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O Dilúvio na Mitologia

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O Dilúvio na Mitologia - Página 3 Empty Re: O Dilúvio na Mitologia

Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:14

O titã Prometeus continuava a narrar seus pensamentos às Oceânides, que lhe faziam companhia e que tudo ouviam com paciência:

— Para insultar-me, Zeus enviou Pandora ao mundo dos homens, e ela abriu a ânfora de barro onde eu havia aprisionado os terríveis monstros, depois de terminada a batalha contra Cronos. Com isso, os monstros voltaram a espalhar-se novamente na Terra. Quando Zeus viu a que ponto a humanidade chegou por causa disso, fez cair um grande dilúvio para acabar com a raça humana. Mais uma vez, eu o traí enviando Deucálion e Pirra. Eu poderia dizer muito mais coisas, porém o que disse já é suficiente. Agora, sabeis porque estou aprisionado a esta rocha, este cravo atravessado em meu peito. Nunca fui capaz de enganar os homens com desilusões e promessas de felicidade eterna. Eu somente iluminei-lhes o espírito, tornei-lhes a vida mais suportável e fiz com que as penas desta existência se tornassem menos rígidas. Por haver agido assim, agora com alegria, enfrento este castigo. E serei capaz de suportar até coisa pior!

— Oh, Prometeus, tu demonstraste um grande amor à humanidade e em nenhum momento pensou em si próprio!

— Nasci assim. Sempre fui destinado a ser assim.

— Enquanto o destino de Zeus é governar para sempre.

— Não dizei isto! Vós não sabeis tudo que está escrito no Livro do Destino?

Por ser o deus-profeta do Olimpo, por ter sido aprendiz da deusa Têmis, Prometeus podia ver muitas coisas no futuro. Sabendo disso, as Oceânides perguntaram:

— Por acaso o Destino registra algo do qual Zeus possa ter medo?

— Somente eu sei esta resposta. Mas ainda não chegou o tempo para eu fazer a revelação. Não salvarei Zeus enquanto ele continuar reinando com bases na injustiça. Se eu não revelar o meu segredo, conseguirei fazê-lo cair em si e, com isso, escaparei a este castigo.

E suspiraram as Oceânides.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:15

— Se ao menos pudesses livrar-se hoje...! Mas quando isso vai acontecer? As correntes que te prendem são tão fortes que nem mesmo quem as forjou é capaz de parti-las!

As Oceânides assim diziam porque não sabiam que um dia viria um herói com força suficiente para quebrar os elos que prendiam o corajoso titã.

E Prometeus disse-lhes:

— Eu sei que um dia serei libertado. Mas antes que isso aconteça, muitos anos haverão de passar, e aquele que me libertará dos grilhões demorará muito a vir. Até tudo isso acontecer, terei de suportar os sofrimentos que nenhum ser humano ou deus jamais suportou.

De repente, Prometeus avistou uma formosa novilha branca aproximar-se.

— Mas o que estou vendo? É Io vindo nesta direção! Ela está longe de suspeitar que um de seus descendentes é que será o meu libertador!

Acabava de falar, e ouviu-se, lá embaixo, o mugido de uma novilha atormentada pela dor. Era Io quem fazia tanto barulho. Ela havia sido uma linda princesa de Árgos, porém atualmente estava transformada em uma pobre novilha sofredora. Com a boca coberta de espuma, toda arranhada e com manchas de sangue escorrendo, ela corria como louca na tentativa de escapar de uma venenosa mutuca gigante. Héra havia resolvido despejar contra a infeliz princesa toda a sua ira, por ter sido amante de seu marido Zeus. Io havia sido perseguida através de meio mundo e, agora, finalmente, chegava ao Cáucaso.

Assim que se aproximou de Prometeus acorrentado à rocha, ela parou de correr e, por alguns momentos, ficou muda observando o terrível espetáculo. Distraiu-se tanto que esqueceu-se da mutuca que lhe rodeava, apenas espantava-a com a cauda. E pensou:

— O coitado deve ter cometido um crime horrível para ser torturado dessa maneira...! Eu que nada fiz, estou sofrendo perseguições de todo tipo!

Depois, lembrando-se das próprias dores e da mutuca que lhe incomodava, desesperada, Io ergueu a cabeça e, com todas as forças que lhe restavam, suplicou:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:15

— Senhor Zeus! Por que me deixas sofrer tanto assim? Por que não me fulminas logo com o teu raio reduzindo-me a cinzas? Por que a terra não se abre para me engolir? Por que não sou transformada em comida para os peixes em vez de ser obrigada a sofrer todas estas penas?

E o titã lhe falou:

— Ó filha de Ínacos, ou seja lá quem for sobre quem recai a injusta ira de Héra!

— Quem tu és, pobre criatura? Como sabes o nome de meu pai e quem me castiga?

— Eu sou aquele que deu o fogo de presente aos homens, ou seja, roubei-o, se é isso que tu pensas. Imagina como quiseres.

— Então, tu és Prometeus, o grande benfeitor da humanidade?...

— Por esse motivo é que estou cravado a esta rocha e acorrentado com grilhões indestrutíveis. Agora, tu podes ver que existem sofrimentos piores que os teus. A paciência é o melhor remédio contra a dor.

— Se eu tivesse a tua força de vontade, conseguiria suportar este sofrimento e talvez até pior. Mas não consigo levar esta tortura adiante e tenho um único desejo no coração: cair morta agora mesmo!

— A força da qual tu dizes que eu possuo, tu também a conquistará quando acreditares que teus sofrimentos acabarão um dia e que tua existência no mundo tenha um grande propósito.

Io começou a chorar.

— Ó Prometeus! Tu sabes tudo porque enxergas o futuro. Como é possível dizeres que a minha vida tenha algum propósito?

— Tu ficarás admirada com o que vou te dizer. Escuta: é através de tua geração que espero o nascimento daquele que haverá de me libertar.

Ouvindo tais palavras, Io ficou ainda mais confusa. Ela jamais poderia imaginar que um dia ela teria um filho e que um de seus descendentes seria tão poderoso que conseguiria quebrar aquelas correntes feitas por um deus. Entretanto, a revelação do titã deu-lhe novas esperanças. Reconquistando a coragem, Io lhe falou:

— Se entendi direito, tu sabes que algum dia meus tormentos terminarão, e voltarei a ser humana. Por favor, eu te imploro: dize-me quando terminará este meu sofrimento!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:16

— Na terra de Nilótis, onde o majestoso Nilos despeja-se no mar. Ainda demorará algum tempo, tu terás muito a caminhar e sofrerás outras penas antes de chegares ao teu destino. Guarda-te dos Cães de Zeus, que não latem, os Grifos de agudo bico, e da hoste montada dos Arimaspes de um só olho... Deles não te acerques. Ao alcançares Nilótis, lá, porém, encontrarás Zeus, e ele novamente te transformará em mulher.

Io recebeu com alegria a notícia dada pelo titã.

— Muito obrigada, Prometeus! Haverei de conseguir a coragem da qual necessito! Porém, responde-me: o que tu quiseste dizer ao mencionar que seria através de minha descendência que tu reconquistarás a liberdade? Essa foi a razão pela qual tuas palavras me deram esperanças, mas, mesmo assim, não as compreendi.

— Se quiseres me ouvir, explicarei tudo. Em Nilótis, depois de haveres readquirido tua forma de mulher, Zeus porá a mão em tua cabeça, e tu terás um filho. Ele será chamado de Épafos, por ser concebido através de um simples toque, e haverá de ser rei daquela terra. Os teus descendentes serão uma grande raça de heróis, e dessa fila de heróis um dia nascerá um tão poderoso que nem estas cadeias conseguirão resistir-lhe. Seu nome será Héracles. Eu, porém, terei de esperar durante séculos, até que isso venha acontecer.

Terminando de fazer tal revelação, Prometeus soltou um longo gemido de dor. Com isso, Io deu um salto, picado pela mutuca, e reiniciou a corrida. Assim, em poucos minutos, a infeliz Io desapareceu na distância daquele solo forrado de pedras agudas.

As Oceânides exclamaram:

— Como Prometeus tem razão ao dizer que os fracos nunca deveriam medir força com os fortes! Quando os fortes não estão corrompidos pelo ouro, é o orgulho de seus antepassados que lhes traz a perdição!

Ao ouvir essas palavras, o titã gritou irritado:

— Por mais que Zeus seja orgulhoso, virá o dia em que ele também cairá como presa dos grilhões da escravidão!

A voz de Prometeus se ergueu com tal fúria que ecoou por todo o Cáucaso:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:17

— Virá o dia quando Zeus será derrubado do trono de seu palácio para ser atirado às profundezas do Tártaros! Ele próprio será o antepassado de um terrível rival que o atirará fora do Olimpo! Existe apenas um único modo de Zeus salvar-se, mas para saber qual é ele precisará descobrir o grande segredo! Isso, porém, nunca acontecerá, por que existe apenas um no mundo que conhece esse segredo! Sim, Zeus! Agora tu estás sentado aí, no esplendoroso trono dos deuses, mas quando te atirarem das alturas de tua glória para que caias quebrado nas profundezas negras... tu finalmente compreenderás o abismo que existe entre governar e escravizar!

Ouvindo aquelas ameaçadoras palavras saídas da boca de Prometeus, ex-profeta do Olimpo, e que se ecoavam por toda a região, as Oceânides se horrorizaram.

— Prometeus! O que tu estás dizendo? Não tens medo que um castigo pior recaia sobre ti?

— Se eu tivesse medo das coisas que digo, estaria agora mesmo sentado no Olimpo. Eu nunca fui de pisar mansinho, como os outros deuses!

— Talvez eles sejam sábios por dobrarem a cabeça diante de Zeus...

— Talvez sim, mas não é sábio dobrar a cabeça diante dos tiranos!

Nesse momento, como se fosse um relâmpago, Hermes, o espião e mensageiro de Zeus, apareceu no Céu. Zeus o havia enviado até Prometeus para verificar o que ele andava dizendo às Oceânides. Olhando ameaçadoramente para o titã, Hermes gritou:

— Hei, ladrão boca-dura! Pára de falar enigmas e dize claramente quem derrubará Zeus do trono! Qual é esse grande segredo que poderá salvar o deus dos deuses? O poderoso senhor do mundo ordena que lhe digas tudo! Por mais ladrão de fogo e defensor dos mortais que tu sejas, fica bem claro: tu és mais capaz de prever o futuro do que todos os demais deuses juntos, e tu deves obediência ao senhor do Olimpo!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:17

— Tu chegas aí gritando e com ares de mandão... Será que não percebes que tais ares não ficam bem a um criadinho? Se queres mesmo ouvir alguma coisa, vou-te dizer bem claro que, quando Zeus for derrubado do trono, todos os escravos e bajuladores dele cairão também! Quem és tu para me chamares de ladrão, se tu és ladrão desde o dia em que nasceste? Pois saibas que pode-se roubar o fogo, deixando a chama acesa ao seu dono. Tu ficas aí como se não soubesse que Zeus ainda tem quanto fogo quiser porque é o senhor de uma grande quantidade de raios. Leva as suas ordens de volta para o teu chefe e vai embora imediatamente para o lugar de onde vieste!

— Para com isso, Prometeus! Revela-me o segredo! Nada aguça mais a curiosidade de Zeus do que isso. Por que tu queres sofrer ainda mais com tua teimosia?

— Já disse tudo o que tinha a dizer. Agora, some da minha vista!

— Tu sempre foste um sujeito de boca-dura! Haverás de pagar por tua insolência!

— Se pensas que eu trocaria os meus sofrimentos por teu serviço de bajulador, enganas-te! Mil vezes melhor ser escravo desta rocha do que me afundar na qualidade do mais fiel criadinho do tirano Zeus!

— Tu me odeias tanto quanto odeia Zeus, não é?

— Odeio a todos quantos ajudei e que me pagaram com o mal.

— É por isso que tu não te dobras ao desejo do senhor do mundo?

— A única coisa à qual não me dobro é à injustiça!

— Somente aquele que governa deuses e homens tem o direito de definir o que é justo ou injusto.

— Não! Jamais aceitarei isso! Não podemos fazer justiça com a injustiça, nem dizermos que o errado é certo só porque nos convém! Que mal fizeram os homens a Zeus para merecerem tão severo tratamento? Por que ele tomou-lhes o fogo de volta? Por que ele quer que os homens, como acontecia antigamente, venham a morrer de fome? Por que os castigou com o dilúvio? Tu és capaz de me responder?
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:18

— Posso apenas dizer-te uma coisa: Zeus é nosso pai e o mais poderoso dos deuses... e nosso maior crime é irmos contra a sua vontade.

— Não! A injustiça é um crime maior, se queres mesmo saber a verdade. Apenas o amor é capaz de criar a beleza, não o ódio! Ou talvez tu prefiras ver a Terra selvagem e desolada, quem sabe? Olha para os prados verdejantes e as ovelhas tranquilamente pastando. Observa os homens trabalhando nos campos. Olha para as cidades com seus templos e estátuas. Olha para os altares e os sacrifícios quando a suave fumaça sobe aos Céus graças ao fogo que, conforme tu acabas de dizer, eu roubei. Vê quantas vezes os homens honram e adoram a ti no Olimpo... eles, porém, nunca me adoram! Oh, não, meu nome não deve jamais ser pronunciado! Por quë? Apenas porque ajudei os mortais e também os deuses, antes? Entretanto, esse é o pagamento que recebo por tudo que fiz! Mas deixa-me dizer-te uma coisa: a injustiça não dominará o mundo para sempre! Embora eu esteja neste momento sendo punido injustamente, virá o dia em que verei Zeus punido como merece!

— Chega de ameaças! Apenas cumpre o teu dever respondendo-me como Zeus poderá salvar-se!

— Se eu devesse a Zeus a salvação dele, eu a daria. Acontece que é ele quem deve a minha. Além do mais, existe outra coisa que ele deve fazer: atribuir justiça aos mortais em vez de reinar com violência e força... o que deixa a própria Justiça de mãos amarradas!

— Prometeus, tu precisas entender uma coisa: Zeus não mudará de ideia! Se tu não disseres o que te ordeno, sofrerás ainda mais!

— Eu também não mudarei de ideia. Portanto, azar dele!

— Tolo! Põe os pés no chão e pensa com a cabeça!

— Parece que já pus demais os pés no chão.... Não vês que estou conversando com um simples criado?

— Como te atreves a dizer-me isso? Por acaso me julgas um empregadinho qualquer?
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:19

— Um empregadinho, me disseste? Tu tens menos miolo do que um bebê, se pensas que vou-te revelar o grande segredo! Jamais direi como Zeus conseguirá salvar-se, antes que ele me liberte destas correntes e prove que reinará com mais amor e justiça. Mesmo que ele me submeta às piores torturas imagináveis, jamais conseguirá dobrar o meu espírito e nem me forçará a revelar o nome daquele que o derrubará de seu próprio trono!

— Tu achas que vais ganhar alguma coisa agindo dessa maneira?

— Tu és o patrono dos comerciantes.

Disse isso com ironia. E continuou:

— Pessoalmente, falas como um deles. Eu nunca fiz coisas por interesses pessoais. Há apenas um ponto que me preocupa: o importante é que a Justiça triunfe. Jamais a Injustiça!

— Tu és um rebelde e falas igualzinho a um reacionário. Tu não aceitas as regras de Zeus. Agora, ouve o que te é reservado, caso tu resolvas guardar o segredo. Se comparares o que te está esperando com o castigo de agora, teu sofrimento até parecerá brincadeira. Ribombos de trovões e faíscas de raios constantemente atingirão a rocha à qual tu estás acorrentado. Ao mesmo instante, a Terra se abrirá, e tu serás engolido pelas profundezas do Tártaros com pedras e tudo. Depois de muito tempo, tu emergirás novamente à luz para enfrentares o grande julgamento. Uma águia virá, todos os dias, com o bico rasgará o teu corpo e devorará o teu fígado. Durante a noite, tu serás curado de teus ferimentos, mas no dia seguinte a águia voltará para outra vez rasgar-lhe as carnes. Assim será por muito tempo, pois nunca terá fim. Agora, pensa bem! Tu sabes que Zeus não está brincando! Ele já está com os raios prontos para iniciar a carga! É hora de tu agires com sensatez e seres menos atrevido, ouve o que te digo!

Quando Hermes terminou de falar, as Oceânides tinham os olhos rasos d’água. O Céu havia-se coberto com nuvens negras. As Oceânides olharam assustadas. Seria possível que Zeus estava mesmo preparando uma nova tortura para o titã filho de Jápetos?
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:19

Ajoelhando-se diante de Prometeus, as Oceânides suplicaram que ele aceitasse os conselhos do deus Hermes, dobrando-se ao desejo de Zeus.

— Não será uma humilhação maior. O que é vergonhoso é que um sábio continue insistindo quando ele sabe estar agindo errado.

— Hermes nada me revelou além de tudo que eu já sabia. Faz muitos anos que sei quais torturas me esperam.

Então, erguendo os olhos para o Céu, gritou:

— Podeis começar! Que os raios e os trovões de Zeus caiam sobre mim e estremeçam a Terra até suas bases! Que os Ventos levantem ondas em fúria, e que o terrível furacão desabe sobre toda a criação! Que o Sol e as Estrelas mudem seus rumos no Céu, e que meu corpo se afunde no Tártaros! Mas que uma coisa fique certa: eu não me resignarei!

Hermes murmurou:

— Estranho! Nunca esperei ouvir isto algum dia!

Em seguida, erguendo a cabeça, Hermes gritou também:

— Será tua cabeça tão dura que não és mais capaz de saber o que te é melhor? E quanto a vós, filhas de Océanos, que senti pena dele, digo-vos para vosso próprio bem: cuidado! Ide embora daqui agora mesmo, porque o ribombar dos trovões de Zeus vai enlouquecer-vos!

E perguntou uma irritada oceânida:

— Por acaso tu não tens sequer uma única palavra de conforto para nós?

— Claro que não! Não fiqueis preocupadas conosco porque odiamos até a visão daqueles que nos traem.

As terríveis conseqüências que Hermes havia predito não custaram a acontecer. Agora, todo o Céu negro e o mundo estremecia ao ribombo dos trovões. Relâmpagos cortavam as alturas como serpentes de fogo.

Os Ventos enrolaram-se em uma gigantesca coluna através da qual Zeus lançou um fortíssimo raio que atingiu o resoluto titã no alto da rocha onde ele estava acorrentado. No mesmo instante, a terra abriu-se, e Prometeus, preso à rocha, mergulhou nas sombrias profundezas do Tártaros.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:20

Gritando de desespero, as Oceânides fugiram enquanto Hermes se salvava pulando sobre uma rocha mais alta. Pensativo, ele parecia amedrontado. Embora odiasse Prometeus, não podia deixar de admirá-lo, e pensou:

— É verdade que um deus como ele não deveria sofrer um castigo desses. Ser agora sepultado nas profundezas do Tártaros e logo ser novamente exposto nos picos do Cáucaso para que a águia de Zeus lhe rasgue as carnes todos os dias! E ainda pensar que essa terrível pena nunca terá fim porque, mesmo que algum dia alguém o queira salvar, não conseguirá. Não existe um único ser capaz de partir os indestrutíveis grilhões que o mantêm preso!

Durante muitos anos, o que significaria um dia para os deuses, Prometeus ficou encerrado nas profundezas da Terra. Ele estava sozinho na escuridão do Tártaros, passando horrores. Ainda acorrentado à rocha, não conseguia fazer um único movimento para encontrar alívio a seus sofrimentos. Nem mesmo para fazer uma hora de sono; no Tártaros, além do mais, era impossível pensar em dormir.

Io corria pelas pernas de Hermes e a força de Zeus. Corria como ninguém, a caminho do Oriente, em direção das terras mais remotas, aonde ocidental algum imaginaria um dia chegar. Mas deu a volta, passou pelas regiões da Frígia, da Meônia, da futura Cilícia e da terra dos cananeus, através de terrenos montanhosos e desérticos, para alcançar o reino dos quemitas.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:21

Exausta, de tanto correr e sofrer, conseguiu forças ainda e aproximar-se mais do seu destino definitivo, guiada por um espírito amigo, e foi ter nas fontes longínquas do rio Nilos, para além do país dos melâmpodes, talvez disposta a morrer sem esperanças. Nessa região tão fabulosa como desconhecida, por fim, encontrava o esperado e procurado duplo prêmio do descanso à sua martirizada fuga. Não aguentando mais de tanta dor, dobrou as patas, exaustas, e caiu no chão. E Zeus, comovido, interveio em seu favor, e procurou Héra para, com grande meiguice, prometer-lhe que nunca mais cortejaria Io. Héra, muito satisfeita com a sua vingança, aceitou, contanto que Io nunca mais pudesse retornar ao seu país para rever seus pais e irmãos.

E assim se fez, e Zeus, descendo do Olimpo, aproximou-se de Io e tocou-lhe as costas: os pelos desapareceram do corpo do animal, os chifres sumiram, os olhos se estreitaram, a boca encolheu, transformando-se em lábios, ombros reapareceram, e os cascos deram lugar aos pés e às mãos. Zeus desfez o encanto e deu a Io a sua forma natural, mas sentia-se feliz por ter conseguido plantar nela sua última semente, dando início às previsões de Prometeus.

Mas Héra, notando que Io isolava-se à sua vista, desconfiou que esperava um filho. Por isso, ordenou aos demônios Curetes que se apoderassem da criatura tão depressa nascesse e a fizessem desaparecer. Os Curetes saíram-se bem na missão, raptaram o recém-nascido e o esconderam, tanto que Io não podia encontrá-lo. No entanto, tão atento para defender sua amada e seu filho, Zeus lançou uma rajada dos seus potentes raios e acabou com a ameaça dos Curetes.

A atribulada Io, guiada pela mão de Zeus, foi em busca de seu filho em Gebal, na Síria. A criança estava aos cuidados da rainha daquela terra. Io recuperou-a, levou-a de volta para a terra dos quemitas e nela continuou cumprindo-se o destino, para fazer de seu filho príncipe em país estrangeiro.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:21

Zeus, o senhor dos deuses, levou Io ao rei daquele povo, Telégonos (Nebtawyre? Mentuhotepe?), que, por sua vez, a desposou e adotou seu filho, e o chamou Épafos. O menino se geminou com o sagrado boi e deus Ápis, ao passo que Io acabaria se identificando com a poderosa deusa Ísis.

Depois que Pandora havia libertado os Males contra o mundo, nascia a Geração de Bronze, e o crime irrompeu como uma inundação, entre os homens; a Modéstia, a Verdade e a Honra fugiram, deixando em seus lugares a Fraude e a Astúcia, a Violência e a insaciável Cobiça. Os homens, pretendendo transpor as águas, começaram a derrubar árvores nas montanhas e ultrajar a face do Oceano.

A Terra, que até então fora cultivada em comum, começou a ser dividida entre os possuidores. Os homens não se contentavam com o que produzia a superfície; escavou-se a terra e tirou-se do seu seio os minérios e metais. Produziu-se o danoso ferro e o ainda mais danoso ouro. Surgiu a Guerra, utilizando-se de um e de outro como armas; o hóspede não se sentia em segurança em casa de seu amigo; os genros e sogros, os irmãos e irmãs, os maridos e mulheres não podiam confiar uns nos outros. Os filhos desejavam a morte dos pais, a fim de lhe herdarem a riqueza; o amor familiar caiu prostrado.

A Terra ficou úmida de sangue, e os deuses a abandonaram, um a um, até que ficou somente Astréia, deusa da inocência e da pureza, que, finalmente, acabou também partindo. E Zeus, desejoso de exterminar a criação de Prometeus, tentava com tudo isso encontrar uma desculpa para fazê-lo.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:22

As Licaias eram jogos muito famosos, instituídos pelo bom rei Licáon, de Licosura. A cada dois anos, atletas e visitantes vinham de todas as partes, do norte e do sul, e eram recebidos com grande hospitalidade. Licáon chegava a pôr seu próprio palácio à disposição dos forasteiros. Naquele tempo, dava-se tanta importância à hospitalidade, cujas regras sagradas foram estabelecidas por Zeus, que as competições atléticas eram combinadas com um festival em homenagem a Zeus-Xênios, protetor dos estrangeiros.

Porém, desde aquele dia aziago em que Pandora abrira a ânfora proibida, Licosura havia esquecido o significado da hospitalidade. Ninguém mais tratava os forasteiros com amabilidade, e Licáon, outrora homem que mais honrava e cultuava Zeus, por causa disso insultou-o do modo mais ignominioso, justo por ocasião dos jogos que costumavam ser realizados em sua honra.

Atletas e visitantes de todas as regiões enchiam as ruas de Licosura, pois as Licaias deviam começar no dia seguinte. Todavia, ninguém estava disposto a recebê-los em casa, como antes, e assim os forasteiros andavam de um lado para outro como ovelhas desgarradas, sem lugar para dormir, a não ser as ruas e praças públicas.

Entre os visitantes estava Zeus, disfarçado de viajante pobre, que pretendia assistir de perto aos jogos e ao festival que seriam realizados em sua honra. Mas verificou que o povo da região dos pelasgos era de tal modo cruel e malévolo, a começar pelas maldades da família de Licáon.

O porte soberbo e a aparência majestosa do forasteiro deveriam ter bastado para Licáon perceber quem estava a sua frente. Mas, desinteressado e embrutecido, ele gritou enfurecido:

— Já estou farto de forasteiros! Por que tu não vais dormir nos bosques, em vez de sujar nossa cidade?

— As florestas são para os animais selvagens.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:23

Ao som de suas palavras, a escada do palácio foi banhada por uma luz ofuscante. Diante daquele sinal, todos os presentes, exceto Licáon e seus filhos, souberam que aquele era Zeus e ajoelharam-se para adorá-lo. Mas Licáon replicou:

— Nós não adoramos forasteiros na terra de Pelasgos! Reverenciai vosso rei, não um forasteiro!

E um velho se destacou da multidão presente e disse com firmeza:

— É verdade, grande rei, não fazemos reverência a estrangeiros neste lugar. Mas antigamente os filhos de Pelasgos sempre cultuavam Zeus-Xênios e ofereciam hospitalidade a todos os forasteiros que passavam por nossos portões. Agora, nós os expulsamos, e eu temo que algum grande mal possa se abater sobre nós e nossa cidade. Recebe esse homem, pois ele mostrou que não é um simples mortal, mas o próprio Zeus. Presta as homenagens devidas ao senhor do mundo!

Licáon não se convenceu, pois foi cegado pelo Orgulho. Vendo aquele estado de coisas, Zeus, já indignado com os diversos problemas que tinha que resolver no Olimpo, deu as costas para Licáon e sua família e voltou ao Olimpo para convocar os deuses para um conselho. Todos obedeceram à convocação e tomaram o caminho do palácio do Céu. Dirigindo-se à assembléia, Zeus expôs as terríveis condições que reinavam na Terra e encerrou as suas palavras:

— Então essa é a natureza da raça humana! Agora é bom que Prometeus os contemple e admire seus feitos, pois não deixarei um único deles sobre a Terra! Todos perecerão, culpados e inocentes. Eu os destruirei para toda a eternidade, e Prometeus, que tanto os ama, presenciará do alto do Cáucaso a punição que será dada à sua criação!

Mas Zeus se lembrou de que tinha uma parcela de culpa, enviando Pandora à Terra. E sentiu que precisava poupar algumas vidas, pessoas dignas e que lhe causavam satisfação. Para tanto, mandou seu filho Hermes para prevenir as famílias de sua preferência e indicar-lhes um lugar seguro.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:23

Assim, apoderou-se de um de seus raios, e já estava prestes a atirá-lo contra o mundo, destruindo-o pelo fogo, quando atentou para o perigo que o incêndio poderia acarretar para o próprio Olimpo. Mudou, então, de ideia, e resolveu inundar a Terra com as águas dos Rios, e ordenou a Poseidon:

— Fende a terra com um golpe de teu poderoso tridente. Abre as comportas dos mares, que, uma vez liberadas, inundarão a tudo, e a todos exterminarás.

Neste momento, Deucálion, que morava na Cítia com sua esposa, Pirra, visitava seu pai, Prometeus, no Cáucaso, onde ele havia sido acorrentado, por ter cometido um crime em favor da humanidade. E, vendo-o naquele estado lamentável, tentou libertá-lo, mas não conseguiu.

Prometeus, que tinha o dom de prever o futuro, em agradecimento à boa vontade do filho, avisou-o sobre a catástrofe que Zeus enviaria contra a Terra e o que deveria fazer para salvar-se. Sabia ele que um dilúvio parecido com o que já havia ocorrido sobre a Terra na época de Ógiges estava prestes a se repetir. Ógiges era, há 250 anos antes, o rei dos ectenos, no sítio da futura Beócia, que na época chamava-se Ogígia. Diziam-no filho de Poseidon e Alistra. Quem sabe o primeiro rei conhecido da Grécia. Casou-se com Tebe, uma ninfa, filha de Zeus, e com ela tivera muitos filhos, entre os quais três moças: Áulis, Alalcômene e Telxínoe.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:24

No entanto, há controvérsias sobre esse acontecimento de natureza divina, ou não, visto que poderia ter sido causado pelos efeitos de um terremoto e um tsunami. Diz-se também que o primeiro dilúvio teve lugar nos tempos de Noé, quando o Senhor do Universo, ofendido pelos delitos da raça humana, depois de cobrir de água o orbe da Terra e de assolá-lo por inteiro, não deixou mais que o espaço entre o céu e o mar. Prova disso vemos todavia hoje nas pedras que, no alto de muitas montanhas, contêm armazenadas conchas e ostras. O segundo dilúvio teve lugar na Acaia Setentrional, nos tempos do patriarca Jacó, dos hebreus, e do rei Ógiges, dos ectenos, em aproximadamente 1900 a.C. O terceiro dilúvio aconteceu na Tessália, nos tempos de Moisés, dos hebreus, e Anfictíon, que ocupou o trono de Cécrops e Crânaos. Contudo o dilúvio de Deucálion não poderia ter sido exatamente nessa época, já que Anfictíon era seu filho. Ademais, a época de Moisés coincidia mais precisamente com a época em que vivia Héracles (Hércules). E ainda não há exatamente uma relação de Deucálion com os animais que abrigou em sua arca ou com seus filhos, afirmam outras versões que Deucálion e Pirra teriam se abrigado na arca sozinhos. Mas, ainda assim, independente da época em que isso teria acontecido, num espaço de quase mil anos, ela foi relatada. Tal evento, para verificar-se a sua veracidade, foi relatado em quase todas as crenças estrangeiras.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:25

Deucálion, então, voltou às pressas para sua terra e começou a derrubar grandes acácias, a serrá-las e ajustá-las em pranchas, com a ajuda de sua mulher e seus filhos e filhas. O trabalho, incansável, avançou rapidamente. Na quilha, feita de grossos troncos de árvore, encaixaram as balizas e prenderam os deques com cavilhas de madeira. Vedaram cuidadosamente as junções com betume. No final, colocaram o teto, que também recebeu uma farta camada de betume. Ao fim de muito trabalho, terminou de construir uma grande arca, suspensa em terra seca no alto de um morro, a qual encheu com grande quantidade de animais domésticos, para seu sustento, bem como com outros bens e suprimentos necessários, e correu para bordo, levando consigo sua família, e ali passou a morar vítima de insultos e chacotas, até o dia tão esperado, o dia da destruição.

Naquele momento, Párnassos, filho do deus Poseidon, despertado pelo som dos lobos que uivavam de medo, resolveu segui-los até o alto de uma montanha vizinha, com sua família e amigos, prevendo que algo catastrófico estava para acontecer e a sua aldeia seria riscada do mapa. E aconteceria. O dilúvio estava prestes a cair sobre a Terra, e a montanha seria a sua salvação. Essa mesma montanha, então, mais tarde, levou o nome de Párnassos e, sobre ela, fundaram uma cidade: Licoréia, a “cidade dos lobos”.

Mégaros, filho de Zeus e da ninfa Sitnida, despertado pelos gritos dos grous que previam um dilúvio sobre aquela terra, tomou sua família e amigos e conduziu-a até o monte Gerânia, lugar que salvaria suas vidas. Por isso, bem mais tarde, a região em que vivia passou a levar o seu nome: Megárida.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:25

Pressentindo o Dilúvio que seria enviado por Zeus, a ninfa Cáfire e os Télquines abandonaram Rodes. Os deuses-magos foram dar nas costas da Lícia, onde introduziram o culto a Apolo-Lício, no vale do Xantos. Licos, um dos Télquines, construiu um templo ao deus.

Até o rei Licáon e sua família foram poupados, pois conhecia a sua natureza e tinha-lhe grande consideração. Para tanto, deu-lhe uma grande oportunidade de se redimir e assumir uma nova posição e fazer parte de uma nova geração mais digna.

O Vento Norte foi aprisionado; logo depois, Notos, o Vento Sul, libertado, soprou do Oceano e cobriu todo o céu com a escuridão. De repente o céu e a terra foram iluminados por um relâmpago ofuscante, e uma funesta trovoada fez a Terra tremer, ecoando longamente a prenunciar a destruição. Seguiu-se um silêncio mortal, pesado e amedrontador. Então desencadeou-se um desastre. Em meio a um medonho espetáculo de relâmpagos e estrondos de trovões, Poseidon, em um vale seco e pedregoso, com fúria bateu com seu tridente a terra e o enterrou quase que por inteiro; uma rachadura começou a se espalhar do ponto onde se abatera o golpe, espraiando-se para todos os lados. Enquanto a chuva caía em grande quantidade, das imensas fissuras começaram a brotar as águas submersas, e os Rios correram montanhas abaixo, inundando plantações, lançando o refluxo do Oceano sobre as praias, arrastando consigo cidades e templos e engolindo rebanhos, animais selvagens, homens e árvores.

— Que as ondas rompam todos os limites, derrubem as casas, arrebentem todos os diques!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:26

Diante dos olhos deliciados de Zeus — que a tudo observava do alto — desfilaram envoltos em ondas de incrível ferocidade gafanhotos, moscas, ratos, esquilos, zebras, leões, elefantes, casas, templos e palácios. Em meio a tudo isso, passavam homens, agarrados em qualquer coisa que sobre-nadasse na violência das águas. A maioria das pessoas, no entanto, passavam já mortas. As aves, não encontrando mais nenhum lugar seco onde repousar, deixavam-se cair às águas, renunciando à luta pela vida.

Naquele momento, Cerambos, um pastor do monte Ótris, por ocasião do Dilúvio que se aproximava rapidamente, tentou refugiar-se no seu ponto mais alta para escapar à inundação. As Ninfas, ao verem que não conseguiria escapar, deram-lhe asas e transformaram-no num inseto, o kerambix, “escaravelho”.

Então, ao ouvirem o estrondo da tempestade se aproximando, Deucálion e Hélenos, seu filho, apressaram-se a recolher as pranchas que ligavam a porta da arca com a terra. E mal conseguiram fechar a porta, e a tempestade desabou. As águas torrenciais que avançavam elevaram-se e levantaram a arca do chão. O leito das águas furiosas quase chegou a tocar os pés de Prometeus acorrentado no Cáucaso.

Só a arca de Deucálion flutuou acima do nível das árvores, mas águas continuaram a subir, até que finalmente apenas alguns cumes de montanhas permaneceram visíveis, como o Olimpo e o Párnassos. A arca de Deucálion ficou envolvida em densa neblina, ocultando-se aos olhos de Zeus, e este, depois de nove dias e nove noites, vendo que não havia homens injustos, vivos, além de poucas famílias dignas, refugiadas nos cumes dos montes mais altos, ordenou a Poseidon que fizesse cessar a inundação. Poseidon, por sua vez, ordenou a Tríton:

— Vai, agora, e devolve tudo à normalidade!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:27

E Tríton soou sua concha determinando a ordem dada pelo senhor das águas. E os Tritões espalharam-se pelos mares e fizeram soar também as suas conchas iniciando a retirada das águas. Algum tempo depois, a chuva parou e a arca, na manhã do décimo dia, um súbito impacto mostrou que a mesma havia encontrado terra outra vez. Deucálion correu para abrir a janela. A chuva tinha parado. Um lençol de água estendia-se até o horizonte em todas as direções, menos sobre as duas pequenas ilhas coroadas por dois picos semelhantes, onde havia aportado. Encalhou no alto do monte Párnassos, não muito longe da devastada Ftia, na Hemônia, a futura Tessália, enquanto o Mar voltava às suas costas e os Rios aos seus leitos.

— Esperemos até que as águas baixem e consigamos desembarcar. Estas ilhotas certamente são dois picos.

Alguns dias depois, o nível das águas começou a baixar, e Deucálion reconheceu aquele lugar: não haviam ido muito longe.

— Estamos no topo de um monte! Acho que o pior já deve ter passado, mas antes de desembarcarmos precisamos ter certeza de que não vai cair outra tempestade.

Então ele soltou uma pomba. Naquele tempo, todos sabiam do instinto infalível desses pássaros para detectar o mau tempo. Se ela voltasse alarmada, significaria que vinha mais chuva, e eles não deveriam deixar a segurança da arca. Porém, a pomba empoleirou-se por um momento na janela aberta, olhou em volta examinando o tempo e voou alegremente para o pico da montanha.

Vendo aquilo, Deucálion fez todos os animais saírem, depois desceu pisando a terra seca do cume da montanha, seguido por Pirra e seus filhos. Em seguida, Deucálion e Pirra sacrificaram um carneiro a Zeus para aplacar-lhe a ira.

Em seguida, tomaram seu caminho para algum lugar que pudessem reconhecer e, por acaso, encontrar alguma família sobrevivente. O Silêncio e a presença da Morte foi o que só encontraram. Andaram por muito tempo, e viram que nada ficara em pé.

Deucálion, então, disse:

— Ninguém sobreviveu à cólera de Zeus, a não ser nós!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:28

— Oh! Que faremos vivos, num mundo de mortos?

— Procuremos nos consolar, minha querida. Somente nos consolar...

Deucálion intimamente estava grato a Zeus por haver poupado de sua ira a esposa e seus filhos pequenos, seu consolo e sua razão de viver. Já Pirra, de braços cruzados ao peito, com seus dois filhos agarrados aos seus quadris, chorava em silêncio.

— Ó esposa, única mulher sobrevivente, unida a mim primeiramente pelos laços do parentesco e do himeneu, e agora por um perigo comum, pudéssemos nós possuir o poder de nosso antepassado Prometeus e renovar a raça, como ele fez, pela primeira vez! Como não podemos, porém, dirijamo-nos a um templo e indaguemos dos deuses o que nos resta a fazer.

— Deucálion, devemos procurar um templo de Têmis e implorarmos piedade.

Mas Deucálion e Pirra não sabiam em que região haviam chegado, em que parte do mundo se encontravam. Haviam muitas as possibilidades da arca de Deucálion ter encalhado no Ótris, ao invés do Párnassos, como também sobre o monte Etna, na Sicília, ou, segundo os relatos bíblicos, na pessoa de Noé, sobre o monte Ararat, na Armênia. Nas terras do Oriente, especialmente nos anos que se seguiram às conquistas de Alexandre, o Grande, prevalecia a versão de que o Vento empurrara a arca para o pico coberto de cedros do monte Líbanos, na Síria; até o advento do Cristianismo, esse foi um lugar de peregrinação, tão conhecido era o mito de Deucálion e sua arca colossal.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:28

Deucálion e sua família não sabiam que não eram os únicos sobreviventes do dilúvio, ignoravam a amplitude da inundação. Só restava-lhes a ajuda de deuses amigos. E entraram num templo coberto com destroços, lama e algas marinhas, onde, achegando-se ao altar onde havia uma estátua toda arruinada, aonde não crepitava fogo algum, com muita tristeza, prostraram-se e rezaram à divindade que desconheciam, daquele lugar, pela salvação da humanidade. Rogaram esclarecimentos por tantas desgraças aos seres da Terra. E Pirra, procurando refúgio na imagem que acreditava ser a da deusa Têmis, rogou:

— Ó poderosa Têmis, que nos observas, com clemência! Não queremos habitar um mundo sem vida! Como faremos para repovoá-lo, se já não temos mais forças nem idade para tanto?

E nada. Nenhuma resposta.

Em seguida, levantaram uma prece para a deusa Héra:

— Grande rainha dos céus, vê o mal que se abateu sobre o mundo. Suplica a Zeus que faça as águas se retirarem, e nós lhe seremos gratos para sempre.

Nem bem haviam acabado de falar quando a montanha dividiu-se bem perto deles, abrindo uma fenda enorme que começou a tragar as águas com um grande rugido. Em pouco tempo, os mares sem limites que os haviam rodeado desapareceram, as montanhas e as planícies tornaram-se visíveis de novo. Então, a grande fenda voltou a fechar-se. No lugar dela ainda ficou uma rachadura, e lá Deucálion e Pirra construíram um pequeno templo em homenagem à deusa Héra, ocupando restos dos escombros do templo em ruínas. Apresentaram-lhe seus agradecimentos pela ajuda, puseram seus poucos pertences no lombo de um animal e desceram para as planícies, enquanto espalhavam-se os animais pela região.

Não viam viva alma em lugar algum. Só desolação e destruição: casas arruinadas, árvores arrancadas do solo, pedras e lama por todo lado.

Com o coração apertado, eles pararam às margens do rio Céfisos, que corria a certa distância do monte.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:29

— Acho que só nossas vidas foram poupadas, Pirra. Vem, vamos construir um altar e agradecer ao todo-poderoso Zeus por nossa vida.

Logo que o fizeram, Zeus ouviu suas preces e mandou Hermes procurá-los. Este lhes disse:

— O poderoso Zeus ficou tão satisfeito com vossos agradecimentos que me enviou para dizer-vos que podeis pedir o que quiserdes. Ele dá sua palavra de que o desejo será realizado, seja qual for.

— Nós gostaríamos que o mundo fosse povoado novamente. Somos somente eu, minha mulher e meus filhos. Teremos que viver sozinhos na Terra?

— Não, não estais sozinhos. Outros foram agraciados pela piedade divina de Zeus. Mas voarei para o Olimpo e lhe passarei vosso pedido.

Hermes voltou rápido ao Olimpo e transmitiu o pedido a Zeus, que pensou em pouco e disse:

— Bem, que assim seja. Não me lembro de tê-los ajudado a manter-se salvo da destruição, mas estou comovido com a sua dedicação e culto aos deuses do Olimpo. Já não estou mais irado com os homens. Agora é a vez de Prometeus pagar pela ofensa que me causou.

Para mostrar que falava sério, enviou a própria Têmis, deusa da Lei, para instruir Deucálion e Pirra. Ela voou para a Terra e foi encontrar-se com a família de Deucálion, e disse-lhes:

— Tudo vai ficar bem. Cobri vossas cabeças, desatai vossas vestes, saí do templo e jogai os ossos de vossa mãe para trás.

As palavras da deusa foram ouvidas com assombro, já que Deucálion e Pirra tinham mães diferentes, ambas enterradas em sepulturas inteiramente cobertas pelas águas, e em outro país muito distante desse.

E Pirra, apesar de muito devota aos deuses, retrucou:

— Perdoa-me, ó deusa, se com temor me nego a obedecer-te. Pois não vamos nos atrever a profanar os restos de nossos pais; contudo, temos mães diferentes. Ademais, nem ao menos sabemos onde nos encontramos.

Têmis afastou-os das crianças e disse-lhes:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:30

— Segui pelo bosque devastado e o curso do rio. É o Céfisos. A terra em que vos encontrais será chamada futuramente de Hélade, pois Hélenos, vosso filho, aqui reinará. Mas tudo então ocorrerá a seu tempo. Se quiserdes ver de novo a terra povoada, fazei exatamente como vos digo. Agora, ide!

E seguiram pelo bosque devastado, seguindo o curso do rio e refletindo sobre o Oráculo. E Deucálion foi o primeiro a se tocar:

— Se minha sagacidade não me ilude, poderemos obedecer a ordem sem cometermos qualquer impiedade ou profanação. Falo-te sobre os ossos de nossa mãe. A Terra é a mãe comum de nós todos; as pedras são seus ossos; poderemos lançá-las para trás de nós; e creio ser isto que a deusa nos quis dizer. Pelo menos, não fará mal tentar.

Eles adivinharam que a “mãe” a que a deusa se referia tratava-se da Mãe-Terra. Por isso, cobrindo suas cabeças e afrouxando suas vestes, eles jogaram pedras para trás de si. Elas amoleceram e começaram a tomar forma. Pouco a pouco, foram assumindo uma grosseira semelhança com a forma humana, como um bloco ainda mal acabado nas mãos de um escultor. A umidade e o lodo que havia sobre elas transformaram-se em carne; a parte pétrea transformou-se nos ossos; e tudo maravilhosamente se transformou: as pedras lançadas pelas mãos de Deucálion tornaram-se homens e as lançadas por Pirra tornaram-se mulheres. E foram muitas pedras jogadas, centenas delas, até a exaustão. Surgia uma raça forte e bem disposta para o trabalho. E, coincidentemente, referindo-se à etimologia das palavras “pedra” e “povo” eram semelhantes: lâos, “pedra”, e laós “povo”.

Só então, descobriram que haviam outras famílias abrigadas no outro lado do grande monte. Entre elas estava a família de um homem chamado Párnassos, que por ter sido agraciado com a salvação, foi dado o seu nome ao monte, em sua homenagem.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 25/3/2021, 14:31

Mais tarde, a família de Deucálion migrou para a região da futura Ftia, onde passaram a reinar, e onde seus filhos e filhas teriam descendentes que formariam nações fortes espalhadas por todas as regiões do mundo devastado. Era o fim da Geração de Bronze, dando lugar a uma nova era: a Idade Heroica.

Existem exemplos muito preciosos sobre símbolos ou narrações simbólicas em muitas culturas e civilizações antigas, este um dos mais conhecidos, difundido pelos textos iniciáticos cristãos como Noé e o Dilúvio Universal: enquanto na Mitologia Grega chamou-se esse herói Deucálion (ou então Ógiges, do Dilúvio ocorrido há 250 anos antes), na Índia chamou-se Vaisvaswata ou Satyavrata, os persas referiram-se a Xixustros, na China um certo herói chamado Foki, na civilização asteca foi conhecido como Coxcox (ou Tezpi), os incas chamaram-no de Bochica, os assírios e caldeus mencionaram um certo Utmapishtim. Todos eles construíram uma arca mediante revelação divina para escapar de um grande dilúvio. Contaram-se oito sobreviventes segundo a Bíblia, 2.901 salvos segundo a Mitologia Persa, dois a seis sobreviventes no dilúvio caldeu de Xisuthrus, um no dilúvio de Manu (segundo o Catapatha Brâhmana), oito no dilúvio de Manu (segundo o Mahabharata), oito no dilúvio de Kymris (segundo os celtas e belgas), dois sobreviventes segundo o Edas dos escandinavos, dois no dilúvio dos lituanos, dois segundo as tradições dos canaris do Equador, cinco a cem no dilúvio de Bochica (segundo os povos da Colômbia), cinquenta a cem no dilúvio dos chichimecas na primeira idade chamada atanutiuli (considerado o Dilúvio Universal), dois sobreviventes no dilúvio mexicano de Coxcox, quatro nas tradições indígenas do Brasil, alguns sobreviventes no dilúvio da Nova Califórnia e dos incas, enquanto que, segundo as tradição mais frequente, houveram apenas dois sobreviventes no dilúvio de Deucálion e Pirra.
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