos, esquilos, zebras, leões, elefantes, casas, templos e palácios. Em meio a tudo isso, passavam homens, agarrados em qualquer coisa que sobrenadasse na violência das águas. A maioria das pessoas, no entanto, passavam já mortas. As aves, não encontrando mais nenhum lugar seco onde repousar, deixavam-se cair às águas, renunciando à luta pela vida.

Naquele momento, Cerambos, um pastor do monte Ótris, por ocasião do Dilúvio que se aproximava rapidamente, tentou refugiar-se no seu ponto mais alto para escapar à inundação. As Ninfas, ao verem que não conseguiria escapar, deram-lhe asas e transformaram-no num inseto, o kerambix, “escaravelho”.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 15:23

Então, ao ouvirem o estrondo da tempestade se aproximando, Deucálion e Hélenos, seu filho, apressaram-se a recolher as pranchas que ligavam a porta da arca com a terra. E mal conseguiram fechar a porta, e a tempestade desabou. As águas torrenciais que avançavam elevaram-se e levantaram a arca do chão.

Só a arca de Deucálion flutuou acima do nível das árvores, mas águas continuaram a subir, até que finalmente apenas alguns cumes de montanhas permaneceram visíveis, como o Olimpo e o Párnassos. O leito das águas furiosas quase chegaram a tocar os pés de Prometeus acorrentado no Cáucasos. A arca de Deucálion ficou envolvida em densa neblina, ocultando-se aos olhos de Zeus, e este, depois de nove dias e nove noites, vendo que não havia homens injustos, vivos, além de poucas famílias dignas, refugiadas nos cumes dos montes mais altos, ordenou a Poseidon que fizesse cessar a inundação. Poseidon, por sua vez, ordenou a Tríton:

— Vai, agora, e devolve tudo à normalidade!

E Tríton soou sua concha determinando a ordem dada pelo senhor das águas. E os Tritões espalharam-se pelos mares e fizeram soar também as suas conchas iniciando a retirada das águas. Algum tempo depois, a chuva parou, e na manhã do décimo dia, um súbito impacto mostrou que a arca havia encontrado terra outra vez. Deucálion correu para abrir a janela. A chuva tinha parado. Um lençol de água estendia-se até o horizonte em todas as direções, menos sobre duas pequenas ilhas coroadas por dois picos semelhantes, onde havia aportado. Encalhou no alto do monte Párnassos, não muito longe da devastada Ftia, na Hemônia, a futura Tessália, enquanto o Mar voltava às suas costas e os Rios aos seus leitos.

— Esperemos até que as águas baixem de vez e consigamos desembarcar. Estas ilhotas certamente são dois picos.

Alguns dias depois, o nível das águas começou a baixar, e Deucálion reconheceu aquele lugar: não haviam ido muito longe.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 15:23

— Estamos no topo de um monte! Acho que o pior já deve ter passado, mas antes de desembarcarmos precisamos ter certeza de que não vai cair outra tempestade.

Então ele soltou uma pomba. Naquele tempo, todos sabiam do instinto infalível desses pássaros para detectar o mau tempo. Se ela voltasse alarmada, significaria que vinha mais chuva, e eles não deveriam deixar a segurança da arca. Porém, a pomba pousou por um momento na janela aberta, olhou em volta examinando o tempo e voou alegremente para o pico da montanha.

Vendo aquilo, Deucálion fez todos os animais saírem, depois desceu pisando a terra seca do cume da montanha, seguido por Pirra e seus dois filhos. Em seguida, Deucálion e Pirra sacrificaram um carneiro a Zeus para aplacar-lhe a ira.

Então, tomaram seu caminho para algum lugar que pudessem reconhecer e, por acaso, encontrar alguma família sobrevivente. O Silêncio e a presença da Morte foi o que só encontraram. Andaram por muito tempo, e viram que nada ficara em pé.

Deucálion, então, disse:

— Ninguém sobreviveu à cólera de Zeus, a não ser nós!

— Oh! que faremos vivos, num mundo de mortos?

— Procuremos nos consolar, minha querida. Somente nos consolar...

Deucálion intimamente estava grato a Zeus por haver poupado de sua ira a esposa e seus jovens filhos, seu consolo e sua razão de viver. Já Pirra, de braços cruzados ao peito, com seus dois meninos agarrados aos seus quadris, chorava em silêncio.

— Ó esposa, única mulher sobrevivente, unida a mim primeiramente pelos laços do parentesco e do himeneu, e agora por um perigo comum, pudéssemos nós possuir o poder de nosso antepassado Prometeus e renovar a raça, como ele fez, pela primeira vez! Como não podemos, porém, dirijamo-nos a um templo e indaguemos dos deuses o que nos resta a fazer.

— Deucálion, devemos procurar um templo de Têmis e implorarmos piedade.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 15:24

Mas Deucálion e Pirra não sabiam em que região haviam chegado, em que parte do mundo realmente se encontravam. Haviam muitas as possibilidades da arca de Deucálion ter encalhado no Ótris, ao invés do Párnassos, como também sobre o monte Etna, na Sicília. Nas terras do Oriente, especialmente nos anos que se seguiram às conquistas de Alexandre, o Grande, prevalecia a versão de que o Vento empurrara a arca para o pico coberto de cedros do monte Líbanos, na Síria; até o advento do Cristianismo, esse foi um lugar de peregrinação, tão conhecido era o mito de Deucálion e sua arca colossal.

Deucálion e sua família não sabiam que não eram os únicos sobreviventes do dilúvio, ignoravam a amplitude da inundação. Só restava-lhes a ajuda de deuses amigos. E entraram num templo coberto com destroços, lama e algas marinhas, onde, achegando-se ao altar onde havia uma estátua toda arruinada, aonde não crepitava fogo algum, com muita tristeza, prostraram-se e rezaram à divindade que desconheciam, daquele lugar, pela salvação da humanidade. Rogaram esclarecimentos por tantas desgraças aos seres da Terra. E Pirra, procurando refúgio na imagem que acreditava ser a da deusa Têmis, rogou:

— Ó poderosa Têmis, que nos observas, com clemência! Não queremos habitar um mundo sem vida! Como faremos para repovoá-lo, se já não temos mais forças nem idade para tanto?

E nada. Nenhuma resposta.

Em seguida, levantaram uma prece para a deusa Héra:

— Grande rainha dos céus, vê o mal que se abateu sobre o mundo. Suplica a Zeus que faça as águas se retirarem, e nós lhe seremos gratos para sempre.
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